Segundo a escola de pensamento de Dr. Plinio, deve haver junção entre teoria e exemplos. Nesta conferência, ele trata de um tema doutrinário, mas o explana apresentando diversos exemplos, que tornam a exposição leve, clara e atraente. O entusiasmo e a lógica convivem harmoniosamente na alma em ordem, o que se obtém pela graça de Deus, sem a qual o homem não consegue perseverar na prática do bem.
O que é propriamente entusiasmo? É o gosto por uma pessoa, um lugar, uma coisa, uma situação, uma atividade, levado a um tal grau que enche o homem a ponto de deixá-lo transbordante.
A cerveja que transborda numa caneca de porcelana
Eis uma imagem que pode dar a ideia do que é entusiasmo: numa confeitaria ou restaurante, um garçom serve numa caneca de porcelana — própria para chope — uma cerveja espumosa. E depois de posta a cerveja até o bordo da caneca, a espuma transborda de um modo suave, digno e forma um como que tecido bonito em volta; e é agradável tomar a cerveja quando ela está nesta situação.
Assim é o entusiasmo da alma humana quando conhece algo; não é logo no primeiro momento, mas depois aquilo vai produzindo em nós um certo transbordamento. E ficamos tão encantados que precisamos falar com os outros: “Olha isto, aquilo, que bonito, que agradável, etc.!” Isto é o entusiasmo na nossa alma.
Há vários modos de ser do entusiasmo: do afeto, da admiração, o provocado por uma pessoa e também o causado por uma situação: ver, por exemplo, num vitral dois cavaleiros combatendo, armados inteiramente dos pés à cabeça.
O mar, uma carga de cavalaria, aviões de combate
O mar me entusiasma sistematicamente. Qualquer trecho de mar que eu vejo, dos menos poéticos e menos capazes de provocar entusiasmo, a mim me interessa profundamente; olho o mar com entusiasmo, e é um entusiasmo fixo de minha vida. Quase não tenho tempo de ir ao mar, mas às vezes eu descanso só em lembrar-me dele. Dizendo essas rápidas palavras sobre o mar, em cuja descrição não posso me aprofundar porque a reunião iria até não sei que horas, tenho a impressão de que o auditório gostaria que eu fizesse tal descrição. Todos veem que transborda em mim o gosto por assim dizer maior do que eu, o qual pede para se expandir como a espuma da cerveja, que se espalha num bonito filão sobre a taça de porcelana.
O entusiasmo é, portanto, algo mais do que uma plenitude, não é uma taça cheia, mas uma taça que transborda; é o transbordamento do nosso gosto por uma determinada coisa.
Esse entusiasmo pode também ser épico, que decorre das grandes lutas e das grandes ações. E há feitios de espírito que se entusiasmam extraordinariamente por todas as formas de luta, por exemplo, uma carga de cavalaria, uma onda sucessiva de aviões que avançam; todas essas coisas são bonitas e dão gosto. Outra coisa bonita é o paraquedas: o indivíduo se joga de um avião, vestido com aquela roupa camuflada, maquiagem para, ao entrar no mato, não ser visto, e com uma missão a realizar. Tudo isso entusiasma.
O paraquedista e o homem que faz um trabalho raciocinado
Dir-se-ia que o entusiasmo é contrário à lógica, pois um homem entusiasmado não tem vontade de parar para refletir. Imaginem, por exemplo, um indivíduo que saltou de paraquedas a dois mil metros de altitude; ele desceu mil e começa a ver que está se aproximando da terra. Por outro lado, está com medo de que alguma coisa no seu paraquedas funcione mal. Agita os pés e estes lhe dão uma notícia inquietante: não tem chão em baixo. O vento sopra e está levando-o para um lugar onde não quer descer; ele não sabe nadar e pode cair em alto mar, se o vento soprar errado. E, ao mesmo tempo, está entusiasmado: o ar, o vento, a natureza toda a seus pés, ele distante de todos os homens e posto numa solidão, onde ele só é racional e, portanto, rei. Que situação bonita! É um herói, e em breve vai conseguir fazer um grande feito, pois está levando uma mensagem para um Estado Maior, e quando a tiver entregue vão felicitá-lo e ele vai ser promovido.
