Oração pedindo a virtude da insistência

 

Quando sentimos que não rezamos
bem, ao menos devemos rezar muito.
Esta verdade encontra-se expressa na
parábola evangélica do homem que, estando
já dormindo em sua casa, é importunado por
outro que bate à sua porta pedindo pão. Desta
metáfora o Divino Mestre aufere a seguinte
conclusão: “No caso de ele não se levantar
para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente
por causa da sua importunação se levantará
e lhe dará quantos pães necessitar”
(Lc 11, 8).
Por certo, a oração qualitativa é a melhor,
mas a quantitativa nos abre a porta do Céu.
Assim sendo, peçamos:
Ó Mãe do Bom Conselho, recordai-me o
ensinamento do vosso Divino Filho: não era
pessoa grata ao chefe de família aquele homem
que lhe pedia pão, mas por sua extrema
importunidade obteve o que suas qualidades,
de si, não lhe obteriam.
Aqui estou diante de Vós, oh, minha Mãe!
Se olho para mim, quantas razões encontro
para não me sentir pessoa grata! Porém, se
considero vossa misericórdia, tenho a certeza
de que, à força de acumular quantitativamente
orações carregadas com meus defeitos,
acabareis por abrir as portas que, segundo a
estrita justiça, eu não teria o direito de transpor.
Dai-me, pois, a virtude da insistência recomendada
por vosso Divino Filho, pois a ela
foi prometido o prêmio de ser atendida pela
quantidade a prece que não tem qualidade.
Amém.

Minha Mãe, por vossa bondade, salvai-me!

Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria! Vós fostes concebida sem pecado original e nunca tivestes a menor falta, jamais deixastes de progredir inteiramente
em tudo quanto estava nos desígnios divinos.
Sois a Virgem por respeito a cuja virgindade o Onipotente operou este milagre estupendo: quis que fôsseis ao mesmo tempo Mãe d’Ele e Virgem antes, durante e depois do parto;
de tal maneira vossa virgindade é insondavelmente valiosa.
Mãe de Deus Filho, sois também a Filha amadíssima do Pai Eterno, e o próprio Espírito Santo é vosso Esposo que em Vós gerou o Menino Jesus. Tendes, assim, tudo para serdes atendida.
Ademais, sois cheia de misericórdia para com os pecadores. Ora, um pecador sou eu…
Venho, pois, de joelhos Vos pedir: Perdoai-me, não olheis para os meus pecados, mas sim
para a vossa bondade. Considerai o Sangue que vosso Divino Filho derramou, pensai nas lágrimas que Vós mesma vertestes para que eu fosse salvo.
Minha Mãe, não por meus méritos, mas por vossa bondade, salvai-me!
(Composta em 29/11/1992)

Uma vida inteira consagrada ao serviço de Deus, de Maria Santíssima e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana!

Há 25 anos entrava na eternidade um varão de Deus!

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A TFP vem manifestar toda a sua gratidão a Deus, pela mediação da Santíssima Virgem, por ter feito surgir esta obra pela iniciativa providencial e bendita de Plinio Corrêa de Oliveira.

Por ter sido um Fundador, a dimensão de sua pessoa, de suas ideias, de sua atuação alcança um patamar que não se restringe aos dias de sua vida terrena.

E ele foi um autêntico Fundador e inspirador de uma grande família de almas, que deu origem a diversas correntes de opinião, associações e iniciativas de índole civil e religiosa pelo mundo afora.

Até hoje, passados 25 anos de sua entrada na eternidade, seu nome é uma verdadeira bandeira, um divisor de águas, porque “o fundador encontra-se na situação de ter que ir contra a corrente e ser sinal de contradição”, explica o Pe. Fabio Ciardi . E continua: “Denuncia frequentemente com a palavra uma determinada situação eclesial, como ocorre com o profeta do Antigo Testamento; mais ainda, é ele mesmo, feito palavra viva, que se converte em denúncia com sua própria vida e ação, atraindo o ódio e a perseguição dos que se sentem ameaçados no seu cômodo viver”. (F. CIARDI, Los fundadores, hombres del Espíritu, pp. 274-275)

Muito combatido e também elogiado em vida, a figura de Dr. Plinio vai se tornando com o correr dos anos mais compreendida por uma parcela crescente da opinião pública, inclusive porque muitas de suas previsões e análises – inverossímeis para tantos na ocasião de sua formulação – vão sendo confirmadas pelos fatos.

