Vingou a honra da Santa Igreja

São Leão II aprovou as atas do Terceiro Concílio de Constantinopla para condenar a falta daquele que, no dizer deste Papa Santo, “tentou destruir a imaculada Fé com uma profana traição”.

Este Santo Pontífice teve a dificuldade tremenda de viver no tempo em que de um antecessor seu, Honório I, se podia dizer isso, e em relação ao qual o Concílio tomou uma atitude de condenação.

Com isso, São Leão II combateu a heresia, vingando assim a honra da Igreja. Porque a heresia não pode permanecer em nenhum lugar, mas sobretudo no interior da Igreja  Católica, que é por excelência a montanha sagrada da verdade e do bem, que repele de si aquele que dentro dela toma a defesa do erro e do mal.

A Santa Igreja tem muita misericórdia e não expulsa de si quem reconhece que anda mal, bate no peito e pede perdão. Mas aquele que afirma que o bem é o mal e o mal é o  bem, e que luta, dentro da Igreja, para disseminar o mal, a este a Igreja expulsa horrorizada.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 3/7/1965)

Vós voltareis!

Senhora, está patente que, sem Vós, eu nada sou e nada posso.

Vede o que eu sou!

Contudo, é também manifesto que, convosco, uma vez eu já pude, o que portanto, convosco uma vez eu já pude o que, portanto, convosco poderei de novo. Sendo assim, eu suporto a escuridão em que me encontro, na esperança de que Vós voltareis.

Vós voltareis, Senhora. Convencei-me, dai-me a segurança de que voltareis, e voltareis de qualquer jeito, a qualquer hora, daqui a um mês, um dia, um minuto, daqui a um segundo. Mas Vós voltareis! E quando voltardes, terei saído dessa escuridão mais purificado, pois tal escuridão purifica.

Na verdade, imerso nessa treva espiritual, tenha a impressão, ó minha Mãe, de ver só os meus próprios defeitos. Isto é uma provocação tremenda e um tédio tão terrível que me parece carregar esse chumbo com resignação, com confiança, quando Vós vierdes eu estarei mais limpo e, sobretudo, Senhora, Vós estareis mais brilhante, porque os meus olhos terão adquirido mais luminosidade, melhor capacidade de Vos ver.

Vós estareis mais próxima de mim! Desse modo a cada noite escura que eu aguento, corresponde uma aurora mais bonita.

E quanto mais longa e completa for a noite, mais bela e magnífica a aurora que me espera.

Eu estou como num trem que vai subindo a montanha, passando por vários túneis. Depois de cada túnel o ar está mais limpo, o panorama é mais alto, tudo é mais belo.

Esse período de prova é terrível, minha Mãe, mas é também admirável. Importa que eu espere, e compreenda que o estado no qual me encontro é apenas uma aparência do fim, e não o fim.

Eu espero, minha Mãe, contra toda esperança, porque Vós voltareis! Assim seja.

Plínio Corrêa de Oliveira

Súplica a Nossa Senhora do Amparo

Ó Santa Senhora do Amparo, ponde em minha alma, totalmente carecedora de méritos e de forças, uma graça pela qual este vosso escravo confie em Vós cegamente durante a vida inteira. Uma graça que faça desta confiança cega o caminho pelo qual ele realize sua vocação, e chegue até Vós no Reino de Maria e no Reino dos Céus.

Vós bem sabeis que incontáveis vezes este escravo Vos será infiel. Ponde, porém, na alma de vosso escravo a convicção de que, de antemão, lhe perdoastes tudo, já perdoastes até o inimaginável, e de que depois de cada miséria Vós abrireis para este escravo as portas de uma misericórdia nova, mais suave, mais rica e mais insondável do que a anterior. Assim seja.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 4/9/1970)

Distinção e donaire

Uma ponte que exprime magnificamente duas virtudes cardeais, a temperança e a fortaleza; portanto, há por detrás dela uma beleza moral. Lampadários belos, esguios e nobres. Um palácio lindamente decorado por dentro e guarnecido de duas torres medievais pontudas, as quais constituem reminiscência de um episódio histórico.

 

Vejamos alguns monumentos, lugares, ambientes e objetos aos quais se podem aplicar o que eu disse a respeito da distinção, do donaire dos grandes personagens da História Católica(1).

Talento francês: graça e garra

Esta é uma ponte em Paris: Pont Neuf. Observem o material com que ela é construída: granito, um material bom, mas não caro. Trata-se de uma ponte comum que transpõe o Rio Sena. No entanto, ela poderia dar acesso a um castelo faustoso por causa de suas linhas, do seu lado artístico, o qual, embora sem enfeites, tem uma grandeza que a torna venerável.

