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Autor: Bruno

  • Para pedir um total desapego

    Ó Coração Sapiencial e Imaculado de Maria, dotado dos maiores dons naturais e sobrenaturais, isento da mais leve sombra de defeito, Vós vos mantínheis desapegado de tudo, não querendo esses dons para aparecer aos olhos dos homens e nem sequer dos Anjos, mas exclusivamente para o amor, glória e serviço de vosso Divino Filho e da Santa Igreja, considerai o coração deste vosso filho, tão apegado às minhas qualidades reais ou imaginárias e até mesmo a meus míseros defeitos, e tende pena do estado de minha alma.
    Vossa prece é onipotente. Alcançai-me, pois, a graça de uma transformação radical que me converta até os mais últimos fundamentos da minha alma, tornando-me totalmente desapegado de tudo e voltado para Vós, de sorte que eu alcance ser, por vossa misericórdia, um filho e escravo que prefira morrer a viver em uma Igreja devastada e sem honra, e viva da confiança de que a Revolução acabará e virá o vosso Reino. Assim seja.

    (Composta em 12/10/1968)

  • Restauração da inocência

    Sacratíssimo Coração de Jesus, por meio do Imaculado Coração de vossa Mãe Santíssima, nós vos pedimos perdão por todos os pecados e infidelidades que tenhamos cometido até o momento presente. Bem sabemos que eles devem ter maculado as nossas almas e diminuído o brilho alvíssimo e magnífico da inocência tão rica em flores e frutos da vida espiritual.
    Certos de que essa inocência nos torna aptos a receber vossos reflexos, nós vos suplicamos, ó Jesus, por Maria, que restaureis na integridade e leveis até os últimos limites que desejardes a inocência outrora perdida. Assim seja.

    (Composta em 1/10/1994)

  • Beata Angelina, modelo de confiança na promessa divina

    Por vezes, as coisas mais nobres e santas que desejamos esbarram em obstáculos inesperados, permitidos pela Providência Divina. É o caso da Beata Angelina: passando por terríveis perplexidades, soube acreditar na promessa interior da graça, confiando na realização de sua vocação.

    No dia 14 de julho comemoramos a Beata Angelina, virgem, a respeito de quem diz Daras, na Vida dos Santos1:

    Uma via de perplexidades enfrentada com confiança

    Beata Angelina nasceu em 1377, em Montegiove, perto de Orvieto, descendente dos Condes de Corbara, por parte de pai, e dos Condes de Marciano, por parte de mãe.
    Aos doze anos consagrou a Deus sua virgindade, correspondendo às graças que recebia desde a infância. Mas, três anos depois, seu pai decidiu casá-la com o Conde de Civitella. Em vão a jovem implorou-lhe que a deixasse consagrar-se a Deus. Foi ameaçada de morte se não consentisse no casamento no prazo de oito dias. Nessa aflição, Angelina recorreu ao Senhor, que lhe recomendou cumprir a vontade do pai. Ela desposou então o conde, decorrendo a cerimônia em meio a grandes festejos tradicionais.
    Ao aproximar-se a noite, a jovem refugiou-se no quarto e, cheia de angústia, ajoelhou-se aos pés do crucifixo, pedindo a Deus que a protegesse. O conde, chegando, perguntou-lhe o motivo de suas lágrimas e, ao saber do voto que fizera, tocado pela graça, quis imitá-la. Ajoelhou-se e prometeu, com sua jovem esposa, guardar a castidade e considerá-la como irmã. E ambos agradeceram a Deus a grande graça recebida.
    Um ano depois o conde morria, deixando Angelina livre. Esta entrou na Ordem Terceira de São Francisco, dedicando-se inteiramente às obras de caridade e à conversão dos pecadores.
    Seus milagres tornaram-na famosa e, por causa disso, retirou-se para Civitella; porém, grande número de nobres dessa cidade, desgostosos de ver os jovens das grandes famílias entrarem no convento por influência de Angelina, queixaram-se ao rei, que a exilou. Ela continuou, no exílio, seu trabalho, fundando numerosos conventos de clausura, segundo a Regra franciscana.
    Morreu em 1435, como mãe de uma grande família de almas.
    É mais uma lindíssima biografia nos relatando o apuro pelo qual passou essa bem-aventurada e a grande confiança na Providência demonstrada por ela.
    Ela fizera um voto de virgindade. Entretanto, o pai determina que ela se case, e ameaça matá-la caso não o fizesse. Isso exprime bem a eterna posição do liberal. Quando alguém faz voto de virgindade, outro tem direito até de matar para obrigar a não cumprir o voto. É muito provável que, se esse pai tivesse uma filha devassa, fechasse os olhos e nem desse atenção a isso. Entretanto, como a filha não era assim, ele foi um verdadeiro tirano.
    Alguém dirá: “Dr. Plinio, o senhor falou em liberalismo, mas na Idade Média ele não existia”. E eu respondo: O liberalismo não existia como doutrina especificamente explicitada, mas ele é velho como o mundo, e existiu sempre depois do pecado original, como impulso, como estado habitual de contradição, como ódio crônico ao bem, de maneira que, aqui, se pode falar de liberalismo.

