O primeiro ato de amor

Não há maior sujeição nesta Terra do que a de uma criança à sua mãe no ventre materno. E, durante nove meses consecutivos, Nosso Senhor quis pertencer inteiramente a Nossa Senhora! Jesus, o esperado das nações, o Homem‑Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, quis sujeitar-se a Maria!

Sendo perfeitíssimo desde o primeiro instante, quando seu corpo começou a se constituir Nosso Senhor começou a pensar; começando a pensar, começou a orar e, conhecendo perfeitamente de que Mãe era Filho, Ele certamente disse a Ela uma palavra de amor. Pode‑se calcular qual foi essa primeira palavra de amor d’Ele para Nossa Senhora, e qual foi a resposta d’Ela, sentindo o carinho que Lhe vinha do Filho de Deus?

Que riqueza de alma era preciso ter para responder adequadamente a esse primeiro carinho! Que noção dos matizes! Que noção das situações! Que perfeita disponibilidade de alma para corresponder a tudo perfeitamente, e oferecer a Ele esta primícia incomparável: o primeiro ato de amor que o gênero humano Lhe oferecia!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/3/1984)

Inefável sorriso

O Divino Mestre nos convida a segui-Lo no caminho do Calvário, carregando nossa cruz. Caminho de lutas, de deveres e trabalhos por amor a Deus. Porém, para o fazermos, cumpre que O sigamos passo a passo, pondo nossos pés onde Jesus pôs os d’Ele, ou seja, na mais estreita e íntima união com o Redentor.

E tal só alcançaremos se, ao longo desse caminho, para auxiliar a nossa fraqueza, consolar os nossos corações, sentirmos que sobre nós paira aquilo que há de mais doce no Céu e na Terra, depois da clemência do próprio Deus — o sorriso inefável de Maria Santíssima.

(Extraído de conferência em 11/4/1964)

Maria, Medianeira da Graça

Maria Santíssima exerce um papel preponderante na santificação de uma alma. Com efeito, Ela é a medianeira através de Quem recebemos as graças..

Imaginemos uma cidade no Tirol, ao pé daquelas grandes montanhas, para as quais vão pessoas do mundo inteiro, a fim de praticarem alpinismo. Havia lá um moço impossibilitado de se mover. Porém, de manhã vinha à sua casa um médico que lhe dava um remédio misterioso, desconhecido por todos, sob a ação do qual ele se curava e subia as montanhas corajosamente. À noite, tendo voltado para sua residência, cessava o efeito do medicamento e o jovem voltava a ficar imóvel na cama.

Esse moço não poderia dizer: “Eu sou um grande alpinista!” Ele poderia, isto sim, dizer: “Meu médico e eu somos grandes alpinistas!” Pois, na realidade, ele atingia o pico dos montes porque colaborava com o remédio fornecido pelo médico. Do contrário, permaneceria na imobilidade. Jovens que chegavam ao alto das montanhas, havia muitos. Médico que dava ao paralítico o meio de subi-las, existia somente um. De maneira que a ação do médico foi o principal fator do ato, embora o moço também tenha exercido seu papel: suou, segurou-se nas cordas, correu o risco de se espatifar no chão, teve o mérito do alpinismo. Mas apenas começou a mover-se a partir do momento em que o médico lhe deu aquele remédio.

Suponhamos que certo dia o remédio atuou mais longamente, e o rapaz, regressando da montanha, descansou em sua casa e depois foi passear na cidade, vangloriando-se junto a seus companheiros. Em determinado momento, passou o médico que cumprimentou o jovem, o qual respondeu à saudação de modo desdenhoso. Perguntaram-lhe, então, seus amigos:

– Quem é aquele senhor?

– É um velhinho que conheço e, às vezes, de manhã me visita, respondeu o moço.

O médico não teria o direito de ficar indignado com o rapaz? Afinal, se ele não fosse no dia seguinte à casa do jovem, este permaneceria na horizontal! Então, aquela vaidade é nada. O médico é quase tudo nos feitos do moço.

Este conto não nos dá uma ideia inteiramente exata, mas sim próxima, da realidade; ajuda-nos a compreender alguns aspectos do problema da graça e, portanto, de sua ação em nós, ou seja, a virtude. Todo homem é completamente paralítico para a virtude. Porém, a partir do momento em que recebe a graça, ele se torna capaz de praticá-la.

