Caro Christi, caro Mariæ; sanguis Christi, sanguis Mariæ

Desde o primeiro momento de sua concepção, Jesus começou a adorar o Pai Eterno, o Divino Espírito Santo e a alimentar-Se dos elementos que o santíssimo e  virginalíssimo corpo de sua Mãe Lhe proporcionava. Nossa Senhora tinha consciência inteira do que se passava em seu interior, e sentia a sublimação de seu sangue que  estava sendo transformado n’Ele.

 

Antes da Santíssima Virgem Maria saber que seria Mãe do Redentor e Esposa do Divino Espírito Santo, tudo n’Ela se orientava nesse sentido. Não que Ela aspirasse ser a  Mãe do Messias, mas a fim de que Ele viesse logo.

“Mandai o Messias, mandai o Messias…”

As orações de Nossa Senhora para a vinda do Messias devem ter acelerado muito essa chegada, pois Ela é onipotente em suas súplicas. A partir do momento em que Deus A criou, Maria Santíssima teve conhecimento da situação da humanidade e começou a rezar para vir logo o Salvador.

Com o nascimento d’Ela levantou-se, portanto, como que uma coluna de fumo odorífero de cor maravilhosa, de movimentação encantadora e ao mesmo tempo majestosa na  presença de Deus. Era a oração de Nossa Senhora que subia do Coração Imaculado d’Ela até o trono do Criador, pedindo: “Mandai o Messias, mandai o Messias…”

A Virgem Maria possuía tanta admiração e adoração pelo Messias o qual devia vir, que se acredita – a meu ver com muito fundamento – ter Ela pedido para ser escrava da  Mãe d’Ele e poder, assim, servi-La de todos os modos, como uma forma indireta de servir o próprio Salvador.

Essa oração também foi ouvida, como acontecerá com tantas  preces de Nossa Senhora, mais até do que Ela esperava. Segundo a narração do Evangelho, a Anunciação se deu sem preparação extraordinária.

A Santíssima Virgem estava muito normalmente rezando naquele claustrozinho da casa d’Ela, quando apareceu um Anjo e A saudou: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 28). Com certeza, na medida em que isso se pode entender de puros espíritos, ele se inclinou profundamente diante d’Ela.

A Santíssima Virgem julgava-Se indigna

Isso dito por um Anjo! Os Anjos são seres de uma beleza, de um esplendor incomparável. Podemos calcular a impressão que isso deve causar, ainda mais para uma pessoa humílima como Nossa Senhora.

Foram surpresas sobre surpresas: Por que um Anjo vai aparecer para Ela? Por que A saúda reverentemente? Por que Lhe faz esse elogio? Depois, surpresa ainda maior: Maria Santíssima tinha pactuado com São José de ficar sempre virgem. E Ela vê que o Anjo lhe fala de um Filho ao qual deverá dar o nome de Jesus.

Ora, Nossa Senhora estava longe de imaginar que o Messias seria Filho d’Ela e, para se manter longe dessa suposição, tinha uma razão que em sua psicologia era invencível: a indignidade d’Ela. Sendo Ela  tão indigna – pensava –, estava claro que não era para Ela que viria isso. E chega a revelação de que Ela – com sua promessa de virgindade – dará à luz um Filho chamado Jesus e, com certeza, o Anjo quando pronunciou esse santíssimo nome reluziu num esplendor muito maior.

Talvez as miríades de Anjos que deveriam encher, nesse momento, o pequeno claustro da casa de Nossa Senhora também tivessem indicado, de algum modo, a festiva  presença deles, anunciando o nome de Jesus. Então Ela perguntou como isso seria possível, pois fizera o voto de permanecer sempre virgem.

O Anjo deu a  entender que isso não seria impedimento, porque para Deus não há obstáculos e, portanto, Ela não se preocupasse, pois seria assim, desde que Ela consentisse. O bonito está nisto: que Ela consentisse. E Maria Santíssima deu aquela resposta perfeita: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Deu-se, então, a Encarnação do Verbo de Deus, e naquele momento Ela sentiu-Se Esposa do Divino Espírito Santo.

É uma situação tão colossal, tão fabulosa que ninguém imagina bem o que seja. Houve muitos santos que tiveram revelações do Espírito Santo, a quem Ele manifestou-Se de  algum modo. Isso não é nada em comparação com o fato de Se tornar Esposa do Espírito Santo!

Início do processo da Encarnação

Quer dizer, houve um determinado momento em que o Espírito Santo se manifestou a Nossa Senhora tão profundamente que gerou n’Ela um Filho. Se tudo quanto os  Santos sentiram na hora da manifestação do Divino Espírito Santo fosse somado, não daria nada em relação ao momento em que Ela, sendo uma criatura humana, passou a  ser a Esposa do Divino Espírito Santo, por toda a eternidade.

Essa situação gerou, necessariamente, tanta felicidade, tanta intimidade, tanto fogo dentro da alma d’Ela, que nós não podemos conceber, e teve como resultado o início do processo da Encarnação.  Ou seja, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Se encarnou no claustro d’Ela e, desde o primeiro momento da concepção, começou a adorar o Pai Eterno, o Divino Espírito Santo e a alimentar-Se dos elementos que o santíssimo e virginalíssimo corpo de sua Mãe Lhe proporcionava.

Nesses atos simultâneos, na medida em que Ele Se nutria, o seu Corpo ia tomando consistência e também a união da alma d’Ela com Ele ia aumentando. Nesse período da gestação, a intimidade entre Ele e Ela, seus colóquios, como se amaram, são coisas inefáveis. É algo superior a toda cogitação!

Pensarmos que tudo quanto rezamos no “Veni Creator Spiritus” deu-se com a Santíssima Virgem em grau superlativo!

“Veni, Creator Spiritus, mentes tuorum visita”. Considerem o que significa pedir que o Divino Espírito Santo visite as nossas mentes. A entrada d’Ele e sua ação em nossas  mentes, o que é uma coisa dessas?! “Imple superna gratia quæ Tu creasti pectora”: Os corações que Tu criaste, enche com a tua graça superior”.

“Qui diceris Paraclitus, donum Dei altissimi…”: Tu que és chamado o Paráclito, dom de Deus altíssimo… “Fons vivus, ignis, caritas, et spiritalis unctio”: Fonte viva da graça e  de todos os bens espirituais que a pessoa possa ter, e unção espiritual.

Essa presença do Espírito Santo nos enche de graça e de unção espiritual.

A gruta de Belém se torna mais augusta que qualquer outro palácio

Mas como essa presença é  tênue, leve, pequenina, em comparação com a de Nosso Senhor em Nossa Senhora!

Imaginem esse ato de comunhão perpétuo – no sentido de que será durante todo o período da gestação –, em que Ele está dentro d’Ela e vai Se nutrindo do sangue puríssimo d’Ela, e a carne do Homem-Deus vai cada vez mais se constituindo. Ela sabe disso, tem a consciência inteira do que se passa em seu interior e sente a sublimação de seu sangue que está sendo transformado n’Ele.

Diz-se “caro Christi, caro Mariæ; sanguis Christi, sanguis Mariæ: a carne de Cristo é a carne de Maria; o sangue de Cristo é o sangue de Maria”.