    Promessas desmentidas e, afinal, realizadas

    A Beata Angelina reza, pedindo a Deus para lhe indicar o que deve fazer, e Ele lhe revela que deve se casar. Ela, então, com toda obediência, casa-se; mas, vê-se que a santa dama levava no fundo da alma, se não era nos termos expressos da revelação divina, a esperança de que ela não seria obrigada a desistir de sua bem-amada virgindade.
    Ora, depois de um dia de festas nupciais – podem imaginar como foi um dia trágico para essa coitada! –, ela vai ao crucifixo chorando e pede a Deus auxílio a fim de, no novo estado ao qual entrara por vontade d’Ele, ela encontrasse, entretanto, a possibilidade de praticar a virgindade.
    Nesse instante, entra o jovem esposo e encontra-a rezando junto ao crucifixo. Ele a vê chorando e pergunta por quê. Ao declarar-lhe a razão, ele, tocado pela graça, resolve viver com ela como um irmão.
    Vejam a linda transformação, um verdadeiro milagre moral! Dessa forma, Deus premiava a sua confiança; até o último minuto esperou contra toda esperança, nada dava a entender que o caso dela teria saída, mas, no momento oportuno, houve o milagre.
    Um ano depois o cônjuge morre e, então, ela fica livre. Tendo conservado sua virgindade, a santa mulher está em condições de se consagrar à sua vocação.

     

    Confiança na voz interior da graça

    A Beata Angelina funda um convento, o qual floresce tanto que começa a se encher de moças. Em decorrência disso, aparece a má atitude de várias pessoas furiosas contra ela, como o próprio pai, ou os pais de outras amigas, não querendo a presença da Santa nesse lugar, pedem a sua expulsão, pois ela está atraindo para o convento as moças da alta sociedade.
    Eles ficaram rosnando sem poder fazer nada. Por quê? Porque Nossa Senhora tinha colocado sua mão sobre essa obra e, como diz bem o Hino das Congregações Marianas, “de mil soldados não teme a espada, quem pugna à sombra da Imaculada”. Nossa Senhora resolveu e venceu tudo.
    Feliz época de grande receptividade para a vocação dada por Deus, na qual uma pessoa santa podia fundar um convento; neste, não ser perseguida, mas permanecer como Superiora e atrair as moças.
    Porém, ao ser expulsa daquela região, ela funda conventos em vários outros lugares; portanto, fundou uma Congregação. A sua obra está completa. De revés em revés, de apuro em apuro, de precipício em precipício, ela conclui o périplo completo.
    É uma lição para o nosso apostolado. Devemos compreender que, às vezes, as coisas mais altas desejadas por nós, as mais difíceis, mais nobres e santas esbarram em obstáculos inesperados, porque Nossa Senhora quer, Ela mesma, depois, resolver o caso. E todos os esforços humanos se tornam baldos diante disso. Pouco importa! Tenhamos confiança na voz interior da graça, naquilo que Deus, Nosso Senhor, nos disse dentro da alma, porque chegará o momento no qual Maria Santíssima intervirá, e aquilo que a graça falou se realizará.

    Nossa grande esperança atual

    O “Livro da Confiança”2 começa com essas palavras expressivas: “Voz de Cristo, voz misteriosa da graça, Vós murmurais, no interior de nossas almas, palavras de doçura e de paz”. Com efeito, quantas e quantas vezes sentimos, em nossas almas, movimentos da graça cheios de doçura e de paz que nos levam a pedir coisas aparentemente inalcançáveis. Mas, à força de confiar contra toda esperança, nessa doçura e nessa paz; à força de rezar e de agir, isso acaba se realizando.
    Qual é nossa grande esperança do momento presente? Neste apuro sempre mais trágico do cerco desferido contra a Igreja e a Mãe de Deus pelos seus adversários, nós, mais do que nunca, devemos confiar que Nossa Senhora, afinal, consiga de Deus – que parece dormir como no barco de São Pedro –, que Se levante e comece a Se mover no mundo, para operar as suas grandes obras. Dia e noite, devemos estar devorados por este desejo.
    Porque, quando Deus começar a agir, ninguém O deterá. E nós que, por enquanto, vemos a Causa Católica tão perseguida e sofrendo tantas provações, quando Deus Se mover, então compreenderemos como é o braço poderoso de Deus. Ficaremos estarrecidos ao ver os obstáculos desmoronando, as montanhas se fundindo, os condenados caindo no Inferno, as almas ainda aproveitáveis se convertendo, e o Espírito Santo, a rogos de Nossa Senhora, soprando sobre toda a Terra, para renová-la. Isso nós devemos pedir de todo o coração.v

    (Extraído de conferência de 21/12/1966)

    1) Não dispomos dos dados desta ficha.
    2) De autoria do Pe. Thomás de Saint-Laurent.

     

  • Um lírio florescido no lodo

    A vida de Santo Alexandre parece um conto de fadas: andrajoso e enegrecido pelo ofício de carvoeiro, era, na verdade, um vaso de eleição. Elevado à dignidade episcopal, manifestou nobreza e fidelidade. Eis um Santo, símbolo de tantas outras almas dispersas pelo mundo e que possuem uma beleza rara. Nossa Senhora realiza através delas os magníficos desígnios da Providência Divina para esta Terra.

    Os dados que vou expor a continuação foram tirados do livro Vidas dos Santos, escrito por Rohrbacher1. Trata-se da escolha de Santo Alexandre como Bispo de Comana.

