Ergue-se sozinha, desafiando a vastidão das águas que se abrem à sua frente. Dir-se-ia antes um palácio em forma de torre, espaçoso, amplo, imponente, com seus diversos andares encimados pelo caminho de ronda, ao longo do qual os vigias atentos são capazes de perlustrar todo o horizonte.
Cercada de pátios, patamares e guaritas, fruto de uma concepção corajosa, misto de guerreiro e sagrado, a Torre de Belém é, a meu ver, um dos mais belos monumentos da Cristandade.
Quando a vi pela primeira vez, desde logo tornou-se dos meus maiores encantos. Era a forma de grandeza e de pulcritude que eu desejava conhecer, sem a poder imaginar. Contemplando-a com meus próprios olhos, veio-me ao espírito este pensamento: “Já a pressentia, mas não conseguia colocá-la em palavras; tudo em mim se inclinava para ela, para o desejo que algo assim existisse. Eis a torre que eu tanto esperava!”
Senti, por assim dizer, uma vivíssima consonância que nos unia. Pareceu-me magnífica como dignidade, calma, distinção, majestade. Como vigor, força e, ao mesmo tempo, suavidade e delicadeza, presente naquelas sacadas de onde o rei e a corte assistiam a partida dos valorosos navegantes. Pude imaginar os adeuses de parte a parte, os lenços que se agitavam para marcar a separação e todas as outras manifestações de carinho e amizade para com os que se ausentavam. Tudo isso me veio de imediato à imaginação, porque havia essa consonância da Torre comigo.
Lembrar-me dela é para mim uma fonte de alegria: “Lá está a Torre, e sempre poderei revê-la!”
Extraordinária definição de ousadia, altiva, séria, resolvida a enfrentar os mares, ela nos convida a superiores cogitações. Sua atmosfera é incompatível com a superficialidade, a intriga e as mesquinharias da baixeza humana. Dela emanam aromas espirituais e sobrenaturais, o maravilhoso perfume da graça divina, posto que edificada por almas movidas de espírito católico, cuja inspiração artística sublimou-se por uma espécie de carisma e dom celestial para atingir aquele esplendor de realização.
Obra do passado, ela nos fala de futuro. Suas pedras de alvura reluzente nos transporta para o mundo dos contos de fábula.
É o próprio símbolo do heroísmo, da graça e da beleza.
Tenho para mim que certos lugares e monumentos que não possuem um significado diretamente religioso, mas constituem uma expressão cultural definida muito católica, devem ser admirados por amor à Igreja. A Torre de Belém é um deles.
Eu lhe devoto tanto apreço porque amo a Esposa Mística de Cristo. E quando a elogio, faço-o com uma emoção religiosa: porque a graça me toca a alma ao vê-la, e ao perceber nos seus encantos os reflexos dos sentimentos cristãos que levaram os navegadores, os missionários e os conquistadores lusitanos a empreenderem uma epopeia que traçou indelével sulco nas águas da História.