Assim, no corpo d’Ela vai se modelando o d’Ele. Aí se dão certos fenômenos, como o da hereditariedade, por onde Ele herda elementos de sua Mãe, tornando-Se parecido  com Ela, e a inter- relação entre os dois vai aumentando de intimidade, à medida que vai se definindo essa semelhança.

Imaginem, quando o processo está terminado e Nosso Senhor prestes a manifestar-Se aos homens na noite de Natal, até que ponto a intimidade, a relação mútua entre Eles  é grande!

Naturalmente, à medida que no Presépio de Belém a complementação da geração d’Ele vai se tornando perfeita, tudo anuncia em volta de Nosso Senhor que Ele está para   nascer, e a gruta vai ficar augusta com nunca nenhum palácio ficou. Os Anjos enchem aquele ambiente, há uma respeitabilidade,  mas, ao mesmo tempo, uma doçura, um amor, uma confiança inexprimíveis.

Só no Céu ter-se-á uma ideia exata do que foi a gruta de Belém naquela noite. Chega, por fim, a hora bendita entre todas as horas como Maria é bendita entre todas as  mulheres. Por um modo de fazer que só Deus sabe,  Aquela que era a Porta do Céu e sempre Virgem Se torna Mãe de Deus. Porque a maternidade se completa quando Maria  Santíssima dá ao mundo o Filho que Ela gerou. Afinal, aparece na manjedoura o Filho de Deus vivo.

Os olhares se entrecruzaram

Um artista comum representa o Menino Jesus como uma criança que ainda não tem consciência muito completa de si, batendo um pouco as perninhas, os bracinhos numa posição bonita, mas que não é diretamente racional; são mais ou menos movimentos reflexos. E Nossa Senhora, com o olhar profundamente sábio, santo, etc., observando-O   analisando-O. Mas não é essa a realidade das coisas. Como Ele, desde o seu primeiro instante de ser, refletiu e refletiu…

Ao seu lado, pouco favorecido e ignorante aquele que foi o mais inteligente dos homens: São Tomás de Aquino! Pobre, rústico e bárbaro quem foi o mais civilizado dos  homens – digamos que tenha sido São Luís! E daí  para fora, diante do Menino, o mais lúcido, mais fino, mais nobre, mais casto e mais piedoso de todos.

Ele olhou-A no momento em que Ela O viu, os olhares se entrecruzaram, mas Ele A olhou com mais lucidez do que Ela a Ele. Porque Ele era Ele. Nós devemos fazer a pergunta: Que fisionomia Jesus fez ao ver a Mãe que Deus Lhe tinha dado? Ele já A conhecia, mas com os olhos humanos observava-A com a análise amorosa,  completamente embevecida, etc….

Então podemos imaginá-La sentindo-Se assim analisada, querida, sem a mínima timidez porque Nossa Senhora era puríssima, perfeita, nunca tinha tido a menor falha, em nenhum ponto, jamais deixara de crescer e progredir em toda a medida do necessário. Enfim, Eles se  olham e Eles se reconhecem e cada um vê o outro pela primeira vez.

Que momento de afeto deve ter sido esse! Eu acho que não é possível imaginar. 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 2/7/1995)

Ideal de humildade e elevação

Em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, São Luís Grignion de Montfort salienta que os devotos de Nossa Senhora terão especial apreço pelo Mistério da Encarnação, pois desta forma “imitam a dependência em que Deus Filho quis estar de Maria. Dependência que transparece particularmente nesse Mistério no qual Jesus Cristo se torna cativo e escravo no seio de Maria Santíssima, aí dependendo d’Ela em tudo” (cap. 8, art. 1, § IV). Exímio nessa imitação do divino exemplo, Dr. Plinio deixou-nos estes comentários expressos numa Festa da Anunciação do Senhor.

 

Ao comemorarmos data de tão precioso significado, devemos considerar que Jesus Cristo tornou-se Escravo de Nossa Senhora desde o momento em que Ela, diante do convite apresentado por São Gabriel, aceitou de dar à luz o Messias, e o Espírito Santo então concebeu em seu claustro materno o Verbo encarnado.

Elevada acima de todos os anjos e santos

A Santíssima Virgem tornou-se, assim, Esposa do Divino Espírito Santo a um título muito particular, e passou a receber d’Ele orientações, diretrizes, atos de amor, de consolação, “flashes” (por assim dizer) de uma sublimidade indizível. Graças essas em estreita relação com os vínculos que o próprio Jesus, naquele seio puríssimo, mantinha com sua Mãe. Estabelecia-se, assim, um maravilhoso convívio no qual Nossa Senhora era, ao mesmo tempo, a Filha predileta do Pai Eterno, a Mãe admirável do Verbo humanado e a fidelíssima consorte do Espírito Santo.

Tudo isto foi concedido a Nossa Senhora em virtude do fato da Encarnação. Quer dizer, no instante em que Ela concebeu o divino Filho, tornou-se objeto dessa assombrosa promoção (se pudéssemos empregar o termo), por onde foi elevada a uma condição incomparavelmente superior à de todos os anjos e santos reunidos, o que significa uma perfeição tão imensa que escapa à nossa capacidade de imaginá-la.

O ideal de toda alma humilde

Porém, cumpre ressaltarmos essa verdade: se quisermos crescer na virtude, no amor a Deus, na devoção à Santíssima Virgem, devemos pedir a Nossa Senhora a graça de conhecer, intuir, avaliar tanto quanto é possível à debilidade do intelecto humano, a santidade d’Ela. Se assim o fizermos, cresceremos nós mesmos em santidade. E, portanto, em humildade, sem a qual não há autêntico progresso espiritual.

Para a alma humilde, disposta a obedecer seus legítimos superiores, afeita à admirar os que merecem admiração, amante da modéstia e da discrição, para essa alma, digo, o ­ideal nesta vida é fazer-se escrava de amor da Santíssima Virgem, imitando ao primeiro Escravo d’Ela, Jesus.

Ideal todo particular, pois é o de ser aos pés de Maria — conforme escreveu São Luís Grignion — um vermezinho e miserável pecador, a quem Deus dá a vida e a tira, concede saúde ou permite a doença. Somos completamente dependentes d’Ele, para tudo quanto de nós deseje.

Mas, que felicidade para nós ao pensarmos: “Somos tão minúsculos perto do Criador e, contudo, quanto mais reconhecemos nossa pequenez, mais nos unimos a Ele e mais Ele nos acolhe em seu Sagrado Coração!”

E assim, correspondendo a esse ideal de humildade, servidão e amor, estreitamos nossa união com Deus, com Maria e a Santa Igreja.

Como gota de orvalho transformada em sol

Pensemos, nesta festa da Anunciação, nas glórias concedidas a Nossa Senhora, nos esplendores de perfeição aos quais Ela foi exaltada como Filha do Pai Eterno, Mãe do Verbo encarnado e Esposa do Espírito Santo.

Pensemos, igualmente, como dessas magníficas alturas Ela olha para nós e acompanha com incansável solicitude materna a vida de cada um de seus devotos. Estejamos certos de que a Virgem nos considera com bondade e insondável clemência; obtém-nos o perdão de nossas misérias e fraquezas; dirige, em nosso favor, um irresistível sorriso à Santíssima Trindade, dizendo:

“Meu Pai, meu Filho, meu Esposo. Vejam estes que vos amam no mundo: tenham compaixão deles, ajudem-nos a serem inteiramente aquilo para o que foram criados, a se tornarem fiéis como verdadeiros escravos de amor, fazendo sempre a minha vontade, que é a vossa, Trindade beatíssima.”