    Desprezível aos olhos dos homens

    Em meados do século terceiro, os cristãos de Comana, no Ponto, enviaram deputados a São Gregório Taumaturgo, Bispo de Cesareia, pedindo-lhe um bispo. São Gregório dirigiu-se à cidade procurando um pastor para a nova diocese. Os magistrados e principais do lugar procuravam o mais nobre, o mais eloquente ou o que mais se distinguisse por brilhantes qualidades. Apresentaram-lhe numerosos pretendentes. São Gregório, que considerava mais a virtude, disse-lhes que não deviam desdenhar mesmo aqueles cujo exterior parecesse desprezível. Um dos que presidiu a eleição quis ridicularizar as palavras do Santo e disse:
    — Se não quereis o que temos de melhor, é preciso ir buscar um bispo entre os artesãos e a plebe. Aconselho-vos Alexandre, o carvoeiro. Nós todos consentiremos na escolha.

    — E quem é esse Alexandre? – perguntou Gregório.
    Apresentaram-no, então. Estava seminu, coberto de andrajos sujos e rotos. Via-se claramente qual era sua profissão pelo negrume das mãos e do rosto. Todo mundo começou a rir, vendo esta figura em meio à assembleia.

    Um vaso de eleição escondido pelo demônio

    Alexandre não estava admirado, não olhou ninguém e parecia estar satisfeito com o seu estado. De fato, era um filósofo cristão, um verdadeiro sábio. Não fora a necessidade que o reduzira àquele estado, mas o desejo de se ocultar para praticar a virtude. Ele era jovem e belo, não lhe faltaria ocasiões de tentação, e ele queria ser casto. A poeira do carvão que o desfigurava era como uma máscara que o impedia de ser reconhecido. Seu ofício servia-lhe, ainda, para viver inocentemente e praticar boas obras. São Gregório, descobrindo quem era, mandou que o banhassem e vestissem com seus próprios trajes.
    Assim, ele veio parecendo um outro homem, atraindo a atenção de todos os olhares.
    — Não vos admireis – disse São Gregório – se vos enganastes, julgando segundo os sentidos. O demônio queria tornar inútil esse vaso de eleição, escondendo-o.
    Consagrado solenemente, ao fazer seu primeiro discurso, Alexandre assombrou os presentes.
    Santo Alexandre, célebre por sua pregação, governou dignamente a Igreja de Comana até a perseguição de Décio, quando então sofreu o martírio pela Fé.
    Parece um conto de fadas. Nesse episódio não há nada que não seja admirável. Que comentários fazer a respeito de um fato como esse?
    Notem que o maravilhoso se soma ao maravilhoso. Um jovem belo, grande filósofo, sagacíssimo, um verdadeiro sábio que resolve fugir do mundo, vai para um lugarejo como Comana e se faz carvoeiro, profissão modesta, humilde, escolhida por ele para desaparecer aos olhos do mundo.

    Humilde, casto e despretensioso, cheio de sabedoria

    Decide apresentar-se enegrecido pelo carvão para que sua formosura não atraísse manifestações de admiração. Por esta forma, vive inocentemente numa profissão árdua, que lhe dá pobreza e na qual não tem ocasiões de pecado, roubo e outras coisas parecidas, mas vive entre seus carvões e sua Filosofia.
    O que seria um crepúsculo assistido por Santo Alexandre, sendo ainda carvoeiro?
    Imaginemo-lo sentado num casebre qualquer de um arrabalde de Comana, próximo a uma floresta, que talvez fosse uma terra abandonada de onde ele retirava a lenha para reduzi-la a carvão.
    Ali, no silêncio de uma tarde pesada e calorosa, ele permanece sentado do lado de fora da casa com as mãos e o rosto sujos pelo carvão, esperando que acabasse de cozer uma comidinha preparada na cozinha, meditando e fazendo filosofia daquilo, pensando, distinguindo, elaborando uma arquitetura de espírito, elevando-se até a Teologia, rezando a Nossa Senhora, tendo eventualmente uma visão; depois, entra na casa para ir comer as aboborinhas que preparara e, em seguida, volta à meditação. A horas tantas, vai à igreja para rezar, visitar o Santíssimo Sacramento e a imagem de Nossa Senhora e, por fim, começa a noite casta, pia e tranquila de sua Comana.
    Pode-se imaginar algo melhor do que isso? Dá vontade de deixar tudo e ir correndo para dentro da carvoaria de Santo Alexandre, com a condição de não ouvir falar do mundo moderno, e levar uma vida tranquila, casta e despreocupada. Que coisa maravilhosa!

