Com grande sabedoria a Igreja instituiu a Festa do Imaculado Coração de Maria no dia seguinte à do Sagrado Coração de Jesus, celebrada este ano na primeira sexta-feira de junho. Assim, a liturgia une no louvor da Terra e do Céu os dois corações que foram sempre inseparáveis, denominados de “semelhantíssimos” (Ladainha do Coração de Maria), pulsando por amor aos homens, e que desde a Assunção de Nossa Senhora se encontram juntos no Céu, em seus corpos gloriosos.
Ao longo de sua vida, Dr. Plinio professou uma ardorosa devoção aos dois Corações. Em sua própria residência venerava as imagens do Sagrado Coração de Jesus que eram de Dona Lucilia, assim como uma estampa do Imaculado Coração de Maria — reproduzida em nossa capa — que o acompanhou desde os primórdios de sua lide profissional, abençoando seus trabalhos e apostolado no escritório de advocacia: “Imagem especialmente piedosa, comentava ele, exprimindo de modo tocante o insondável afeto de Mãe, a bondade, a misericórdia, a pureza e todas as excelsas virtudes que Nossa Senhora possui num grau inconcebível por nós. O quadro A representa no seu resplendor, segurando o coração com a mão, como se este houvesse rompido o peito para se mostrar aparente aos homens e oferecido pela Santíssima Virgem: ‘Ele é vosso; dou, se me pedirdes’. Portanto, é um convite à prece, à súplica ao Imaculado Coração d’Ela, feito por Ela mesma: ‘Sede devotos do meu Imaculado Coração e recebereis graças incontáveis’.”
Esse amor que tributava aos Sagrados Corações de Jesus e Maria e a confiança plena que neles depositava, fonte de sua invariável e inabalável serenidade, Dr. Plinio procurou alimentá-los igualmente na alma de seus discípulos. Perante um Sacrário, rezava sempre três vezes: “Cor Iesu Eucharisticum”, para venerar o Sagrado Coração na Eucaristia. Ao Coração da Mãe de Deus, costumava louvar com um tríplice “Dulcis Cor Mariae”. E a essa união dos dois Corações assim se referia:
“Se considerarmos o Coração de Jesus formado no seio virginal de Nossa Senhora, com a matéria-prima que a mãe fornece para a constituição do corpo do filho, temos que a carne e o sangue preciosíssimos do Redentor, ligados à divindade em união hipostática, são a própria carne e o próprio sangue de Maria. Portanto, o Coração de Jesus é, de algum modo, o Coração de Maria.
“Se evocamos esse processo de geração tão admirável pelo qual a Mãe como que se desdobrou e deu de si mesma tudo para compor o corpo do Filho, se nos lembramos que a humanidade do Verbo Encarnado foi assim engendrada no claustro da Santíssima Virgem, num incêndio de amor e adoração a esse Filho Divino, entenderemos ainda mais como o Coração de Nosso Senhor está unido ao Coração Imaculado de Maria. E como, em conseqüência, podemos nutrir uma confiança sem reservas na eficácia da intercessão de Nossa Senhora junto a Jesus, pois Este nada recusará a essa Mãe perfeitíssima que O cumula de superlativo e total contentamento, cuja carne sabe ser a própria carne d’Ele, e cujo Coração — por assim dizer — é o seu próprio Coração.
“A meu ver, não existe devoção mais significativa para nós do que esta aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, fonte de inesgotáveis favores, dons e misericórdias celestiais.”
Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 87 (Junho de 2005)