A ponte é sustentada por colunas separadas entre si por arcos. Assim, cada arco é ladeado por duas colunas, de uma ponta a outra. São colunas grossonas – dão quase a impressão de pedaços, e não de colunas inteiras –, sérias. Os arcos são dignos, sérios, pesados e muito profundos, porque a ponte é muito larga. Quem a atravessa de barco tem a impressão de cruzar toda uma muralha espessa de um castelo mítico. Esses arcos simplesmente se repetem um ao outro, com uma seriedade e uma distinção completas. Não há aí nenhum brilhante, nenhuma safira; dinheiro se gastou pouco aí. O que entrou muito? A arte. Mas arte em que sentido? Alma. E alma em que sentido? Veem-se restos da seriedade grave, firme e forte da Idade Média.

No que se fundamenta essa impressão de firmeza e força? A ponte enfrenta uma porção de obstáculos. Ela tem, em geral, um fundo de leito de rio viscoso e precisa deitar as garras bem por baixo do lodo, na terra firme, para ter solidez. Por outro lado, ela carrega um peso muito grande, que é o tabuleiro da ponte, acrescido de tudo e de todos que passam por cima. A ponte precisa ser tal que se nós a imaginarmos, por uma razão qualquer, toda cheia de gente ou de veículos numa hora de trânsito muito obstruído, não há o menor problema: ela carrega com seriedade e com indiferença. A seriedade indiferente a obstáculos e agarrando as dificuldades, empunhando-as e impondo-se a elas, é o próprio aspecto da alma católica dotada da virtude da fortaleza. Essa regularidade nos fala da temperança, a qual é regular em tudo. Temos, assim, duas virtudes cardeais que se exprimem magnificamente nesse monumento. Logo, há uma beleza moral por detrás dessa ponte.

Vista à distância, o aspecto forte e pesado se dilui um tanto, e ela se torna mais graciosa, sem perder aquela garra e força própria às coisas que devem ser fortes. A mistura da graça com a garra é um dos traços do talento francês, um dos fatores do famoso charme. Observada por determinados ângulos, a ponte deixa ver uma parte do seu charme. Mas o que é esse charme? É o sorriso da alma católica.

Elegância aristocrática e majestade real  

Outras verdadeiras obras de arte que exprimem inteiramente o espírito francês são esses lindos lampadários localizados perto do Museu do Louvre, em Paris. Cada lâmpada, provavelmente de um cristal muito bom, é alta e encimada por algo que dá a impressão das flores de groselha, como as que se encontram nas coroas dos reis. Depois há um certo espaço e, por cima, umas coroinhas pequenas. Por fim, no ápice, a cruz.

É um misto de elegância aristocrática e de majestade real. Observem o braço dos lampadários: há um pino central e braços colaterais. Vejam a leveza com que cada braço desses carrega um lampadário num movimento natural, como quem está quase se distraindo e levando o lampadário na mão.

Para percebermos bem como isso é belo, imaginemos que o lampadário fosse preso à parte central por um eixo perpendicular o qual pegasse em baixo o lampadário. Ficariam três toquinhos pequenos e quadrados. Assim como foram concebidos, não são indiscutivelmente mais belos, esguios e nobres? Em uma palavra: não há Contra-Revolução dentro disso?

Duas torres históricas

Outro monumento ligado à História da França, à Contra-Revolução e a um determinado tipo humano é o Palácio dos Rohan.

A família dos Príncipes de Rohan era de descendentes dos Duques antigos da Bretanha, mas colateralmente. Os Duques da Bretanha tinham toda a categoria de príncipes, as princesas casavam-se com reis. Eram mais ou menos como os Duques da Baviera, de Württemberg, grandes ducados, que se casavam com pessoas da realeza, absolutamente de igual a igual. Os Rohan não eram dessa categoria, mas pertenciam a um ramo dessa categoria. Eles constituíam, com algumas outras famílias da alta nobreza francesa, um verdadeiro escalão intermediário entre a família real e o comum dos nobres da chttps://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/64/H%C3%B4tel_de_Soubise-Marais-Paris.jpg/800px-H%C3%B4tel_de_Soubise-Marais-Paris.jpgorte.

O palácio deles, belamente decorado por dentro, é guarnecido de duas torres medievais pontudas que estão em contraste com o estilo já completamente dos Tempos Modernos, isto é, do período que vai do fim da Idade Média até a Revolução Francesa. Trata-se, portanto, de um estilo marcadamente anterior à Revolução Francesa, mas não é o medieval.

