Diante de tantas maravilhas criadas por Deus no universo, pode-se pensar que seria talvez incompreensível que Ele não as coroasse com uma beleza complementar e suprema.
Imaginemos um joalheiro que possua um escrínio repleto de pedras preciosas, avulsas, ainda não articuladas como jóias. Ele as toma e as espalha em cima de um lindo feltro que cobre sua mesa de trabalho, faz incidir sobre elas uma luz que realça o esplendor e o valor de cada uma, e se põe a admirá-las. O homem se encanta com aquele tesouro. Se for um joalheiro inteligente, breve lhe ocorrerá a seguinte idéia: “Como constituir um conjunto com essas pedras? Pois são tão belas que merecem ser reunidas num todo que as exceda em pulcritude. Como fazê-lo?”
De fato, se as pedras são lindas, a jóia na qual se encaixarão o será mais, posto que o conjunto das coisas ordenadas adquire beleza superior ao mero amontoamento desarticulado dessas mesmas coisas. A ordem é um degrau a mais para o esplendor, e este, propriamente dito, decorre não só da graciosidade de cada parte, mas da ordenação com que as partes estão dispostas. Esta é a beleza das belezas.
Portanto, o joalheiro inteligente não poderia deixar de pensar: “Essas pedras têm tais e tais características, tais e tais encantos; mandarei fazer com elas uma jóia”. Ele analisa suas pedras e elabora o desenho segundo o qual elas estarão melhor dispostas para formar a jóia desejada: “No centro virá aquele brilhante magnífico; e para que o broche seja mais refulgente, incrustarei de um lado rubis, depois uma camada de safiras e outra de esmeraldas…” E assim por diante, seguindo sua valiosa inspiração, ele acaba compondo o objeto precioso.
Sendo um grande joalheiro, sem hesitações nem contradições, decidido a executar o plano primeiro traçado por sua idéia, ele chama um de seus funcionários e lhe entrega aquele esboço: “Leve este desenho ao ourives e peça que me monte essa jóia, usando ouro do melhor quilate, a fim de que a beleza do metal complete o esplendor das pedras.”
Dias depois, o ourives entrega a encomenda ao joalheiro. Este abre a caixa lavorada com esmero, abre as dobras de veludo, de seda, até que seus olhos se rejubilam com o fulgor da linda jóia ali encerrada. E o ourives lhe diz: “Senhor, aqui estão as suas pedras, e aqui está a jóia que idealizou. Eis a beleza que minhas mãos lhe entregam! Minhas homenagens!”
Ora, Deus tendo criado todas essas maravilhas esparsas no universo, quais as gemas avulsas do joalheiro, haveria de lhes traçar uma ordem. Como centro dessa ordem, governando-a, resumindo-a num conjunto precioso, Ele pôs o gênero humano. E neste, foi intenção do Criador que existissem homens mais perfeitos, mais santos e mais admiráveis, e existisse o ápice, a jóia máxima: o Homem tão perfeito, tão inteligente, tão sábio e poderoso que excedesse em beleza, sabedoria, virtude e poder a todas as criaturas humanas.
Em torno desse Homem, como os rubis e safiras ao redor do brilhante, dispor-se-iam todas as perfeições do universo. Esse é o Homem-Deus, hífen de ouro ligando de modo magnífico o Céu e a Terra.
Todas as belezas do mar e do firmamento, todos os tesouros escondidos nas entranhas do solo, todos os variados encantos da fauna e da flora, todas as grandezas e maravilhas engendradas pelos homens em todos os tempos não constituem senão pré-figuras ou ecos d’Aquele que é o ápice da História: Nosso Senhor Jesus Cristo, de cujo Sangue infinitamente precioso vertido por nós em sua Paixão e Morte, nasceram todos os esplendores da Civilização Cristã. v
Hífen de ouro(Extraído de conferências em 24/3/1984 e 13/10/1989)