“Momento há anos anelado!”

A visita de Dr. Plinio ao Santuário de Saint-Laurent-sur-Sèvre, onde descansam os restos mortais de São Luís Maria Grignion de Montfort,  marcou profundamente sua alma, pois desde a leitura  do “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem” desejara peregrinar por aquele abençoado local.

 

 

Em setembro/outubro de 1988, Dr. Plinio viajou à Europa movido por importantes intuitos de vida interior, e objetivos de apostolado em diversos países desse continente. Um dos pontos altos dessa viagem- peregrinação foi, sem dúvida, a visita que fez ao túmulo de São Luís Maria Grignion de Montfort, missionário francês e autor do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, que tanto impressionara Dr. Plinio na sua primeira juventude.

Junto ao túmulo de São Luís Grignion

O automóvel que conduzia Dr. Plinio até Saint-Laurent-sur-Sèvre — pequena cidade na região francesa da Vendée, onde São Luís Grignion morreu e está sepultado — deslizava suavemente pela belíssima campina francesa. Desde o início do percurso Dr. Plinio ia recitando o Rosário, terços de jaculatórias e outras de suas orações diárias. Em certo momento, impactado pelo esplendor da paisagem, comentou: “Dir-se-ia que, em qualquer desses recantos, as árvores foram dispostas por um grande artista…” Quando já se aproximava de seu destino, o carro passou junto ao Rio Sèvre que atravessa a cidade, e Dr. Plinio pôde avistar as torres da Basílica onde se veneram as relíquias de São Luís Maria Grignon de Montfort. Ao distingui-las, exclamou: “Sim, senhor! Afinal, o encontro há anos por mim anelado. Desde o dia em que li o Tratado, formei o propósito de vir aqui”.

Uma vez na Basílica, Dr. Plinio dirigiu-se primeiramente ao túmulo de São Luís, situado numa ala lateral, e ali rogou por todos os seus discípulos e filhos espirituais, para que Nossa Senhora lhes concedesse a plenitude da devoção a Ela, o amor perfeito à Cruz, bem como o pronto advento do reinado de Maria, tudo conforme o ensina- mento de São Luís Grignion nas suas obras, especialmente no Tratado e na Carta Circular aos Amigos da Cruz. Ainda junto ao túmulo, rezou várias séries de jaculatórias, entre as quais a de “Regina Cordium” — Rainha dos Corações —, invocação muito fomentada pelo Santo, além de outra dezena de jaculatórias ao próprio São Luís.

A pedido de Dr. Plinio, os que o acompanhavam entoaram os cânticos do “Ave Maris Stella” e do “Veni Creator” (também recomendados pelo Santo), após os quais rezaram, em francês, a Consagração de si mesmo à Sabedoria Encarnada pelas mãos de Maria, composta por São Luís. Em seguida, como outra forma de súplica a São Luís Grignion, Dr. Plinio depositou seu próprio terço sobre o mármore da sepultura, gesto repetido pelos seus companheiros.

Um consolador sorriso do Santo

Logo depois, embora o tivesse feito durante a viagem, Dr. Plinio quis recitar novamente o Rosário, bem como a Ladainha Lauretana. Entre as intenções postas para essas preces, incluiu a da canonização das duas pessoas enterradas junto ao Santo: a religiosa co-fundadora do Instituto das Filhas da Sabedoria, Marie-Louise Trichet, (Marie-Louise de Jesus, em religião) e o Marquês de Magnanne, grande amigo e benfeitor de São Luis(1).

Quando terminava de rezar os Mistérios Gloriosos, um raio de sol penetrou através de um vitral da Basílica, coando uma bonita luz azulada que veio incidir apenas sobre ele. Após alguns instantes em que permaneceu iluminando Dr. Plinio, e conferindo essa coloração como que celestial àquele ambiente, a luz se dissipou, deixando a todos com a grata impressão de que, a partir da bem-aventurança eterna, São Luís lhes dirigia um consolador sorriso.

Cumpridas essas devoções junto ao sepulcro do Santo, e depois de venerar o crucifixo utilizado por ele em suas últimas missões apostólicas, Dr. Plinio se recolheu para receber a Sagrada Comunhão, ministrada por um dos padres do Santuário, no altar em que se encontra uma imagem de Nossa Senhora, diante da qual São Luís Grignion costumava rezar. Durante a ação de graças, outro raio de sol osculou os vitrais e veio tocar a face de Dr. Plinio, desta feita com uma linda coloração avermelhada.