Nesse sentido, comenta um autor: “Ao aproximarmo-nos [dos fundadores] deparamo-nos com algo que não entendemos; e, inclusive, quando imaginamos conhecê-los bem, cada vez que refletimos sobre eles, descobrimos algo novo. Como explicar este mistério, esta riqueza inesgotável? Simplesmente pelo fato de que, ao encontrarmo-nos com um Fundador, nos achamos diante do mistério de Deus: no Fundador, e através dele, é o próprio Deus que atua”. (Il Carisma dei fondatori, Roma, 1974,p.11. Apud, Antonio Romano, Los Fundadores, Profetas de la Historia, pp. 63-64)

E no caso de Dr. Plinio, tendo em vista a sua vocação de fazer face à Revolução – movimento multissecular, que abrange todo o agir humano para levar a sociedade civil e a Santa Igreja a uma situação oposta à desejada por Deus –, o seu olhar abarcava, a bem dizer, todos os horizontes possíveis, conforme ele mesmo definiu a sua luz primordial:

“Uma visão arquitetônica e harmônica, monárquica e aristocrática de todo o universo material e espiritual criados, desde um grão de areia até o mais alto Anjo, ressaltados os pontos que a Revolução procura combater”.

Os Fundadores podem ser analisados e examinados sob muitos aspectos, mas só há uma maneira de compreender a fundo a sua pessoa: amando-a!

Foi, com efeito, o amor à Santa Igreja a característica da longa e heroica existência de Dr. Plinio, a ponto de ele se emocionar ao ouvir a referência à sua catolicidade.

Conforme seu desejo, sobre os seus restos mortais figura o significativo epitáfio:

Vir catholicus, et apostolicus, plene romanus 

Varão católico, apostólico, plenamente romano.

No momento em que se completa um quarto de século de seu encontro com Deus, a TFP quer celebrar esta data adaptando e aplicando a seu Fundador as palavras que um dia ele escreveu no jornal Legionário:

Plinio não dobrou nunca e nem sequer um só joelho diante da Revolução.

Plinio sempre teve a Lei de Deus escrita no bronze de sua alma. E não permitiu que as doutrinas deste século gravassem seus erros sobre esse bronze, que sagrado a Redenção tornou.

Plinio Corrêa de Oliveira amou, como o mais precioso dos tesouros, a imaculada pureza da ortodoxia e recusou qualquer pacto com a heresia, suas obras e infiltrações.

Na tormenta, na aparente desordem, na aparente aflição, na quebra aparente de tudo aquilo que para ele seria a vitória, Plinio é aquele que confiou, que jamais duvidou, mesmo quando o mal parecia ter vencido para sempre.

Plinio é o filho, o heroi e o paladino da confiança! Quanto mais os acontecimentos pareciam desmentir a voz da graça que lhe dizia — “vencerás” —, tanto mais ele acreditou na vitória de Maria!

Unida a ele, portanto, a TFP ecoa esta sua verdadeira proclamação de Fé:

 

“Estou certo de que os princípios a que consagrei minha vida são hoje mais atuais do que nunca e apontam o caminho que o mundo seguirá nos próximos séculos.

Os céticos poderão sorrir. Mas o sorriso dos céticos jamais conseguiu deter a marcha vitoriosa dos que têm Fé.” (conclusão do Auto-retrato Filosófico)

Visão de conjunto do verum, bonum e pulchrum

A Idade Média tendia para pulcritudes que se fundiriam numa só ordem grandiosa apontando para o Reino de Maria. O Humanismo procurou provocar sensações meramente sensíveis e fragmentadas, prometendo ao homem uma falsa felicidade nesta Terra. Desse conceito errado de felicidade deriva todo o desabamento tortuoso pelo qual precipitou-se o mundo contemporâneo

 

Um homem privado inteiramente de qualquer forma de “pulchrum”, mesmo das mais modestas, pereceria primeiro se deformando, depois definhando em sua personalidade. Levaria uma vida tão arrastada, tão difícil, tão inconveniente de ser vivida que equivaleria quase a uma morte.