    Enlevo recíproco que destrona os orgulhosos

    Pois bem, esse homem é chamado, de repente, para uma assembleia e aí vem o toque do extraordinário em sua vida. Começam a rir dele: “Está aí! Pega esse carvoeiro!” Ele, que interiormente poderia estar dando risada de todos por ser muito mais inteligente e culto do que eles, entretanto está satisfeito, sentindo-se bem por ser objeto de caçoada, pois ama a humildade.
    Imaginem, naquela assembleia, os notáveis decadentes da aldeia, querendo um bispo que os enfeitasse com considerações apenas humanas; e, ali, a figura provavelmente majestosa, venerável, sábia, calma, cheia de interioridades e de mistérios, de São Gregório Taumaturgo, célebre por realizar uma quantidade enorme de milagres, e que está presidindo a reunião. Estão presentes dois Santos, um em face do outro, em torno à pequena autoridade degradada de Comana.
    Percebe-se, no fundo, aquilo que a narração não diz: com certeza, Santo Alexandre contemplava embevecido São Gregório Taumaturgo que, por sua vez, olhava encantado para o humilde carvoeiro, pois percebeu nele uma pessoa de alto valor. Então, interessou-se por ele, mandou ver quem era e, afinal de contas, tirou o brilhante de dentro da ganga.
    Ora, imaginem as notabilidadezinhas esmagadas, o mundanismo trucidado, quando entra na mesma assembleia Santo Alexandre, esbelto, fino, limpo, trajado com os próprios ornamentos episcopais de São Gregório. Eis a derrota completa. Quem fora esmagado, agora é levantado, e aqueles que davam risadas ficam quietos. Verifica-se a frase do Magnificat: “deposuit potentes de sede et exaltavit humiles”– tirou do trono os poderosos e exaltou os humildes (Lc 1, 46). Santo Alexandre é sagrado bispo e faz um sermão que deixa todo mundo pasmo. Aquelas “grandezas” locais, suburbanas, caipiras estavam todas achatadas pela figura superior do novo prelado.

    O lírio nascido do lodo, na noite e sob a tempestade

    Como termina a vida de Santo Alexandre? Estoura uma perseguição. Um belo dia, prendem-no, ele derrama seu nobre sangue em holocausto por Nosso Senhor Jesus Cristo e para testemunhar sua adesão à Fé Católica. É um mártir a mais que, depois de ter estado todo pintado de preto, acabou tingido do vermelho de seu próprio sangue. Com certeza o corpo dele foi levado para as catacumbas e ali conservado pela piedade dos fiéis.
    É possível desejar maior maravilha do que essa? Infelizmente, só podemos lamentar que nossa época, tão infensa ao maravilhoso, não tenha tais belezas; mas é exatamente dessa forma que Deus castigou estes tempos, dispondo as coisas de tal maneira que o maravilhoso não aparece mais. Tudo é banal, raso e insípido, quando não é hediondo e pecaminoso.
    Contudo, existem almas dispersas pelo mundo que possuem uma beleza rara e, portanto, escapam a essa hediondez, por meio das quais Nossa Senhora faz a maravilha da humildade completa, da sujeição e da fidelidade perfeita à Igreja Católica Apostólica Romana nos seus piores dias, precisamente nos momentos em que essa fidelidade seria mais difícil de se esperar.
    Maria Santíssima imprime nessas almas eleitas o maravilhoso perfume de uma devoção mariana levada até os extremos limites desejados por São Luís Maria Grignion de Montfort, e são as únicas capazes de espargir esse aroma em meio à pestilência e de emitir luz entre as trevas, porque são luminosas, nobres e possuem uma maravilha própria.
    É como um lírio que floresce no pântano, na noite e sob a tempestade, para indicar que a Providência Divina e Nossa Senhora têm magníficos desígnios para esta Terra. O maravilhoso está praticamente reduzido a nada, mas terá uma verdadeira expansão no Reino de Maria que, se Deus quiser, não vai tardar.v

    (Extraído de conferência de 10/8/1967)

    1) Cf. ROHRBACHER, René François. Vidas dos Santos. Vol. XIV. São Paulo: Editora das Américas, 1959. p. 331-333.

  • Fortaleza e suavidade

    São Pio X realizou maravilhosamente, em sua vida, a síntese de dois aspectos do Catolicismo: fortaleza e suavidade. Acolhedor e afável para os bons e os verdadeiramente arrependidos, foi o martelo inexorável das heresias, não regateando os golpes com que feriu os propagandistas do erro. É este mesmo Papa doce e amável quem acumula, em suas encíclicas, as expressões duras e contundentes contra os semeadores da mentira e da discórdia. Ainda aí havia a inenarrável suavidade do pastor que, por amor de suas ovelhas, acomete corajosa e intrepidamente, sem cuidar de si, a matilha dos lobos esfaimados.
    O Modernismo, por exemplo, se apresentava com esta nota inédita: a primeira heresia que não abria luta declarada contra a doutrina oficial, mas se confundia habilmente em manejos tortuosos, procurando aninhar-se no seio da Igreja. Foi São Pio X quem, de espada em punho, saiu a desentocar essa serpente.
    Entretanto, embora ferido de morte, o Modernismo ainda continua a empestar os ambientes católicos. Certas mofas contra o valor da apologética, a incoerência em que se diluem os conceitos mais elementares e principalmente tanto laxismo que corre o mundo sob capa de caridade não passam de autêntico Modernismo.
    Que as virtudes do grande Papa sejam um estímulo e exemplo para os que combatem os erros da era presente.
    (Extraído de O Legionário n. 488, 18/1/1942)

  • Que o Coração de Maria seja a nossa morada

    Dr. Plinio desejaria não somente reclinar a cabeça sobre o Coração de Maria, mas poder estabelecer lá dentro a sua morada para que, iluminado nessa luz, virginizado nessa pureza e inflamado nas chamas dessa caridade, tudo o que ele dissesse fossem palavras de luz e fogo a brotar da abundância desse Coração inefável.

