Não permitais que me separe de Vós

Minha Mãe, eu sei que sou tal que, se for só por mim, acabo me separando de Vós. Mas sei que sois tão insondavelmente boa e poderosa que podeis impedir-me de me separar de Vós. Então, a minha confiança em ser fiel resulta, minha Mãe, essencialmente disto: Não permitais jamais que me separe de Vós.

Tenho certeza de que, como nunca se ouviu dizer que tendo alguém recorrido à vossa proteção, implorado o vosso auxílio fosse desamparado, essa minha súplica também não deixará de ser ouvida.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 12/6/1971)

Revista Dr Plinio 256 (Julho de 2019)

Nossa Senhora da Luz Profética

A luz profética é um discernimento por onde vemos, e como que apalpamos, as graças que Nossa Senhora nos concede, e cuja característica é fazer com que passem as inseguranças, os egoísmos, os subjetivismos, os langores. Enquanto essa luz brilha, tudo isso acaba.

É como o Sol: quando ele se põe, as aves noturnas, os bichos feios, os animais agressivos começam a se mover dentro da floresta. Quando o Sol se levanta, eles procuram suas tocas, seus ninhos, buracos e somem. Esse sol é a luz profética.

Nossa Senhora da Luz Profética é Maria Santíssima enquanto resplandecente dessa luz, de um modo inenarrável! Ela, de vez em quando, obtém para nós raios dessa luz para nos fazer completamente outros.

Nada no mundo vale tanto quanto esta luz. Com ela tudo se resolve; sem ela, tudo fica difícil.

Nossa Senhora nos dá a entender o seguinte: “Meus filhos, essa é uma luz que vem do Céu, é a luz do meu Reino. Peçam-na, acreditem nela e deixem-se transformar por ela”.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 16/9/1974)

Lírio entre os espinhos

No Pequeno Ofício da Imaculada Conceição há o seguinte responsório: “Como o lírio entre os espinhos, assim é a minha predileta entre os filhos de Adão”.

Estas palavras podem ser aplicadas também a uma porção de coisas boas que, em nossas vidas, restam no meio dos espinhos, os quais temos que aturar para podermos nos deleitar com o perfume de um lírio.

Existe, por detrás, uma verdade enternecedora: Nossa Senhora quer que tenhamos pena daqueles que representam os espinhos em torno do lírio d’Ela. E tendo paciência com eles, sabendo perdoar até o estapafúrdio, sendo inalteravelmente os mesmos, nós transformamos os espinhos em lírio.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 12/2/1988)

Luz brilhantíssima da Igreja nascente

Dr. Plinio salienta o papel da Santíssima Virgem enquanto Medianeira de todas as graças, nas etapas iniciais da vida da Igreja.

 

Comentaremos trechos de um livro sobre Nossa Senhora(1) , o qual contém pensamentos muito piedosos e bonitos, próprios a intensificar nossa devoção à Santíssima Virgem.

É um tanto difícil, conhecendo nós as poucas palavras de Nossa Senhora referidas no Evangelho, formarmos inteiramente ideia, do que possa ter sido a mentalidade e o espírito dEla.

Naturalmente, o mais poderoso dos meios que temos para retraçar o perfil moral de Nossa Senhora é compará-La com Seu Divino Filho.

Mas Nosso Senhor é tão alto — Ele é Divino — que, mesmo se referindo à Mãe dEle, a comparação tem qualquer coisa pela qual não se ajusta bem. Aliás, toda comparação claudica, e essa especialmente.

Então, somos obrigados a procurar outras formas para conhecer algo do espírito de Maria e do conteúdo de Seu Imaculado Coração. Um dos meios bonitos consiste em estudar a vida de São João Batista.

Porque São João Batista foi santificado no seio de Santa Isabel pela palavra de Maria Santíssima comunicando ao Precursor, misteriosamente, o espírito dEla. E tudo quanto São João Batista fez em sua vida decorreu dessa graça inicial a qual, pelos rogos dEla, foi constantemente intensificada, até chegar ao auge, quando ele morreu.

E São João Batista, enquanto asceta austero, pregador do Cordeiro de Deus que viria, herói que enfrenta Herodes e morre como mártir sublime de grandeza e de serenidade, é uma das facetas do espírito de Nossa Senhora.

Outra faceta muito bonita, é a seguinte: Nossa Senhora é a Sede da Sabedoria; portanto, nEla está contida toda a sabedoria que vem de Deus para depois ser concedida  aos homens.

