No século XVII, a Polônia foi invadida por soldados suecos e noruegueses protestantes que avançaram como um dilúvio por todo o país. O rei fugiu, a maioria dos nobres pactuou com o inimigo, o clero nada fez. Apenas um punhado de monges, alguns nobres e um pequeno número de plebeus resistiram, comandados por um varão heroico: Frei Agostinho Kordecki.
Desejo comentar o cerco de Czestochowa e a resistência do Mosteiro de Jasna Gora durante a guerra entre a Suécia e a Polônia, em 1655.
Polônia: muralha separando o mare magnum de duas heresias
Há uma preliminar que devo fazer notar para compreendermos a nobreza da luta cuja história vamos considerar. Não se trata simplesmente da resistência de um mosteiro polonês contra a investida de um exército sueco e, portanto, de uma mera guerra nacional. Se assim fosse, já seria uma coisa digna para a qual valeria a pena um polonês dar a sua vida; sua pátria foi invadida, ele tem deveres para com ela, então sacrifica a sua vida, está bem.
Entretanto, para esses religiosos do Mosteiro de Jasna Gora estava em foco uma causa muito mais alta, que era a causa da Religião. Porque, de um lado, a Polônia constituiu, em todos os tempos, uma espécie de muralha separando o “mare magnum” de duas heresias na Europa: de um lado, o mundo russo, que naquele tempo já era cismático; e, de outro, o mundo protestante, isto é, a Prússia e os Países Bálticos. Constituindo uma potência no Báltico, por ter porto naquele mar e separar a Rússia da Alemanha, a Polônia é uma longa manus da Igreja Católica naquelas terras de apostasia.
Outro pressuposto a ser considerado é que o rei invasor, Carlos Gustavo da Suécia(1), foi um dos maiores generais e talvez o líder protestante mais importante da época. A Suécia e a Noruega constituíam naquele tempo um só reino. A península escandinava possuía guerreiros excelentes. Os soldados sueco-noruegueses não tinham quem os superassem em valor militar na Europa. Além de ser um grande general, Carlos Gustavo dispunha de muito boa marinha, de maneira a atravessar aquelas distâncias entre a Suécia e o continente com toda facilidade.
Este rei interveio na guerra de Religião que estava se travando no continente europeu entre católicos e protestantes, a propósito da direção do Sacro Império Romano-Alemão. Os protestantes queriam desbancar a Casa d’Áustria da direção do Sacro Império e impor um imperador protestante, de maneira a virar todo o mundo alemão para o protestantismo. Carlos Gustavo percebeu muito bem que ele não conseguiria isso se não tomasse conta da Polônia, que apoiava os príncipes católicos contra os príncipes protestantes.
A Polônia era um reino eletivo com uma constituição política excessivamente descentralizada, no sentido de que os nobres tinham um poder que transformava o rei numa espécie de figura de proa sem verdadeiro poder militar. Isso enfraquecia a nação nas investidas que ela sofria. Ademais, a Polônia tinha nesse tempo um rei fraco. Assim, os soldados suecos e noruegueses avançaram como um dilúvio pela Polônia adentro.
Sinais do castigo divino
Um dos poucos pontos que resistiram foi o mosteiro localizado na colina de Jasna Gora, em Czestochowa. Resistiu, portanto, na luta contra o invasor da pátria e o maior líder protestante daquele tempo, numa guerra eminentemente religiosa na qual o mosteiro funcionou como fortaleza onde, como veremos, Nossa Senhora fez uma série de milagres estupendos.
Czestochowa era para a Polônia o que Aparecida é para o Brasil, mas com muito mais relevo, porque tivera uma participação efetiva nas grandes lutas daquela nação, maior do que Nossa Senhora Aparecida teve aqui.
Ora, a Polônia tinha caído na tibieza, atraindo sobre si o castigo divino que se fez anunciar por alguns sinais.
Quando Deus Altíssimo decidiu castigar os poloneses, primeiro enviou, em sua bondade, vários sinais prenunciando a catástrofe que se aproximava. Assim, permitiu que, a 10 de fevereiro de 1654, a alta torre do Santuário de Czestochowa fosse atingida por um raio e se consumisse em fogo.
Então, o primeiro sinal da cólera de Deus foi um raio que caiu sobre o campanário do santuário e o destruiu. A torre é símbolo da Igreja, e esta é o símbolo do país.