    “Coração de Maria, minha esperança!” era o lema do célebre João Sobieski, Rei da Polônia, que nos transes difíceis de sua vida e do seu reinado ia haurir no Coração Imaculado de Maria alento e valor para as dificuldades. Com este grito de guerra, “Cor Mariæ, spes mea”, a vibrar-lhe na alma e a inebriar-lhe o coração, se lançou ele afoito contra os turcos em 1683, e pouco depois libertava heroicamente a cidade de Viena do apertado cerco muçulmano.

    Grito de guerra para uma Cruzada invencível

    “Coração de Maria, nossa esperança!” é o grito de guerra com que dum recanto ao outro da Terra temos que convocar todas as almas de boa vontade para, numa Cruzada invencível, sob a égide da Rainha dos Céus, marcharmos à rude tarefa de libertar enfim a pobre humanidade dos terríveis cercos de ferro com que a perversidade e a insânia tentam aniquilá-la. É pelo Coração de Maria que faremos triunfar o Coração de Jesus!
    Leão XIII apontava para o Coração Santíssimo de Jesus como o grande sinal no firmamento a prometer-nos vitória: In hoc signo vinces! – Com este sinal vencerás! E com ele nos mandava armar, como outrora os soldados de Constantino, com o Sinal da Cruz. E muitos dos cristãos obedeceram e o mundo foi consagrado oficialmente pelo Papa ao Sagrado Coração do Salvador.
    Por isso podia na sua primeira encíclica escrever Pio XII: “Da difusão e aprofundamento do culto ao Divino Coração do Redentor, que encontrou o seu coroamento não só na consagração da humanidade, ao declinar do último século, mas também na instituição da festa da Realeza de Cristo pelo nosso imediato Predecessor, de feliz memória, resultaram indizíveis bens para inúmeras almas; foi um caudal impetuoso que alegra a cidade de Deus: fluminis impetus lætificat civitatem Dei” (Sl 45, 5).
    Mas havemos de reconhecer que os triunfos do Coração de Jesus ainda não correspondem plenamente nesta época às sorridentes esperanças de Leão XIII ao consagrar-Lhe o universo. “Que época mais do que a nossa – diz ainda Pio XII – foi atormentada de vazio espiritual e profunda indigência interior, a despeito de todos os progressos técnicos e puramente civis?… Pode conceber-se dever maior e mais urgente do que evangelizar as insondáveis riquezas de Cristo (Ef 3, 8) aos homens do nosso tempo? E pode haver coisa mais nobre do que desfraldar o estandarte do Rei – vexilla Regis – diante dos que têm seguido e seguem ainda bandeiras falazes, e procurar reconduzir para o pendão vitorioso da Cruz os que o abandonaram?”

     

    Arrebatadora dos corações

    zas insondáveis de Cristo aos homens, o caminho mais rápido e obrigatório é Maria – per Mariam ad Iesum. Tem sido sempre assim desde o começo da Igreja. É por Maria que nos vem Jesus.
    E o impulso cristão – que irrompe afinal das almas sob a ação do Espírito Santo, como numa das suas encíclicas sobre o Rosário o notou Leão XIII – vai mais longe afirmando cada vez mais clara e afoitamente, sobretudo de há um século a esta parte, que é pelo Coração de Maria que nos há de vir o Coração de Jesus; é pelo Reinado do Coração da Mãe que há de vir o Reinado do Coração do Filho.
    Para O fazer reinar é mister amá-Lo – é o seu triunfo nos corações e nas vontades. Para O amar é urgente primeiro conhecê-Lo – é o seu reinado nas inteligências.
    Contribuam estas linhas para levar às almas essa luz e esse calor.
    Assim como não se conhece deveras a Cristo enquanto não se conhece seu Coração – o Coração de Jesus é o melhor ponto de vista do Salvador, é a chave do enigma de todas as suas misericórdias, o abismo inesgotável de todas as suas invenções de amor –, assim também Maria Santíssima só será conhecida e amada e reinará plenamente nas almas quando intimamente for conhecido o seu Coração Imaculado. É também ele o melhor ponto de vista de Maria. À luz do seu Coração ilumina-se das mais suaves e deslumbrantes tonalidades a sua virgindade sem par, a sua inexcedível dignidade de Mãe de Deus, de Esposa do Espírito Santo e de Filha predileta do Altíssimo, a sua terníssima solicitude de Mãe dos homens e de Rainha dos Céus e da Terra.
    O seu Coração é o ímã misterioso que nos arrebata os corações, o que levou São Bernardo a denominá-La a arrebatadora dos corações: raptrix cordium. Mas se é pelo Coração que Ela nos conquista, é também ele a arma com que A conquistamos: tocar-Lhe no Coração é vencê-La. E – mistério profundo! – não é outro o cetro com que Maria impera junto do Altíssimo. Mostrar ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo o seu Coração de Filha, Esposa e Mãe é conquistar a Deus; é inclinar a nosso favor toda a Santíssima Trindade.

