Luzes e ecos…

Certas palavras, por vezes insuficientes, adquirem superior significado quando lhes acrescentamos alguns prefixos, quando as transformamos em neologismos. É o caso, por exemplo, do que poderíamos chamar de “trans-esfera”. Ou seja, algo que vai além da esfera comum, terrena, palpável, voltada para o inefável, indizível, intraduzível pelos vocábulos conhecidos.

Vem-me ao espírito esse recurso linguístico, quando admiro alguns interiores de grandiosas igrejas, de algum imponente edifício, e procuro “ouvir” os ecos dos sons que ali um dia reboaram. Pois, no meu modesto entender, determinados ecos são as “trans-esferas” de qualquer som. Nos recintos sagrados, o prolongamento das sonoridades do órgão, do cântico litúrgico, são esse cântico e esse órgão multiplicados por eles mesmos.

Lugares há nos quais o homem pisa e o ressoar dos seus passos é a glória do que ele realizou; nos quais sua voz se desdobra, esvoaça, se distancia, assumindo ares de fantasia… Na verdade, toda voz foi feita para ­ecoar: sem o eco, dir-se-ia não ter vivido inteiramente.

Nos majestosos conjuntos de altas abóbadas e colunatas góticas, imagino ecos augustos de liturgias estupendas. Imagino luzes magníficas, cujo genuíno valor se prende ao fato de virem acompanhadas de alguma penumbra. A sombra sugestiva é o eco adequado da luz.

Pensando nesses lugares onde se nos apresentam esses ecos, essas luzes, essas penumbras, penso em algo ideal que é a síntese de todas as catedrais e de todos os castelos que me foi dado considerar. Portanto, permanece no fundo do espírito, uma imagem ideal — talvez não realizável neste mundo — a qual excede as maiores produções artísticas ou intelectuais do homem.

Tenho para mim, então, não ser necessário grande inteligência nem eminentes qualidades naturais para nos distinguirmos no concerto da humanidade. Basta conservarmos em nosso espírito um recanto culminante qualquer, onde essa imagem ideal esteja presente, produza sentimentos e disposições que não sabemos sequer exprimir, e que são o segredo de nossa alma, o que ela possui de tão alto, de tão magnífico.

Isso se aplica a todos, ao menor dos homens, se corresponder aos toques da graça no seu coração. Eleva-se até o mais alto, e essa elevação, por sua vez, produz em sua alma reflexos que o tornam a multiplicação e o eco terreno dessas maravilhas inefáveis. Este é o tesouro de cada um de nós, encerrado em nossos imponderáveis, em nosso “trans-pensamento”. Não encontraremos palavras para revelá-lo a ninguém. É o nosso eco, nossa própria luz no seu maior fulgor, que apenas contaremos a Deus, a Nossa Senhora e aos santos, quando os encontrarmos na eternidade…

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Revista Dr Plinio 92 (Novembro de 2005)

 

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