O homem tem necessidade do “pulchrum”

Pode-se realizar bem isso imaginando o que se conta a respeito do Delfim de Luís XVI e Maria Antonieta, na prisão do Templo. Murado vivo, nunca se limpando, se lavando, não tendo ar livre, perpetuamente na escuridão, sem interlocutor, recebendo a alimentação – pode-se imaginar que comida e que bebida… – por meio de uma dessas rodas junto a uma porta, e o resto do tempo completamente isolado.

Era um ente inteiramente privado de “pulchrum”. Dir-se-ia que o mais terrível era estar privado do afeto paterno e materno. Isso é evidente, e é nocivo no mais alto grau. Porém ainda que recebesse demonstrações desse amor, se ele não tivesse algum contato com uma realidade sensível bela, por exemplo, jamais visse o pai e a mãe – apenas tomasse conhecimento de bilhetes que lhe mandavam, porque estavam proibidos de entrar –, ele teria a noção da perseverança do afeto de seus pais, mas isso não bastaria. Precisaria ter algo de belo.

Absolutamente falando, a necessidade do “pulchrum” não é como a do ar, sem o qual a pessoa morre, mas é a que conduz a uma situação quase intermediária entre o estar vivo e o estar morto.

No campo doutrinário, há aqueles que, ao ensinarem o tomismo, embora não afirmem claramente, insinuam que para compreender bem o pensamento de São Tomás é preciso afastar o “pulchrum” de qualquer cogitação e pôr-se numa atitude onde só joga o raciocínio. Isso é completamente falso e anti-tomista.

Tudo o que é verdadeiramente belo favorece a virtude

O trecho sobre Maria Antonieta, do historiador inglês Edmund Burke que tivemos ocasião de comentar(1), tem uma beleza inegável. Porém, trata-se de um “pulchrum” moral.

Tudo aquilo que é autenticamente belo, de si, favorece a virtude. Não me refiro, é claro, a uma obra de arte esteticamente bonita, mas imoral, a qual em seus detalhes poderá despertar lubricidade. Essa é uma outra questão. Mas se uma obra de arte é verdadeiramente bela, ela desperta a pureza, porque a inocência se compraz com a beleza.

O “pulchrum” moral da Contra-Revolução está no fato de que tudo quanto ela diz e quer, os caminhos por ela trilhados têm um aspecto de beleza, do contrário não seria Contra-Revolução. Entretanto, a natureza dessa beleza varia muito. Por exemplo, Godofredo de Bouillon galgando as muralhas de Jerusalém, tomando conta da cidade e dirigindo-se ao Santo Sepulcro, seguido por seus guerreiros, tem uma beleza de arrepiar. É uma ação de caráter religioso-moral, tanto mais moral quanto é religiosa, e possui um “pulchrum” duplo: é a beleza do estabelecimento de uma ordem e da destruição da desordem que se opunha a essa ordem.

Na Idade Média, o “pulchrum” não era tomado apenas em uma determinada linha. Explico-me tomando como exemplo um nome que exprime uma certa ideia de “pulchrum” moral: Ricardo Coração de Leão. Refiro-me exclusivamente ao nome, pois o personagem não valia nada. O rugido do leão tem sua majestade, sua beleza. Um homem que se chama Coração de Leão dá a entender que ele quer ter essa coragem. E como ele era ligado ainda ao ambiente medieval, pensa-se num homem da Idade Média que tem coração de leão. Ora, fica muito bonito para um medieval ter coração de leão.

Mas o “pulchrum” medieval não consistia apenas em tomar um conceito assim – homem com coração de leão –, mas em uma ideia sintética da colaboração de todas as belezas para a constituição de uma resultante da soma de todos as pulcritudes, a fim de causarem ao mesmo tempo uma impressão única que seria quase uma visão sensível do belo enquanto belo, de uma beleza metafísica.

É propriamente o que medieval procurava, por exemplo, com aqueles vitrais da Sainte-Chapelle. Aquilo é uma sinfonia de cores onde cada nota tem seu efeito para produzir não apenas um bonito lilás ou vermelho em tal caquinho de vidro; isso existe e teríamos vontade de mandar fazer uma capela só com tons daquele vermelho ou daquele lilás. Porém o que fica no espírito humano de ideia e de sensação viva do “pulchrum” é o que decorre da coexistência e da coordenação de tudo isso junto.