E como tal — a respeito disso pouco se fala — estando a Virgem Maria presente entre os Apóstolos, é impossível que estes tenham trabalhado, ensinado a respeito de Nosso Senhor Jesus Cristo sem consultá-La. E que os evangelistas tenham escrito os Evangelhos, sem recorrerem freqüentemente a Ela porque o espírito dos Evangelhos é o próprio espírito de Nossa Senhora.

Essa relação da Virgem Maria com a pregação da Igreja nascente, e mais especialmente com o Evangelho, fica expressa em termos bonitos por este trecho do livro:

“Nossa Senhora foi o oráculo vivo que São Pedro consultou nas suas principais dificuldades.”

São Pedro, o primeiro Papa, o chefe da Igreja.

“A estrela que São Paulo não cessou de olhar para se dirigir em suas numerosas e perigosas navegações.”

Naturalmente, refere-se às navegações, em sentido figurativo.

“Nada se fez senão de acordo com o conselho e a direção de Nossa Senhora.”

Temos então uma linda visualização: a Igreja nascente, com todos aqueles lances maravilhosos, foi inspirada e dirigida por Nossa Senhora.

É verdade que São Pedro era o Papa e detinha o poder sobre a Igreja. Porém, estava ele completamente submisso a Nossa Senhora e, em São Pedro, era a Santíssima Virgem que dirigia os demais Apóstolos.

“Então Ela verdadeiramente preencheu a significação de seu nome simbólico.”

O autor apresenta uma linda interpretação do nome de Nossa Senhora, como Sede da Sabedoria —o foco da ortodoxia e da boa doutrina — que me pareceu muito bonita.

Pois, diz São Boaventura, o nome de Maria pode traduzir se por essas palavras:

Maria é aquela que é iluminada por cima e espalha, por todo lugar, e em todas as direções, a luz. Quer dizer, é verdadeiramente a medianeira da luz. Toda a sabedoria e toda a luz que vem de Deus, passam por Ela e através dEla, como Medianeira, se difundem por todos os homens.

Então, quem quiser receber a sabedoria, e progredir nessa virtude, deve recorrer a Nossa Senhora que é, por definição, pelo mesmo conteúdo de seu nome, um foco de luz celeste que se espalha pela humanidade inteira.

O autor argumenta muito bem: era possível haver entre os Apóstolos este foco, sem que ele não os iluminasse? Tudo quanto os Apóstolos fizeram e os evangelistas escreveram não era senão a luz que procede desse foco!

Então, estudar a Virgem Maria como inspiradora da mentalidade, do espírito dos Apóstolos e evangelistas, aos quais forneceu as informações para pregarem e escreverem é uma coisa que nos faz entrever cenas maravilhosas.

Imaginemos a Mãe de Deus, tendo ao seu lado São Paulo, São Pedro, São João Evangelista, contando, explicando, interpretando, ajudando-os a ver melhor tais e tais fatos da vida de Nosso Senhor, pondo em realce este, aquele outro fato, sendo, portanto, o aroma do bom espírito perfumando a Igreja inteira!

Compreendemos assim o papel de Nossa Senhora presente e visível na Igreja nascente, o que é uma coisa verdadeiramente maravilhosa.

Continua o autor:

“Se os evangelistas quiseram recolher os principais fatos da vida de Jesus e seus ensinamentos mais importantes a fim de nos transmitir os seus escritos autênticos, eles recorreram a Maria.

“Foi a Ela que eles pediram os esclarecimentos necessários sobre a Encarnação.”

De fato, a quem pedir informações e esclarecimentos sobre a Encarnação, a não ser a Ela?

“Pois, disse o Cardeal Hugo, Ela fez de seu coração o tesouro das palavras e das ações de Seu Filho, a fim de os comunicar em seguida aos escritores sagrados.”

Mais uma vez se apresenta esta ideia: Nossa Senhora é o vaso que recolheu todos os ensinamentos de Nosso Senhor os quais foram distribuídos para os Apóstolos e à Igreja desde seu nascedouro até hoje. Não só, portanto, no que está escrito, mas, em importantíssima parte, na Tradição da Igreja.

“Nenhuma criatura, diz Santo Agostinho, jamais possuiu um conhecimento das coisas divinas e do que se relaciona com a salvação, igual à Virgem bendita. Ela mereceu de ser a mestra dos apóstolos e é Ela que ensinou aos evangelistas os mistérios da vida de Jesus”.

