CLEMÊNCIA INDIZÍVEL

A realeza que Nossa Senhora exerce sobre o gênero humano não é a do juiz, mas a da advogada, isto é, d’Aquela que não tem por missão julgar e punir os pecadores, mas a de os defender.

Por isso tem Ela para conosco toda sorte de predisposições favoráveis, e sempre nos atende com inefável bondade.

Entretanto, a alma moderna, muito atribulada e tratada com terrível dureza pela atual tirania do demônio, encontra certa dificuldade em compreender o verdadeiro sentido da clemência de Nossa Senhora.

Tanto mais quanto uma falsa piedade apresenta esta misericórdia de modo alvar e adocicado, como se ela fosse uma espécie de cumplicidade com o erro. Ora, a ternura e a bondade de Maria não consistem numa vil condescendência para com quem praticou o mal, e sim na materna e invariável disposição de lhe conceder as graças necessárias para abandonar o erro e o pecado.

É nesse sentido que se deve entender a clemência de Nossa Senhora. E enquanto tal, ela é única, suprema e indizível.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Confiança

“A confiança é uma espécie de fina ponta da esperança. Quando esperamos alguma coisa, temos alegria e a convicção de que algo de bom nos virá. É essa confiança que dá força a nossas almas e as fazem caminhar para a frente.”

Fátima e Nossa Senhora do Carmo

Em Fátima, a Virgem Maria também apareceu com as características de Nossa Senhora do Carmo. Que relação existe entre a mensagem de Fátima e a Ordem do Carmo? Essa questão é abordada por Dr. Plinio, com base no texto de uma revelação recebida por Santa Teresa de Ávila.

 

Gostaria de apresentar alguns traços da revelação de Fátima que a diferenciam de outras revelações anteriores.

Castigo por causa da imoralidade e da irreligião dos povos

Eis um traço muito curioso: é a única revelação que conheço, de tal maneira admitida, aceita e acatada em meios católicos e até pela hierarquia eclesiástica, a qual trata não só de um tema moral — porque isso é frequente em várias revelações —, mas tira derivações desse tema moral para o campo político, numa ilação que tem muito de comum com a doutrina que posteriormente tentamos expor no livro Revolução e Contra-Revolução.

O plano de ideias que Nossa Senhora apresenta para os homens é que há uma crise moral prodigiosa, a qual é, no fundo, uma crise religiosa; e essa crise religiosa e moral vai desembocar numa catástrofe política. Essa catástrofe política que Ela profetiza qual vai ser? A Rússia espalhará seus erros por toda a Terra. É um castigo por causa da imoralidade e da irreligião dos povos. Quer dizer, há um nítido conteúdo político.

Outro aspecto curioso que não encontrei ainda em nenhuma outra revelação — não digo que não houve, pois não pretendo ter conhecido todas —: Nossa Senhora Se mostra em três invocações sucessivas: com as características de Nossa Senhora de Fátima, mas também como o Imaculado Coração de Maria e como Nossa Senhora do Carmo.

Por que essas invocações? Encontramos fundamento para isso na própria revelação. Ela declara o seguinte: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará.” O que quer dizer que Ela quer ter um triunfo que vai ser uma enorme efusão de graças, porque o coração aí significa a bondade e a vontade, e o triunfo d’Ela vai se realizar depois de um castigo tremendo, por uma efusão de graças enorme. É o Reino do Coração d’Ela que Maria Santíssima anuncia.

Por causa disso, Ela como que referenda a devoção ao Imaculado Coração de Maria, apresentando-Se com essas características numa de suas visões. É para se compreender, para dar um estímulo à devoção ao Imaculado Coração de Maria.

Uma Ordem religiosa nos últimos tempos

Mas por que Ela Se apresenta como Nossa Senhora do Carmo numa das aparições?

Isto é muito menos claro. Que relação tem a invocação do Carmo com os tempos vindouros, em que seu Coração vai triunfar? Há alguma tarefa, alguma missão do Carmo dentro disso?