Se nesse momento se apresentar ao paraquedista a pergunta: “Você já pensou o que significa metafisicamente estar descendo de paraquedas nessa situação?”, não seria a indagação que os presentes neste auditório gostariam de receber em tal ocasião; seria até o contrário do que apreciariam.
Então, pareceria que o raciocínio, o qual leva a aprofundar as coisas pela aplicação da inteligência, é o contrário do entusiasmo. Porque este leva a pessoa a sentir intensamente a situação, deleitar-se com a sensação, e isto parece o oposto do raciocínio.
De outro lado, um homem que precisa fazer um trabalho primorosamente raciocinado, não pode gostar que estejam perto dele coisas entusiasmantes. Ele está sentado junto à sua escrivaninha, com a cabeça entre as mãos, esforçando-se para tornar seu raciocínio convincente: Tal formulação convence ou não? Tal coisa vai bem ou não? E de repente alguém toca para ele uma linda música militar… O homem, então, diz: “Para com isso, eu quero pensar, não posso me entusiasmar, preciso ter a cabeça fria para raciocinar!”
A alma em ordem se entusiasma pelas coisas retas
Então, dir-se-ia que, falando-lhes a respeito de lógica, preguei o anti entusiasmo, e tratando do assunto entusiasmo eu exaltaria o ilogismo. E seriam convidados à seguinte escolha: O que é melhor, um homem de entusiasmo, que pega fogo e faz alguma coisa, ou um indivíduo frio, calculista, mas que tem três boas razões iguais à evidência para a conclusão a que chegou, e, portanto, ninguém lhe tira aquela convicção?
E se eu lhes pedisse para escolherem, não se sentiriam à vontade porque diriam que a escolha incomoda, e me perguntariam se não é possível colar uma coisa na outra. Portanto, ser um homem ao mesmo tempo de raciocínio e de entusiasmo. Por que razão o entusiasmo deve ser oposto ao raciocínio? Não há um jeito de pôr tudo na mesma linha?
Afirmo que quando uma alma está em ordem — aqui está toda a questão —, ela se entusiasma pelas coisas retas, e por causa disso, refletindo depois sobre o seu entusiasmo, o raciocínio chancela: “Mereceu mesmo entusiasmar-me!” E quando ela tem o raciocínio em ordem, ela compreende o valor do entusiasmo, quando este é reto; e a alma, ao sentir-se entusiasmada, a lógica lhe diz: “Muito bem, o entusiasmo é o meu irmão!”
Árvores secas
Então vamos analisar o tema detidamente, para compreendermos como esses dois elementos aparentemente opostos, o entusiasmo e o raciocínio, podem conviver numa mesma alma.
Começo por um exemplo que está ao alcance de todos os presentes neste auditório. A Rua Alagoas, onde moro, desce até o Pacaembu, e no ponto onde ela termina há uma espécie de canteiro, no qual estão plantadas algumas árvores.
Habitualmente vejo ali uma árvore morta, completamente seca. Sua seiva extinguiu-se e ela está sem nenhuma folha; é um cadáver de árvore. Entretanto, quando passo em frente sinto um certo agrado de olhar para aquela árvore.
Como se pode compreender que eu tenha tanto comprazimento em ver uma árvore seca e morta? Não parece ilógico? Pois o que é seco e morto deve logicamente determinar repulsa, horror.
Lembro-me de ter visto nos Champs Elysées, em Paris — numa época ruim do ano, em que todas as árvores ficam secas e caem suas folhas —, ter gostado enormemente daquela galharia, e pensado: “Debaixo de certo ponto de vista, gosto mais disto do que quando estão com as folhas”. Não é uma coisa irracional apreciar mais árvores secas do que as com folhagem? Então eu deveria me corrigir a mim mesmo, porque não poderia consentir neste gosto que é ilógico.
Mas percebo que é um gosto ordenado, e que há uma razão para gostar disso. E se eu descobrir esta razão, fico com o direito de apreciar árvores secas, porque é lógico; e gostar mais ainda delas do que antes. Vou dar a razão.
