Consonância e saudade…

Determinadas coisas há nesta vida as quais, quando vistas pelo homem, estabelecem com ele uma tão intensa consonância que permanecem para sempre vincadas no espírito e na lembrança de quem as contemplou.

Para lançar mão de um exemplo pessoal, recordo-me das ocasiões em que admirei certos castelos de Portugal, algo semelhantes aos de Espanha, e senti vivíssima consonância com aquelas belas expressões da alma lusitana. Falando-nos ao mesmo tempo de força e dignidade, sobranceria e arrojo, coragem e proteção, audácia e solidez. Tudo isso me causou impressão extraordinária, como se eu estivesse à procura de uma coisa bastante amada e desejada por mim, e que, encontrada, completou-me pela admiração que lhe votei.

Resultado: vez por outra, vem-me à memória a silhueta daquelas moles imponentes e bem assentadas nos seus alicerces de rocha e montanha.

Desse sentimento de consonância nasce a palavra portuguesa — e, portanto, brasileira —, intraduzível em outros idiomas: saudade…

Quando se tem saudade, é de algo com o qual estabelecemos muita consonância. Este não se encontra perto, e a sensação de afastamento é, naturalmente, penosa. Mas, sob certo ponto de vista, é também embebida de alegria. O castelo português está lá. Sei que poderei revê-lo a qualquer momento, se o permitirem minhas condições materiais. Enquanto não se verifica essa feliz circunstância, recordo-o em espírito, contemplo-o novamente na imaginação. Estamos distanciados, porém prelibamos continuamente o reencontro.

Esses sentimentos que se alternam constituem a harmonia e a graça da presença daqueles monumentos na minha vida afetiva e intelectual.

Corolário dessa verdade é o princípio superior de que, quando amamos a Santa Igreja e as obras de Deus, devemos sentir profunda consonância entre elas e nós. O que exprime a palavra “consonância”? É o som e o eco. O sino dobra e seu toque tem consonância com o eco por ele emitido; formam um todo.

Assim também, aquilo com o que sentimos consonância tece uma espécie de entrelaçamento especial com nossa alma, nos liga fortemente a quem ou ao que devemos amar. Antes e acima de tudo, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, a verdadeira Igreja do Deus verdadeiro. 

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Revista Dr Plinio 97 (Abril de 2006)

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