Só se tem a perfeição do equilíbrio mental quando os instintos são regidos pela Moral Católica e a inteligência recebe como norma a Doutrina da Igreja. Faz-se, então, o amplexo ordenado entre o instinto e a inteligência. A Revolução vai fazendo com que os homens se tornem cada vez mais joguetes dos instintos, levando-os até o delírio e depois insuflando neles a acomodação
A meu ver, o processo intelectual mais fecundo de elaborar um tema não é ir ao livro diretamente, mas tentar explicitar e colocar por escrito tudo o que se tem na cabeça a respeito do assunto. Depois disso é que se está com critérios seletivos adequados para ler analiticamente sem se deixar devorar pelo livro. Qualquer leitura que não seja feita assim é a deglutição do leitor. Não que ele vá se convencer das opiniões do autor, mas acabará por engolir os pressupostos da obra. Começar analiticamente a leitura de um livro é o jeito de barrá-lo inteiro na alfândega; não fazer assim me parece que é capitular diante do livro, de algum modo.
Na leitura de São Tomás, uma complementação necessária
Eu só não sigo essa regra com relação à Igreja. Tudo aquilo que vejo proveniente de fonte séria, idônea, de pensamento católico não espero ter pensado antes para depois ler. Porque há em mim, que sou batizado, por efeito da graça – e creio que em todo católico quando cogita com senso católico a respeito das coisas –, algo por onde minha alma já propende para o fundo da Doutrina Católica em determinada matéria. A Doutrina Católica, portanto, ensina em parte explicitando o que, pela própria graça, a pessoa já possuía pendor de saber.
De maneira que entre o ensino católico e a alma do batizado há uma relação que não é a mesma existente entre o livro seco e o católico. Por esta razão, nas coisas da Igreja, sem sequer eu me dar conta – por exemplo, na leitura de encíclicas papais, etc. – fui embarcando assim: “É verdade, não tem análise prévia…” Isso me dá um bem-estar de alma fenomenal! Porque me sinto encontrado, realizado ao longo da leitura daquilo.
Entretanto, no que diz respeito a São Tomás – que é Doutrina Católica pura, e todos conhecem a minha devoção a ele – é preciso levar em consideração que o modo do Doutor Angélico apresentar os temas é, não inteiramente, mas quase, desligado da realidade concreta. De maneira a termos muitas vezes dificuldades em nos dar conta de qual é a realidade concreta à qual ele está se reportando.
Então, debaixo deste ponto de vista, estudar São Tomás é de grande ajuda na medida em que se faça um trabalho de “conversio ad phantasmata”, de voltar à situação concreta depois ou antes de o ter lido, e entender bem de que coisas concretas ele está tratando.
Assim, na leitura de São Tomás não é necessário um cuidado prévio, mas uma complementação que, conforme o feitio de espírito, será anterior, ou mais ou menos concomitante, ou posterior, mas parece-me necessária sob pena de darem muitos tomistas subindo no ar eternamente, que não se entusiasmam nem entusiasmam ninguém.
Como construir o sistema dentro do qual se deseja expor um tema? Em geral, pelo senso católico se dá o seguinte: quando um tema passa diante de nós, ele causa em nosso espírito a sensação que a caça produz em um bom caçador. Ele pensa: “Ah, é uma perdiz!” Lá vai o tiro! Mas se passar diante dele outra ave que ele não costuma caçar, o caçador se mantém inerte.
Assim também conosco, habitualmente, passa determinada coisa que, ou é uma verdade que desejamos muito demonstrar, ou um erro que queremos muito refutar. Mas este “queremos muito”, em geral, é em função da elaboração genérica dos nossos espíritos em face da Revolução, ou por uma necessidade de alma, ou ainda por exigência da Causa Católica. Nasce então em nós a ideia: “Isto é preciso pegar!” Daí surge naturalmente o método, em função da meta e da natureza da “flecha” que tenho a jogar. O que é a “flecha”? São os recursos de produção intelectual que eu possua, ou seja, o que está na minha cabeça, a minha aptidão para aquilo, os meios de informação e a leitura que tenha para completar os dados sobre aquele tema.
Apresentados estes pressupostos, passo a tratar da temática sobre os instintos no ser humano.