Proporção entre galharia e tronco
Toda árvore tem uma arquitetura, uma estrutura geral, constituída de dois elementos: o tronco e os galhos. Mas para que ela não seja monstruosa, o tronco frequentemente deve ser menos alto do que a galharia; em grande número de árvores, quando o tronco está pouco acima da terra já começa a deitar os galhos que sobem. Entretanto deve haver uma certa proporção entre a grossura do tronco e os galhos, de maneira a não dar a impressão de que a árvore está carregando os seus galhos quase como castigo, estertorando, como num purgatório; ela deve causar a impressão de que o tronco é poderoso, e carrega os galhos com facilidade e elegância. E que, por assim dizer, é uma delícia para o tronco o fato de se desprenderem dele aqueles galhos e formem, assim, um fabuloso candelabro vegetal.
Então, a proporção entre a galharia e o tronco é um elemento fundamental da beleza da árvore.
Depois de ter percebido isso, eu analiso aquela arvorezinha morta do Pacaembu e, vendo nela só o esqueleto, admiro a esplêndida proporção entre o tronco e os galhos. O que dá à árvore um vulto elegante, leve e com uma certa força. E é disto que eu, sem perceber, gostava na árvore.
O meu gosto por essa árvore seca era racional, ordenado. Eu a apreciava por causa de um elemento de ordem nela existente, e que corresponde à natureza de cada ser humano o qual, quando procura ser virtuoso e católico, é ordenado, gosta do que está em ordem. De maneira que me atrevo a dizer que é o meu senso católico que, em mim, gostava dessa árvore.
”Meu entusiasmo é filho da lógica”
O resultado é que, estando a boa ordenação da árvore de acordo com a boa ordenação do meu ser, a lógica manda que eu goste e tenha um entusiasmo, o qual também é filho da lógica. Não é filho único da lógica, pois os sentidos entram em algo; eu precisei ver, tomar conhecimento. Mas conhecendo percebi a ordem e o bem. Percebendo a ordem e o bem, eu me entusiasmei; o meu entusiasmo é filho da lógica.
Então não é verdade que qualquer entusiasmo seja inimigo da lógica. Há uma hora de sentir, e outra hora de raciocinar. Em certos campos, primeiro se sente e depois se raciocina. É o caso da árvore; vê-se a árvore diversas vezes, depois se pergunta: “Por que gostei? O que aquilo tem de apreciável?” Então vem o raciocínio e a resposta: “Entre mim e a árvore há um nexo ordenado, e a minha lógica jubila ao mesmo tempo em que os sentidos se alegram, vendo a árvore.”
Isso que com uma arvorezinha seca num jardim é um mero comprazimento, pode ser uma deleitação muito viva, quando se tratar de algo superior.
Tomei o tema “árvores” inteiramente de improviso, para exemplificar. Não julguem, portanto, que eu penso tanto em árvores. Apenas tenho uma série de recordações de árvores que estou tirando do “baú” da memória e utilizando aqui, um pouco a esmo.
Palmeiras imperiais do Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Mas há uma espécie de árvore inteiramente diferente daquela do Pacaembu: palmeiras imperiais, das quais existe um renque magnífico no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Aquelas duas filas de palmeiras muito altas, tendo só em cima a galharia, parecem soldados apresentando armas a um rei de sonho que deve passar entre elas, e em cuja expectativa estão alinhadas para continência.
Esse renque de palmeiras é muito bonito e determina em mim movimentos orientados para o entusiasmo, muito mais do que aquela arvorezinha seca do Pacaembu com a qual tenho uma simples complacência, um simples gosto; enquanto que o renque de palmeiras é grandioso e me entusiasma.
Por que me entusiasma? Vou examinar — a pergunta já está mais precisa: se o meu entusiasmo é bom, aquilo deve agradar elementos de ordem que existem em mim.
Aquelas palmeiras altas têm algo que se aprecia muito em colunas, e que vegetalmente possuem a beleza das coisas feitas diretamente por Deus. Uma coluna não é tão bonita quando ela é um cilindro, igual desde o chão até o teto. Por exemplo, as colunas deste auditório; não vejo nelas beleza nenhuma. Porque no chão e na parte de cima são iguais, nem têm capitel; estão encostadas no teto, aguentando um fardo; cada uma é como um carregador sem poesia, que leva um peso cansativo e feio.
O tronco, a folhagem, as cores de uma palmeira
Uma coluna é bonita quando há uma proporção entre o círculo embaixo e o círculo em cima; ela vai afinando até chegar ao cume, mas sem nenhum salto, como um taco de bilhar. E aquela coluna do tronco da palmeira, como não tem folhagem, mas apenas casca, percebe-se que ela sobe com uma espécie de facilidade, de graça. E chega, digamos, a tocar as nuvens com uma naturalidade, com uma lógica que o meu senso da ordem se encanta de ver.