Nesse mesmo ano, a 9 de julho, todos viram um milagre que ocorreu no Sol, sobre cuja superfície apareceu uma cruz que se ia transformando em coração, o qual era transpassado por uma espada. A certa altura do disco solar via-se a mão de uma pessoa segurando uma maçã que se dividia em quatro partes, transformando-se depois num açoite.
No ano seguinte, partia do Norte o açoite de Deus contra os poloneses: Carlos Gustavo, rei dos suecos.
Os suecos tomaram facilmente todo o país, quase sem resistência
Passando diretamente à narração da batalha em Czestochowa, vemos as tentativas do inimigo de vencer o mosteiro pacificamente.
Os suecos tomaram facilmente todo o país, quase sem resistência. Quase toda a nobreza, parte da qual era calvinista, aceitou Carlos Gustavo como protetor da Polônia, abandonando o Rei João Casimiro à própria sorte. Após conquistarem Cracóvia, no extremo Sul, enviaram, por ordem do rei sueco, um exército de três a quatro mil homens para tomar o Santuário-fortaleza de Czestochowa, a uns duzentos quilômetros dali.
Adiantando-se ao inimigo, o Conde Jan Wejhard Wrzesowicz, a fim de conquistar as boas graças do rei dos hereges, exigiu dos frades que entregassem a Fortaleza de Jasna Gora a ele, católico, para evitar que ela caísse por via direta em mãos suecas. Se não atendessem a sua exigência, ele ameaçava tomar à força o santuário. Os monges, tendo à frente seu prior, Frei Agostinho Kordecki, tentaram demover o conde de sua vil pretensão e recusaram sua proposta.
Esse miserável queria que os monges entregassem o mosteiro-fortaleza a ele, mas na linha da tática “ceder para não perder”, como que dizendo: “Entreguem-me o mosteiro para que eu o defenda porque, do contrário, tomo-o à força, pois é preciso que alguém o defenda eficazmente contra o Rei da Suécia.” Entretanto, era evidente que ele não queria isso. Sua intenção era entregar o mosteiro para o Rei da Suécia. Então Frei Kordecki, com muito critério, tentou dissuadi-lo de seu intento, mas recusou a proposta.
Enquanto isso, alguns nobres, fugindo do avanço sueco, buscavam refúgio em Jasna Gora. Um deles aconselhou os religiosos a não cederem aos seus inimigos e afirmou que os que ali buscavam refúgio estavam dispostos a morrer em defesa da honra do santo lugar, confiantes na proteção de Nossa Senhora.
É muito bonito isso porque, sendo um mosteiro, não possuía tropas próprias e, portanto, não tinha como se defender da exigência daquele conde traidor. É quando a Providência manda o auxílio: são os nobres que vinham fugindo de outro lugar e se internam ali, prometendo fazer a resistência.
Notem que só depois de o superior, Frei Kordecki, ter recusado a proposta do Conde Jan Wejhard vieram-lhe os reforços. Nossa Senhora quis antes que ele praticasse, sem forças, o ato de coragem para depois vir a força que lhe justificaria o ato de coragem. É bem o modo de Nossa Senhora tantas vezes nos tratar:
— Vá para a frente! – diz Ela.
Nós respondemos:
— Mas, minha Mãe, não tem chão firme aqui!
— Pise.
Nós pisamos e… “Ah, tem chão!”
“Antes morrer dignamente do que viver na impiedade”
Continuemos a leitura.
Após a primeira recusa dos monges frente ao binômio “medo-simpatia”, o Conde Jan Wejhard, contudo, não desistiu de seu plano. Enviou um “ultimatum” ao prior exigindo, sem rebuços, que Jasna Gora se rendesse ao rei sueco, jurando submissão e fidelidade ao usurpador. E que os religiosos se comprometessem a denunciar qualquer sublevação de que tivessem notícia no futuro.
Os monges responderam imediatamente, por meio de seu prior: “Antes morrer dignamente do que viver na impiedade”.
Perfeito! Vejam o que a Providência quis deles. Esse traidor acabou levando uma declaração de guerra na cara.
Frei Kordecki não deu a seguinte resposta que seria presunçosa: “Venham, que eu vou lhes provar que tenho coragem”. Mas disse o seguinte: “Você é mais forte do que eu e me ameaça. Pois bem, eu prefiro morrer. Portanto, vou resistir. Se você vier, eu o mato”. E, depois, quando ele veio, matou mesmo. É a atitude perfeita.