É um santo que escreveu isso. Vejamos agora o que afirma um grande autor espiritual, o abade Rupert:

“E os outros, é verdade, diz o abade Rupert, podem ser chamados Doutores. Mas Maria é muito mais do que isso, Maria é a Mestra dos Doutores. É a Doutora dos Doutores.”

Vemos assim o esplendor da alma santíssima de Nossa Senhora, bem como o papel da ortodoxia e da sabedoria em Sua santidade. Não é um papel colateral como a “heresia branca(2)” imagina, mas fundamental. Aí temos um vislumbre que nos pode ajudar a aumentar nosso amor a Maria Santíssima. 

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 11/7/67).

 

1) Por não ter sido feita a devida anotação quando Dr. Plinio pronunciou esta conferência, desconhecemos o nome do autor e o título do livro citado.

2) Expressão metafórica criada por Dr. Plinio para designar a mentalidade sentimental que se manifesta na piedade, na cultura, na arte, etc. As pessoas por ela afetadas se tornam moles, medíocres, pouco propensas à fortaleza, assim como a tudo que signifique esplendor.

Maria fons

No hino “Flos virginum”, Nossa Senhora é chamada “Maria fons”. Ora, como se deve entender esta invocação? Em que sentido Ela é fonte?

Nossa Senhora é simbolizada por uma fonte encontrada por alguém que está vagueando pelo deserto, com sede.

Quer dizer, Ela é a fonte na qual podemos nos dessedentar.

Mas fonte de quê? Ela é a fonte de todas as graças, pois estas nos vêm de Nosso Senhor Jesus Cristo através d’Ela.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 18/8/1965)

“Que as vossas cogitações sejam as minhas”

Ó Mãe indizivelmente grande, ó Rainha inexprimivelmente doce e acessível, ó arco-íris que reúne numa síntese incomparável os dois aspectos da grandeza, isto é, a superioridade e a dadivosidade: suplico-Vos me ajudeis a observar, a analisar, a compreender e a enlevar-me com vossa grandeza. Concedei-me que, pela meditação da vossa grandeza, as vossas cogitações e vias sejam as vias e as cogitações [deste filho]. Atendei a essa súplica, ó Coração Régio, Sapiencial e Imaculado de Maria. Amém.

(Oração composta por Dr. Plinio, na década de 60)

O socorro maternal que por nós intercede

O simbolismo mais tocante da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está contido no gesto com que o Menino Jesus se apóia em Nossa Senhora, a qual segura as mãos d’Ele, significando que Ela governa os movimentos de Seu Divino Filho. Este era um antigo símbolo de homenagem e de obediência, o qual consistia em que o inferior colocasse suas mãos entre as do superior. Isto significava o domínio, o poder, deste sobre aquele, porque um homem que segura as mãos de outro evidentemente segura-o por inteiro.

Representando o Divino Infante desse modo o artista foi muito feliz e conseguiu indicar o que de fato acontece: a Santíssima Virgem pode tudo sobre o Menino Jesus e, nesse sentido, sua oração O “governa”!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 18 de novembro de 1968)

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Tendo diante de si um quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, invocação mariana que lhe tocava o mais fundo da alma, Dr. Plinio ressalta a importância de se recorrer a Maria Santíssima sob este título tão consolador: o socorro que nos vem sempre, a todo momento, maternal e infatigável.

 

Ao contrário de nossos costumeiros comentários sobre o Santo do mês, desta feita não os basearemos em biografia, mas numa gravura que retrata a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, cuja festa se celebra no dia 27 de junho.

Linda invocação de uma imagem bizantina

Preliminarmente, convém esclarecer um ponto que poderia ser levantado pela minha caríssima geração nova.

Este quadro é de inspiração bizantina, e não se deve ver nele o gênero de beleza que apresentam as imagens ocidentais, como, por exemplo, Nossa Senhora Auxiliadora, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora de Fátima, etc. Analisando-as, percebe-se que seus rostos são entalhados com requinte e esmero, como a face de uma boneca. Embora não seja esse o tipo de graciosidade refletida na fisionomia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, pintada há vários séculos, entretanto ela nos revela uma intensa expressão.