Perfeição do equilíbrio mental do homem
Não afirmo que os instintos mandam de tal maneira que a razão não tem influência e o homem não é senão um joguete dos seus instintos. Penso o contrário. Infelizmente, a Revolução vai tornando o ser humano cada vez mais um joguete dos instintos; porém, na realidade, ele não é um mero joguete deles. O equilíbrio mental do homem provém de um feliz consórcio entre os instintos, no seu estado de equilíbrio, e a inteligência. Portanto, do racional com o razoável. Aí entra a perfeição do equilíbrio mental.
A pessoa só tem essa perfeição quando os instintos são regidos pela Moral Católica e quando a inteligência recebe como norma a Doutrina Católica. Porque então se faz esse amplexo ordenado entre o instinto e a inteligência, e o homem chega, enfim, à perfeição, ao equilíbrio de si mesmo.
Embora a prevalência deva ser da Fé sobre a razão – uma prevalência normativa, amiga, não despótica e persecutória, com uma submissão enlevada da razão em relação à Fé –, não obstante, continua verdade que mesmo os movimentos realizados pela inteligência e pela vontade para conhecer a verdade e querer o bem não são feitos sem os instintos, mas sim com o auxílio, a colaboração deles para captar a realidade, dentro de um alegre convívio, uma coexistência mais do que pacífica, colaboradora dos instintos com a inteligência.
Por exemplo, quando leio São Tomás e tenho noção da lucidez do pensamento dele, isto produz na minha inteligência o efeito de se sujeitar: São Tomás tem razão. Mas produz também outro resultado: eu me encanto com essa diáfana transparência do pensamento e da demonstração dele. E nisto encontro uma alegria do meu instinto que me leva a querer a verdade. Esse deleite, essa degustação da verdade enquanto tal tem qualquer coisa de instintivo. De maneira que o instinto é, no sentido bom da expressão, companheiro de viagem da razão. Não há um determinado momento do processo mental em que a razão diz ao instinto: “Cala-te, escravo miserável! Agora vou te matar e andar sem ti.”
Uma maravilhosa harmonia das inteligências, das vontades e dos instintos
Ontem, ao ouvir o órgão tocar, pouco antes da Missa, e vendo o teclado dedilhado pelo organista, veio-me ao espírito a seguinte reflexão a respeito dos instintos.
A instintividade humana é tal que ela possui uma multidão de movimentos. E assim como a conservação do órgão supõe que, de vez em quando, cada tecla seja tocada – imagino que se algumas teclas não fossem tocadas nunca e outras o fossem muito, esse órgão ficaria meio cambaio –, assim também todos os instintos têm, ora com mais frequência, ora com menos, necessidade de serem satisfeitos, ou seja, de serem postos em movimento para aceitarem ou rejeitarem algo. Por causa disso, a vida é um contínuo tocar de teclado da Providencia através dos Anjos e dos acontecimentos. Mais ainda: através dos demônios, que Deus também permite que toquem o teclado de modo errado, de maneira a, de vez em quando, vibrarem em nossas almas teclas que, conforme o gênero de tentação, emitem notas aloucadas no meio da mais delicada harmonia, ou um ruído que falseia todo o som.
Mas tudo em nós tem que tocar. Cada um de nós é um “órgão”, quer dizer, um jogo de instintos que de modo irrepetível, isto é, nunca houve nem haverá em ninguém daquele jeito, tem uma espécie de equilíbrio, de harmonia que o indivíduo precisa realizar durante a vida, e que ele efetuará por meio da sua santificação, dando-lhe um certo tipo de perfeição como nunca ninguém teve ou terá.
Então, não se trata só de elaborar, “in genere”, o conceito teórico de equilíbrio – o que é muito válido e bom –, mas em concreto o equilíbrio que cada homem individualmente considerado realiza, o qual é uma obra-prima de Deus dentro da grande harmonia dos incontáveis teclados que são os homens criados ao longo da História. De maneira que, no fim do mundo, quando todos os justos estiverem salvos, se tocará uma harmonia não só das inteligências e das vontades, vendo e querendo de modo complementar e maravilhoso, mas também dos instintos, fazendo uma harmonia de cuja beleza nós nem sequer temos uma ideia.