    “Sozinha destruiu todas as heresias do mundo inteiro”

    Daqui vem que tudo o que se afirma de Maria Santíssima na sua missão e misericórdia a respeito dos indivíduos, da humanidade e da Igreja em especial, se haja de afirmar com mais forte razão do seu Coração Imaculado.
    Portanto, não conhece Maria quem não conhece o seu Coração; mas quem conhecer esse Coração possui o melhor conhecimento de Maria. Não ama a Maria quem não ama o seu Coração; mas amar o Coração de Maria é amá-La pelo melhor modo como Ela deseja ser amada. É no seu Coração que está a razão de todas as suas bondades para com os homens; é essa a força que nos atrai quando a Ela acudimos e o bálsamo que nos conforta quando A imploramos, na certeza de sermos socorridos.
    É porque no peito de Maria palpitava um Coração tão semelhante ao seu que o Coração de Jesus, à hora da Morte no Calvário, no-La deu por Mãe: “Ecce Mater tua”, e a Ela nos entregou por filhos: “Ecce filius tuus”.
    Se de São Paulo se afirmou que tinha um coração parecido ao de Cristo: cor Pauli, Cor Christi, muito mais e melhor que ninguém tem direito a este encômio supremo Maria Santíssima: Cor Mariæ, Cor Iesu.
    É porque em seu peito continua lá no Céu a pulsar o mesmo Coração dulcíssimo e amantíssimo, que a Santa Igreja, nas horas aflitivas, nos manda acudir a Maria, seguros de obtermos sempre pronto socorro.
    “Quem considerar atentamente os anais da Igreja Católica – escrevia o saudoso Pontífice Pio XI –, verá facilmente unido a todos os fastos do nome cristão o valioso patrocínio da Virgem Mãe de Deus. E na verdade, quando os erros, grassando por toda parte, procuravam dilacerar a túnica inconsútil da Igreja e subverter o mundo católico, Àquela que ‘sozinha destruiu todas as heresias do mundo inteiro’1 acudiram nossos pais e se dirigiram com o coração cheio de confiança; e a vitória por Ela obtida trouxe-lhes tempos mais felizes.”
    Quando a impiedade muçulmana, confiada em potentes armadas e grandes exércitos, ameaçava arruinar e escravizar os povos da Europa, foi implorada instantissimamente, por conselho do Sumo Pontífice, a proteção da Mãe Celeste; deste modo foram destruídos os inimigos e submergidas as suas naus.
    E tanto nas calamidades públicas como nas necessidades particulares, têm acudido à Maria, suplicantes, os fiéis de todos os tempos, para que Ela venha benignissimamente em seu socorro, obtendo-lhes o alívio e remédio dos males do corpo e da alma. E jamais seu poderosíssimo socorro foi esperado em vão por aqueles que o imploram em prece confiante e piedosa.

     

    Que Nossa Senhora nos faça como que desaparecer n’Ela

    Com toda a razão, portanto, nas horas difíceis em que hoje vivemos, todas as nossas esperanças de salvação, de triunfos e de paz estão postas nesta Arca de salvação: no Coração de Maria.
    “A mim, o mínimo dos santos, foi-me dada esta graça de evangelizar às gentes as investigáveis riquezas de Cristo” (Ef 3, 8), dizia São Paulo.
    Uma das mais insondáveis riquezas que nos legou Cristo foi o Coração de sua Mãe. Ah, se nos fora dado carisma parecido ao do Apóstolo de evangelizarmos aos nossos leitores toda a profundeza, longitude e latitude, todos os abismos preciosos de amor encerrados no Coração de Maria!
    Um erudito e piedoso autor dizia, ao escrever sobre o Coração da Mãe de Deus, que ambicionava para si poder reclinar-se, como outrora São João Evangelista na última Ceia sobre o peito do Senhor, também sobre o peito de Maria para, depois de escutar as palpitações de seu Coração, conseguir mais facilmente dizer desses segredos de amor.
    As nossas ambições vão mais longe neste instante: quiséramos não somente reclinar a cabeça sobre o Coração Imaculado de nossa Mãe do Céu, mas poder estabelecer lá dentro a nossa morada para que, iluminados nessa luz, virginizados nessa pureza e inflamados nas chamas dessa caridade, tudo o que disséssemos fossem palavras de luz e fogo a brotar da abundância desse Coração inefável.
    Que Ela nos acolha nesse recôndito de amor, nos faça aí como que desaparecer n’Ela, para que afinal seja Maria quem diga de Si mesma, pelo débil instrumento que todo se Lhe consagra, as maravilhas do seu Coração.
    Que seja aí também que os nossos leitores coloquem a sua mansão, para nessa escola e a essa luz melhor compreenderem a obra-prima do Senhor.v

    (Extraído de O Legionário
    n. 555, 28/3/1943)

  • Santa Clotilde e a conversão do Rei Clóvis

    Enfrentando duríssimas provações com muita Fé e confiança na Divina Providência, Santa Clotilde conseguiu a conversão de seu esposo Clóvis, Rei da França. Após a vitória obtida na Batalha de Tolbiac, ele e três mil de seus soldados foram batizados por São Remígio, Bispo de Reims.

    Apesar de ser filha dos Reis de Borgonha, teve Clotilde uma infância muito triste. Nascida em torno a 475, em Gundobaldo, seu tio, obcecado pela ambição, assassinou os pais de Clotilde, dois dos irmãos, enclausurou a irmã mais velha num convento e levou consigo Clotilde, menina de extraordinária beleza. Embora vivesse num ambiente todo ariano, Clotilde teve a felicidade de receber uma mestra católica que a educou na Religião verdadeira. Quanto mais aversão lhe inspirava a presença do assassino dos pais, tanto mais se entregava a Deus e à sua divina Mãe.