Difundida na Igreja pelos padres redentoristas, trata-se de uma linda invocação, pois indica a misericórdia invariável de Maria Santíssima. O perpétuo socorro é um auxílio, um ato de clemência, de piedade, ininterrupto, que nunca se detém nem se suspende. “Nunca” significa em nenhum minuto, em nenhum lugar, em nenhum caso. Por pior que seja a situação de quem recorra a Nossa Senhora, sendo a Mãe de misericórdia, Ela sempre o atende.

Sobre o fundo áureo da glória

Esse quadro possui um fundo dourado, bastante usado durante o antigo império romano do Ocidente e do Oriente, e parte da Idade Média, nas pinturas de personagens eminentes, os quais não eram representados pelos artistas em salas, quartos ou paisagens, mas sobre o ouro, a fim de exprimir a ideia de que estavam desligados de qualquer outra coisa que não fosse a glória. Assim, essa imagem representaria o esplendor da Rainha do Céu, com sua fronte circundada por uma auréola ricamente lavorada, como o é também a que emoldura a face do Divino Filho ao braço da Mãe.

 Nossa Senhora está revestida de um manto azul que Lhe envolve igualmente a cabeça. Constitui uma espécie de xale, no qual refulge um adorno semelhante a uma estrela. Sob esse manto, a Santíssima Virgem traja uma túnica vermelha frisada com galões de ouro e enfeixada, à altura do pescoço, por uma pedra preciosa.

Todos esses aspectos têm seu simbolismo, por isso devemos notá-los antes de apontar o valor e o alcance de cada um deles.

O Menino Jesus se acha sentado sobre a mão esquerda de Nossa Senhora, inteiramente encostado n’Ela, como uma criança muito familiarizada com sua mãe e tendo prazer de estar junto a seu regaço. Entretanto, se distrai com alguma coisa para a qual está olhando. Dir-se-ia haver, da parte do artista, uma certa imperícia, pois o Divino Infante é um tanto grande para ser carregado dessa forma por Maria Santíssima, dando a impressão de desequilíbrio nas proporções dos personagens. O próprio tipo do corpo d’Ele, sem falar do tamanho, transmite mais a ideia de um adolescente do que um menino. Seja como for — e apesar de algum crítico por demais exigente apontar outros aparentes defeitos, que não são senão expressões do estilo próprio da época e dessa cultura — tal imagem é considerada uma grande e interessante obra de arte.

Vestindo uma túnica verde, o Menino-Deus traz na cintura um tecido róseo e, sobre o ombro direito, uma capa dourada que lhe envolve o resto do corpo. Sendo esta muito ampla, forma numerosas pregas, as quais me parecem bem estudadas, dando a impressão, juntamente com a túnica e a faixa, de naturalidade.

Em cada lado da imagem há um anjo ostentando instrumentos da Paixão. Ambos aparecem de asas e auréola. O da direita, com vestes vermelhas, porta a Cruz que, curiosamente, possui três braços de tamanhos distintos. O da esquerda, de túnica verde, segura uma lança e a esponja na qual foi embebido o fel oferecido a Nosso Senhor no alto do Calvário.

Extraordinário afeto materno

A imagem de Maria é sobremaneira expressiva, devido à atitude profundamente materna que Ela demonstra. É a Mãe que carrega seu Filho com naturalidade e afeto extraordinários, transparecendo a intimidade magnífica da Santíssima Virgem com o Menino Jesus. A expressão de seu olhar é recolhida, de quem reza. Ela segura o Filho com desvelo e, ao mesmo tempo, com imenso respeito e veneração. Está certa de que tem nos braços o próprio Deus encarnado e a sua atitude é de adoração.

A face de Nossa Senhora talvez pudesse ser um pouco mais bem desenhada. Embora a boca seja delicada, o pescoço parece rígido demais, e o nariz se estende num comprimento excessivo. Mas esses pormenores secundários não diminuem o sopro da arte autêntica, patenteado na expressão recolhida e carinhosa da fisionomia, bem como na nobreza do porte.

Tocantes simbolismos

Analisemos agora o simbolismo. Nossa Senhora está revestida de uma túnica vermelha e um manto azul. Nos primeiros séculos do Cristianismo, a cor azul distinguia as virgens e a vermelha, as mães. De maneira que essa conjugação cromática nos apresenta Maria como a Virgem-Mãe. Trata-se de uma bela combinação, um simbolismo acertado e discreto que define Nossa Senhora.