Essa pergunta nos interessa muito, tomando em consideração que quase todos nós somos terceiros carmelitas1. Há revelações muito impressionantes feitas a Santa Teresa de Jesus, que se encontram nas boas biografias desta Santa carmelita, e que dizem algo a esse respeito. São os parágrafos 12, 13, 14 e 15 das obras de Santa Teresa de Jesus, tomo I, Livro da Vida, capítulo 40. É algo oficial e documentado.

Parágrafo 12:

Fazendo uma vez oração com muito recolhimento, suavidade e paz, parecia-me estar rodeada de Anjos e muito perto de Deus. Comecei a suplicar a Sua Majestade pela Igreja. Foi-me, então, dado a entender o grande proveito que havia de fazer uma Ordem nos últimos tempos, e com que fortaleza seus filhos haviam de sustentar a Fé.

Uma Ordem que, como veremos, parece ser a própria Ordem do Carmo, à qual Santa Teresa pertencia e que por prudência e modéstia ela não queria mencionar. Haveria um tempo em que a Ordem do Carmo teria filhos que lutariam pela ortodoxia com muito denodo.

Parágrafo 13:

Quando certa ocasião rezava junto ao Santíssimo Sacramento, apareceu-me um Santo cuja Ordem esteve um tanto decaída.

Ela era exatamente a reformadora da Ordem do Carmo, que estivera muito decaída.

Tinha nas mãos um grande livro. Abriu-o e deu-me a ler as seguintes palavras escritas em letras grandes e muito inteligíveis: Nos tempos vindouros, florescerá essa Ordem, haverá muitos mártires.

Então, é um incremento de luta pela ortodoxia, martírio e florescimento dessa Ordem.

Religiosos com espadas nas mãos

Parágrafo 14:

Outra vez, durante Matinas, no Coro, vi diante de meus olhos seis ou sete religiosos dessa Ordem, com espadas nas mãos.

Notem que se tratam de espadas, símbolo da luta.

Significava isso, penso, que hão de defender a Fé, porque mais tarde, estando em oração, fui arrebatada em espírito e pareceu-me estar num vasto campo onde lutavam muitos combatentes e os desta Ordem pelejavam com grande fervor; tinham os rostos formosos e muito incendidos. Venciam deitando por terra numerosos inimigos e matando outros. Tive a impressão de que a batalha era contra hereges.

Parágrafo 15:

Ao glorioso Santo de que falei acima, tenho visto várias vezes. Tem me dito diversas coisas, agradecendo a oração que faço por sua Ordem e prometendo encomendar-me ao Senhor. Não assinalo a Ordem para que não se desagradem as demais. O Senhor declarará os nomes, se for servido que se saibam. Cada Ordem, ou cada um de seus membros deveria esforçar-se para que, por seu meio, fizesse o Senhor tão ditosa sua religião que em tão grande necessidade, como agora tem a Igreja, pudesse servir. Felizes as vidas que se sacrificarem por tão nobres causas.

Vemos aqui mencionar uma Ordem, provavelmente a do Carmo, que terá uma grande batalha pela Fé nos tempos futuros. Ora, até esse momento, não chegou essa batalha; a Ordem do Carmo não fez isto até agora.

E Nossa Senhora nos fala, precisamente, de grandes perseguições, de grandes lutas, de grandes martírios na revelação de Fátima.

E ali a Santíssima Virgem Se mostra com as características de Nossa Senhora do Carmo. Parece haver entre tudo isso uma relação para a qual eu chamo a atenção a fim de prezarmos cada vez mais nossa condição de irmãos da Ordem Terceira do Carmo, e compreendermos o que há de providencial nessa pertencença à família carmelitana.  v

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 13/5/1965)

 

1) Dr. Plinio e os mais antigos membros do Movimento por ele fundado pertenciam ao Sodalício Flos Carmeli, da Basílica Nossa Senhora do Carmo, em São Paulo.