Por outro lado, do fato de o homem ser sociável, os seus instintos não são isolados – há uma interação de uns sobre os outros que, quando todos os indivíduos são virtuosos, ou os virtuosos sabem recusar as instintividades más que outros lhes sopram – provém uma harmonia de instintos que forma propriamente o deleite da sociabilidade e constitui um outro modo de interferir no jogo dos instintos, dentro do plano da Providência; de tal maneira que os instintos das outras pessoas com quem estou em contato, os quais percebo mais ou menos confusamente, repercutem em mim. E se eu reagir adequadamente diante deles, como o órgão, estarei executando aos “ouvidos” de Deus a sinfonia que Ele quer ouvir, o “canticum novum”(1) que devo cantar para Ele, e que ninguém entoou em nenhum século, pois é o meu canto, o qual estarei cantando até mesmo sem perceber.
Instinto genérico do brasileiro: afeto e bondade
Aqui caberia uma consideração a respeito dos povos e nações.
Os homens individualmente têm instintos, mas não se pode dizer que um povo possua instintos, nem que ele forme uma família de instintos ou que há famílias de instintos dentro dos povos, com uma interação parecida com a dos indivíduos de uma família. Entretanto, dentro do Brasil, por exemplo, o modo de fazer política de um gaúcho, um paulista, um mineiro, um carioca ou de um baiano são, no fundo, meio complementares.
É curioso que todos esses instintos dão origem, em cada nação, província, Estado, município, como em cada família, a uma espécie de axiologia própria dependente do instinto. O brasileiro tem o instinto genérico de que, por fim, o afeto e a bondade acabam tendo a melhor palavra, com vantagem para todo mundo. De maneira que se houve uma briga ou guerra entre duas nações ou indivíduos, foi um desastre ou uma inabilidade. Mas o verdadeiro equilíbrio se encontrará num jeito pelo qual aquilo se recompõe. E, portanto, não vale a pena estar gastando demais a atenção em tratados. Caso não se chegue a uma composição afetiva, nada é nada na terra de ninguém. Embora esse afeto recíproco possa ser muito decepcionado, de qualquer forma é preciso apelar para ele como a carta suprema, fora da qual a vida não vale a pena ser vivida.
Esta seria a ideia primeira a respeito dos instintos. Só depois de estar ela bem posta se pode, então, tratar a respeito dos instintos em relação à Revolução e à Contra-Revolução.
Equilíbrio sacral existente na Idade Média
Consideremos a Idade Média. A atmosfera das catedrais, dos castelos, das aldeias medievais criava uma espécie de equilíbrio instintivo ocasionado, em larga medida, pelo sacral. Porque fora de uma perspectiva sacral não pensem em equilíbrio dos instintos, porque seria como cogitar em voar sem asas, andar sem pernas, ver sem olhos; não se consegue, simplesmente.
Na Idade Média esse equilíbrio sacral tinha chegado a modelar a sociedade temporal do modo mais alto possível, depois de ter exercido na própria Igreja o influxo mais salutar, pois, nascido da própria sociedade espiritual, lhe faz bem como uma fonte que surge do chão e começa por regar o solo de onde nasceu.
Há uma espécie de equilíbrio medieval, um ponto de repouso dos instintos na presença do sacral por onde eles perdem sua condição de impulsos perpetuamente famintos ou sedentos, que marca todas as outras situações de instintos fora dessa alta cúpula medieval. Ninguém conhece um conjunto de povos tão altamente equilibrado nos seus instintos como a Europa daquele tempo. Não porque não houvesse também desequilíbrios, mas o ponto-chave era equilibrado.
Explosão dos instintos e acomodação
Insisto então nesta ideia: os instintos se movimentam em nós, mas geralmente prestamos atenção neles quando estão uivando de sede ou de fome. Mas fora disso não os percebemos. Habitualmente todos os nossos instintos são assim: alguns estão inertes e outros querendo criar caso. E toda a capacidade vital se concentra desordenadamente sobre alguns instintos que, uma vez ausente o sacral, tornam-se insaciáveis. A partir disso, se colocamos numa alma o tonel das Danaides(2), onde quanto mais se põe água mais o tonel se esvazia, então não há solução para nada.