Essa é a mais valiosa graça que devemos suplicar a Deus, pelas mãos de Nossa Senhora, nessa festa da Anunciação e Encarnação do Verbo. Tornarmo-nos esses servos amorosos e fiéis, imitadores de Jesus em sua obediência à Mãe, unidos à Santa Igreja a exemplo da própria Virgem Santíssima, de modo a sermos como ela, assim como a gota de orvalho sobre a qual incide o raio solar assemelha-se a um minúsculo sol.

A gota é linda, pura, encantadora. O raio do astro soberano que a toca, a faz brilhar inteira. Mas, o que é a gota em relação ao sol? Pois muito maior, a perder de vista, é a desproporção entre Nossa Senhora e cada um de nós. Porém, podemos e devemos pedir que, como gotas de orvalho, humildes e pequenos, puros e fortes, sejamos um reflexo d’Ela; e que do entusiasmo de nossa humildade, pureza e fortaleza emane um constante ato de amor, obediência e servidão à Rainha do Universo, à Mãe do Verbo de Deus feito carne.

Plinio Corrêa de Oliveira

Perfeição do espírito da Contra-Revolução

Encarnação do Verbo é a Festa da escravidão a Nossa Senhora e da Contra-Revolução, na qual se celebra o espírito de obediência, o amor à hierarquia, à ordem, à dependência, a tudo quanto a Revolução odeia.

O espírito humilde e contrarrevolucionário de Maria Santíssima se manifesta em face deste mistério, pois quando Ela soube que o Verbo Se encarnaria n’Ela, sua reação não foi de Se vangloriar, mas de proferir esta frase humílima: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra”.

Como se dissesse: “Se Deus quer de Mim essa coisa inimaginável, isto é, que Eu mande n’Ele, por obediência a Ele, n’Ele mandarei. Porque Ele é o Senhor, e em tudo farei a sua vontade”.

À luz deste mistério, ganha especial realce a atitude da Santíssima Virgem dizendo-Se escrava de Deus no momento em que Ele queria fazer um ato de escravidão em relação a Ela.

Aí vemos a perfeição do espírito da Contra-Revolução.

Plinio Corrêa de Oliveira – (Extraído de conferência de 16/3/1971)

Revista Dr Plinio (Março de 2016)

Paixão de Cristo, Senhor nosso: dai-me forças!

Sexta-feira Santa de 1991. Aos pés do Crucifixo diante do qual sua mãe costumava recordar, nesse dia, a Paixão e Morte do Redentor, Dr. Plinio, reunido com alguns de seus discípulos, medita na indizível misericórdia do Filho de Deus em se imolar pela salvação dos homens, e na necessária reforma de vida com que devemos retribuir esse resgate de valor infinito.

 

O sacrifício da Vítima Divina no alto do Calvário nos propõe diversos e importantes pontos para nossa reflexão. Tomemos em consideração alguns deles.

Nosso Senhor Jesus Cristo consumou seu holocausto e acabou de morrer por nós. Como narra o Evangelho, após o brado lancinante de “Eli, Eli, lamma sabactani — meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes” — Ele entregou seu espírito nas mãos do Padre Eterno e, em seguida, tendo inclinado a cabeça, expirou. Tudo estava terminado.

Pináculo da tristeza, aurora de uma imensa alegria

Até esse augusto e trágico momento, reinavam no mundo a desolação, o pecado e a miséria. Porém, sobre tudo isso derrama-se agora o preciosíssimo Sangue de Cristo. A Redenção acaba de se operar, o gênero humano é resgatado, e o caminho para o Céu novamente aberto para ele. Assim, o pináculo da tristeza, da tragédia e do horror vizinha a mais radiosa aurora da mais intensa das alegrias.

Aos pés da Cruz encontra-se Nossa Senhora, cujo Coração Imaculado e Sacratíssimo está rachado de dor. Ao mesmo tempo, Ela preliba todas as alegrias da salvação das almas. Maria tudo compreende, vê e mede, não só a regeneração do mundo nesta vida, mas, sobretudo, o esplendor eterno que todas as almas justas receberão para maior glória de Deus.

Diante dessa atitude da Santíssima Virgem, peçamos-Lhe que interceda por nós junto ao seu Divino Filho, e nos obtenha um inflamado zelo por nossa própria santificação. Desse modo, saberemos aproveitar tanto sangue vertido e tantas lágrimas, tanta dor e tanta tragédia, para igualmente sabermos participar da glória da Ressurreição de nosso Salvador.

As almas dos fiéis defuntos à espera da Redenção

Noutra consideração, pensemos como, há milhares de anos, as almas de Adão e Eva, juntamente com as de todos os seus descendentes justos, que cumpriram a Lei nesta vida, esperavam o momento bendito da Redenção. Aguardavam, naquela misteriosa mansão dos mortos à qual a própria alma de Cristo haveria de descer para libertá-las. Aguardam: espera longa, espera indefinida quase até à aflição, durante a qual a alma se torna cada vez mais sedenta de fazer cessar esse estado provisório em que se encontra, e de entrar na sua condição definitiva de bem-aventurada, repleta de glória e de grandeza!

Em seus insondáveis desígnios, quis a Providência que essas almas padecessem esse sofrimento da espera. Contudo, podemos imaginar também, após uma tão longa expectativa, a alegria inenarrável e ilimitada quando viram aparecer diante delas a luminosíssima e santíssima alma de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Pensemos nessas almas justas. Antes de tudo, nas de nossos primeiros pais, Adão e Eva, cujas figuras devemos recordar nesse instante, com sumo amor e respeito. Lembremo-nos, no extremo oposto da perspectiva histórica, de São José, esposo castíssimo de Nossa Senhora e pai legal do Verbo Encarnado. Durante muitos anos esteve ele com a Santíssima Virgem e Jesus. Privado, pela morte, desse convívio que tanto o maravilhava e cumulava de contentamento, São José não terá se contido de felicidade, ao perceber ali, junto dele, o Redentor radioso e glorioso, trazendo-lhe a boa nova do término da longa espera e da sua passagem para o Céu.

Lá já estava, recém-chegada, a alma do bom ladrão, justificado pelos próprios lábios do Salvador: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

Esperar com paciência nossa salvação

Pensemos, então, nessa libertação depois da prolongada espera. Comparemos a situação daquelas almas justas com a nossa, peregrinos neste mundo incerto, na esperança de alcançarmos o porto da bem-aventurança eterna. E peçamos a Nossa Senhora que nos auxilie e ampare a cada momento dessa nossa caminhada, a fim de que, salvando-nos, nossa libertação seja igualmente gloriosa — não para nós, mas para a honra d’Ela e de Nosso Senhor Jesus Cristo, e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, à maneira da glória dos fâmulos que se associam ao triunfo dos mestres.

Que a Santíssima Virgem nos alcance a graça de esperarmos com paciência, não de uma espera negligente e indolente, mas sofrida e semeada de santas ansiedades. Espera sem nenhuma revolta; espera de almas que compreendem ter o Divino Senhor seu tempo para tudo, e, por isso, amam as horas de Deus.