Engana-se, portanto, quem pensa que são os vitrais o que há de mais bonito na Sainte-Chapelle. O mais belo é uma espécie de arqui-cor aparentemente incolor ali existente, como se estivéssemos num líquido composto de todas aquelas cores ao mesmo tempo. É o sublime da beleza da Sainte-Chapelle.

Ordem grandiosa que apontava para o Reino de Maria

Em geral, a Idade Média tendia para sínteses gigantescas dessa natureza, em que pulcritudes de vários tipos, de si, já constituíam pirâmides de belezas particulares, fundindo-se numa só ordem grandiosa que apontaria para algo – que o medieval não sabia, mas que seria o Reino de Maria – onde tudo fosse de uma harmonia arquetípica, desde a ordenação das ruas até a plantação das árvores, à maneira do Céu empíreo, e as pessoas se sentissem envoltas por tudo isso junto e, prelibando o Paraíso, dariam um brado de contentamento: “Ó beleza! Ó alegria!”

Isso nos dá uma ideia do coração humano reto que procura, já nesta Terra, uma forma de felicidade ordenadíssima que produz a suma felicidade.

A Revolução – sobretudo no seu começo nascente no fim da Idade Média, no Humanismo – procurou provocar sensações meramente sensíveis e fragmentadas, prometendo ao homem a felicidade nesta Terra se ele procurasse qualquer desses prazeres isoladamente e fizesse disso o campo da sua felicidade. A promessa era: “Goze disso e de várias coisas assim à vontade, mas não constitua uma síntese, porque a síntese o tirará da realidade!” Eis a grande mentira. Desse conceito errado de felicidade deriva todo o desabamento tortuoso pelo qual nos precipitamos onde estamos.

A verdadeira felicidade

Para o medieval, a noção de felicidade consistiria na tendência contínua para o “verum, bonum, pulchrum”.

Não se pode conceber um homem que procurasse o “pulchrum” o tempo inteiro e não buscasse, nas devidas proporções, também o “verum” e o “bonum”, até mesmo um artista. Evidentemente, ele não os procuraria separadamente, mas teria a visão de conjunto do “verum, bonum e pulchrum” de sua obra de arte.

Se bem que essa visão global dê a verdadeira felicidade nesta Terra, é necessária muita retidão para a pessoa querer tê-la. Por isso ela horripila o homem moderno, mas extasia o verdadeiro católico, embora este se encontre carregado de cruzes. Eu quase ousaria dizer que extasia no sentido místico da palavra. Isso porque a sede da contemplação, e o fato de encontrar-se dessedentado somente na medida em que se realiza a contemplação, corresponde a uma primeira graça que a pessoa recebe de um modo germinativo, um primeiro toque, com a inocência. O mundo atual está feito para excitar no indivíduo o abandono disso para se jogar nos prazeres fragmentados.

Antigamente os transatlânticos procuravam realizar isso. Eram palácios flutuantes onde a todo momento se oferecia um pequeno prazer. Então, salões magníficos nos quais garçons serviam sorvetes, bebidas, sanduíches, etc. Num desses salões se tocava música, em outro tinha jogo, noutro havia não sei o quê…

No tombadilho ficavam dispostas umas cadeiras espreguiçadeiras anatômicas, idealmente cômodas, com colchão de revestimento macio, enfim, tudo era mole. E quando a pessoa se encontrava inteiramente à vontade, vinha um empregado que fazia um salamaleque e oferecia, numa bandeja, refrescos segundo o gosto do cliente, que bebericava aquilo enquanto olhava o esplendor do mar.

Ficava subjacente a ideia de que viver num navio desses, ou num mundo todo ele feito de uma soma justaposta de sensações agradáveis, era a própria definição de felicidade.

Ora, eu, que por temperamento e modo de ser tenho uma enorme tendência a apreciar essas coisas e a procurar nelas a felicidade, estou certo de que, quando tivesse me saciado com tudo isso, dar-me-ia conta de haver em mim um vazio que essas delícias não preencheram, mas se eu entrasse na Sainte-Chapelle, diria: “Encontrei a felicidade!” v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 21/8/1994)
Revista Dr Plinio 269 (Agosto de 2020)

 

1) Ver Revista Dr. Plinio n. 268, p. 12-18.