Quando temos vontade de adquirir virtudes que julgamos não estarem ao nosso alcance, podemos dizer a Nossa Senhora: dai-nos. A devoção à Santíssima Virgem é fundamental elemento de nossa vida espiritual; aquilo que Lhe pedimos, Ela nos obtém.

É claro ser necessária a nossa cooperação, pois Deus, que nos criou sem nosso auxílio, não nos salvará sem nossa colaboração. Embora indispensável, essa cooperação é secundária. O principal fator de nossa salvação é a atuação da graça em nós, a qual recebemos por meio de Nossa Senhora, Rainha e dispensadora de todos os dons divinos.

Quando Nossa Senhora nos concede a graça, somos como o jovem cheio de disposição para subir as montanhas, mas se não a pedirmos, ficamos estendidos na cama, paralisados. Esse é o papel da Santíssima Virgem em nossa santificação.  

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 5/5/73)

À nossa espera…

Meu filho, aqui estou Eu, sozinha, no canto a que teu desprezo me relegou, repleta daquele amor materno que tua rejeição comprime em Mim e impede que se expanda; daquele afeto que se conserva intacto em sua abundância e intensidade, palpitando de compaixão, à espera de que retornes para te purificar, te envolver e cumular com sua misericórdia inesgotável…

Stella Matutina

A estrela da manhã aparece no período incerto, entre a noite ainda existente e o dia que timidamente vai nascendo. Simboliza a época em que vivemos, onde imperam as trevas da Revolução, porém já se pressente o triunfo do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, prometido por Nossa Senhora em Fátima.

Portanto, a Maria enquanto “Stella matutina”, a Estrela que nos anuncia como iminente a aurora de seu reino, devemos recorrer nas dificuldades referentes à causa contra-revolucionária, em nosso apostolado e em todas as ocasiões nas quais a piedade nos sugira essa invocação.

Ó Estrela da manhã, Vós fostes durante a noite da espera a nossa luz e a promessa do alvorecer; fazei com que desponte quanto antes o dia de vosso Reino!

(Extraído de conferências de 29/11/1991 e 1/12/1991)

Da arquetipia ao sobrenatural

A obra-prima da inteligência dá-se quando ela chega ao píncaro de sua própria capacidade de arquetipizar. É uma forma de inteligência na qual o indivíduo vê, tão longe quanto ele possa, a perfeição das coisas. O homem sacral deseja sempre ir mais além, pois possui um espírito ascensional infatigável.

 

Quando o homem chega ao último ponto que a inteligência alcança, ao último impulso do senso do ser no desejo de arquetipia, onde ele atinge? E a que grau de arquetipia se prestam as coisas da natureza?

A obra-prima da inteligência: o píncaro da capacidade de arquetipizar

São, portanto, coisas diferentes: até que ponto eu, Plinio, levando adiante tanto quanto é possível em mim a arquetipia, há um limite além do qual eu, por minha natureza, não posso conceber a perfeição? Nesse limite eu paro. Eu acho até, diga-se de passagem, que o píncaro da inteligência é o píncaro da concepção da arquetipia.

No mais agudo sentido, a obra-prima da inteligência é quando ela chega ao píncaro de sua própria capacidade de arquetipizar. A obra criadora do homem não é o tirar uma coisa como que do nada e compor, mas é conceber, a partir do criado, a criatura em seu máximo grau de perfeição.

Quer dizer, é uma forma de inteligência na qual o indivíduo vê, tão longe quanto ele pode, a perfeição das coisas. No que entra a inteligência, entra o acréscimo que a vontade dá à inteligência. A vontade, cheia de amor pela arquetipia natural – estou falando da natureza –, tende e dilata as fronteiras de sua inteligência. Por outro lado, a coisa bem compreendida aumenta as fronteiras da vontade. Há um dueto entre a inteligência e a vontade a caminho da máxima perfeição. Quando chega ao último grau que o homem pode alcançar em matéria de arquetipia, ele atingiu a fronteira de si mesmo. Esse homem, se não fosse o sobrenatural, poderia cantar o Nunc dimittis1.

Quando eu deixar esta vida, queria apresentar-me a Deus e a Nossa Senhora tendo levado a minha possibilidade de arquetipizar tão longe quanto possível. Não gostaria de morrer antes de ter visto isto assim. Espero comparecer perante Deus com todo o grau de excelência que Ele, na ordem natural, possa ter querido para mim. Isto então é o píncaro da coisa vista em mim mesmo. E desejo também levar todos aqueles que me foram confiados aos respectivos píncaros. Nesse sentido, nossa vida é um convite contínuo para essa arquetipização.