Como faz bem à alma ver que essa é a conduta de sacerdotes bem orientados! Eu sustento que um dos Santos mais suaves que houve em toda a História da Igreja – São Francisco de Sales –, posto nessas condições faria exatamente isso. São João Bosco, Santa Teresinha, São Francisco de Assis fariam o mesmo, porque santidade é isso. E quando não é isso, não é santidade, é tapeação.
Aliás, quando estive na cidade de Genebra, em 1950, um guia me mostrou o muro a partir do qual São Francisco de Sales tentou reconquistar aos protestantes, a mão armada, a cidade de Genebra da qual era Bispo. Era o Santo da “Filoteia”. Muito bom com os bons. Mas quando o sujeito é um ímpio, o trato é ali! Corresponde ao símbolo lindo que São Bernardo deu aos Templários: traje branco e preto. Branco é o trato com os filhos da luz, e preto, com os filhos das trevas.
Valeria a pena, se tivéssemos recursos, fazer um filme reconstituindo essa cena. Uma atmosfera muito delicada numa igreja com uma imagem de Nossa Senhora, pétalas de flores caindo, uns raios de Sol entrando obliquamente pelo vitral e incidindo de cheio sobre um frade que reza piedosamente. É o Frei Kordecki que começa a recitar a sua prece: “Minha Mãe, esmagai-os!” Levanta-se, passa perto de uma criancinha, agrada-a, dá-lhe um pouco de comida, em seguida vai enfrentar o conde traidor com um olhar de quem discerne os espíritos, e diz: “Não, senhor, não cederei!” Depois volta calmo para o claustro, rezando o Rosário. Isso deixaria a “heresia branca”(2) desnorteada.
Deus parecia ter abandonado…
Como o conde traidor não tivesse meios para conquistar Jasna Gora pelas armas, atacou algumas propriedades do convento, causando-lhes dano e apressou-se em ir ao encontro do General Miller, o qual se deslocava com tropas suecas nas imediações. Acenando-lhe com os tesouros do santuário, conseguiu convencê-lo a atacar Jasna Gora desde logo.
O prior, convocando o Conselho do mosteiro, comunicou aos religiosos a sua decisão de não entregar o santo lugar aos hereges, e de resistir com todos os meios disponíveis. Sua decisão foi unanimemente aprovada.
Vejam como o conde que antes quis se aproximar do convento aconselhando, como “aliado”, a que tomassem cuidado e entregassem a ele a fortaleza, quando viu que os suecos protestantes estavam próximos, não teve outro desejo senão atraí-los para caírem em cima dos tesouros do mosteiro. É a “quinta-coluna”(3) sempre fiel a si própria: dá “bons conselhos”, é amável, é blandiciosa, mas quando chega a hora do perigo atraiçoa e procura vender. Como ele não foi atendido e não pôde trair, incitou os inimigos para atacarem o convento.
Enquanto isso, o Rei João Casimiro refugiava-se no vizinho Principado de Opole, na Silésia, onde trataria de reunir os remanescentes do exército da Polônia. Mas nenhum auxílio podia prestar a Jasna Gora. Muitos nobres, por outro lado, satisfeitos com as promessas de paz e segurança feitas pelos suecos, começavam a voltar para suas propriedades. Mas Stanislau Warazycki, capelão de Cracóvia e primeiro Senador da Coroa, enviava nesse momento provisões e doze canhões, como dote seu, para auxiliar na defesa de Jasna Gora.
É o que se nota em toda parte: aquela vontade da vidinha e de uma certa paz. Quando a pessoa se acostuma a uma vida sem esforço, com facilidade também acredita nos inimigos e não quer ver, mesmo quando outros a advertem, que se trata de uma cilada. Assim, esses nobres poloneses, quando os protestantes acenaram com uma paz, desde que houvesse certa tolerância, imediatamente voltaram para suas propriedades. Quer dizer, entregaram-se totalmente nas fauces do leão.
Por outro lado, esses nobres que deveriam defender a independência da Polônia e, sobretudo, a Religião tinham a obrigação de proteger o Mosteiro de Czestochowa; porém, terminaram abandonando o mosteiro à sua sorte. Houve, entretanto, Stanislau Warazycki, capelão de Cracóvia e primeiro Senador da Coroa, que enviou um pequeno reforço para Jasna Gora. Foi o que lhes deu a Providência. E como disse o superior, os habitantes do mosteiro-fortaleza preferiram resistir até com o sacrifício da própria vida, segundo aquela famosa frase de Judas Macabeu: “É preferível morrer no combate a ver nosso povo perseguido, e profanado o nosso santuário!” (1Mac 3, 59).