 

Fidelidade perfeita, humilde e despretensiosa

Fundador, doutor e grande escritor, Santo Afonso atingiu os píncaros da sublimidade na inação, na oração e na dor. Não somente na dor física, mas sofrendo pelas aflições, tristezas e desmoronamentos que se operavam na Igreja Católica. Ele media bem o inconveniente terrível dos inimigos internos da Igreja, e não hesitava em chamá-los de Judas. Santo Afonso é um exemplo de fidelidade perfeita e sem jaça, sem esmorecimento, nem conformes, abnegada, humilde, despretensiosa!

 

No primeiro dia de agosto a Igreja comemora a festa de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja. Consideremos alguns dados a respeito de sua vida(1).

Uma preciosa existência coroada por uma morte prolongada sobre a cruz

De nobre família, foi grande devoto da Bem-Aventurada Virgem Maria. Doutor por excelência da Moral católica, que fora falseada pelo jansenismo. Fundador da Congregação do Santíssimo Redentor, viu-se excluído dela pela Santa Sé mal informada.

Os últimos anos de sua vida Santo Afonso Maria passou-os em casa dos redentoristas em Nocera. Desde então, sua vida foi apenas uma morte prolongada sobre a cruz. Estava velho, enfermo, sofrendo tentações violentas. Sua grande devoção era ao Santíssimo Sacramento e também à Virgem Mãe de Deus. Até então tinha pregado todos os sábados ao povo as virtudes de Maria, mas foi proibido de continuar pelo seu médico e seu confessor.

O que mais o preocupava era a glória de Deus e os males da Igreja. Muitas vezes se oferecia em sacrifício por uma e por outra intenção. Tendo sabido que os jesuítas tinham se estabelecido na Rússia e na Prússia, não deixava de dar graças a Deus. “Afirma-se que eles [jesuítas] são cismáticos, dizia, mas não é justo. Sei que o Papa os reconhece como membros da Igreja e os protege. Roguemos a Deus por estes santos religiosos, porque o seu instituto é uma obra favorável ao bem das almas e da Igreja. Cismáticos, cismáticos, o que é isso? O Papa Ganganelli foi instrumento de Deus para os humilhar, e Pio VI é também instrumento para os exaltar. Roguemos a Deus e ele não os deixará de abençoar”.

Ficava profundamente emocionado quando sabia que alguns espíritos se mostravam incrédulos ou dispostos a se tornarem tais. Seu pesar era ainda maior ao saber do triunfo dos jansenistas. “Pobre sangue de Cristo, calcado aos pés e desprezado – repetia ele – e, o que há de pior, desprezado por pessoas que se dizem chamadas a restaurar a pureza da doutrina e o fervor dos primeiros fiéis. Por um beijo, Judas entregou Jesus Cristo, e também por um beijo eles traem Jesus e as almas. É um veneno oculto, dão a morte antes que se perceba.”

Introduzido na glória celeste com uma vida carregada de méritos

Quantos ensinamentos dentro desta ficha! Em primeiro lugar, o estado sacrifical de Santo Afonso de Ligório. Um fim de vida que era aflição e miséria, ele não podia mais fazer outra coisa senão sofrer, e esta foi provavelmente a parte mais preciosa de sua existência. Ele que tinha sido fundador, doutor, grande escritor, sublimava sua vida morrendo pregado na cruz para nos ensinar que a oração e o sofrimento valem incomparavelmente mais do que todas as obras, e quando um homem vive para rezar e sofrer, ele tem uma vida fecundíssima inteiramente justificada; enquanto que alguém, embora faça toda espécie de obras, mas não reza e não sofre é um homem inútil e, como tal, nocivo. É este o ensinamento que daí se desprende.

É claro que Nossa Senhora quis que esse grande Santo continuasse vivo para a sua alma chegar aos píncaros da sublimidade, e que esses píncaros fossem atingidos na inação, na oração e na dor. Não somente dor física, mas a que tanto devemos pedir: a dor pelas aflições, tristezas, pelos desmoronamentos que se operam na Igreja Católica.