Entretanto, encaixadas nesse edifício, encontramos as duas torres medievais com os tetos em cone muito alto. Disseram-me – não tive ocasião de confirmar – que essas duas torres constituem uma reminiscência do seguinte episódio:

Antigamente elevava-se nesse lugar o Palácio dos Príncipes de Lorena, ramo francês dessa Casa principesca. Tinham muito poder na França, possuíam feudos, dinheiro, eram muito bons políticos, estabeleciam alianças políticas muito poderosas. O palácio deles foi derrubado para dar origem ao Palácio dos Rohan. Estes provavelmente o compraram e construíram esse palácio, de uma regularidade clássica muito bonita e distinta. Conservaram, porém, do Castelo dos Príncipes de Lorena aqueles aposentos localizados no andar térreo e as duas torres.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fa/H%C3%B4tel_de_Soubise_-_exterior_view.JPG/1920px-H%C3%B4tel_de_Soubise_-_exterior_view.JPG

Estas são muito próximas uma da outra, e há uma sala que se espraia de uma torre para outra, formando uma só sala na base. Quando os Príncipes de Lorena, que foram os líderes dos católicos na luta contra os protestantes, tinham confabulações políticas importantes e muito secretas, iam para essa sala. A família toda se trancava ali e faziam as suas reuniões privadas, nas quais estavam presentes o que havia de mais decisivo do elemento político da ala católica da França, e que impediu a França cair no protestantismo. Então essas duas torres são históricas. 

Embora, dentre os Príncipes da Casa de Lorena, vários fossem objetáveis enquanto costumes, essa era uma Casa muito abençoada e que tinha no mais alto grau o charme. Basta dizer que pertenciam a essa Casa duas rainhas célebres na História, por seu charme único e ao mesmo tempo por seu infortúnio sem nome: Maria Stuart, Rainha da Escócia – que morreu decapitada, entre outras razões pelo fato de ser católica, e o Reino da Escócia ter passado todo para o protestantismo – e Maria Antonieta.    

(Extraído de conferência de 13/1/1989)

1) Ver Revista Dr. Plinio n. 231, p. 32-35.

 

Nossa Senhora dos Privilégios

Há um cântico a Nossa Senhora do Carmo em cujo estribilho se pede: “Carmelitis da privilegia” – aos carmelitas, dai privilégios. A correlação entre o privilégio e a devoção mariana sempre me encantou e me pareceu um elemento fundamental dessa devoção.

“Privilégio” é uma palavra de raiz latina que vem de privata lex – lei privada –, ou seja, a lei reservada a um indivíduo ou a um grupo e não a outros.

Maria Santíssima, como Mãe que é, não trata seus filhos de acordo com regras gerais. Embora estas existam, Ela sabe sempre abrir uma exceção, um privilégio, e cada filho de Nossa Senhora é um privilegiado por algum lado. Trata-se de procurarmos ter noção de qual é o privilégio que cabe a cada um de nós.

Essa noção, por vezes, é muito confusa: recebo alguma graça que me tocou mais profundamente a alma; anos depois, inesperadamente, vem outra, e mais adiante outra… Estudando o fio condutor dessas graças percebo haver um sentido que, analisado, faz-me compreender o privilégio pelo qual escapo da regra geral. Ali Nossa Senhora soube ter para comigo uma pena que não teve com ninguém. Para um outro, Ela terá outra coisa. Mas para mim concedeu aquilo, que me dá um fôlego, um ânimo como a mais ninguém. É o privilégio para mim.

Façamos nossa a bela oração dos carmelitas, dizendo: “Ó Maria, a esses vossos filhos, dai privilégios!”

Queremos ser anti-igualitários até no que diz respeito à vida espiritual, pois privilégio supõe desigualdade. Nossa Senhora das legítimas e harmônicas desigualdades é Nossa Senhora dos Privilégios.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 7/1/1977)

Um olhar que pode nos salvar

Nossa Senhora é chamada, muito a propósito, de Estrela Luminosíssima. Incontáveis astros reluzem no firmamento, porém Ela é o mais resplandecente de todos, ou seja, Maria é a mais luminosa das criaturas. E por que é simbolizada pela estrela?

Porque é durante a noite que cintilam as estrelas, e esta vida é para o católico uma noite, um vale de lágrimas, uma época de provação, de perigo e de apreensões.

