Brasilidade…

Como muitos de meus conterrâneos, percorri parte considerável do Brasil e conheci brasileiros de todas as latitudes e longitudes. Comprazendo-me na observação de nossas características, sempre me maravilhei diante da seguinte ­realidade que pode passar por trivial e inexpressiva.

Apesar da imensa extensão geográfica deste País, das influências locais centrífugas como, por exemplo, a predominância das imigrações hispânica, alemã e outras no Sul, e não obstante a nossa tão decantada heterogeneidade racial, acaba-se revelando no Brasil uma força centrípeta, discreta, doce, incessantemente ativa e invencível, que é a de aglutinação. Força tão assombrosa que nos permite conversar com alguém do Amazonas ou do Pará, do Rio Grande do Sul ou de Santa Catarina, sem que se notem — ou quase não se percebam — diferenças.

Travemos contato com um brasileiro de olhos amendoados e nariz pouco adunco, ou com um de predominância indígena, um negro ou qualquer habitante típico de determinada região, e notaremos um denominador comum, um predicado que penetra todos os espíritos, e merece ser chamado de “brasilidade”.

Essa peculiaridade nacional é uma das nossas grandes riquezas, consoante e harmônica com os tesouros naturais, as paisagens exuberantes, o litoral de beleza insuperável, nossas obras e monumentos históricos, coloniais e outros, que atraem a admiração de pessoas do mundo inteiro.

Encanta-me igualmente reparar o fato de haver recantos da alma brasileira ainda mais ou menos intactos, ilesos, aonde aparecem em certos momentos lampejos dessa força de aglutinação sob aspecto diverso: traços psicológicos, intelectuais e morais.

É quase proverbial a rapidez de intuição e a facilidade de correlações, tão típicas da inteligência do brasileiro de todos os quadrantes. Assim como qualquer coisa de filosófico e até de metafísico, que aflora muito nas canções caipiras e outras expansões populares. Filosofia, metafísica que não têm a claridade do sol, mas a da lua: difusa, esparsa e geral. Contudo, existe!

Além disso, há no meio de toda a psicologia do brasileiro uma característica que julguei perceber nos mais variados ambientes, regiões e panoramas de nossa pátria: uma certa esperança — quase diria uma precognição — de que o Brasil ainda será um grande País. A Providência permitiu que não tivéssemos o progresso acelerado da Europa dos séculos XIX e XX, e assim estamos prestes a ingressar no século XXI com vastidões do nosso território que são, nas mãos de Deus, como folhas de pergaminho ainda em branco.

E vivendo ao lado das gigantescas montanhas, das igrejas barrocas, das praias luminosas e acariciadoras, de uma Baía da Guanabara, ou dos pampas gaúchos, o brasileiro, imbuí­do como que naturalmente da Fé cristã, possui essa elevação de alma por onde sabe que algo acontecerá um dia que o colocará à altura de suas grandezas e dos valores depositadas pela Fé no seu coração.

Tenho a convicção de que, quando chegar essa hora, pelos rogos de Maria Santíssima o Espírito Santo agirá sobre nós. E então, o mesmo fator determinante para que a antiga civilização européia se convertesse e desse origem à Idade Média, fará com que brote deste solo, não uma cristandade medieval, mas o que esta deveria ter sido se houvesse correspondido aos planos divinos. Persuadido estou de que as extensões do chamado “pulmão verde” do mundo estão reservadas para esse dia.

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