Naquele tempo, a Santa Igreja estava sendo preparada para uma convulsão, a Revolução Francesa, e era necessário que o Corpo Místico de Cristo evitasse essa catástrofe ou pelo menos se preparasse convenientemente para ela. E Santo Afonso de Ligório, de seu leito de dor, comentando cada apostasia, sondando e lamentando as devastações perpetradas pelos jansenistas, mais preocupado com as chagas da Igreja do que com as suas próprias feridas, considerava essa real e trágica situação.

Quando sua alma chega à inteira crucifixão, dá-se com ele o que ocorreu com Nosso Senhor Jesus Cristo: o momento do “consummatum est”. Santo Afonso então foi chamado e entrou para a glória celeste com a vida carregada de méritos. Isto é viver, isto é morrer!

Quantos Judas temos em torno de nós?

Ele media bem o inconveniente terrível dos inimigos internos da Igreja, e não hesitava em chamá-los de Judas, considerando que eles combatem a Igreja por dentro, atraiçoando-a como Judas traiu o Divino Mestre; e Santo Afonso gemia por causa dessa traição.

Quantos Judas temos em torno de nós?  Em outros tempos, poder-se-ia afirmar que os dedos da mão bastavam para contar os Judas que eram conhecidos. Entretanto em nossos dias devo dizer outra coisa: os dedos da mão, em determinados setores, talvez fossem demasiados para contarmos quem não é Judas. Esta é a realidade, ao menos por omissão, superficialidade de espírito, falta de generosidade, de dedicação.

Nesta situação, como nós devemos ter uma dor maior pelo mal que padece a Igreja Católica do que teve Santo Afonso Maria de Ligório! Se ele, com muito menos, sofreu tanto, que direito tenho eu de, por exemplo, considerar como o grande acontecimento do dia tal coisinha que se passou comigo, e ferver, arder, aborrecer-me? O que é isso em comparação ao sofrimento da Igreja? Não é nada. Se eu elevasse a minha alma até a consideração das dores da Igreja Católica, eu passaria sobre tudo isso desapegado, desprendido, aceitando tudo o que fizessem contra mim, ainda que os outros não tivessem razão.

Mas tal é a debilidade da natureza humana que muitas vezes isso não é assim, e nós devemos preparar nossas almas para que sejam cada vez mais desse modo, dispostos a toda humilhação, a toda incompreensão, a aceitar o incompreensível se for preciso, para num ato de suprema lucidez conformarmo-nos com tudo e cumprirmos nosso dever de todos os modos. É isto que Nossa Senhora pede de nós.

Embora fracos, sejamos fiéis!

Por outro lado, vemos como Santo Afonso Maria de Ligório se condoía com o Sangue que Nosso Senhor Jesus Cristo derramou inutilmente. Há uma frase no Antigo Testamento, mas que se refere profeticamente ao Divino Redentor: “Quæ utilitas in sanguine meo?” – Qual a utilidade de meu sangue? (Sl 29, 10). Como se Ele dissesse: “Eu derramei todo o meu Sangue, e até o que restava de água e Sangue em meu Coração, mas afinal de contas por utilidade de quem? A quem aproveita, quem deseja isto?” Então Santo Afonso tem esta expressão: “Pobre Sangue de Cristo!” Quando presenciamos as abominações que se veem hoje, somos também chamados a dizer: “Pobre Sangue de Cristo…”

Para nós só há uma consolação: a de termos, pelo menos, a possibilidade de utilizar o Sangue de Cristo e as lágrimas de Maria em nosso favor, pedindo que Eles tenham pena de nós e façam com que nossa generosidade seja uma reparação a tantos ultrajes. De maneira que do alto do Calvário Jesus e Maria nos sorriam e encontrem alguma alegria na nossa fidelidade. E, embora fracos, sejamos fiéis de uma fidelidade perfeita e sem jaça, sem esmorecimento, nem conformes, nem condições, abnegada, humilde, despretensiosa! Eis o que devemos ser, mais do que nunca, nesta hora. É este espírito de fidelidade que nós precisamos pedir a Santo Afonso Maria de Ligório.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 2/8/1967)
Revista Dr Plinio 269 (Agosto de 2020)

 

1) Não dispomos dos dados bibliográficos da obra citada.

Prece contra o individualismo

Ó minha Senhora e minha Mãe, por esta súplica desejo obter de vossa maternal e insondável misericórdia as graças necessárias para corrigir um defeito que tanto lamento ter.