“Sangue de Cristo, inebriai-me”

Num passo seguinte, consideremos que, tendo Nosso Senhor Jesus Cristo nos redimido e aberto para nós as portas do Céu, é o momento de olharmos para nossas almas pecadoras. Pensemos em todo o sangue vertido por ele para limpar e purificar nossas almas, e para inebriá-las com suas graças. E digamos: “Sanguis Christi, inebria me; acqua lateris Christi, lava me; passio Christi, conforta me”. Sangue de Cristo, inebriai-me; água do lado de Cristo, lavai-me; Paixão de Cristo Senhor nosso, dai‑me forças.

Que Nosso Senhor nos dê, pelos rogos de Maria, a graça de olharmos para nossas almas, com todos os seus defeitos, contorções e misérias, com tudo o que nos desvia do que deveríamos ser, que nos afasta do caminho da santidade para a qual somos todos chamados. Peçamos perdão por nós, por nossos próximos e por nossos irmãos de vocação, a fim de que, encarando cada um seus próprios defeitos, tenhamos coragem e força, alcançadas para nós pelo Sangue de Cristo, para empreender uma séria e honesta reforma de nossas almas.

Senhor Jesus, Maria Santíssima, Mãe dos pecadores, tende pena de nós. Amém.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído da meditação feita em 13/4/90)

São Dimas

São Dimas, o “bom ladrão”, foi escolhido por Nosso Senhor Jesus Cristo para simbolizar a sua infinita misericórdia para com os homens e, de modo especial, os pecadores. Além de padecer tudo o que sofreu por nós, quis o Filho de Deus dar-nos uma suprema prova de como seu perdão é ilimitado: no derradeiro momento de sua vida, pregado na Cruz, Ele perdoou o bom ladrão e lhe concedeu a graça da santificação. Como se nos quisesse afirmar: “Se esperardes numa clemência que desafia completamente o que sois capaz de imaginar, vossa alma será salva!”

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 14/2/1972)

São Dimas: “Roubaste o Céu!”

O  que se passou com São Dimas é algo inimaginável! É o auge do perdão porque, embora fosse um pecador péssimo, ele não só foi perdoado, mas confirmado em graça, pois ao dizer-lhe “tu, hoje, estarás comigo no Paraíso”, implicitamente Jesus afirmava: “Tu perseverarás!”

Assim, de um ladrão crucificado, o Salvador fez o primeiro santo canonizado. Ele, que tinha podido transformar a água em vinho, podia também transformar um ladrão num santo, e o fez. Feliz ladrão que, ao morrer, roubaste o Céu! Os méritos dele não estavam na proporção de alcançar o Céu, mas ele o alcançou porque Deus quis.

É o símbolo da via misericordiosa das almas que sabem valerem pouca coisa, mas se entregam a Deus Nosso Senhor e são cumuladas pela misericórdia divina.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 9/4/1971)

São Leão IX: ascendendo ao ápice pela virtude

Comentando uma biografia do Papa São Leão IX, Dr. Plinio analisa o importante papel da graça e da virtude, bem como os benfazejos perfumes da santidade.

 

Tendo-me sido fornecida uma sintética, porém atraente, biografia de São Leão IX(1), pediram-me para que tecesse a respeito dela alguns comentários, o que farei de bom grado.

Aliança entre a grandeza terrena e o serviço de Deus

ão Leão IX nasceu no ano de 1002, nos confins de Alsácia. Seu pai era Conde de Ingersheim e primo-irmão do Imperador Conrado, o Sálico. Sua mãe lhe deu o nome de Bruno. Ao atingir a idade de 5 anos, foi confiado, por seus pais, à educação de Bertoldo, o venerável Bispo de Toul, o qual dirigia então uma escola no próprio palácio episcopal.

Como vemos por esses dados, São Leão viveu em plena Idade Média. Neste trecho já se encontra uma nota interessante e peculiarmente medieval, ou seja, o fato de haver uma escola dirigida pelo bispo e que funcionava no próprio palácio episcopal.

No colégio, Bruno foi confiado particularmente a um primo seu, chamado Aderico, filho do Príncipe de Luxemburgo; os dois se tomaram de uma íntima amizade. Seu primo foi-lhe modelo de todas as virtudes e serviu extraordinariamente para sua formação.

Havia na Idade Média, pessoas pertencentes à mais alta categoria social e que se destacavam, sobretudo, por sua extraordinária virtude. Formava-se assim uma aliança entre a grandeza terrena e o serviço de Deus.

A Igreja Católica como centro de tudo

Tendo recebido do Bispo de Toul as sagradas ordens, foi nomeado clérigo da Capela do palácio do Imperador Conrado, o Sálico.

Todos os Imperadores tinham sua própria capela, na qual um conjunto de capelães mantinha o culto. O fato de ser clérigo na capela imperial era, portanto, uma situação de alta confiança, pois conferia a oportunidade de estar em contato direto com o Imperador.

Por outro lado, é digno de nota o fato de o Imperador ter sua capela própria, donde decorre que o elemento central de sua vida de corte era a recitação do Ofício Divino, a Santa Missa e outras práticas de culto católicas.

Esse piedoso costume, por sua vez, provinha da convicção profunda e verdadeira que estava radicada na sociedade daquele tempo: a Igreja Católica deve estar no centro de todas as coisas. E, portanto, na Corte imperial o elemento central devia ser a capela, onde estava presente o Santíssimo Sacramento, ou seja, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Rei dos Reis. Também ali devia estar a imagem de Nossa Senhora Rainha e Mãe. Como isso é diferente dos costumes laicos e divorciados da verdadeira posição católica!

A virtude outrora era um título de ascensão

Bruno foi imediatamente bem visto pelo Imperador, que impressionado com suas virtudes passou a tratá-lo de “meu sobrinho”.

Ser tratado de primo e sobrinho do Rei era considerado pelas cortes daquele tempo uma honra extraordinária. Ele realmente era parente do Imperador, mas não em grau tão próximo; era filho de primos e não de irmãos do Imperador, portanto não era de fato seu sobrinho. Mas, o Imperador o tratava como sobrinho, elevando-o assim à categoria de Príncipe da Casa Imperial. A principal razão dessa honraria era a alta consideração do Imperador pelas virtudes de Bruno.

Como na Idade Média a maior parte das pessoas procurava a todo custo manter a posse do estado de graça, criava-se um ambiente onde a virtude era bem vista, e constituía um título de ascensão e não um título de perseguição como cada vez mais vem se tornando nos dias atuais.

Algum tempo depois, no ano de 1026, o Imperador recebeu a visita de clérigos da Diocese de Toul, que lhe anunciavam a morte do Bispo e o desejo de toda a população que Bruno fosse designado para a diocese vaga. Conrado acedeu, apesar de Bruno não ter ainda a idade canônica.

Aqui vemos um costume medieval que como outros é preciso ser bem entendido. É preciso levar em conta que a nomeação de um Bispo sempre foi privilégio papal. Porém, para isso o Papa pode receber indicações, as quais ele é livre de aceitar ou recusar. Ora, na Idade Média mantinha-se o costume proveniente dos primeiros tempos da Cristandade, pelo qual o povo da diocese podia aclamar ou propor um nome, mas cabia ao Papa ratificar ou não a proposta.

