A alma alemã, quando não influenciada por certas tendências contrárias ao espírito católico, é meditativa, idealista, voltada para a constante procura de uma realidade superior, invisível e metafísica. Esse apelo de alma germânico encontra-se, bastante deteriorado, nas composições de um Wagner, por exemplo. E se acha, em todo o seu esplendor, em toda a sua ousadia de voo, na Catedral de Colônia.
À primeira vista, dir-se-ia apenas duas torres, ligadas por um pequeno corpo central de edifício, espremido, quase como um belo hífen que as une.
As torres se lançam vertiginosamente para o alto, concebidas na ideia de levar o espírito para cima e, nessa vigorosa ascensão parecem emular entre si, imergindo cada qual num dos olhos do observador, atraindo-os a extraordinárias alturas. Tanto são leves, esguias, sem abandonar a característica robustez alemã.
Sozinhas, essas torres perderiam algo de sua formosura, ficariam desproporcionadas, claudicantes. Pelo contrário, juntas, harmonizam-se, apóiam-se para subir. A elevação extrema a que chegam é compensada pela base, e por um ponto invisível de equilíbrio — mais uma vez: metafísico — que paira nos ares, elo de junção insuspeitado das duas torres, que o espírito idealiza e o olhar não percebe. Este é o ponto de união no mais alto dos altos das duas torres da Catedral de Colônia.
À medida que se erguem, elas se afilam, se adelgaçam, acentuando a extensão da altura, como se se perdessem nas nuvens. O próprio rendilhado de pedras em que terminam as torres reforçam essa idéia de irreal: já meio céu, meio terra, meio obra do homem, meio obra de Deus, dentro da ilusão de ótica de quem as contempla do solo. As últimas pontas de alvenaria, não conseguindo ir mais longe, morrem sobre si mesmas com elegância e distinção. Tudo é feito para se afinar, afinar, afinar, subir…
Suas ogivas também crescem para o firmamento, e tendem a disputar com as torres a primazia nas alturas.
Ao contrário da fantasia oriental, patente nos minaretes das mesquitas, tão frágeis e delgados, a Catedral de Colônia é a expressão da fantasia ocidental: um mundo de pedras, sólida, com sua base forte, possante, cravada no chão, maravilhosamente compacta até o momento em que as duas torres se separam e começam seu voo.
É a manifestação do gênio da Idade Média que se mostra nessas belezas, lavorado de forma idealista, em busca dos esplendores indizivelmente magníficos que nos aguardam no Paraíso.