 

Vingou a honra da Santa Igreja

São Leão II aprovou as atas do Terceiro Concílio de Constantinopla para condenar a falta daquele que, no dizer deste Papa Santo, “tentou destruir a imaculada Fé com uma profana traição”.

Este Santo Pontífice teve a dificuldade tremenda de viver no tempo em que de um antecessor seu, Honório I, se podia dizer isso, e em relação ao qual o Concílio tomou uma atitude de condenação.

Com isso, São Leão II combateu a heresia, vingando assim a honra da Igreja. Porque a heresia não pode permanecer em nenhum lugar, mas sobretudo no interior da Igreja  Católica, que é por excelência a montanha sagrada da verdade e do bem, que repele de si aquele que dentro dela toma a defesa do erro e do mal.

A Santa Igreja tem muita misericórdia e não expulsa de si quem reconhece que anda mal, bate no peito e pede perdão. Mas aquele que afirma que o bem é o mal e o mal é o  bem, e que luta, dentro da Igreja, para disseminar o mal, a este a Igreja expulsa horrorizada.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 3/7/1965)

Vós voltareis!

Senhora, está patente que, sem Vós, eu nada sou e nada posso.

Vede o que eu sou!

Contudo, é também manifesto que, convosco, uma vez eu já pude, o que portanto, convosco uma vez eu já pude o que, portanto, convosco poderei de novo. Sendo assim, eu suporto a escuridão em que me encontro, na esperança de que Vós voltareis.

Vós voltareis, Senhora. Convencei-me, dai-me a segurança de que voltareis, e voltareis de qualquer jeito, a qualquer hora, daqui a um mês, um dia, um minuto, daqui a um segundo. Mas Vós voltareis! E quando voltardes, terei saído dessa escuridão mais purificado, pois tal escuridão purifica.

Na verdade, imerso nessa treva espiritual, tenha a impressão, ó minha Mãe, de ver só os meus próprios defeitos. Isto é uma provocação tremenda e um tédio tão terrível que me parece carregar esse chumbo com resignação, com confiança, quando Vós vierdes eu estarei mais limpo e, sobretudo, Senhora, Vós estareis mais brilhante, porque os meus olhos terão adquirido mais luminosidade, melhor capacidade de Vos ver.

Vós estareis mais próxima de mim! Desse modo a cada noite escura que eu aguento, corresponde uma aurora mais bonita.

E quanto mais longa e completa for a noite, mais bela e magnífica a aurora que me espera.

Eu estou como num trem que vai subindo a montanha, passando por vários túneis. Depois de cada túnel o ar está mais limpo, o panorama é mais alto, tudo é mais belo.

Esse período de prova é terrível, minha Mãe, mas é também admirável. Importa que eu espere, e compreenda que o estado no qual me encontro é apenas uma aparência do fim, e não o fim.

Eu espero, minha Mãe, contra toda esperança, porque Vós voltareis! Assim seja.

Plínio Corrêa de Oliveira

Nossa Senhora dos Privilégios

Há um cântico a Nossa Senhora do Carmo em cujo estribilho se pede: “Carmelitis da privilegia” – aos carmelitas, dai privilégios. A correlação entre o privilégio e a devoção mariana sempre me encantou e me pareceu um elemento fundamental dessa devoção.

“Privilégio” é uma palavra de raiz latina que vem de privata lex – lei privada –, ou seja, a lei reservada a um indivíduo ou a um grupo e não a outros.

Maria Santíssima, como Mãe que é, não trata seus filhos de acordo com regras gerais. Embora estas existam, Ela sabe sempre abrir uma exceção, um privilégio, e cada filho de Nossa Senhora é um privilegiado por algum lado. Trata-se de procurarmos ter noção de qual é o privilégio que cabe a cada um de nós.

