Gosto extremamente do Pão de Açúcar; acho-o muito bonito. Tenho por ele uma predileção e uma espécie de simpatia pessoal veemente. Desde que o vi pela primeira vez, quando era pequeno, extasiei-me! E este impacto não desapareceu. Até hoje tenho entusiasmo pelo Pão de Açúcar e pela vista que se tem dele.
Não tenho muito entusiasmo pelo Corcovado, mas o Pão de Açúcar eu acho um colosso. A meu ver, cometeram um erro em colocar o Cristo Redentor no Corcovado. Ele deveria ter sido posto no Pão de Açúcar. Sei perfeitamente que o Corcovado é mais alto do que o Pão de Açúcar — tem o dobro da altura —, mas, enquanto domínio dos mares, o Cristo Redentor ali teria outra perspectiva.
O Pão de Açúcar tem um ar de busto aristocrático dominando a natureza: ele domina com majestade as suas cercanias. E a imagem do Cristo Redentor ali em cima estaria no seu pedestal, comunicaria uma irradiação sacral vinda das graças que a imagem difunde, e se coadunaria perfeitamente com a forma e o estilo do Pão de Açúcar; assim se faria que uma grandeza natural servisse de pedestal para uma grandeza sobrenatural análoga, com uma ordenação muito bonita.
Aquela pedra heroica combina bem com o temperamento do brasileiro? É uma pergunta delicada, mas se poderia dizer o seguinte: se o Pão de Açúcar não reflete o que o brasileiro é, reflete o que ele deveria ser.
Ele tem qualquer coisa de contemplativo. Do alto do Pão de Açúcar vê-se o mar imenso que entra através daquelas ilhas; ele já fica meio à saída e não no fundo da baía, e olha para aquilo tudo de cima, como se fosse feito para ter uma contemplação muito elevada, muito silenciosa das coisas, levando o espírito a considerações tão extraordinárias que só podem ser contadas a poucas pessoas.
O Pão de Açúcar tem qualquer coisa de confidencial, como se ele, nos seus mistérios, estivesse pensando em coisas que são para ser conversadas com Deus. E são coisas colossais.
Por outro lado, ele possui algo de dominador. Porque ele domina toda aquela paisagem pelo seu peso. Tem-se a impressão de que ele tem garras invisíveis com que segura aquilo tudo: “Nada nem ninguém se mexa sem que eu queira, porque tudo depende de mim, e eu dependo do meu pensamento. Estou envolto em considerações com que vocês da planície não entendem. Mas nem foram feitos para me entender… Vocês devem entender meus pés; eu entendo minha cabeça”.
Desse modo sinto o Pão de Açúcar, e assim eu quereria que o brasileiro fosse. v
(Extraído de conferências de 19/12/1988, 3/6/1989 e 7/12/1993)