Como é bonito ver um navio navegar pelo mar tranquilo e refulgente que espelha o Sol, com belas ondas que apenas o fazem balouçar e brincam com ele sem ter vontade de tragá-lo. Entretanto, quão mais gloriosa é a condição do navio após atravessar os perigos da tempestade e continuar sua trajetória.
O beleza de um navio transparece inteiramente quando ele demarra do cais e navega longe do porto, afastado de qualquer golfo, em circunstâncias onde não se vê a terra firme. Pois é nesta circunstância que ele se apresenta em seu isolamento grandioso.
Imaginemo-lo num mar onde, de todos os lados, os confins do horizonte se fecham em torno dele. Aí sim, se percebe como o navio é pequeno diante do mar que ele singra, e, ao mesmo tempo, como é grande porque ousa singrá-lo. Que vitória singrar o mar!
O homem não cessa de se encantar e de se surpreender com a navegação. A arte procura exprimi-lo reproduzindo navios em toda espécie de mares.
Muitos pintores se têm esmerado em representar navios na tempestade, quando o infortúnio se abate sobre ele; ele resiste, ameaça soçobrar, mas continua até lhe sobrevir a tragédia… Até o soçobro do navio é belo, a agonia e a morte dele são bonitas, de tal maneira é bela a navegação.
Na realidade, todo o infortúnio da navegação faz ver aspectos da vida náutica que dão a glória do navio até nos dias de bonança. Porque se não houvesse o perigo do soçobro, ninguém acharia tão bonito o navio atravessando o mar. E a beleza da travessia que o navio faz está no perigo do soçobro e na vitória sobre o risco.
Realmente, o perigo é a condição da glória do navio. Por assim dizer, o perigo espreme o navio e ele deita o melhor de sua beleza neste suco da dor. v
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 20/3/1982)
Revista Dr Plinio 172 (Julho de 2012)