Incrustado nas montanhas da Baviera, famoso no mundo inteiro, o castelo de Neuschwanstein foi construído no século XIX pelo Rei Luís II, um homem apaixonado pelas coisas da Idade Média.
Seu entusiasmo por aquela época de fé e de grandezas cristãs o levou a idealizar um edifício que exprimisse todo o espírito medieval, e, mais ainda, chegasse a transcender em algo o estilo gótico. Surgiu Neuschwanstein. O castelo se situa num panorama ultra favorável. Posto numa espécie de píncaro em relação a todas as circunjacências imediatas, servem-lhe de fundo de quadro três lindos aspectos da natureza. Primeiro, um longo movimento de montanhas que parecem convergir para ele, extinguindo-se aos seus pés. Depois, dois lagos cujas águas límpidas e cristalinas assemelham-se a espelhos, como são em geral as que se represam nos altos dos montes. Em terceiro lugar, uma floresta plantada, tão densa e tão vigorosa que parece uma mata virgem.
No meio de tudo, o castelo sobranceiro, dando a impressão de receber sua dignidade e sua força de todas as montanhas que nele desembocam. Domina de modo soberano tudo o que lhe fica abaixo, como quem agarra a natureza em nome da majestade dos montes que o antecedem.
Como um rei procedente de uma genealogia fabulosa e de um passado grandioso, que no presente governa seus povos de forma altaneira. Assim temos esse castelo colocado no seu lugar. É uma verdadeira garra subjugando a montanha, é um autêntico herói que olha do alto os panoramas, sentindo-se superior a todo o cenário que considera.
A primeira coisa que se nota no castelo é o jogo das torres. Sobretudo a mais elevada, que parece desafiar os montes às suas costas, como quem diz: Não me contento em jugular o que está abaixo; eu discuto e rivalizo com aquilo que, acima de mim, quer contestar que me encontro, sozinha, no píncaro do orbe!
Singularmente esguia, essa torre se divide em motivos ornamentais, culminando num telhado cônico que acentua a sensação de se tratar mesmo de um pináculo do universo. Terraços erguidos sobre ameias, além de várias janelas, indicam uma torre própria para ser habitada.
E quando pensamos no que significa morar numa construção dessas, figuramos logo um quarto de paredes de pedra, com uma grande lareira onde o fogo aquece no inverno, projetando reflexos de labaredas num bonito vitral, enquanto se ouvem os ventos uivantes lá fora.
Ou então, na proximidade da primavera e do estio, sentindo que a natureza toda estremece e a torre continua firme. Compreende-se que é alguma coisa viver num local como esse! Bem diferente da existência num edifício de apartamentos…
Há depois o prédio principal do castelo, constituído de vários andares e que se prolonga em dois corpos laterais, mais baixos, entrecortados e finalizados por torres de diferentes feitios. Dir-se-ia que a grandeza de Neuschwanstein segue um ziguezague de torre a torre, sendo rematada pelo pátio interno, como se este fosse uma taça que recolhe em si toda a atmosfera de magnitude ali contemplada.
Existe ainda outra fachada do castelo, edificada em pedra (ou tijolo) de cor avermelhada, aberta por um portal magnífico e dando para um terraço de onde se domina a natureza. Ali se ergue a última torre, reminiscência de todas as outras, que reproduz em ponto menor a grandiosidade da construção. Fosse esta última composta apenas por tal torre, dotada de uma vida própria, e já teríamos um lindo castelo. Mas, por trás disso sobe uma verdadeira sinfonia de torres, ameias e tetos cônicos, até a suprema ponta que desafia as montanhas.
Todo esse conjunto nos transmite a ideia de uma grandeza sumamente hierárquica, que se desdobra nos seus respectivos degraus até se abrir para o que lhe é inferior, ter um afago para quem deseja ultrapassar seus portões com boa intenção, ou ter uma ameaça para quem se aproxima imbuído de maus sentimentos.
Porque este castelo tem qualquer coisa de fortaleza; e esta fortaleza, algo de cárcere. Para aquele que entra de acordo com a vontade do dono, não há maravilhas que não lhe sejam aí desvendadas. Para o inimigo e o criminoso, porém, reservam-se castigos e punições. Eis o Neuschwanstein, um castelo altamente simbólico do senso de batalha, de combate e de dignidade afidalgada do homem medieval.
Castelo tão belo de se ver, esplêndido sonho de um rei que poderia ter sido grande e não o foi, mas que deixou à humanidade uma extraordinária figura de tudo quanto estava destinado a realizar…
Plinio Corrêa de Oliveira