Até onde algo pode ser arquetipizado?

Outra consideração a fazer seria: até que ponto a coisa, em si, se presta a ser arquetipizada? Ela tem uma fronteira e, objetivamente, não pode ser sublimada além de um certo limite.

Por exemplo, uma xícara. Eu seria capaz de imaginar a xícara ideal? Eu julgaria interessante organizar um museu com uma coleção de todas as xícaras que houve no mundo e que foram dignas de serem vistas… Como se visita um museu assim? É perguntando-se, antes de entrar, o seguinte: Como seria a xícara arquetipizada, perfeitíssima? Depois, outra pergunta que seria muito interessante: Para a xícara arquetípica, qual a colherzinha ideal?

De fato, este seria o epílogo da alma e o sentido da velhice de um homem de pensamento, quando, por exemplo, ele se aposenta, passa a tarde lendo jornal, conversando um pouco com um amigo, enfim, fazendo de tudo e nada, e dão a ele a oportunidade de arquetipizar o panorama geral da vida que teve. Isso, repito, é na ordem da natureza.

Eu gostaria, muito de passagem, de deixar assinalado esse conceito de inteligência. Não é compreender depressa, nem a fundo. É compreender no alto. Por exemplo, conheci alguém que não tinha a inteligência assim. Essa pessoa procurava sempre o prático, o concreto e o meticuloso. Ora, é preciso arquetipizar!

A arte popular é a atitude do camponês que arquetipiza o mundo dele. E não é fazer o mundo de um conde, é produzir a arte popular. Linda, esplêndida! A cidade de Rothenburg, por exemplo. Há museus para esse gênero de arte. Tudo que se chama artesanato tende a isso. Ninguém compreenderá a Idade Média se não tiver estas noções bem postas dentro da alma.

Outro exemplo: o indivíduo que inventou a ogiva vale mais do que Colombo que descobriu a América, nem há comparação. Não se sabe quem é, é um anônimo. Mas um homem que primeiro arquetipizou uma janela para daí sair a ogiva e partindo dessa coisa quadrada – aliás, a Renascença adorou a janela em ângulo reto – pensou na ogiva, é um gênio, um gigante. Eu gostaria de me ajoelhar diante dele, se ele foi um santo.

Outro ponto é a questão dos limites da arquetipização na própria coisa. Porque, por exemplo, não parece que se possa fazer de uma janela uma forma mais bonita do que uma ogiva. Neste gênero, a ogiva parece ter chegado ao fim do caminho. É mesmo ou haveria mais?

Da arquetipia à graça

Há uma coleção de arquetipias possíveis, mas somando, reunindo todas elas, fica uma figura vaga de algo que Deus não criou, que mais ou menos existirá, provavelmente no Céu Empíreo, e nos deixará inteiramente sem saber o que dizer.

Quando o homem chega a esse ponto, a sua alma não está satisfeita. Pelo contrário, ele localiza uma zona dela que estava na bruma, dormindo, e que era para ele, por causa disso, uma fonte de mal-estar medonho – porque a alma quando dorme cansa, e quando trabalha descansa –, algo por onde ele tendo arquetipizado tudo, chega à conclusão: “Está perfeito, mas há mais! Eu não me farto com isso. Eu alcancei tudo, e mais uma vez cheguei a um píncaro. Anseio por mais, entretanto, verifico que na natureza não há mais.”

Aí é a hora da graça. Porque nessa hora a alma conhece aquilo que ela desejava sem encontrar na ordem da natureza. Ela não sabia, mas ela varou a ordem da natureza à procura de algo mais alto do que a natureza pode dar. Esta coisa mais elevada é a graça.

Quando, então, a pessoa recebe uma graça, obtém qualquer coisa em que ela entende que seu papel está alterado: não é mais ela que vai à procura do píncaro, é o píncaro que vai se afundando dentro dela. É um píncaro voltado para baixo, que vai entrando nela. É a caminhada dela para subir para o píncaro que desce, à maneira da estalagmite e estalactite que tendem a se unir.