Com a implantação do Sacro Império, os Imperadores também tomaram o hábito de propor candidatos ao episcopado. Então se formava uma corrente de mediações, onde o povo propunha ao Imperador um nome e este, por sua vez, estando de acordo, propunha ao Papa. Mas, a palavra final sempre cabia ao Sumo Pontífice.

Apesar da pouca idade, Bruno imediatamente se destacou entre os Bispos da região por sua capacidade e pela virtude com que dirigia a diocese.

Note-se, portanto, a rapidez dessa ascensão, a qual se deve, acima de tudo, às suas notáveis virtudes.

Quem se humilhar será exaltado!

Durante 22 anos Bruno governou pacificamente e com brilho a Diocese de Toul. Com a morte do Papa Dâmaso II no ano de 1048, os romanos mandaram uma deputação ao Imperador Henrique III para pedir-lhe que designasse um novo Papa. O Imperador Henrique III reuniu, para esse efeito, uma Dieta em Worms, da qual participavam todos os Bispos do Império. Logo, todas as vozes designaram Bruno, Bispo de Toul, como futuro Papa. Tendo sido consultado, Bruno, por humildade, de nenhum modo queria aceitar o cargo; pediu então que lhe dessem alguns dias para refletir.

Pediu tempo para refletir, mas de fato, o que ele queria era escapar do encargo de ser Papa.

Terminado o prazo, apresentou-se diante de toda a Dieta de Worms reunida e disse que ele iria fazer uma confissão pública de todos os seus pecados, para fazer notar quanto ele era pecador e de nenhum modo digno do papado. Ajoelhou-se e fez sua confissão pública.

A confissão constava de matérias tão leves, que o fato que ele considerava mais grave e pavoroso, mal dava matéria de um pecado venial. Tendo terminado, todos se levantaram e o aclamaram.

Só um Bispo com tal limpeza de consciência poderia ser o Papa.

Como última tentativa, ele levantou um sério problema: o Imperador não tinha direito de nomeá-lo Papa. O Papa só pode ser eleito pelo clero de Roma, na forma canônica, ouvindo, quando queira, o povo de Roma.

Então ele iria a Roma a fim de lá consultar se o clero e o povo o queriam como Papa.

Retirou-se e, tomando o traje de peregrino, saiu a pé de Worms em direção a Roma.

Que extraordinária firmeza possuía esse homem, para tomar tal decisão, pois viajar a Roma supunha, entre outras dificuldades, a travessia dos Alpes, com suas neves eternas, montanhas escarpadíssimas e caminhos de cabras para transpor, pelo que essa viagem sempre foi considerada perigosa.

Ele poderia ter ido andando até o mar Adriático e lá tomar um barco. Mas ele quis, como um penitente, ir a pé até Roma, onde esperava ser recebido como um mero peregrino.

Ao chegar às cercanias de Roma, encontrou a população da cidade à sua espera.

A cidade de Roma naquele tempo deveria somar entre duzentos a trezentos mil habitantes.

Vestido como peregrino, com as vistas baixas e sem olhar nem dar atenção para ninguém, entrou em Roma, dirigindo-se diretamente ao túmulo de São Pedro para rezar.

É possível a abundância do estado de graça numa época

Este é realmente um homem reto, que faz as coisas como devem ser feitas.

O povo de Roma, aclamando-o, quis naquele mesmo dia entronizá-lo. Mas ele disse que esperassem até o dia seguinte, para ainda poderem pensar. Mas, por fim, chegou o dia seguinte e o povo estava de tal maneira decidido de que ele deveria ser o Pontífice, que ele acabou por aceitar, sendo então entronizado na Sé Romana.

Este apreço geral pela virtude daquele homem dá uma ideia do espírito que vigorava naquele tempo, e faz ver como é possível o estado de graça ser tão abundante em determinada época. Pois, sem ele, esses atos e gestos verdadeiramente extraordinários não se realizariam desta forma.

Por inspiração divina, tomou o título de Leão, considerando que devia, à testa da Igreja, lutar como verdadeiro leão. De fato, não tardou em começar a luta contra os verdadeiros inimigos da Igreja.

Um “Leão” em defesa da Igreja

Quais eram os verdadeiros inimigos da Igreja?

Naquele tempo, havia se difundido um abuso péssimo chamado simonia. Que consistia no seguinte: como a indicação dos cargos clericais era frequentemente feita pelo Imperador e pelo povo, acontecia que muitos homens vorazes, querendo ter cargos lucrativos, pagavam ao povo ou ao Imperador para serem indicados para o episcopado, ou então para que um parente ou alguém ligado a ele fosse nomeado Bispo, Abade e até mesmo Cardeal. Chegava-se até o absurdo de subornar os Cardeais e o povo de Roma, para elegerem determinado Papa, comprando assim até a Tiara romana.

Esse processo de escolha não podia deixar de trazer os piores inconvenientes. Através dele, muitas vezes, eram os mais ordinários que assumiam cargos eclesiásticos, dentre os quais estavam pessoas de costumes inteiramente desregrados, que por um lado constituíam um escândalo geral na Cristandade, e por outro um perigoso amolecimento ante as investidas de pagãos.

Estes vinham de todos os lados: os normandos vinham através do mar do Norte, penetravam pelo estreito de Gibraltar e atacavam o Sul da Itália; havia ainda restos de bárbaros que vinham dos países eslavos; e também os maometanos que atacavam por todas as partes.

Neste momento em que a Cristandade precisava lutar especialmente para defender-se, ela se apresentava extraordinariamente debilitada, pela decadência espiritual causada pela simonia.

Por isso, tendo assumido o papado, Leão IX começou a reunir diversos Sínodos e outros tipos de reuniões eclesiásticas, a fim de imediatamente punir e depor os Bispos que tinham tomado o cargo indignamente, nomeando bons para substituí-los. Isso causava, como é de se esperar, as mais acirradas indignações.

Zelo na defesa dos súditos

Ocupava-se ele com esse árduo trabalho, quando recebeu o aviso de que os normandos estavam por invadir a Apúlia, território do qual o Papa era Rei. Portanto, competia a ele defender seus súditos. Sem hesitação, foi a toda pressa à Alemanha a fim de pedir ao Imperador, seu parente, que mandasse um exército para defendê-lo.

Tendo o Imperador prometido enviar-lhe auxílio, o Papa desceu até a famosa Abadia beneditina de Monte Cassino, uma das mais célebres do mundo, a qual não ficava a muita distância de Roma, e lá permaneceu à espera da chegada do exército imperial. De fato, algum tempo depois chega o exército, porém, para sua surpresa, este era constituído por apenas 500 lorenos. Isto porque o exército imperial, quando chegou próximo aos Alpes, desistiu de descer.

A este punhado de combatentes tinham se incorporado pelo caminho alguns contingentes italianos, aos quais se somaram ainda alguns romanos, que eram senhores feudais da região. Assim constituiu-se o parco exército de resistência. Chegaram, por fim, os normandos, aos quais, apesar da desvantagem numérica, o exército do Papa ofereceu dura resistência que resultou numa tremenda carnificina.

Contudo, os normandos acabaram por vencer a batalha e levaram cativo o Papa, ao qual, devido à dignidade e respeitabilidade de sua pessoa, dispensaram toda forma de honras e cuidados.

Mas de todos os fatos da vida de Leão IX, nenhum me parece tão marcante da aprovação divina ao seu modo enérgico de agir, quanto às circunstâncias de sua morte.