Para jogar o povo no “mare magnum” de uma revolução é preciso, antes, fazê-lo rejeitar o equilíbrio instintivo do sagrado para que se ponha a fazer papel de louco: assobiar, silvar, uivar… Por onde se chega à conclusão profunda, mais ou menos inadvertida, de que não pode haver ordem. Sucede, então, um caos das tendências, dos projetos, das doutrinas, tudo a serviço de certas metas que o indivíduo reputa que vão proporcionar para ele uma determinada felicidade nesta Terra. Mas todos têm, ao mesmo tempo, uma certa noção confusa de que essa situação é insolúvel.
Há muita gente que nunca pensou nesses assuntos; entretanto, têm mais ou menos isso no fundo da cabeça e vivem assim, sempre com a ideia de que no próximo gole satisfazem o instinto. E cada vez que bebem mais um gole ficam com mais sede. Não podem parar de beber, porque se não beberem é um tormento; bebem, o tormento aumenta.
Então, o sujeito compra um automóvel e pensa: “Afinal tenho um automóvel…” Logo em seguida ele precisa de um automóvel melhor e, pouco depois, se ele não tiver o automóvel-ápice, aquele que ele possui não vale nada. Mas quando obtiver o automóvel-ápice, ele reflete: “O que é esse automóvel? Imagine viver só com um automóvel, coisa ridícula! Eu preciso ter mais tal outro…” E lá vai! Não tem limites. São os instintos desatarraxados.
Acontece que, depois da primeira explosão revolucionária dos instintos, há uma certa acomodação. Porque está no jogo dos instintos não gastar demais a vitalidade. Aquilo que a pessoa queria demais, quando ela sente ter sacado demais de si para obter, ela já não tem vontade de dar. Então, há períodos de revolução e períodos de acomodação.
As revoluções na História se fazem, em geral, de eras nas quais está sobrando o instinto vital para o combate, e eras em que aquilo cessa e a pessoa quer se entregar de qualquer jeito, ter uma vida sossegada. É um instinto que dá lugar a outro.
Desprovida do sacral, a ambição por coisas belas e nobres transformou-se em instrumento da Revolução
E como faz a Revolução para desencadear uma revolução? Na Idade Média o que ela fez? Começou por tomar instintos nobres e, por falta de sacralidade, levou as pessoas a ambicionarem aquelas coisas nobres e belas desordenadamente, a quererem umas e rejeitarem outras; e as desejadas o eram numa perspectiva forçada, errada.
Dou um exemplo. A coragem é uma nobre posição da alma que corresponde à ideia de que o homem se encontra em estado de prova – já estava antes mesmo do pecado original –, e que precisa, portanto, combater. Para isso ele tem o instinto que o leva à luta. Mais ainda, a culpa original tornou sua pugna mais urgente, mais cogente. Mas ele tem proporção com isso e há uma beleza que talvez não existisse nem no Paraíso terrestre, que é a luta do homem sobre os efeitos do pecado original.
Então, uma certa ideia da beleza que há na aventura, no risco, no enfrentar o incógnito, sem o que a alma não tem equilíbrio. A isso se alia a noção de como é razoável e intrinsecamente belo expor nobremente a vida por um ideal superior.
Entretanto, como o homem que pratica esse heroísmo se torna digno de aplauso, começa então um elogio debandado do herói e de suas qualidades, mas abstração feita da perspectiva sacral. O herói, por ser herói, é um colosso. E o heroísmo é tão belo se praticado do lado de Maomé quanto de Nosso Senhor Jesus Cristo; ou feito simplesmente para ganhar glória e brilhar aos olhos dos homens.
Temos, então, a Cavalaria que passa de religiosa para puramente metafísica e natural, e de idealista para faceira. Ela baixou o teto. Ela continua a ser heroica, mas um heroísmo que, por ter perdido o caráter religioso, se degenera nas mais diversas formas, inclusive a do duelo.
O respeito do cavaleiro andante pela viúva, pelo órfão, por todos aqueles que são presas dos fortes se faz muito sentir e, enquanto tal, é uma coisa sublime, não há dúvida nenhuma. Mas, se formos analisar bem, isso foi levado ao respeito, ao culto à dama, porque ela, como mais fraca, merece reverência. Acabou resultando daí uma espécie de sublimação da debilidade feminina e, em função do que a mulher tem de mais delicado que o homem, a afirmação da superioridade dela sobre ele, sendo transformada num ideal do homem.