Parece um trecho desolador da história, porque se faz o vazio em torno de Czestochowa: o rei foge, a maior parte dos nobres adere aos invasores, apenas um nobre de categoria envia um reforço pequeno, e está criada para Czestochowa uma situação aparentemente sem saída. A impressão principal era de que Deus os tinha abandonado. Na realidade, Ele estava preparando a grande glória da manifestação de Nossa Senhora em Czestochowa.
Precisamente, quando Deus permite que aqueles que querem lutar por Ele sintam-se inteiramente abandonados, na realidade Ele não os abandona. Pelo contrário, promete-lhes implicitamente uma aliança especial. Leva-os ao combate e dá a entender que os ajudará, mas os meios humanos são pequenos. Parece uma catástrofe geral. Entretanto, Deus quer mostrar com isso que é Ele quem salvará a situação.
A hora de solidão era o início da glória
Ao mesmo tempo, Deus prepara para seus defensores uma glória especial. Porque a grande glória de Czestochowa é esta: enquanto o rei foge, os nobres, que são a classe militar por excelência, abandonam a posição de fidelidade para com o reino, para quase todos pactuarem com o inimigo, o clero também não faz coisa alguma – o que o autor da narrativa prudentemente omite, mas se vê, pelos silêncios, o que se passou. Czestochowa, com um punhado de monges, alguns nobres e um pequeno número de plebeus, fica sozinha na resistência. A glória consistiu em ficar só. Exatamente a vitória depois ficará luminosa porque só eles resistiram. Aquela hora de solidão era o início da glória deles.
Assim também quando, por vezes, em nossa história vemos que ficamos inteiramente sós, não devemos nos apavorar. Pensemos que precisamente essa solidão vai manifestar a glória de Nossa Senhora que vencerá em nossa fraqueza. De outro lado – consideração minor, mas que para as horas de depressão pode ter o seu valor psicológico, pelo menos –, devemos lembrar que quem reage e luta a partir de quase nada, quando chega ao auge tem uma glória muito maior.
Chegam informações de que o General Miller, com um exército de três a quatro mil homens e dezenove canhões de grosso calibre, mais alguns bandos de apoio do Conde de Srzeszczwicz, de Waclaw Sadowski e do Príncipe da Saxônia, parte de Wielun em direção a Czestochowa, onde deveria chegar no dia 18. Então, não faltaram conselhos prudentes ao padre prior. Assim, o prior do convento de Wielun, considerando a desproporção das forças militares, aconselhava Frei Kordecki a não oferecer resistência, poupando assim Jasna Gora de danos materiais. Isso teve sua influência nos defensores de caráter mais fraco.
Esses que sitiam são protestantes, mas vêm com um convite de fora de um padre a outro padre, de um superior de convento a outro, incitando também a se entregar. E sempre com a mesma argumentação: “Poupem de danos materiais esse convento tão famoso, histórico, artístico! Padre prior, se esse convento for destruído, mais do que às balas protestantes, ele deverá sua destruição ao senhor. Porque se o senhor não tivesse resistido, os protestantes não o teriam destruído. Na história gloriosa dos superiores, seus antecessores, que tanto construíram, veja que papel o senhor vai fazer. O senhor vai ser, na crônica desse convento, Frei Kordecki, o destruidor. Pense, reze, medite diante de Deus antes de tomar a resolução de expor Jasna Gora, tesouro da Polônia, às bombas dos suecos.” O demônio sussurra à consciência: “É isso mesmo, é imprudência. Já falei…”, etc.
Ora, o mau conselho faz o papel de uma seta incendiada lançada dentro do convento.
Frei Kordecki não contava só com os recursos materiais. Animava a todos a oferecerem a vida em defesa da honra do santo lugar e a depositarem toda a confiança na Virgem Santíssima, que em tão extrema necessidade não lhes faltaria com o auxílio. Pede a todos que assistam à Missa que rezaria diante do altar da imagem de Nossa Senhora de Czestochowa. Ordena que se leve o Santíssimo Sacramento em procissão pelos muros e bastiões. Benze os canhões um por um, os projéteis de chumbo, os de ferro e os barris de pólvora.
O fogo da luta e do combate é inerente à virtude da fortaleza
Admito perfeitamente a possibilidade de que Frei Kordecki venha a ser canonizado. No processo de canonização, a Igreja examina todos os passos da vida do candidato à honra dos altares. Portanto, para canonizá-lo a Igreja chegaria à conclusão de que no ato acima narrado ele manifestou as virtudes teologais – fé, esperança e caridade – e cardeais – prudência, justiça, temperança e fortaleza – em grau heroico.