No meu entender, o simbolismo mais tocante está contido no gesto com que a Mãe segura as mãos do Menino Jesus, envolvendo-as suavemente, indicando como Ela governa seu Divino Filho. Tal atitude representava, nos tempos antigos, a homenagem e a obediência do inferior para com seu superior, e do poder deste sobre aquele, pois uma pessoa que segura as mãos de outra evidentemente a domina por inteiro. Então, para mostrar como a virgem pode tudo junto a Deus, através da oração, com muita naturalidade o artista representou o Menino Jesus prestando este ato de submissão à sua Mãe Santíssima. A posição d’Ele é tão natural e freqüente entre as crianças que, sem conhecer esse simbolismo, não se diria que o pintor teve a intenção de exprimi-lo.

É próprio de quadros como esse que o significado dos símbolos quase não aflore, e assim, quem o contemple, pode ter o gosto de adivinhar o sentido de cada um deles. Trata-se de uma ocupação piedosa e nobre, que retém a atenção e é incomparavelmente superior às distrações do tipo palavras-cruzadas, por exemplo…

Nossa Senhora segura o Menino Jesus o qual olha para dois anjos portando instrumentos de sua Paixão. Quer dizer, ao mesmo tempo em que se lembra n’Ela a Virgem e a Mãe, recorda-se n’Ele o Redentor do gênero humano, esperado pelos Patriarcas e Profetas.

O socorro por um fio

Pormenor pitoresco, no pé esquerdo do Divino Infante vê-se a sandália bem presa, porém a do pé direito está desatada, quase caindo, como que obrigando-O a um movimento necessário para retê-la. Penso que esta última significa a situação da alma pecadora, sustentada pelo Menino-Deus para não cair no abismo da perdição. Indica, portanto, o perpétuo socorro: é Nossa Senhora que intercede pelo faltoso, junto ao Filho que Ela segura nos braços e pode salvar o homem acabrunhado de culpas.

Tenho conhecido em minha vida tantas almas suspensas, como esta sandália, e depois se erguerem e ficarem firmes como a outra, que não seria desprovida de beleza se tal fosse a explicação desse pormenor.

Aliás, no verso de um “santinho” dessa imagem que me foi presenteado certa vez, vinha esta linda interpretação: “A sandália desatada, quiçá símbolo de um pecador preso ainda a Jesus por um fio, o último — a devoção a Nossa Senhora”.

Nos ângulos superiores do quadro há algumas letras gregas que significam “Mãe de Deus”; à direita do Menino Jesus, outras que querem dizer “Jesus Cristo”. As que aparecem acima do anjo à esquerda significam “São Miguel Arcanjo”, e as que estão sobre o anjo à direita, “São Gabriel”.

Por fim, a estrela que refulge no manto de Nossa Senhora indica, uma vez mais, seu perpétuo e maternal socorro, sua misericórdia infatigável a nos guiar em meio às vagas tormentosas desta vida, rumo ao Céu.

 

“Dos que me destes, não perdi nenhum”

Nos momentos de provação e angústia, lembremo-nos de que Nossa Senhora, por disposição divina, se acha junto a cada um de seus filhos provados, ajudando-o a lutar e a vencer as dificuldades. De tal sorte que dia virá em que Ela, afetuosa, amorosa e pacientemente deitará um olhar misericordioso sobre todo o seu rebanho de devotos e repetirá a Nosso Senhor Jesus Cristo essas palavras magníficas que o próprio Redentor pronunciou: “Dou-vos graças meu Deus, porque de todos os que Vós me destes, não perdi nenhum!” (Jo 17, 12)

Na verdade, Maria Santíssima nos acompanhará pelos extravios, pelas infidelidades, prostrações e conspurcações, pelos olvidos, pelas ingratidões, por toda a poeira e por toda a lama do caminho: mas, a todos e a cada um, em determinado momento, Ela dirá infalivelmente a palavra que o poderá salvar.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 26/4/1974)

Maternal bonança

Maria Santíssima nos socorre em meio às intempéries espirituais que todos padecemos ao longo de nosso palmilhar rumo ao Céu.

Tempestades das lutas face às tentações, ao pecado, à tibieza, ou diante das aflições do dia-a-dia.

Tempestades da vida, tempestades da alma. Em todas essas circunstâncias mais borrascosas ou menos, Nossa Senhora vem ao nosso encontro, como a mãe que se debruça, sôfrega de solicitude, sobre o filho necessitado. Acode-nos imediatamente,