Neste caso é muito mais a receptividade do alto da estalagmite para encontrar a estalactite do que o contrário. Inicia-se uma via na qual, através da oração e do pedido incessante e humilde, a pessoa pede para receber aquilo que ela não pode puxar, que é a estalactite até embaixo, mas que ela pode atrair.

É interessante que quando a graça toca no homem, ela vai embebendo toda a “estalagmite”. A graça não é como no fenômeno natural – a estalagmite e a estalactite são consolidações do mesmo líquido que pinga –, ela é a ponta do dedo de Deus. A estalagmite miserável é a pontinha do dedinho do homem. São coisas completamente diferentes. A graça vai impregnando cada vez mais o homem. Tudo quanto ele viu antes sob o mero aspecto da natureza vai tomando para ele consonâncias sobrenaturais maravilhosas. Na ponta disso ele está pronto para o Céu.

Uma sublime preparação para a morte

Um de meus desejos com o que foi exposto é fazê-los compreender como devem ser, em nossa família de almas, os últimos anos da vida de um homem e o seu repouso final. Seria um deslumbramento contínuo – com as noites escuras, as cruzes e as dores – até a “toilette” final da alma, que é feita por Deus, como um rei mandaria enfeitar a sua noiva do modo como ele desejasse, para estar à altura de se casar com ele. O soberano daria as joias, os tecidos, as ideias, as diretrizes, e as mandaria cumprir. Assim também faz Deus com nossas almas.

Eu acho que isto é profundamente católico. Lamento muito que as preparações para a velhice e para a morte não se façam em função desse ponto de vista. Só essa perspectiva dá ao homem a resignação de envelhecer e a esperança de ressuscitar.

Em última análise, para resumir tudo numa palavra só, a perfeição natural prepara o conhecimento da transcendência e tende para ela. A transcendência é um abismo, um infinito, pois o seu objeto é Deus. Mas para lá tende o homem com toda a sua alma.

Sacralidade e sobrenatural

Agora, o que é a sacralidade? Há um estado da natureza vagamente análogo ao sobrenatural. Donde se pode dizer, por analogia, de uma coisa natural que ela tem algo de sacral. Um grandioso panorama pode dar a impressão de algo sacral. O termo “sacral”, em seu sentido próprio corresponde ao sobrenatural; no sentido analógico é uma excelência tão grande do natural que faz pensar no sobrenatural.

O homem sacral é aquele cuja mentalidade está toda impregnada desse conhecimento transcendente ao qual me referi acima, desse amor e dessa força ascendente rumo ao sobrenatural. Porque não basta ele imergir nas águas do sobrenatural, é preciso querer ir mais além. Este é o homem sacral, dotado de espírito ascensional infatigável.

O que é o homem sagrado? É quem recebeu um sacramento da Igreja que de modo particular o ligou com a ordem sobrenatural, deu-lhe poderes dentro dela e se apossou dele para fazê-lo um instrumento ministerial dessa ordem. E, portanto, ainda que não queira, ele tem na sua alma elementos pelos quais, tocando-se nele, toca-se no sobrenatural. Entretanto, esse homem poderá ter muito mais se ele se der inteiramente a essa transcendência.

A Igreja Católica é a sagrada fonte da sacralidade

A Igreja é de tal maneira sagrada, a tal ponto escachoa toda espécie de sacralidades, que ela é a fonte de todas as sacralidades. Ela é sacral em tão alto grau que a palavra “sacral” fica para ela meio apagada, e tendemos a dizer que ela é sagrada. Não porque ela não possua a sacralidade, nem por esta não lhe ser apropriada, mas porque é característico dela um estado tão eminente, que é, em certo sentido, um gênero maior na sacralidade.

A Igreja é então sagrada porque foi revestida de todos os dons sobrenaturais por Deus. Mas é sagrada também nisto: na ordem do sagrado, os dons a colocaram sumamente elevada e lhe deram o caráter de fonte, quase um papel parecido com o de Deus na Criação: a Igreja é, em certo sentido, o motor imóvel, o fim último. Como fonte, ela seria como que a criadora de todo sagrado existente na Terra, de maneira que pousando n’Ela o olhar, a pessoa conclui: “Cheguei a meu ponto, embora aí dentro ainda possa subir.” É o mais alto concebível. São os degraus por onde se chega ao Céu.