A doce mensageira da felicidade eterna

A doença, doce mensageira da felicidade eterna… Como é linda esta expressão e contrária ao horror à doença que se tem em nossos dias. Claro que se deve combater a doença, mas com essa resignação deve-se aceitá-la. …a doença veio anunciar-lhe que sua hora tinha chegado. No dia 12 de fevereiro de 1054, ele celebrou por última vez o Santo Sacrifício da Missa onde dirigiu à multidão uma exortação comovedora.

No dia seguinte, sabendo que sua hora estava próxima, ele quis ser transportado da cidade de Benevento para Roma. Foram os próprios normandos que reivindicaram a honra de levá-lo numa liteira.

Que esplêndida glória ser carregado numa liteira pelo próprio “inimigo”!

Desta forma o Papa voltou ao Palácio de Latrão no mês de abril de 1054, época na qual habitualmente ele reunia o Sínodo dos Bispos das províncias eclesiásticas circunvizinhas de Roma. Ele então as convocou para o dia 17 de abril. Reunidos os Bispos, ele lhes disse: “Eu me recomendo à vossa fraternidade porque o tempo de minha dissolução chegou”.

Esta frase proferida pelo Papa é a reminiscência de uma citação de São Paulo, que manifestava o desejo de ser dissolvido, quer dizer, ter separada a alma do corpo, para subir a Jesus Cristo.

“Na última noite, em visão, a glória da Pátria celeste me foi manifestada. Eu reconheci entre os grupos de mártires aqueles que morreram na Apúlia, para defesa da Igreja”. Aqueles valentes lorenos que morreram na Apúlia, em defesa da Igreja, os quais eram mártires, estavam à espera que Leão IX fosse juntar-se a eles no Céu.

“Vem, nos disseram eles, e permanece entre nós, porque foi por teu intermédio que nós conseguimos as eternas felicidades. Mas uma voz, ao mesmo tempo, se fez ouvir, dizendo: ‘Não já, mas daqui a três dias somente’.”

No dia seguinte, ele reuniu de novo os Bispos, e sendo posto numa liteira foi conduzido pelos seus fiéis normandos em procissão até à Basílica de São Pedro, onde ele desejava morrer.

Hoje, carne e sangue; amanhã, poeira e cinza

Que lindo cortejo deve ter sido aquele! O Papa carregado numa liteira, os Bispos a seu lado, certamente cantando e portando círios, seguidos por um tropel de normandos armados, todos caminhando rumo à Basílica de São Pedro. Creio que não houve desfile militar que tenha superado em beleza aquela cena.

Prosternado diante da sepultura do Príncipe dos Apóstolos, Leão IX rezou pela Igreja e pela conversão dos pecadores. Assim que terminou, um delicioso aroma, superior ao perfume mais puro, se exalava da sepultura de São Pedro. Era o primeiro Papa manifestando seu agrado diante desse seu digno sucessor. Permaneceu então durante cerca de uma hora em silenciosa contemplação. Bispos, normandos e o povo em grande número estavam a sua volta.

Em certo momento ele mandou trazer pão e vinho. Os abençoou, comeu três pedaços de pão, bebeu um pouco de vinho e distribuiu o resto entre os assistentes. Ninguém comeu. Todo mundo guardou como relíquia os pedaços de pão que ele distribuiu.

Levantando-se então, dirigiu-se para o túmulo que ele mesmo tinha mandado preparar para si na Basílica. Lá, dirigindo-se aos Bispos, disse: “Vede, meus irmãos, como é miserável, frágil e efêmera a glória humana. Que esse exemplo jamais saia de vossa memória. Do nada eu fui um dia elevado ao que há de mais alto; e agora vou ser reduzido novamente a nada. Eu terei como moradia esse cárcere escuro e estreito. Hoje ainda convosco sou carne e sangue. Amanhã serei poeira e cinza”.

Que linda pregação! Qual terá sido a reação dos Bispos e mesmo dos normandos que estavam ao seu redor, vendo aquela cena grandiosa de um homem anunciando sua morte?

Adormeceu com uma calma indizível e acordou no Céu

Todos os assistentes se puseram aos prantos… O Papa então os despediu dizendo: Venham amanhã assistir a meu último suspiro.

São Leão retirou-se ao palácio próximo onde passou toda a noite em oração. Na manhã seguinte, sustentado por dois assistentes, voltou para a Basílica e veio prosternar-se diante do altar-mor. Estendeu-se sobre uma cama que tinham preparado junto ao altar, fez sinal com a mão para impor silêncio e dirigiu ao povo uma última exortação.

Depois, chamou para junto de si os Bispos e fez a confissão de seus pecados. Mediante uma ordem dele, um deles celebrou a Missa e deu a ele a Comunhão. Depois de ter comungado, o Papa disse: “Fazei silêncio, porque parece que eu vou dormir”. Inclinando a cabeça, adormeceu, com uma calma indescritível, para acordar no Céu.

Assim, diante do altar de São Pedro, no dia 19 de abril do ano da graça de 1054, faleceu o Santo Pontífice Leão IX.

Entre aqueles que o assistiam na hora de sua morte estava Hildebrando, que era a uma vez seu inspirador e secretário, e mais tarde viria a ser seu sucessor com o nome de São Gregório VII. Imagine ter como secretário um santo, o qual, a meu ver, foi “o Papa”, não comparando a santidade, mas sim a missão, e o papel na História da Igreja.

Que sublimidade, maravilha e grandeza devia ter aquela cena na qual um santo contempla outro expirar, onde São Gregório VII, ainda moço, permanece ao lado de São Leão IX, rezando até a hora em que a alma dele se desprende do corpo e sobe ao Céu!

A contemplação de fatos como este, e o deliciar-se com o perfume das virtudes de um tal santo, constitui um descanso da vida de todos os dias. Assim sendo, resta-nos pedir a São Leão IX que, do alto do Céu, reze e interceda por nós.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 29/10/1974)

1) Não possuímos referência da ficha utilizada por Dr. Plinio nessa ocasião.

São João Nepomuceno Mártir do sigilo sacramental

O problema da Revolução e da Contra-Revolução estava no centro das cogitações de Dr. Plinio. Ao comentar a vida de São João Nepomuceno, que exprobou do púlpito a heresia dos hussitas, ele explica que João Huss e Wycliffe prepararam o campo para Lutero, o qual promoveu a primeira Revolução e arrastou um terço da população da Europa, devido à tibieza dos católicos.

Comentarei hoje uma ficha sobre a vida de São João Nepomuceno, presbítero e mártir.

São João nasceu em Nepomuk, Boêmia, em 1340.

Quando ele nasceu, viram-se luzes extraordinárias sobre sua casa. Quando era criança, a Santíssima Virgem curou-o de uma grave moléstia.

Ordenado sacerdote, dedicou-se à pregação com grande êxito. A cidade de Praga mudou com seus sermões, que eram ouvidos por uma imensa multidão.

Venceslau IV, Rei da Boêmia e Imperador da Alemanha, nomeou-o Preboste de Witchad e deu-lhe o título de Chanceler do Reino.

Mas São João tudo recusou, continuando simples cônego regular. Entretanto, a Imperatriz escolheu-o para seu confessor, e Venceslau o encarregou da distribuição de suas esmolas.