Essa noção, por vezes, é muito confusa: recebo alguma graça que me tocou mais profundamente a alma; anos depois, inesperadamente, vem outra, e mais adiante outra… Estudando o fio condutor dessas graças percebo haver um sentido que, analisado, faz-me compreender o privilégio pelo qual escapo da regra geral. Ali Nossa Senhora soube ter para comigo uma pena que não teve com ninguém. Para um outro, Ela terá outra coisa. Mas para mim concedeu aquilo, que me dá um fôlego, um ânimo como a mais ninguém. É o privilégio para mim.

Façamos nossa a bela oração dos carmelitas, dizendo: “Ó Maria, a esses vossos filhos, dai privilégios!”

Queremos ser anti-igualitários até no que diz respeito à vida espiritual, pois privilégio supõe desigualdade. Nossa Senhora das legítimas e harmônicas desigualdades é Nossa Senhora dos Privilégios.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 7/1/1977)

Um olhar que pode nos salvar

Nossa Senhora é chamada, muito a propósito, de Estrela Luminosíssima. Incontáveis astros reluzem no firmamento, porém Ela é o mais resplandecente de todos, ou seja, Maria é a mais luminosa das criaturas. E por que é simbolizada pela estrela?

Porque é durante a noite que cintilam as estrelas, e esta vida é para o católico uma noite, um vale de lágrimas, uma época de provação, de perigo e de apreensões.

Na eternidade teremos o dia, porém na vida terrena temos o escuro da madrugada. E nesta noite existe uma estrela que nos guia, que é a consolação de quem caminha nas trevas, olhando para o céu: Maria Santíssima, a mais fulgurante de todas as estrelas!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/8/1965)

Revista Dr Plinio 256 (Julho de 2019)

Não permitais que me separe de Vós

Minha Mãe, eu sei que sou tal que, se for só por mim, acabo me separando de Vós. Mas sei que sois tão insondavelmente boa e poderosa que podeis impedir-me de me separar de Vós. Então, a minha confiança em ser fiel resulta, minha Mãe, essencialmente disto: Não permitais jamais que me separe de Vós.

Tenho certeza de que, como nunca se ouviu dizer que tendo alguém recorrido à vossa proteção, implorado o vosso auxílio fosse desamparado, essa minha súplica também não deixará de ser ouvida.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 12/6/1971)

Revista Dr Plinio 256 (Julho de 2019)

Maria fons

No hino “Flos virginum”, Nossa Senhora é chamada “Maria fons”. Ora, como se deve entender esta invocação? Em que sentido Ela é fonte?

Nossa Senhora é simbolizada por uma fonte encontrada por alguém que está vagueando pelo deserto, com sede.

Quer dizer, Ela é a fonte na qual podemos nos dessedentar.

Mas fonte de quê? Ela é a fonte de todas as graças, pois estas nos vêm de Nosso Senhor Jesus Cristo através d’Ela.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 18/8/1965)

“Dos que me destes, não perdi nenhum”

Nos momentos de provação e angústia, lembremo-nos de que Nossa Senhora, por disposição divina, se acha junto a cada um de seus filhos provados, ajudando-o a lutar e a vencer as dificuldades. De tal sorte que dia virá em que Ela, afetuosa, amorosa e pacientemente deitará um olhar misericordioso sobre todo o seu rebanho de devotos e repetirá a Nosso Senhor Jesus Cristo essas palavras magníficas que o próprio Redentor pronunciou: “Dou-vos graças meu Deus, porque de todos os que Vós me destes, não perdi nenhum!” (Jo 17, 12)

Na verdade, Maria Santíssima nos acompanhará pelos extravios, pelas infidelidades, prostrações e conspurcações, pelos olvidos, pelas ingratidões, por toda a poeira e por toda a lama do caminho: mas, a todos e a cada um, em determinado momento, Ela dirá infalivelmente a palavra que o poderá salvar.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 26/4/1974)