Basílica de São Pedro e Catedral de Notre-Dame de Paris, duas igrejas completamente diferentes. Na primeira, com um esforço de piedade, a criatura tenta elevar-se até o Criador; na segunda, é o Criador quem desce até a criatura.
Na minha ótica de homem do século XX, com os padrões deteriorados pelos apartamentos de São Paulo, quando entrei pela primeira vez na Basílica de São Pedro, depois de vê-la pelo lado de fora, tive uma certa surpresa, julgando-a muito menor do que eu a imaginava.
Isto se deve ao fato de que, na construção da Basílica, Michelangelo teve o cuidado de ocultar, tanto quanto possível, o tamanho do Cupolone. Naquele tempo, onde o materialismo ainda não tinha feito tantos progressos, era bonito realçar a proporção e esconder o tamanho. Porque o tamanho é matéria, e a proporção é espírito. O espírito deve dominar sobre a matéria.
Houve uma tal preocupação em disfarçar a altura dele, que eu não notei ser o “duomo” de São Pedro tão alto quanto o Martinelli, o maior edifício de São Paulo daqueles tempos.
Porém, a Basílica de São Pedro é toda influenciada pela Renascença. E, portanto, do ponto de vista artístico, ela não é senão uma reapresentação de elementos de beleza clássica, apresentados pelas gerações que vieram depois do Renascimento.
Ora, isso não tem, absolutamente, o espírito católico da Idade Média.
Nota-se, claramente, que a Basílica de São Pedro é uma igreja muito bem composta, cuja pompa está à altura do que os homens podem dispor para venerar a Sé de Pedro e ser, nesse sentido, a primeira igreja da Cristandade. Mas, de certo modo, o homem não tem ali a sensação de proximidade com Deus que há na Catedral de Notre-Dame, em Paris.
Eu traduziria essa impressão nos seguintes termos: na Basílica de São Pedro eu vejo uma tentativa do homem elevar-se até Deus, num esforço de piedade; na Catedral de Notre-Dame, é Deus quem desce até os homens. Por causa disso, a impressão de proximidade de Deus lá é muito maior do que no próprio Vaticano.
(Extraído de conferência de 18/5/1976)