Supérfluo dizer que ele e seus acompanhantes saíram do Santuário com a alma repleta, decididos a retornar ali ainda uma vez, naquele mesmo dia.

Venerando as relíquias de São Luís

Quando se afastavam, o automóvel o levou novamente através das belas paisagens francesas. Ao contemplá-las, recordou-se Dr. Plinio de um dos seus brinquedos de menino: uma caixa — feita na França! — na qual podiam ser formados diversos cenários e panoramas. Comentou ele: “Eu, então, ia dispondo aqui e ali o produto de minha imaginação, com uma macieira, uma montanha, uma aldeiola, etc., concebendo uma França maravilhosa. Já mais velho, comecei a pensar: ‘A França será mesmo o que sem- pre imaginei, ou aquela ideia que fazia dela era uma fantasia de criança?’. Ora, viajando pelo interior desse país pude ver que, como afirmou Santa Joana d’Arc, Deus é o Rei da França, e fez coisas muito mais bonitas do que aquelas paisagens de brinquedo. Há lugares onde se vêem uma árvore, uma pedra ou a curva de um rio, e se tem a impresdíssimo. Na realidade, foi o próprio Criador quem realizou essas maravilhas”.

A fim de se refazer um pouco da viagem, Dr. Plinio se hospedou num pequeno hotel, a poucos quilômetros da Basílica de Saint-Laurent-sur-Sèvre. Conforme havia planejado, à tarde retornou ao templo. Infelizmente, porém, o encontrou fechado, não lhe sendo possível rever o túmulo de São Luís. Contudo, uma religiosa teve a delicadeza de abrir para ele a sala das relíquias do Santo, onde pôde ad- mirar seus aramentos, oscular várias imagens esculpidas por São Luís, e repousar suas mãos sobre a escrivaninha utilizada pelo autor do Tratado da Verdadeira Devoção.

Saindo dali, Dr. Plinio visitou uma imagem miraculosa, também entalhada pelo Santo, numa capela das Filhas da Sabedoria, chamada por essa razão La Sagesse. Durante as perturbações da Revolução Francesa, essa imagem havia sido escondida dentro de uma parede. Tempos depois, freiras que passaram pelo local em diversas ocasiões ouviram uma voz que suplicava: “Tirem-me daqui!”. Mandaram então abrir a parede, e lá estava a preciosa imagem da Santíssima Virgem…

Mais do que mil Chambords!

Ao deixarem a Sagesse, um dos acompanhantes de Dr. Plinio comentou-lhe:

Este foi um grande dia, não? Ao que Dr. Plinio respondeu:

Este dia de peregrinação a Saint-Laurent-sur-Sèvre foi para mim inesquecível. Tudo ali nos falava mais densa- mente do Céu, da ordem espiritual, além de tonificar em nós a ideia de que nossa vocação está ligada à de ser mestre, profeta e homem de fogo que foi São Luís Grignion.

E quando perguntado se Saint-Laurent-sur- Sèvre o havia impressionado mais do que o Castelo de Chambord e a sala gótica da “Conciergerie”, em Paris, aos quais ele muito elogiara, Dr. Plinio ponderou:

“Não podemos nos esquecer de que as ordens espiritual e temporal estão uma para a outra numa relação parecida com a chama e a lamparina junto ao Santíssimo Sacramento. A lamparina é a ordem temporal: convém que a parte de metal seja muito bonita, o recipiente de cristal vermelho para o azeite seja ótimo, e o próprio azeite, mui- to puro. Porém, a chama é a ordem espiritual.

“Assim também, em Saint-Laurent, sentindo-se a presença de São Luís Grignion, conhecemos e desfrutamos algo que vale não sabemos quantos mil Chambords, “Conciergeries” e outros esplendorosos monumentos engendrados pelo genial talento francês…”

 

Plinio Corrêa de Oliveira 73 (Abril de 2004)

1 ) O Papa João Paulo II beatificou Marie-Louise em 1993, e, sendo devoto de São Luís Grignion, fez uma peregrinação ao túmulo dele em 1996.

 

 

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