Por isso a palavra “sacral” torna-se um pouco, ou bastante, fraca para a Igreja, quase inadequada, como se dissesse: “Tal rei é bem-educado.” Estala a palavra. Embora o rei, de fato, seja bem-educado, não se pode compreender um rei mal-educado. Aliás, deve ser o modelo da boa educação.

Portanto, perguntar se o vocábulo “sacral” é um monopólio da ordem temporal, não é. Seria um monopólio da Igreja se esta não estalasse a palavra. Mas o termo convém inteiramente a ela. A Igreja é a sagrada fonte da sacralidade.

Sacralidade e ordem temporal

Pelo contrário, a sacralidade convém à ordem temporal como o seu mais alto adorno. Assim como se diz que a Igreja é a sagrada fonte da sacralidade, deve-se dizer que a ordem temporal é toda embebida de algo mais alto do que ela e reluz da vida sobrenatural da qual ela não é fonte, mas um receptáculo. Ela cintila e deflui, não como o alto da montanha onde nasce uma fonte, mas como as encostas por onde baixam as águas nascidas no píncaro. O alto da montanha é a Igreja. A ordem temporal é a parte mais alta em torno do cume, e de onde tudo defluiu para baixo. Daí o caráter sacral da ordem temporal.

Há dois modos de alguém se deixar penetrar pelo sacral. Um é a vocação de renunciar a tudo quanto é terreno, mas completamente, até o limite do inconcebível, para servir inteiramente a Deus. Então, renunciar até àquilo que é legítimo possuir. Outro é, pelo contrário, utilizar-se daquilo que Deus deu de um modo tão santo, que se santifique em alto grau no uso daquelas coisas.

Dois exemplos característicos seriam São Luís, Rei da França e São Francisco de Assis. São Francisco de Assis levou ao extremo os despojamentos da pobreza; São Luís, pelo contrário, foi santo num píncaro da ordem temporal. São vocações distintas.              v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 14/11/1986)
Revista Dr Plinio 259 (Outubro de 2019)

 

1) Referência ao Cântico de Simeão: “Deixai, agora, vosso servo ir em paz…” (Lc 2, 29-32).

 

Nossa Senhora de Fátima, o extremo sacrossanto

Virgem Mãe, Senhora de Fátima, que anunciastes ao mundo tão extremas aflições e tão excelsas alegrias, revelando os terríveis castigos e os grandes triunfos pelos quais passará a Cristandade!

A  Vós, que denunciastes com tanta clareza os extremos de abominação moral a que chegamos e, ao mesmo tempo, fizestes ver a plenitude de vossa insondável santidade, eu Vos suplico: mudai o meu espírito!

Não permitais que eu continue sendo uma dessas incontáveis pessoas de horizontes curtos e de interesses circunscritos à pequena esfera de sua própria individualidade. Fazei, pelo contrário, que pela despretensão e abnegação eu seja uma alma aberta e ardente, capaz de medir em toda a sua extensão os extremos que em Fátima se divisam e de tomar uma posição intransigente e completa a favor do extremo sacrossanto que sois Vós, oh! minha Mãe: extremo de amor de Deus, de pureza, de humildade, de despretensão, de inquebrantável combatividade!

Fazei com que eu, assim, seja um contrarrevolucionário modelar, um perfeito apóstolo dos últimos tempos.

Amém.

Plinio Corrêa de Oliveira (Oração composta em 8/5/1971)

Com Nossa Senhora não se brinca

Há certos temas que nos são tão familiares e caros ao coração que se tornaram objeto de inúmeros comentários de nossa parte. Porém, não poderíamos deixar passar o dia 13 de outubro sem determos um instante nossa atenção no assunto Fátima. Desta vez não vou comentar tanto a Mensagem quanto a atitude do mundo perante ela.

A Santíssima Virgem documenta a autenticidade de seu anúncio de dois modos. Em primeiro lugar, Ela a confia a pastorezinhos incapazes de compreender seu significado, limitando-se a repetir o que ouviram. Por vezes, discursos longos e complexos que eles transmitiam sem se contradizerem, mesmo submetidos a inquéritos policiais brutais.

De outro lado, Nossa Senhora produziu milagres que provavam à multidão ali reunida, e mesmo a gente de muito longe, que algo de sobrenatural se passara, como, por exemplo, a famosa “dança” do Sol. Tudo atestado por pessoas que moravam muito distante de Fátima.

