Mais de uma vez me aconteceu de, ao analisar uma planta na qual desabrocha uma flor maravilhosa, considerar o galho, o corpo do tronco e a parte deste que encosta na terra e, em seguida, perguntar‑me: “Como, nesta planta, havia contida esta flor? Como nesse verde, nessa casca, nisso que é o belo de uma planta, estava oculta e à espera de expandir-se essa maravilha que é a flor recém-nascida?”
Consideremos uma roseira. Um tronco comum, sem nada de especialmente bonito. Mas, abriga um mistério. Dentro dela há a capacidade de engendrar não sei quantas flores, cada uma mais graciosa do que a outra.
Ora, tenho para mim que as vidas dos povos, assim como as dos indivíduos, quando bem-sucedidas, são como as plantas. Olha-se para elas e, à primeira vista, parecem-nos comuns. Porém, quando acabam de empenhar todos os seus esforços e de fazer todos os seus sacrifícios, elas deitam flores. Quer dizer, espargem algo de uma beleza insuspeitada, maravilhosa, que é, ao mesmo tempo, a expressão de sua própria natureza e a superação desta em toda a linha. De maneira tal que olhamos e dizemos: “Oh! que flor!”
Os povos que têm história são aqueles que engendram flores. E um dos aspectos mais bonitos da História é considerar os homens‑flores das várias nações. Flores varonis, flores fortes, flores que, por certo, não se podem comparar com a rosa delicada; flores magníficas semelhantes a estrelas. Duras, frias, verdejantes, quentes, ardentes, conquistadoras. Poder-se-ia dizer que os povos florescem em damas e em homens. Quando desabrocham em damas, abrem-se em flores; quando em homens, esplendem em estrelas.
Essa visão dos povos nos faz compreender que, se fosse dado a uma planta pensar, ela olharia para si mesma perplexa e diria: “Gostaria que, de mim, nascesse tal flor, ou florescesse tal estrela”. E passaria longo tempo imaginando o aspecto da estrela ou da flor que dela brotaria. Mas, afinal, quando visse a flor ou a estrela se formar, e percebesse que esta é capaz de se destacar do próprio tronco e subir aos céus da História, para lá brilhar por um período talvez eterno, quando a planta contemplasse isso, exultaria de alegria: “Oh! Maravilha! Minhas raízes estão no fundo da terra, mas aquilo que eu projetei se encontra nas alturas. Eu floresci em estrelas para o céu!”
Assim uma nação se sente inteiramente realizada. E, debaixo de certo ponto de vista, essa é a história de um povo, como é a história de uma família. No momento em que, no seio de uma dessas linhagens privilegiadas, nasce o arquétipo, dir-se-á: “Essa família deu a Deus toda a glória para que foi chamada. Deu aquele homem que, em relação ao futuro, será o grande antepassado; e em relação aos seus antecessores, aquele que foi sempre esperado e que, afinal, surgiu”.
Serão estes pequenas, minúsculas, insignificantes pré‑figuras ou pós-figuras d’Aquele que, por excelência, foi chamado “o Esperado das Nações”. Segundo as Escrituras, Ele foi aguardado por todos os profetas e patriarcas. Por todos os judeus que tinham prole e desejavam ser antepassados do Messias. Quiçá David, no auge da penitência, ou Salomão, nos maiores esplendores de sua sabedoria, souberam que de sua progênie nasceria Nossa Senhora, a raiz mil vezes bendita de Jessé, da qual, por sua vez, nasceria o Verbo Encarnado — a flor, a estrela, o sol, o universo. Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 5/8/1978)