     

    Capela riquíssima e culto esplendoroso

    Debalde se esforçava por ficar desconhecida do mundo: rara beleza e, mais ainda, as belas qualidades de coração e de espírito da donzela atraíram a atenção de toda a Borgonha, que se orgulhava de possuir uma princesa tão virtuosa.
    Pedida em casamento por Clóvis I, Rei da França, deu consentimento só depois de muito rezar, e ainda assim com a condição do Rei, que ainda era pagão, deixar-lhe praticar a Religião cristã. Clóvis deu palavra de honra de querer respeitar a Religião de Clotilde, e assim contraíram núpcias em 493.
    O único desejo de Clotilde era a conversão do Rei e do povo ao Catolicismo. Contando com a influência do bom exemplo, instalou a Rainha no palácio uma capela riquíssima e organizou o culto do modo mais esplendoroso. Pessoalmente, de pontualidade rigorosa no cumprimento dos deveres religiosos, sua vida era de penitência, de caridade sem precedentes. Deste modo Clotilde não só alcançou ser respeitada e amada no meio dos elementos mais ou menos hostis à Religião cristã, mas ainda conseguiu que o Rei perdesse os preconceitos em matéria de religião e se sentisse feliz em possuir uma esposa virtuosa.
    Clotilde não perdia ocasião de mostrar ao esposo a beleza da Religião de Cristo. Incessantemente dirigia preces à misericórdia divina, para que se compadecesse do Rei e do povo da França e lhes concedesse a graça da conversão. Clóvis não era inacessível aos rogos da esposa, mas não se animava a abandonar as superstições do paganismo, receando o desagrado do povo. Não obstante consentiu que o primeiro filhinho fosse batizado com toda a solenidade.

    Provações duríssimas enfrentadas com confiança em Deus

    Aprouve a Deus sujeitar a fiel serva a provações duríssimas. O primeiro filho morreu poucos dias depois de ter recebido o Batismo. Indescritível era a dor do Rei e o seu coração encheu-se de rancor contra a esposa, levantando-lhe as mais duras acusações.
    — Vejo na morte de meu filho a ira dos deuses que, irritados com o Batismo cristão, assim se vingaram.
    Clotilde, com mansidão, respondeu:
    — Não menos motivo tenho de chorar a morte da criança; mas dou graças a Deus que Se dignou de dar-me um filho para recolhê-lo logo ao seu reino.
    Que bela resposta, digna duma mãe cristã!
    Clotilde não desanimou e continuou a preparar o espírito de Clóvis para que recebesse a graça do Cristianismo. Quando deu à luz o segundo filho, conseguiu do Rei o consentimento para o Batismo da criança. Aconteceu, porém, que esse segundo menino também adoeceu gravemente depois da recepção do Sacramento. Para Clóvis já não havia mais dúvida que era o Sacramento cristão o causador da morte do primeiro e da doença do segundo filho. Alucinado pela dor, rompeu em blasfêmia e lançou contra a esposa os mais graves insultos. Clotilde sofreu tudo calada, mas seu amor a Deus e a confiança na Divina Providência nenhum abalo sofreram. Com o intuito de desagravar a Santa Religião ultrajada, tomou a criança doente nos braços e, de joelhos ante o crucifixo, ofereceu a inocência do filhinho pela conversão do pai. Deus recompensou essa humildade e caridade pela repentina cura do menino.
    A alegria e o pasmo de Clóvis, ao ver o filho são e salvo, eram indescritíveis. Bendizendo a grandeza e o poder do Deus dos cristãos, prometeu aceitar a Fé cristã, promessa cujo cumprimento, porém, depois protelou, alegando mil motivos.

    “Se eu lá estivesse com os meus francos…”

    Neste entrementes, veio a guerra contra os alamanos. Despedindo-se da mulher, esta lhe disse:
    — Não ponhas tua confiança em teus deuses que nenhum poder têm, mas confia em Deus Todo-Poderoso que te dará a vitória sobre teus inimigos. Lembra-te destas palavras, quando te achares em perigo.
    Em Tolbiac, travou-se sangrenta batalha e a vitória pendia para o lado dos alamanos. Nas fileiras dos exércitos de Clóvis reinavam já desordens, e ele mesmo corria risco de ser aprisionado. Nesta suprema angústia, Clóvis se lembrou das palavras que a esposa lhe dissera na despedida e, olhos e mãos elevadas ao céu, assim rezou:
    “Ó Deus de Clotilde valei-me! Se me libertardes desse perigo e me concederdes a vitória, acreditarei em Vós e a vossa Religião será introduzida no meu reino.”
    Imediatamente as coisas mudaram de aspecto. Um pânico inexplicável apoderou-se dos inimigos, que foram completamente derrotados. Indescritível foi o júbilo dos francos e do Rei, que tão evidentemente acabara de experimentar o poder do Deus dos cristãos.