Uma palmeira que em cima não tem folhas é uma coisa medonha. Porque dá a impressão de um palito espetando, não tem graça. Então, depois de uma grande ascensão, muito lógica, existe a folhagem entregue à fantasia dos ventos. E é uma folhagem muito nobre, com folhas largas, e que parecem feitas para esvoaçar de todo lado, e que atestam a firmeza da árvore, porque ela não cede, e não há vento que a faça hesitar; aquele espanador de folhas se move devido aos ventos e, no meio daquela mobilidade, a palmeira é imóvel.
Percebendo esse contraste, instintivamente, intuitivamente, eu gosto porque vejo que aquilo está ordenado. E a minha natureza se alegra em observá-lo. Mas, também há diferença de cores: aquele seco, estorricado, marrom muito escuro, tendente ao preto, da coluna da palmeira, chega em cima e dá numa parte verde, atestando que a árvore não está morta; sem percebermos, do chão ao longo de sua casca escura, numa ascensão espantosa, a seiva sobe e, chegando ao alto, irriga aquela parte mais delicada que brilha ao sol. É uma coisa bonita!
A sensação de ordem existente na palmeira causa entusiasmo
Então, percebemos que a palmeira por vários lados satisfaz o nosso senso da ordem. Há uma bonita proporção de cor entre aquele verde claro, da parte palmito da palmeira, e a madeira escura; existe uma bonita sensação de ordem.
Esta sensação de ordem encanta-me vendo a palmeira, e me dá entusiasmo. Mas há uma coisa mais sutil: a palmeira, pela sua posição, só se explica inteiramente num panorama que ela domina, ou em função do qual está numa atitude de serviço.
É muito bonito ver uma palmeira no alto de um montezinho, isolada; ela cresceu meio oblíqua em relação ao solo e se agita inteira. É uma palmeira frágil que dá graça a um panorama. Mas, a palmeira durona, espetada no alto de um morro, causa susto. E posta no terreno plano ela representa alguém que está em atitude de serviço diante de outrem. Lembra um soldado em atitude de sentido, à espera do seu general, a ideia de homenagem, de disciplina, de hierarquia, de guerra; os elementos ordenados da palmeira têm qualquer coisa de militar.
Analisando a palmeira e seus reflexos em mim, percebo a ordem dela. Assim, vejo que o meu entusiasmo pela palmeira é lógico; então eu digo: “Viva o meu entusiasmo, a lógica o apoia! Viva a lógica porque o meu entusiasmo se ilumina!” Assim é feita a alma do católico.
Quando o católico é muito ordenado, logo nos primeiros movimentos ele se entusiasma muito. E não tem razão para temer, porque sente no fundo de si que nele é a ordem que se entusiasma sempre, e nunca a desordem. É um filho da luz. Nós todos somos ou precisamos querer ser filhos da luz, e só devemos nos entusiasmar com as coisas que nos provocam essa impressão da ordem.
Fazer ”pushing ball” com a ”baixa”
Mas acontece que muitas pessoas têm um temperamento cheio de calombos, cujos nervos não são perfeitamente ideais; então às vezes amanhecem na “baixa”(1). E se formos lhes descrever uma coisa bonita, elas não gostam e, pelo contrário, estão irritadiças e se entusiasmam com brigas, e querem brigar com todo o mundo. Essas pessoas têm um entusiasmo ordenado segundo a lógica? Não. Elas precisam aprender a retificar-se.
Quando um indivíduo, por exemplo, amanhece na “baixa” devo perguntar-lhe se essa “baixa” é razoável. E se ele responder:
— É. O meu médico disse que eu sofro — nem sei se isso faz sentido ou se é uma palavra no ar — de “esquisitona”, e tem uma coisa qualquer que me aperta o estômago e me causa esse mal-estar.
Eu lhe digo:
— Então você é escravo do seu estômago, não da sua cabeça? E pretende ser um filho da luz? Oh! Se você acordou na “baixa”, trate de retificá-la. Procure ver coisas que lhe deem alegria, satisfação. Passe o dia inteiro, ainda que não esteja com vontade — não sei se os que estão neste auditório conhecem, mas havia uma espécie de jogo chamado “pushing ball”, que consistia em esmurrar uma bola, que logo retribuía com um golpe na pessoa —, fazendo esse esforço.
