As obras da Cristandade são fruto da santidade, salienta Dr. Plinio, mais do que das habilidades dos seus autores. Onde a santidade está presente floresce a beleza como de uma fonte. Quer para ornar as magníficas catedrais, quer nos pequenos aspectos da vida cotidiana, como numa boa “champagne”…
Quando a santidade se verifica autenticamente em alguém, em qualquer época, tem por característica principal a prática dos Mandamentos, sobretudo o primeiro: o amor de Deus. E o amor de Deus nos leva a querer implantar na Terra o “verum, bonum, pulchrum” — verdadeiro, bom, belo — em todas as matérias e em todos os campos, para que tudo fique semelhante a Ele, ou seja, uma “semelhantização” das coisas a Deus.
Portanto, uma tendência a levar a todas as coisas — desde o tratar de um porquinho até conceber a flecha de uma catedral — à expressão do sublime de que elas são capazes. É uma espécie de sonho do Céu na Terra, fazendo com que esta se pareça com aquele; e uma procura contínua de maravilhoso em tudo, inclusive nos prazeres lícitos da vida.
Na Idade Média havia uma tendência, de — como fazem os santos por toda parte — ao tocar numa coisa, sublimá-la. Em torno do “bonum” floresce o “verum, o pulchrum” e surge uma grande civilização.
Por exemplo, as ordens religiosas deram origem a alguns dos vinhos mais saborosos do mundo! E dos quais, eles não vão beber senão umas gotinhas. Fazem o vinho pela alegria de servir. Recordemos Dom Pérignon com a “champagne”…
Há numerosos conventos na Europa que fabricam vinhos, chás, queijos, cervejas, de primeira ordem!
O que os monges, os frades, os padres feitos para a renúncia de tudo, realizaram para ornar os aspectos cotidianos da vida é uma coisa fantástica. Porque quando há santidade, onde ela toca, floresce o “pulchrum”! Ela é larga de horizontes, e modela tudo segundo seu estilo.
Lembremo-nos de tudo o que se fez no campo artístico para embelezar as catedrais. A Idade Média tinha entusiasmo por Nosso Senhor Jesus Cristo Ressurrecto. E todas as catedrais grandiosas dessa época histórica proclamavam a Ressurreição de Cristo. Aquela grandeza inspirou construção de quantos castelos, residências principescas e régias! Onde o frade, o monge, ou o artista humilde que haviam concebido aquilo para a glória de Deus, não iriam morar; residiam eles em lugares modestos. Porém, essas almas cheias de entusiasmo fabricavam o “pulchrum, o bonum”, descobriam o “verum” em todos os setores. Daí a magnificência de suas obras.
Eles não estranhavam em ver que o Bispo ou o Rei implantavam essas grandiosidades em suas casas, porque eram autoridades, pessoas constituídas em dignidade. Pois tinham alegria em que as autoridades fossem assim honradas. Os que renunciavam eram os que faziam! Isso constitui uma verdadeira maravilha!
Como isso é diferente do critério produtivo de certas mentalidades!
Tudo isso provinha de uma noção muito ampla do amor de Deus. Deus era para eles, a fonte de toda beleza.
Por exemplo, a gruta de Subiaco em seu interior é feia, mas o panorama é maravilhoso! Percebe-se a procura da beleza. É a constituição de uma multidão humana tocada por essa levedura, essa fermentação, que quis o ideal, a perfeição, a beleza, movida por uma graça de Deus.
Para encerrar, narro um fato característico.
Conta-se que nos arredores de Roma, — embora não haja prova histórica, pode perfeitamente ser verdade — no lugar onde São Paulo foi martirizado, sua cabeça decepada, ao cair, pelo vigor do golpe saltou três vezes sobre o chão. E em cada lugar onde ela bateu se abriu uma fonte.
Isto é bem o que se passa: onde a santidade toca, as fontes se abrem. v
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 4 de dezembro de 1988)
Revista Dr Plinio 135 (Junho de 2009)