Vêm, então, aquelas descrições – a fisionomia é assim, com olhos de tal cor, nariz e pele de tal jeito, mãos e pés pequenos, etc. – que fazem pensar na dama como uma criatura ideal, produzindo uma afetividade por uma pessoa cuja alma se deduz do rosto e da linha geral do corpo. Essa afetividade já é meio divinizante, dessacralizada e pagã, e leva o indivíduo à adoração de uma determinada mulher. Mas, depois, à adoração a várias mulheres de um tipo feminino ideal que ele não encontra em nenhuma. Daí surge o romantismo com todos os seus desvios, sua sensualidade e tudo o mais. O respeito religioso à dama séria, à mulher forte da Escritura desaparece para dar origem ao culto à “mulher-bibelot”, ao mesmo tempo, à mulher-sonho, à mulher pseudomística: a Isolda do Tristão ou a Julieta do Romeu, daí para fora… Uma avalanche de sentimentalismo e de sensualidade derramou-se sobre o mundo.
A Revolução aciona os instintos para toda forma de excesso
Com a tendência para desequilibrar a afetividade e a coragem, surgiu também a propensão ao desequilíbrio de outro instinto legítimo, que leva ao gosto da prudência. O burguês que deseja levar uma vida trabalhosa, mas sossegada e, por causa disso, quer amealhar dinheiro, ter uma garantia contra o infortúnio, contra o ladrão, pondo cinco trancas na porta de sua casa e grades em todas as janelas. Tem ele um instinto razoável que se compraz na segurança. Mas, destemperado, esse instinto delira: o homem quer ficar riquíssimo; começam a aparecer em todas as nações os “Cresos”(3) desarrazoadamente ricos que acionam as alavancas monetárias dos acontecimentos. Assim, tudo tende a extremos desordenados.
A Revolução vê que todos os instintos são manuseáveis para tudo, exceto o equilíbrio, e que ela pode facilmente acioná-los para qualquer forma de excesso. Então, ela estuda um pouco e percebe quais instintos prevalecem livremente no momento e quais passaram para o segundo plano. Com base nisso, ela apresenta uma meta cultural, ideológica, afetiva, consuetudinária que encaminha para levar até o delírio aquilo para o que há uma tendência. Trata-se, então, de conduzir os indivíduos fazendo-os galopar com ênfases e na euforia de uma suposta juventude – pois todos os desregrados se pretendem eternamente jovens – até esse ponto do exagero e do delírio.
Quando o instinto delirou, ele passa por uma “quarta-feira de cinzas”; é o palhaço que durante os três dias de Carnaval bebeu e comeu demais, se “empalhaçou” demais, e deita jururu no chão do seu quarto, ainda fantasiado, e cozinha sua bebedeira, farto de tudo. Depois, quando acorda, lava-se mais ou menos e vai para a repartição onde ele é datilógrafo. Sonhou exageros, delírios de fantasia durante três dias; quando chegou à saturação e à explosão do instinto, ele tende ao oposto.
A Revolução já sabe e vem com sua proposta: “Olha, tal coisa assim é boa…” De fato, ele está precisando pôr dentro de si algo do que rejeitou, sob pena de não readquirir o equilíbrio, e o instinto de conservação não permite. Então ele vai voltando atrás em alguma medida do caminho percorrido. Em certo momento o pouco que voltou atrás já o sacia, e ele dá um pulo bem mais para a frente, procurando refúgio em outro exagero ainda maior. Assim, balançando, a Revolução o vai jogando até delírios que são uma explosão. Ou, então, ele apostata daquele caminho e entra num outro instinto que começa a tocar nele.
No Ocidente, por razões históricas, nós ainda estamos no jogo dos instintos correspondente a um horror ao sacral, ao equilibrado, ao sensato, àquilo que se mantém seriamente, com o desejo de algo que nos liberte disso, custe o que custar, aceitando qualquer forma de delírio. Os vários recuos da Revolução e os posteriores avanços para excessos maiores se explicam assim. v
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 9/3/1986)
Revista Dr Plinio
1) Do latim: cântico novo (Sl 96, 1).
2) Lenda da mitologia grega, segundo a qual as Danaides tinham sido condenadas a encher perpetuamente de água um tonel furado.
3) Creso, último Rei da Lídia, da dinastia Mermnadas. Famoso por sua riqueza, reinou de 560 a 546 a. C.