Mas este jovem príncipe perverteu-se, tornando-se tirano de seu povo. E como sua esposa passasse horas na igreja rezando por sua conversão, foi tomado por violento ciúme, chamando São João para que lhe relatasse as confissões da Imperatriz. E assim começou o longo calvário desse santo.

Foi mais de uma vez preso e submetido a tremendas torturas. Era sempre libertado, pois o Imperador temia uma revolta popular a favor do sacerdote.

Ameaçado de morte, nada o demovia. Finalmente, numa ocasião percebeu que seu fim estava próximo. Subindo ao púlpito, começou seu discurso pelas palavras do Evangelho: “Ainda um pouco de tempo e já não mais me vereis”. E predisse, então, claramente as devastações que a heresia de João Huss faria na Boêmia.

Depois quis rezar ainda uma vez aos pés de Nossa Senhora, cuja imagem, juntamente com a Fé cristã, fora trazida para a região por São Cirilo e São Metódio.

Nesse mesmo dia, voltando a Praga, foi preso e ameaçado. Como sua constância fosse a mesma, Venceslau esperou o cair da noite e mandou que o lançassem às águas do Rio Moldava.

Imediatamente, chamas apareceram sobre o rio e rodearam seu corpo. O povo acorreu para ver a maravilha e a Imperatriz mostrou-o ao Imperador que, apavorado, fechou-se em seus aposentos por vários dias.

São João Nepomuceno foi o especialíssimo protetor das mais ilustres famílias da Alemanha. São extraordinárias as graças obtidas por seu intermédio. Em agradecimento, os príncipes da Casa d’Áustria tudo fizeram para sua canonização, que foi obtida em 1729.

Em 1719 seu corpo fora encontrado intacto, como se tivesse sido lançado às águas naquela hora. Sua língua, sem corrupção alguma, era como de um homem vivo, atestando seu martírio como defensor do sigilo sacramental.

A heresia se propaga nos ambientes a ela receptivos

É uma lindíssima biografia. Para nos situarmos bem, temos que recordar um pouco as condições da Europa naquele tempo.

Aquelas paragens da Europa central foram sempre meio rebeldes à influência católica. A Boêmia, a Morávia, etc., eram terras onde a bruxaria, o ocultismo, as heresias de toda sorte nasciam a todo momento.

E exatamente nessa época, em que a Idade Média estava chegando ao seu apogeu — segundo alguns, até já havia iniciado seu declínio —, começou naquela zona a heresia de João Huss e Wycliffe, dois heresiarcas reputados precursores de Lutero.

Com efeito, as doutrinas deles apresentam uma semelhança extraordinária com as de Lutero. Explica-se essa semelhança por dois lados: em primeiro lugar, porque uma doutrina herética nunca é a pura criação do cérebro de um indivíduo. Mas sim, em grande parte — ao menos as doutrinas heréticas que alcançam êxito —, produto da elaboração de um ambiente.

O heresiarca produz uma doutrina da qual o ambiente está ávido. E é exatamente porque essa doutrina encontra ambiente receptivo, que ela consegue espalhar-se. O herege tonto elabora uma doutrina que o próprio ambiente não aceita; naturalmente é rejeitado, e ele não faz parte da História. Mas o herege esperto, que pretende levar muitas almas para o Inferno, prepara uma doutrina que ele percebe corresponder às más inclinações do ambiente onde ele vive; ao menos das pessoas más desse ambiente. Então, essa doutrina tem possibilidade de se propagar.

João Huss percebeu que o orgulho e a sensualidade inclinavam as almas naquelas zonas para uma determinada doutrina. Lutero, mais tarde, retomou as doutrinas de João Huss, já então na Alemanha — porque a situação de deterioração que se tinha produzido na Boêmia repetiu-se na Alemanha.

Mártir do sigilo da Confissão

São João Nepomuceno viveu exatamente nessa época em que a região dele estava passando do Catolicismo para a heresia de João Huss.

No começo, ele era muito bem visto pelo Rei da Boêmia que o apoiava, mas depois se deixou influenciar pelo ambiente mau e se deteriorou, se perverteu, passou a ser um mau homem.

A Rainha, que era uma boa pessoa e de quem São João era confessor por encargo do Rei, passava largas horas na igreja. E o Rei não queria acreditar que a piedade de sua esposa fosse a razão de suas longas ausências; ficou desconfiado de algum pecado, de algum adultério. Então, quis que o santo lhe contasse as confissões dela.

Ora, o sigilo do confessionário é sagrado, e nunca, por nenhum pretexto, um padre pode contar qualquer coisa ouvida em confissão.

Começa então a perseguição. O Rei tortura várias vezes o santo, que se recusa a contar qualquer coisa da confissão da Rainha. Então, o monarca resolve matar São João Nepomuceno.

O santo sente isso e, então, com uma premonição divina, um aviso de Deus, se prepara para a morte de modo tocante. Ele vai ao púlpito e emprega aquelas palavras de Nosso Senhor: “Ainda um pouco de tempo e o mundo não mais me verá; mas vós Me vereis, porque Eu vivo, e vós vivereis.”(1) Quer dizer, Nosso Senhor falava da Morte e da Ressurreição d’Ele. Dessa maneira São João Nepomuceno anunciou sua morte ao povo.

Depois, como todos os santos são grandes devotos de Nossa Senhora, ele foi a um lugar onde havia um santuário, para venerar a primeira imagem trazida para aquelas regiões por São Cirilo e São Metódio, que evangelizaram o mundo eslavo.

Ao retornar para sua cidade, o Imperador mandou capturá-lo e jogá-lo no rio Moldava. Produziu-se, então, um milagre: saíram chamas de dentro da água. Chamas belíssimas! E a Imperatriz chamou o esposo para ver aquele milagre, e reconhecer o crime que ele tinha cometido. O homem ficou muito perturbado, trancou-se dentro do quarto durante vários dias, não quis sair, mas o crime estava praticado.

Começou então a veneração pelo mártir João Nepomuceno. Naquela região seu nome ficou célebre, todo mundo começou a rezar a ele e os príncipes da Casa d’Áustria conseguiram da Santa Sé, mediante provas, que ele fosse canonizado alguns séculos depois, quando já era tido como santo por toda a região.

A heresia de João Huss e a de Lutero

Se compararmos essa história com a do protestantismo, veremos como as coisas se passaram de modo diferente.

Em regiões da Europa central, começa um movimento de deterioração. São João Nepomuceno é atingido por um soberano que é marcado por essa deterioração, a qual haveria de degenerar na heresia de João Huss. Mas que coisas diferentes se passaram por ocasião do protestantismo!

Na Boêmia há um santo que resiste; depois, esse santo é morto e faz um milagre. Existe um Rei, um Imperador, que fica comovido e até se recolhe no seu quarto durante alguns dias, abalado, portanto, com a orientação má que vinha seguindo. E há um povo que se entusiasma tanto com esse santo que, durante muito tempo, o soberano não pode assassiná-lo de medo da revolta popular. Para matá-lo, atiram-no dentro d’água durante a noite, temendo que o povo evitasse o assassinato. Cometido o crime, aparece um milagre.

Notamos o sentido contrário, na época do protestantismo. Não aparece o grande santo, a indignação popular não se produz, os mártires que a certa altura surgem não dão origem a milagres dessa natureza. Tudo ocorre de um modo menos brilhante, em que o sobrenatural aparece menos.

