A praça onde se encontra o Paço Municipal de Siena — juntamente com a Praça de São Marcos, a de São Pedro e a Place Vendôme — é uma das mais bonitas da Cristandade.
Um dos prédios mais bonitos que existe é o Paço Municipal da cidade de Siena, situada a uma distância considerável de Orvieto. Há ali uma grande praça pública e veem-se uns prédios de construção mais ou menos antiga. A praça no seu conjunto forma uma moldura adequada para o Paço Municipal. O prédio merece uma análise.
Equilíbrio arquitetônico
O edifício se compõe de três corpos diferentes: um principal, que é o prédio propriamente dito, composto por sua vez de uma parte central guarnecida de uma de torre, com um círculo bem no meio. Em cima, ameias, e nos dois extremos da fachada, como que dois torreõezinhos vazados.
Como essa construção data aproximadamente do fim da Idade Média, e as guerras entre senhores feudais, entre cidades, estavam terminando, o aspecto de castelo fortificado que o Paço Municipal conserva é mais uma reminiscência artística do que uma necessidade tática para defender o paço. As ameias continuam no alto, e terminam agradavelmente o prédio.
Há um equilíbrio arquitetônico muito bonito entre os dois lados, os dois corpos de edifício mais abaixo e, no centro, um mais alto onde se encontram os tais torreõezinhos.
A torre grande forma praticamente um edifício separado do Paço Municipal e possui um relógio, o qual, para o tempo em que foi instalado, representava um grande progresso. No alto está o campanário dos sinos do Paço Municipal, por meio dos quais se davam os avisos aos habitantes da cidade, em caso de perigo, de incêndio, etc.
Em baixo, encontramos uma espécie de tribuna de mármore branco encostada na torre, mas não constitui um só todo com a torre. É também uma beleza!
Esses três elementos juntos formam uma verdadeira maravilha.
Nessa praça realiza-se a famosa festa do Pálio de Siena, que atrai turistas do mundo inteiro. Vários bairros da cidade, denominados “contradas”, comparecem a cada ano com seus trajes, bandeiras e hinos característicos, e realizam uma corrida de cavalos em honra de Nossa Senhora, em meio a uma festa tão fabulosa que todas as janelas em torno da praça são alugadas a um preço enorme, e com muita antecedência.
Este é um dos aspectos dessa praça que faz dela, junto com a Praça de São Marcos, a de São Pedro e a Place Vendôme de Paris, uma das mais bonitas da Cristandade.
Severidade e dignidade do Palácio
Mas o que é muito menos conhecido e perfeitamente notável é a parte interior do edifício municipal, o qual é um palácio com lindas ogivas e salas com alguma coisa ainda do arranjo medieval. De maneira que se pode saborear com toda a intensidade o que seria um palácio medieval no período em que a Idade Média estava caminhando do meio para o fim.
Vejam a nobreza — eu quase diria a severidade e a dignidade — desse prédio, curiosamente côncavo.
Notem na parte alta da torre o mármore branco próprio à região, como é bonito! Por outro lado, como essas reminiscências de ameias e de contrafortes para escorar as ameias tornam bonita a cena do campanário. No alto encontramos ainda o local para pendurar os sinos, que tocavam para dar avisos à cidade.
No interior do Paço Municipal, o único objeto moderno é o lustre com lâmpadas elétricas encarapitadas ali. Percebe-se a indústria do latão e do bronze do século XIX, com muito menos nobreza do que as tochas que na Idade Média se colocavam. O resto é estritamente medieval e muito bem conservado, com chão encerado de modo exímio e as pinturas das paredes muito bem conservadas também.
Percebe-se a riqueza do ambiente. Essa impressão de fausto é causada, por exemplo, pelas pinturas. É de notar também a grossura das paredes. Basta percorrer com o olhar as pilastras que separam os arcos para ver como as paredes são grossas e como todo o edifício é sólido. Isso corresponde, até certo ponto, à ideia de edifício-fortaleza, por causa da guerra urbana. Pode-se imaginar o esplendor de uma festa noturna dentro de uma sala dessas…
Há ali uma capela separada do restante da sala por um gradeado lindíssimo. Nas paredes, belas pinturas de cunho religioso, muito adequadas à capela. Depois, por outro lado, a sala se prolonga para outros fins.
No pátio interno do Paço Municipal vemos as lindas ogivas e bandeiras colocadas em um dos corpos de edifício. Já o outro corpo de edifício mais adiante é digno, mas menos bonito e mais recente, e também está adornado por alguns estandartes.
A catedral e as residências fortificadas
A Catedral de Siena é lindíssima, construída segundo a mesma técnica da matriz de Orvieto. Nela encontramos lindos mosaicos, por exemplo, nos tímpanos das portas, esculturas, e a torre listrada de mármore branco de acordo com o estilo existente em Florença e em outras cidades mais ou menos dessa região.
Em certas igrejas antigas, a pia batismal ficava colocada num apêndice do edifício sagrado. É o caso da Catedral de Siena.
Outro aspecto interessante é o púlpito, inteiramente destacado de qualquer coluna ou parede, e amplo, possibilitando ao pregador mover-se em todas as direções. Havia para isso uma razão prática: essas igrejas eram muito grandes e se enchiam de fiéis inteiramente. E não havia luto-falantes e coisas desse gênero. Então, o pregador tinha que se colocar em posições diversas no púlpito para fazer ouvir sua pregação ora para um lado, ora para outro, evitando desfavorecer excessivamente uma parte do público que estava na igreja.
Em Siena veem-se prédios antigos que, embora não sendo palácios, possuem ameias. Não se trata apenas de uma reminiscência da Idade Média. As lutas de cidade com cidade tinham cessado, mas as querelas entre famílias na mesma cidade ainda existiam. Então eram lutas de casa contra casa. Por isso, às vezes, as residências eram fortificadas.
Em muitas casas encontramos lindas janelas medievais, junto às quais são colocadas, por vezes, bandeiras, todas muito originais. Quiçá são as bandeiras das tais “contradas” que ali permanecem até o momento de serem entregues aos que participam daquele espetáculo.
As ruas da cidade são sempre pitorescas. São as antigas ruas da velha Itália.
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 17/11/1988)
Revista Dr Plinio 219 (Junho de 2016)