Devemos fazer um “pushing ball” com a “baixa”, não ceder, e durante todo o tempo em que ela nos esmurra nós damos murros nela. À força de esmurrar, acaba acontecendo que a “baixa” vem menos e depois deixa de vir. Fora disso, o entusiasmo que a “baixa” poderia proporcionar é depressivo, a pessoa se irrita, fica furiosa, e briga por qualquer coisinha.
Necessidade de controlar os nervos e jugular o mau humor
Por exemplo, um indivíduo é corretor e precisa ter bons amigos para fazer proveitosos negócios. Ele tem um muito bom amigo que, sem querer, pisou no pé dele no local onde havia um calo, causando-lhe dor; por isso ele fica o dia inteiro com birra desse homem e perde o amigo, bem como uma série de negócios. O corretor é um tolo, e poderíamos dizer-lhe: “Domine-se, tenha entusiasmo pelo ato interno por onde você domina os seus nervos e jugula o seu mau humor!”
Ele dirá:
— É duro.
Respondo-lhe:
— Se um homem foge diante de uma coisa porque é dura, ele não merece o nome de homem.
— Ah! mas sofro muito.
— Mas você não é capaz de sofrer? E já pensou que Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para que você seja capaz de se dominar, e você não se domina?
Mas alguém afirmará: “Dr. Plinio, o senhor diz todas essas coisas, que me convencem, mas não me vencem; na hora dura do sacrifício, sei que não vou ter coragem, e, depois de ouvir o senhor, saio daqui mais desanimado.”
Frequência aos Sacramentos, confiança em Nossa Senhora e oração
Explico-lhe: “Se você é ateu, há uma certa lógica dentro do seu péssimo ateísmo. Mas se é católico apostólico romano, deve saber que o católico recebe uma ajuda sobrenatural de Deus, que dá ao homem de vontade fraca força para se vencer.”
Rogando a graça por meio de Nossa Senhora, sempre obtemos tudo o que pedimos de bom, conseguimos realmente a graça necessária para nos vencermos. É preciso ter essa convicção inteiramente, apaixonadamente, entusiasmadamente. Eu sou fraco, e se contar com as minhas meras forças não consigo nada. Esta é a doutrina católica. Se um homem de minha idade passasse a vida inteira no cumprimento perfeito dos Mandamentos porque a graça divina o apoiou, de repente afirmasse que fez isso pelas suas forças e não precisa da graça de Deus, ele pecaria no dia seguinte, se é que não fosse daqui a cinco minutos.
A fonte da perseverança do homem no bem não reside principalmente na sua vontade. Esta é indispensável, mas ele só tem força quando sobre essa vontade pousa a graça de Deus; pela graça divina o homem é capaz, tem meios, forças para fazer toda espécie de sacrifícios.
Então, essa coesão entre a lógica, de um lado, e o entusiasmo, do outro lado, se obtém, sobretudo, pela graça de Deus que penetra em nós e nos torna retos. Quando os nossos sentidos, nossos impulsos são bons, e queremos aquilo que é reto, pedindo a Nossa Senhora obtém-se essa retidão. E no homem reto o entusiasmo e a lógica são irmãos.
Tudo isso conflui para a frequência aos Sacramentos, a oração intensa, o desejo ardente de que Nossa Senhora nos ajude. E para uma confiança muito grande n’Ela. Rezamos para a Santíssima Virgem, mas abusamos da graça que Ela nos consegue e pecamos. Sabemos que, pedindo perdão, a Mãe de Deus perdoa sempre, e atende o nosso pedido de outras graças. Assim Ela vai sempre nos atendendo, até um certo dia em que as graças são tantas que nós nos levantamos e declaramos com alegria: “Eu agora sinto que não vou mais pecar”.
Nenhum homem tem o direito de ser ilógico para cultivar o entusiasmo, nem estrangular o entusiasmo para ser lógico. O homem deve encontrar esse fio de ouro, que faz o nexo entre o entusiasmo ordenado e a lógica. Dessa forma, quanto mais entusiasmado será mais lógico, quanto mais lógico, mais entusiasmado.
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/10/1987)
1) “Baixa”: depressão, desânimo.