Continuamos a exposição do livro Revolução e Contra-Revolução, na forma de perguntas e respostas, a que demos início no número anterior. Conforme escreve em sua obra, Dr. Plinio concebia a restauração cristã não como o retorno a um passado imobilista e morto, feito apenas por um apostolado doutrinário, mas pela difusão de um “tonus”, um tipo humano, tanto mais saliente se divulgado por uma associação religiosa aprovada pela Hierarquia da Igreja.
O que a Revolução tem destruído?
O que tem sido destruído, do século XV para cá, aquilo cuja destruição já está quase inteiramente consumada em nossos dias, é a disposição dos homens e das coisas segundo a doutrina da Igreja, Mestra da Revelação e da Lei Natural. Esta disposição é a ordem por excelência. O que se quer implantar é, “per diametrum”, o contrário disto (pp. 59-60).
Brilho superior ao da cristandade medieval
O que a Contra-Revolução visa restaurar?
Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da ordem. E por ordem entendemos a paz de Cristo no reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, anti-igualitária e antiliberal (p. 97).
Em que consiste o espírito da Revolução?
Duas noções concebidas como valores metafísicos exprimem bem o espírito da Revolução: igualdade absoluta, liberdade completa. E duas são as paixões que mais a servem: o orgulho e a sensualidade. (…)
Sempre que falamos das paixões como fautoras da Revolução, referimo-nos às paixões desordenadas. E, de acordo com a linguagem corrente, incluímos nas paixões desordenadas todos os impulsos ao pecado existentes no homem em conseqüência da tríplice concupiscência: a da carne, a dos olhos e a soberba da vida (pp. 65-66).
Quais os pontos capitais em que a ordem nascida da Contra-Revolução deverá brilhar?
Por força da lei histórica segundo a qual o imobilismo não existe nas coisas terrenas, a ordem nascida da Contra-Revolução deverá ter características próprias que a diversifiquem da ordem existente antes da Revolução. Claro está que esta afirmação não se refere aos princípios, mas aos acidentes. (…)
A ordem nascida da Contra-Revolução deverá refulgir, mais ainda do que a da Idade Média, nos três pontos capitais em que esta foi vulnerada pela Revolução:
* Um profundo respeito dos direitos da Igreja e do Papado e uma sacralização, em toda a extensão do possível, dos valores da vida temporal, tudo por oposição ao laicismo, ao interconfessionalismo, ao ateísmo e ao panteísmo, bem como a suas respectivas sequelas.
* Um espírito de hierarquia marcando todos os aspectos da sociedade e do Estado, da cultura e da vida, por oposição à metafísica igualitária da Revolução.
* Uma diligência no detectar e no combater o mal em suas formas embrionárias ou veladas, em fulminá-lo com execração e nota de infâmia, e em puni-lo com inquebrantável firmeza em todas as suas manifestações, e particularmente nas que atentarem contra a ortodoxia e a pureza dos costumes, tudo por oposição à metafísica liberal da Revolução e à tendência desta a dar livre curso e proteção ao mal (pp. 97-99).
Apostolado moderno e o fenômeno “R-CR”
Todo católico deve ser contra-revolucionário?
Na medida em que é apóstolo, o católico é contra-revolucionário. Mas ele o pode ser de modos diversos.
Pode sê-lo implícita e como que inconscientemente. É o caso de uma Irmã de Caridade num hospital. Sua ação direta visa a cura dos corpos, e sobretudo o bem das almas. Ela pode exercer esta ação sem falar de Revolução e Contra-Revolução. Pode até viver em condições tão especiais que ignore o fenômeno Revolução e Contra-Revolução. Porém, na medida em que realmente fizer bem às almas, estará obrigando a retroceder nelas a influência da Revolução, o que é implicitamente fazer Contra-Revolução (p. 149).
Como o apóstolo moderno poderá aumentar sua eficácia?
Numa época como a nossa, toda imersa no fenômeno Revolução e Contra-Revolução, parece-nos condição de sadia modernidade conhecê-lo a fundo e tomar diante dele a atitude perspicaz e enérgica que as circunstâncias pedem.
Assim, cremos sumamente desejável que todo apostolado atual, sempre que for o caso, tenha uma intenção e um “tonus” explicitamente contra-revolucionário.
Em outros termos, julgamos que o apóstolo realmente moderno, qualquer que seja o campo a que se dedique, acrescerá muito a eficácia de seu trabalho se souber discernir a Revolução nesse campo, e marcar correspondentemente de um cunho contra-revolucionário tudo quanto fizer (p. 150).
Poderá haver uma associação religiosa para combater a Revolução?
A ação contra-revolucionária pode ser feita, naturalmente, por uma só pessoa, ou pela conjugação, a título privado, de várias. E, com a devida aprovação eclesiástica, pode até culminar na formação de uma associação religiosa especialmente destinada à luta contra a Revolução (p. 152).
Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 92 (Novembro de 2005)