Entretanto, chama a atenção no modo de o mundo receber a Mensagem de Fátima, não só a incredulidade de muitos à vista de episódios tão impressionantes, mas o fato de não se encontrar quem fizesse o seguinte comentário: tomada a Mensagem em si mesma, apenas pelo seu conteúdo, abstração feita de todos os prodígios que a cercaram, já havia todas as razões para admitir sua veracidade.

Quem conhecesse um pouco de Moral não podia duvidar que o mundo estava imerso num processo de pecados gravíssimos, cujo dinamismo permitia antever aonde levariam a humanidade.

Portanto, teologicamente falando, bastaria raciocinar um pouco para se ter a certeza de que, a não haver uma grande conversão, viria um castigo.

Assim, com um pouco de conhecimento da Teologia da História, ver-se-ia tratar-se de uma mensagem condizente com o que um homem de Fé, analista dos acontecimentos da época, dotado de alguma profundidade, deveria pensar.

Ora, as crianças transmitiram, assim, uma comunicação sábia e verdadeira em si mesma, de uma sabedoria e uma riqueza de conteúdo que excedia a capacidade delas. Logo, a mensagem é intrinsecamente verdadeira.

Em última análise, alguém que observasse o mundo daquele tempo à luz da Revolução e da Contra-Revolução distinguiria na Mensagem três aspectos: uma descrição teológica dos pecados daquele tempo, o anúncio de um castigo e a indicação dos meios de escapar deste, isto é, a penitência e a consagração ao Imaculado Coração de Maria.

A Porta da misericórdia é precisamente Nossa Senhora, chamada a Porta do Céu. Quer dizer, é ultra teológico que Ela tenha dito: “Cessem de pecar e recorram a Mim que obtenho a eliminação do castigo”. Nada mais razoável.

Contudo, a humanidade recebeu a Mensagem de Fátima com orgulho, quando ela exigia um ato de humildade, ou seja, que os homens reconhecessem: “Nós pecamos, andamos mal”. Exigia a emenda, o abandono da impiedade e da imoralidade na qual iam caindo. Por isso houve uma rejeição global em relação a essa Mensagem. Os resultados, vemos por toda parte.

Façamos um exame de consciência. Temos os olhos suficientemente abertos para a Mensagem de Fátima? Compreendamos que com Nossa Senhora não se brinca, e peçamos a Ela que tenha pena de nós(*).

Plinio Corrêa de Oliveira

* Excertos da conferência de 13/10/1970.

 

Nossa Senhora

Eu venho tão do alto… E posso tudo. Em Mim reside o reflexo perfeito da bondade incriada e absoluta. Aquilo que Eu quero doar porque sou boa, aquilo que desejo conceder porque sou Mãe, aquilo que posso dar porque sou Rainha, isso, meu filho, Eu dou! Eu não te digo uma palavra, mas faço algo muito melhor que falar a teus ouvidos… Eu te comunico uma graça que murmura no  fundo de tua alma.

Sentes essa paz que transborda de Meu coração, que te envolve, te penetra e te cumula? Essa paz que nenhuma alegria terrena pode trazer, e que te  faz sentir uma tranqüilidade interior, na qual ressoa minha voz, inaudível a teus sentidos: Tudo está resolvido! E aquilo que não estiver, resolver-se-á. Confia em Mim, Eu acertarei tudo.

As aparências podem não ser essas. Mas… Aceita esse sorriso, percebe esse sussurro, contempla essa bondade… E não duvides jamais!

Plinio Corrêa de Oliveira

Razão de nossa serenidade

Mãe incomparavelmente perfeita entre todas as mães, Nossa Senhora nos conhece, ama e quer bem com discernimento, bondade, paciência e carinho de uma intensidade extraordinária. Alcança-nos tudo o que nos convém e lhe pedimos confiantemente. Está disposta a nos obter o perdão de seu Divino Filho, mesmo para nossas piores faltas; alcança-nos as graças necessárias para nossa emenda, nossa salvação e, assim, brilharmos diante d’Ela por toda a eternidade. É a misericórdia dessa Mãe de perfeição incalculável.

Por isso mesmo, é Ela a razão de nossa serenidade. Não temos motivo para estarmos perturbados nem agitados, posto termos uma Mãe celeste que se compadece de nós e nos acompanha a todo instante com sua insondável solicitude. Devemos permanecer sempre tranquilos: nossa Mãe vela por nós.

 

Plinio Corrêa de Oliveira