    Desta vez Clóvis cumpriu a palavra. Instruído na Doutrina cristã por São Remígio, pelo mesmo santo bispo foi batizado em 496, em Reims, e com ele três mil francos receberam o mesmo Sacramento. As ruas da cidade ostentavam ornato pomposo e a catedral achava-se solenemente enfeitada.
    — É este o reino dos Céus, santo padre? – perguntou o Rei ao transpor o limiar da catedral.
    Quando o bispo lhe falou da morte de Cristo na Cruz, Clóvis respondeu:
    — Se eu lá tivesse estado com os meus francos, nada Lhe teria acontecido.
    Quando Clóvis se dirigiu à pia batismal, São Remígio o recebeu com estas palavras:
    — Inclina tua cabeça, altivo sicambro, e adora o que até hoje perseguiste e persegue o que até agora adoraste.
    Diz a tradição que, no momento do Batismo de Clóvis, todo o povo viu uma pomba branquíssima que trazia no bico um frasco com os santos óleos, e um Anjo levava um estandarte de bordado riquíssimo. O frasco se conservou até o tempo da Revolução Francesa, quando foi quebrado. O lis, desde então o brasão dos reis de França, é um símbolo antiquíssimo de origem céltica e significa fertilidade.
    Embora cristão, Clóvis continuou na carreira de conquistador, dando muitas provas de um caráter bárbaro e índole feroz. Morreu na idade de setenta anos. Clotilde teve muitos e profundos desgostos com os filhos, que se guerreavam em lutas fratricidas. Morreu em 545 e seu corpo acha-se na Igreja de Santa Genoveva, em Paris.v

    (Extraído de O Legionário
    n. 773, 1/6/1947)

  • Disse “sim” para a vocação e a realizou

    Padre Damião, considerando a existência de pessoas imersas num infortúnio profundo, com a doença horrível da lepra, sentiu tanta compaixão e um tal desejo de ajudá-las a carregar essa infelicidade tremenda, que teve um movimento interno de alma de ir à Ilha Molokai, onde havia um imenso leprosário, para cuidar dos leprosos.
    Certo dia, pregando um retiro para eles, disse-lhes: “Meus filhos, eu queria vos dizer que hoje, mais do que nunca, sou dos vossos, porque comecei a sentir em mim os primeiros sintomas da lepra.”
    Morreu leproso, contente por ter ajudado aqueles coitados a suportar com alegria e resignação a doença da qual acabou contagiado, dando por bem empregado seus sofrimentos.
    Foi a graça de Deus que deu a ele uma especial sensibilidade e clareza de vistas para perceber os padecimentos daquela gente e o quanto ele era dotado de recursos pessoais, de graça, de bondade, de consolação para atenuá-los. Então, por amor a Deus, decidiu renunciar a todas as alegrias desta vida para imergir naquele oceano de dor.
    É uma vocação. Esta graça especial bateu em sua alma, como quem bate numa porta, e perguntou: “Meu filho, queres fazer esse sacrifício? Queres ir para o meio dos leprosos? Queres correr o risco de ficar leproso, para fazer o bem àqueles infelizes?”
    Ele respondeu: “Sim!”
    Nessa hora começou um caminho. Ele disse “sim” para a vocação e a realizou.
    (Extraído de conferência de 24/8/1991)

  • Campeão da Fé, defensor da ortodoxia

    São Basílio viveu num mundo minado pelos mais satânicos métodos de perseguição ao Catolicismo, precisamente por serem hipócritas e velados, numa época em que, humanamente falando, a causa da ortodoxia estava perdida.
    Mais do que o Santo da ação social, devemos ver no grande Bispo de Cesareia o campeão da Fé, o defensor da ortodoxia, o homem da Igreja.
    Sua pureza de doutrina, santa intransigência em matéria de Fé e de costumes são a chave de sua obra no setor social. Se o sumo bem que podemos aspirar para o próximo é a realização de sua missão sobre a Terra para atingir a bem-aventurança eterna, é claro que sem essa chama da vida interior seria vã toda a obra de assistência social desenvolvida pelo grande Santo.
    São Basílio enfrentou o totalitarismo do Estado como os católicos de hoje terão de fazer perante os imperadores neopagãos e neocoroados, sem vacilações nem conivências, sem concessões ao erro, sem mutilações da Doutrina da Igreja, sob pretexto de proselitismo.
    Só assim podemos imitar o grande e santo Doutor em sua desassombrada intervenção a favor dos humildes, dos fracos, de todas as vítimas da arbitrariedade, da tirania, das injustiças sociais.
    Só com esse verdadeiro conceito de Caridade poderemos trazer à Igreja as multidões desgarradas que hoje se debatem no meio da mais completa miséria, principalmente espiritual.

    (Extraído de O Legionário n. 718, 12/5/1946)

  • Esplendidamente atendidos por Deus

    Segundo tradições antigas do Oriente e revelações privadas, São Joaquim e Santa Ana não tinham
    filhos e já estavam numa idade avançada. Isso lhes causava um pesar muito grande
    porque, entre os judeus, era uma vergonha não ter filhos, pois então não se podia ser antepassado
    do Messias, a glória do judeu.
    Apesar disso, o santo casal sempre pediu a Deus para ter um filho. Quando veio, era Nossa Senhora!
    Se São Joaquim e Santa Ana raciocinassem como algumas pessoas: “Ah, eu estou pedindo
    uma criança há cinco anos! Rezo todo dia meio minuto e não sou atendido! Já desanimei…” –
    quanto menos a pessoa reza, mais depressa quer ser atendida – poderiam não ter sido os pais da
    Santíssima Virgem, e a Mãe do Salvador nasceria de outro casal.
    Assim se passa com as graças que nós pedimos: devemos rogar muito. Afinal, quando Deus
    concede, Ele atende exuberante e esplendidamente, pelos rogos de Maria.
    (Extraído de conferência de 31/1/1976)