Na eternidade teremos o dia, porém na vida terrena temos o escuro da madrugada. E nesta noite existe uma estrela que nos guia, que é a consolação de quem caminha nas trevas, olhando para o céu: Maria Santíssima, a mais fulgurante de todas as estrelas!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/8/1965)

Revista Dr Plinio 256 (Julho de 2019)

Não permitais que me separe de Vós

Minha Mãe, eu sei que sou tal que, se for só por mim, acabo me separando de Vós. Mas sei que sois tão insondavelmente boa e poderosa que podeis impedir-me de me separar de Vós. Então, a minha confiança em ser fiel resulta, minha Mãe, essencialmente disto: Não permitais jamais que me separe de Vós.

Tenho certeza de que, como nunca se ouviu dizer que tendo alguém recorrido à vossa proteção, implorado o vosso auxílio fosse desamparado, essa minha súplica também não deixará de ser ouvida.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 12/6/1971)

Revista Dr Plinio 256 (Julho de 2019)

Nossa Senhora da Luz Profética

A luz profética é um discernimento por onde vemos, e como que apalpamos, as graças que Nossa Senhora nos concede, e cuja característica é fazer com que passem as inseguranças, os egoísmos, os subjetivismos, os langores. Enquanto essa luz brilha, tudo isso acaba.

É como o Sol: quando ele se põe, as aves noturnas, os bichos feios, os animais agressivos começam a se mover dentro da floresta. Quando o Sol se levanta, eles procuram suas tocas, seus ninhos, buracos e somem. Esse sol é a luz profética.

Nossa Senhora da Luz Profética é Maria Santíssima enquanto resplandecente dessa luz, de um modo inenarrável! Ela, de vez em quando, obtém para nós raios dessa luz para nos fazer completamente outros.

Nada no mundo vale tanto quanto esta luz. Com ela tudo se resolve; sem ela, tudo fica difícil.

Nossa Senhora nos dá a entender o seguinte: “Meus filhos, essa é uma luz que vem do Céu, é a luz do meu Reino. Peçam-na, acreditem nela e deixem-se transformar por ela”.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 16/9/1974)

O celeste rosto de Maria

Quantas vezes o reflexo de um castelo nas águas de um lago é mais belo que o próprio edifício!

Ao caminhar sobre o Mar de Tiberíades, Jesus refletiu-Se nas águas. Entretanto, Ele era mais belo do que o reflexo.

Sem dúvida, isto seria verdade em quaisquer águas do mundo: do Danúbio, do Sena, do Tejo, do Guadalquivir, do Reno, da Baía da Guanabara, e de tantos lugares magníficos da Terra.

Mas o que seria verdade em todos os mares da Terra, não o era apenas num “mar”, maior do que todos eles, entretanto, tão menos extenso: Maria. Porque quando Nosso Senhor olhava para sua Mãe Santíssima, coisas que só Ela compreendia n’Ele se refletiam no semblante d’Ela. E quem olhasse para o celeste rosto de Maria teria como que uma porta de acesso de ouro, para compreender os mistérios da Sagrada Face de Jesus!

Em Maria, só em Maria, mas plenamente em Maria, alguém olhando veria algo que Jesus só manifestava a Ela e àqueles que sabem procurá-Lo n’Ela.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 27/9/1980)

Mãe do Perpétuo Socorro

Como onipotente Soberana de todo o universo, por vontade de Deus, Nossa Senhora tem o poder de nos auxiliar e quer inesgotavelmente nos socorrer em todas as nossas necessidades. Logo, se pedirmos, Ela nos socorrerá.

Para o êxito de nosso apostolado, para o êxito de nossa vida interior, precisamos, a cada passo, da proteção de Nossa Senhora. E Ela a todo momento está disposta a nos conferir os auxílios mais inesperados, mais súbitos, mais espetaculares.

Ela é a Mãe do Perpétuo Socorro. E o perpétuo socorro é um amparo, é um ato de misericórdia, é um ato de piedade perpétuo, quer dizer, ininterrupto, que não se detém nunca, que não cessa nunca, que não se suspende nunca. Nunca significa em nenhum minuto, em nenhum lugar, em nenhum caso: por pior que seja a situação de quem A invoque, a Mãe de misericórdia o socorrerá.

Por isso, quanto mais nossas almas estiverem tentadas,  tanto mais devemos rogar à Santíssima Virgem. Ela é a Rainha de toda a criação e pode, quando queira e onde queira, derrotar fragorosamente o espírito das trevas, impondo a sua própria soberania.

A fim de nos incutir confiança nas horas das tentações, e de nos fazer compreender que a estas pode suceder a qualquer instante uma singular e aprazível consolação, Maria pratica fulgurantes ações em favor das almas, contra Satanás. Assim, estejamos certos de que o demônio mais insistente, mais persistente, mais renitente, nada é para aquele que invoca o incansável auxílio da Mãe do Perpétuo Socorro.

Plinio Corrêa de Oliveira