Como podemos explicar essa diferença? Dir-se-ia que era muito mais razoável que a Providência dispusesse favores extraordinários, quando a Cristandade estava mais necessitada. A heresia de Lutero tinha uma capacidade de expansão muito maior do que a heresia hussita, ao menos tudo leva a crer, porque a de João Huss foi esmagada e a de Lutero não foi.

Era o início da maior tragédia na História da Igreja, a expansão da Revolução religiosa pelo mundo.

Por que Deus parece abandonar sua Igreja?

Por que nessa ocasião Nossa Senhora não assistiu a Igreja com iguais milagres, com iguais maravilhas? Por que faltaram os homens providenciais? Por que, a partir do momento em que a Revolução eclodiu, os milagres e as manifestações do sobrenatural foram diminuindo? De outro lado, os grandes santos que aparecem vão rareando, e tem-se a impressão de um crepúsculo, de uma perda de força da Igreja, de uma potência em face da qual o inimigo faz o papel de um jovem, e a Igreja, que é eterna, divina, indestrutível, faz quase o papel de uma anciã.

Dir-se-ia que a Providência já não ama tanto a Igreja e não odeia tanto os maus. Qual é o fundo da explicação desses fatos?

Para quem considera as coisas à luz da Teologia da História, a explicação é muito simples: se os católicos daquele tempo fossem verdadeiramente católicos, se os que permaneceram fiéis à Fé católica a amassem como deveriam amar, essas coisas não aconteceriam.

Dois terços da Europa continuaram católicos, um terço ficou protestante. Se esses dois terços fossem constituídos de católicos fervorosos, o terço que ficou protestante não teria alcançado as vitórias que alcançou. E o protestantismo não poderia depois ter irradiado, se não os seus erros teológicos, pelo menos o seu espírito, sobre dois terços da Europa católica.

E como os católicos não reagiram contra as heresias como deveriam reagir, houve uma retração de graças da parte da Providência. E chegamos a esse paradoxo de que um erro parece tão forte e uma verdade parece tão débil.

A tibieza fecha as portas ao milagre

Mas é só isso?

A maldade dos inimigos da Igreja tem algo de comum com a tibieza dos filhos d’Ela. É a mesma raiz. Muitos católicos cedem habitualmente à mesma tentação. Cedem em graus diversos, de maneira diversa, mas a tentação é a mesma. E quando os filhos da Igreja são muito tíbios diante de um erro, os líderes desse erro em geral são péssimos. Por isso aquela época deu àquele erro uma adesão horrorosa.

Razão pela qual nós também nos encontramos numa situação em que o mal toma um vigor, uma pujança extraordinária. E a Providência não opera milagres, em parte para não jogar pérolas aos porcos, mas também porque o milagre não adiantaria.

Há muita gente que diante de um milagre não se converteria, absolutamente. Eles têm o estado de espírito que Nosso Senhor menciona naquela parábola do rico Epulão, o qual pede para voltar à Terra a fim de explicar a seus irmãos que eles não deveriam levar a má vida que ele levou, pois podiam ir para o Inferno; Deus, então, lhe diz: “Não adianta! Eles têm a Lei e os profetas e não se emendam.” E quem não se corrige com a Lei e os profetas, não se emenda com milagres também. Milagres não adiantariam.

Consideremos uma grande cidade de nossos dias, com uma população na qual a Fé já perdeu de tal maneira o terreno, que as pessoas verdadeiramente católicas constituem uma minoria. Se todos os habitantes dessa suposta cidade vissem o cadáver de um santo flutuando sobre as águas, das quais saíssem chamas, será que essa cidade fecharia seus lugares de perdição e faria penitência? Eu não acredito.

Um número muito pequeno de pessoas se impressionaria com isso, mas diria: “Ah, que curioso! Deve haver alguma explicação”. Mais nada!

No dia seguinte, por meio de um comunicado, os cientistas dão uma explicação, dizendo que foi jogada tal substância no rio, que formou um bolsão, etc. Pode sair qualquer coisa, porque quando querem negar o milagre, há explicação para tudo.

São esses estados de fechamento em que se põem certas civilizações, certos povos e que não têm solução.

Temos assim uma perspectiva na qual podemos encontrar a justificação para possíveis castigos que a Providência envie sobre a humanidade.

Isso é o que me ocorre dizer a respeito de São João Nepomuceno.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 17/5/1971)

1) Jo 14, 19.

VIDA, DOÇURA E ESPERANÇA NOSSA

MARIA SANTÍSSIMA É, VERDADEIRAMENTE, NOSSA VIDA, DOÇURA E ESPERANÇA. SE ELA NÃO EXISTISSE, NÃO TERÍAMOS RAZÃO ALGUMA PARA ESPERAR NA MISERICÓRDIA DIVINA; NÃO TERÍAMOS NADA QUE JUSTIFICASSE QUALQUER ESPERANÇA NOSSA DO CÉU, OU QUALQUER ALEGRIA NA TERRA.

TUDO O QUE TORNA VIVÍVEL NOSSA EXISTÊNCIA É O CONJUNTO DE ESPERANÇAS QUE A INTERCESSÃO DE NOSSA SENHORA NOS AUTORIZA A TER. E POR ISSO MARIA É NOSSA VIDA. VIVEMOS POR ELA, E, SE NÃO FOSSE ELA, CAIRÍAMOS DESFALECIDOS. É NOSSA DOÇURA, PORQUE PERFEITAMENTE AFÁVEL,  DOCE, MISERICORDIOSA E CONDESCENDENTE PARA COM AQUELES QUE A INVOCAM.

A ESTA MÃE CLEMENTÍSSIMA DEVEMOS O FATO DE HAVER  SUAVIDADE EM NOSSA VIDA. ELA NOS OBTÉM A GRAÇA DIVINA E, PORTANTO, FORÇAS PARA A PRÁTICA DA VIRTUDE. ORA, A VIRTUDE É O QUE HÁ DE DOCE NO EXISTIR HUMANO. SEM ELA, NOSSA PASSAGEM POR ESTE MUNDO SERIA AMARGA E SINISTRA. E MARIA, AO NOS PROPORCIONAR A VIRTUDE,  CONFERE DOÇURA AO NOSSO COTIDIANO TERRENO.

ASSIM, A ELA DEVEMOS DIZER, CHEIOS DE FILIAL GRATIDÃO: “Ó MÃE BONÍSSIMA, POR CAUSA DE VÓS, NOSSA VIDA SE TORNA DOCE E SUPORTÁVEL. NOSSA VIDA SÓ É VIDA PORQUE SOIS NOSSA ESPERANÇA!”

São José, nobre e virgem

São José teve de modo supereminente a nobreza e também a pureza que é a virtude mais conveniente a um nobre.

Nosso Senhor Jesus Cristo, ao morrer, quis entregar sua Mãe Virgem a um apóstolo virgem. Não teria querido também que Ela estivesse sob a guarda de um esposo virgem? Para ser esposo da Virgem das virgens, alguém poderia não ser virgem? É uma coisa verdadeiramente inconcebível.

Em São José brilhava a dignidade, a categoria, a largueza de visão, a segurança de um homem que é patriarca, rei e príncipe. E, ao mesmo tempo, o fulgor da virgindade. Um varão segundo o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/10/1966)