Ao celebrar a Solenidade de Cristo Rei, a liturgia deste ano oferece à meditação dos fiéis a passagem do Evangelho em que São Lucas descreve os padecimentos de Jesus pregado na Cruz entre dois ladrões, sendo alvo do escárnio, blasfêmias e maus tratos por parte dos circunstantes.
Pode haver conjuntura mais adversa do que esta, de completa desolação, para proclamar a realeza de alguém? Entretanto, ao insinuar esse aparente paradoxo, o texto sagrado nos introduz num profundo e adorável mistério.
Precisamente por ser Homem-Deus, Jesus é o Rei da História, e todos os acontecimentos se passam segundo sua santíssima e onipotente vontade.
Assim, ao sorver até a última gota a taça de todas as dores e humilhações possíveis, o Redentor sabia que cada um desses tormentos seria objeto da adoração de multidões ao longo dos séculos; e viria um dia em que os maiores monarcas da Terra disputariam a honra de ter incrustado no respectivo cetro um minúsculo fragmento da cana de irrisão usada na Paixão para ridicularizar a divina realeza; e a coroa de espinhos seria de tal maneira venerada, que um dos maiores reis da Cristandade, São Luís IX, haveria de mandar construir a Sainte-Chapelle de Paris para acolher essa inapreciável relíquia.
Por isso, do fundo de sua dor e abandono, possuía Jesus a majestade da certeza da vitória que haveria de vir.
Misteriosa majestade que Dr. Plinio admirou desde tenra infância, ao contemplá-la numa imagem do Sagrado Coração de Jesus, conforme sua própria descrição:
“Jesus me parecia tão majestoso e, ao mesmo tempo, tão bom; tão infinitamente superior a mim, e tão misericordioso, que eu dizia: ‘Mas, isso é majestade! Como eu gosto dessa majestade!’
“Quando me deparei na ladainha do Coração de Jesus com a invocação “Cor Jesu, majestatis infinitae, miserere nobis”, eu a adotei e a inscrevi entre as minhas invocações prediletas, desde logo, porque é uma coisa magnífica!
“Esse equilíbrio entre a majestade e a bondade me encantava, dando-me a ideia de que o mais alto e pleno padrão da majestade era Jesus Cristo. E sendo Ele “Rex regum et Dominus dominantium” — Rei dos reis e Senhor de todos os que dominam — era natural que se concebesse n’Ele uma majestade dessa elevação.”
Esta majestade infinita, sem dúvida, transluziu no alto da Cruz, aos olhos do Bom Ladrão que disse: “Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no teu Reino”. Ato de amor e de fé que mereceu, comenta Dr. Plinio, “esta promessa de Quem é, de fato, o Rei do Céu e da Terra: ‘Hoje estarás comigo no Paraíso’. Que realeza!”
Plinio Corrêa de Oliveira (Revista Dr Plinio 188 – Novembro de 2013)