Pois bem, tal é a deformação produzida pela “heresia branca” na devoção ao longo da História que, hoje em dia, não haveria uma igreja construída em louvor a ele na qual se pudesse ver representada a bênção da pólvora e dos canhões, com os soldados dele armados e ele abençoando solenemente, com as tropas protestantes chegando ao longe para o combate.
Provavelmente encontrariam em sua biografia a afirmação de que, antes ou depois desse episódio do cerco de Jasna Gora, Frei Kordecki deu aulas de Catecismo. Então ficaria “Santo Agostinho Kordecki, padroeiro dos professores de Catecismo”, representado sorrindo, junto a uma criancinha.
É a deformação metódica dos Santos pela “heresia branca” que torna exatamente necessária a leitura de biografias como esta. Para mostrar bem que esse fogo da luta e do combate é inerente à virtude cardeal da fortaleza, sem a qual ninguém é canonizado; e contra a qual se uma pessoa pecar, ou vai para o Purgatório – se o pecado for leve –, ou para o Inferno, se o pecado for grave. Está acabado.
Entrementes, os suecos chegam aos pés de Jasna Gora. São duas horas da tarde. O General Miller envia, por um delegado, uma proposição de paz por escrito, propondo a capitulação pacífica de Jasna Gora para evitar um inútil derramamento de sangue. Também o adversário declarado se finge de clemente.
As tropas inimigas tomavam já posição para o assédio aos muros e estudavam a posição dos canhões da fortaleza.
“Não nos pareceu conveniente responder por escrito a essa carta. – registra Frei Kordecki. Já não era hora de escrever, mas de agir pelas armas. Respondemos-lhes pelas bocas dos canhões.”
A resposta foi tão convincente que, ao anoitecer, Miller teve que pedir uma trégua, e aproveitou para assegurar aos frades que nenhum mal pretendia fazer ao santuário.
Como as tropas suecas houvessem ocupado depósitos de trigo pertencentes ao convento e localizados fora dos muros, seus defensores bombardearam-nos à noite com projéteis incendiários a fim de que não servissem de provisão ao inimigo.
No dia seguinte, Miller ocultou sua artilharia na vizinha aldeia de Czestochowa e daí bombardeou Jasna Gora. Quando os religiosos se deram conta disso, consideraram que a destruição da aldeia nada significaria em comparação com a defesa do santuário de Nossa Senhora; e dirigindo sua artilharia nessa direção, incendiaram as casas de telhados de feno. Surpreendidos, muitos suecos saíram a campo aberto e foram alvejados pelos defensores do mosteiro.
A boca dos canhões falou, não tenho nada a dizer. O comentário está feito por si. Vemos bem a ofensiva tomada por esse homem.
O comandante dos hereges envia nova mensagem pedindo a capitulação, pois Carlos Gustavo lhe ordenara tomar a Fortaleza de Czestochowa. Era noite e como o dia seguinte era domingo e festa de Nossa Senhora marcaram-se várias cerimônias, entre as quais uma procissão com o Santíssimo Sacramento, no interior dos muros. Em vista disso, os suecos tiveram que aguardar até ao meio-dia pela resposta que, afinal, foi negativa.
É uma altaneria extraordinária! Os suecos que esperem. Nós estamos agora adorando o Santíssimo Sacramento durante uma festa de Nossa Senhora, e não vamos dar atenção a protestante. Mais tarde responderemos. v
(Continua no próximo número)
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 26 e 30/6/1972)
1) Carlos X Gustavo (*1622 – †1660), da Casa de Palatinado-Zweibrücken. Reinou de 1654 a 1660.
2) Expressão metafórica criada por Dr. Plinio para designar a mentalidade sentimental que se manifesta na piedade, na arte e na cultura em geral. As pessoas por ela afetadas se tornam moles, medíocres, pouco propensas à fortaleza, assim como a tudo que signifique esplendor.
3) Termo surgido durante a guerra civil espanhola (1936-1939) para se referir aos habitantes de Madri simpatizantes do General Franco, os quais, dentro da cidade, trabalhavam a favor do exército inimigo. Por extensão, a expressão é utilizada para designar quem exerce ação subversiva ou traiçoeira dentro de um grupo, fazendo-se de amigo para favorecer o adversário.
Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 262 (Janeiro de 2020)