Ávila, em Espanha, onde nasceu a grande Santa Teresa de Jesus, é uma maravilhosa cidade medieval.
É muito agradável, ao contemplar a cidade durante a noite, notar o contraste entre a cidade que dorme — lembrando uma vida calma, tranquila, pacata, sem as excitações da vida contemporânea, séria, mas ao mesmo tempo cheia de bonomia — e a muralha magnificamente iluminada, onde se nota a beleza do gótico e do medieval.
A iluminação faz sentir muito a força da muralha e qualquer coisa de épico, de heroico que nela existe. Imaginamos de bom grado essa muralha e os muros que ligam as torres guarnecidos de guerreiros, com couraças, elmos, estandartes, instrumentos de música e que ali estão postados para homenagear algum personagem ilustre que chega, ou para receber na ponta da lança adversários que podem querer tomar Ávila.
Essas muralhas falam de toda a beleza da firmeza de alma, da coerência, da seriedade e da sacralidade. Está tudo representado aí, de um modo verdadeiramente magnífico. Em suma, é a Idade Média.
Em ambos os aspectos há muita harmonia. Temos a guerra e o direito, a legítima defesa de uma população que na guerra é protegida, a quem suas muralhas amparam, e por isso pode tranquilamente dormir. A muralha garante o sono, como o guerreiro garante a ordem, o direito e a paz. É verdadeiramente esplendoroso.
Nessa síntese entre a guerra e a paz, o direito e a luta, o repouso e a batalha, há algo de síntese celeste que nos deixa verdadeiramente maravilhados. É a Idade Média em todo o seu esplendor.
Devemos notar que suas muralhas foram construídas com preocupação exclusivamente estratégica. Quer dizer, o intervalo entre as torres não foi feito com o objetivo de ficarem bonitas, mas calculado para que o adversário atacante pudesse ser atingido de vários lados. Primeiro, pela reação que vem dos defensores do muro. Depois, dos defensores das torres, de maneira que se torna difícil tomar as muralhas.
A torre é muito mais forte do que o muro. Ela se defende por si mesma. E pelo seu feitio redondo, ela de certo modo dispersa o adversário. Por outro lado, o muro, que é mais fraco, fica defendido pela muralha. Tudo foi estritamente calculado de acordo com o necessário e ficou lindo. Ao contrário do que se faria hoje, a forma da muralha é meio indecisa, não retilínea, e abrange como uma cintura o povoado que está dentro.
Tem-se a impressão de que cada torre é uma garra que segura o monte e domina a terra; é uma verdadeira beleza.
Com a solidez de suas portas, a entrada da cidade estava bem protegida. E com que robustez! Tratava-se de duas portas, uma frente à outra, que protegiam a passagem. Quem conseguisse entrar — debaixo de uma saraivada de pedras, de azeite fervente, etc. — esbarrava com a outra porta, onde havia outro passadiço para jogar pedras e flechas sobre os atacantes.
Muitas vezes, quando o adversário passava pela primeira porta, descia uma grade e ele ficava encurralado, porque não podia mais voltar para trás. E aí era pancadaria grossa. Compreendemos o senso de defesa que isso traduzia.
No topo da muralha estão as ameias, tão bonitas! Tudo estritamente técnico. Um homem lançava uma flecha e, quando o assaltante respondia com outra flecha, ele ficava escondido. Percebendo que o inimigo estava mais ou menos desprotegido, dava nova flechada.
Compreende-se o quanto era duro invadir uma cidade assim.
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 2/5/1972)