Considerando como o individualismo é uma atitude de alma oposta aos adoráveis ensinamentos e exemplos de vosso Divino Filho, e quanto ele se opõe a vossas sublimíssimas virtudes; ponderando que esse defeito já esteve gravemente presente na primeira Revolução eclodida nos altos páramos celestes, ao brado diabólico de “Non serviam”; tendo em vista que ele é profundamente oposto à doutrina e ao espírito da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, única Igreja verdadeira, e, pelo contrário, característico da doutrina e do espírito de tantas heresias e movimentos revolucionários; suplico-Vos, Senhora e Mãe, do mais fundo da alma – pelos méritos do Sangue infinitamente precioso vertido por vosso Divino Filho em sua Paixão e Morte para resgatar o gênero humano, e pelos merecimentos insondáveis das lágrimas corredentoras que vertestes ao pé da Cruz, no alto do Gólgota –, que me alcanceis a força necessária para odiar com toda a alma o individualismo, o qual constitui o requinte desregrado do amor de si mesmo, levando o homem a sobrestimar loucamente suas próprias qualidades e a fechar orgulhosamente os olhos às suas carências.

Nessas condições, a pessoa se deixa dominar pela ilusão de bastar-se a si própria e não precisar de Deus, nem de Vós, para combater vitoriosamente o extravio de sua inteligência, vontade e sensibilidade, e para levar a cabo a luta contra os adversários da Igreja e da Civilização Cristã. Por esse defeito, o homem aborrece o convívio de seus semelhantes e até de seus irmãos de vocação, sempre que este não se destine a lhe cantar continuamente as falsas glórias, e sente-se diminuído, humilhado e até combatido quando alguém lhe aponta faltas e dá santos conselhos para a conversão e a emenda.

Tende pena, Mãe de Misericórdia, desse vosso pobre filho em cuja alma se instalou tão grande e repugnante miséria, e cravai profundamente em sua alma o ensinamento do Divino Redentor: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração, e encontrareis paz em vossas almas!” Dai-me essa paz, humildade e mansidão que caracterizam os verdadeiros combatentes nos séculos de Fé: os cruzados e a sublime guerreira que foi a virginal mártir Santa Joana d’Arc.

Assim seja.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 25/9/1991)
Revista Dr Plinio 268 (Julho de 2020)

Que Maria antecipe o novo Pentecostes

Durante o mês de maio sentimos uma proteção especial de Nossa Senhora estender-se sobre todos os fiéis, e a alegria que ilumina nossos corações exprime a universal certeza dos católicos de que o indispensável patrocínio de nossa Mãe celestial se torna ainda mais solícito e amoroso, convidando-nos a uma intimidade tão mais acentuada com Ela, que em todas as vicissitudes da vida saibamos pedir com mais respeitosa insistência, esperar com mais invencível confiança e agradecer com mais humilde carinho todo o bem que Ela nos faça.

Maria Santíssima é a Rainha do Céu e da Terra, e, ao mesmo tempo, nossa Mãe, a Quem amamos por sua própria glória, por tudo quanto Ela representa nos planos da Providência.

Os filhos nunca são mais seguros da vigilância amorosa de suas mães do que quando sofrem. A humanidade inteira sofre hoje em dia, de todos os modos pelos quais se possa sofrer. As inteligências são varridas pelo vendaval da impiedade e do ceticismo; ideias nebulosas, confusas, audaciosas esgueiram-se em todos os ambientes e arrastam consigo não só os maus e os tíbios, mas até aqueles de quem se esperaria maior constância na Fé.

Sofrem as vontades obstinadamente apegadas ao cumprimento do dever, com todas as contrariedades que lhes vêm de sua fidelidade à Lei de Cristo. Sofrem os que transgridem essa Lei, pois longe de Cristo todo prazer não é senão amargura, e toda alegria uma mentira. Sofrem os corações dilacerados pelos horrores das guerras que se alastram, das famílias que se dissolvem, das lutas que armam por toda parte irmãos contra irmãos. Sofrem os corpos dizimados pela metralhadora, depauperados pelo trabalho, minados pela moléstia, acabrunhados pelas necessidades de toda ordem.

Pode-se dizer que o mundo contemporâneo enche os ares de um grande e clamoroso gemido. Porém, quanto mais sombrias se tornarem as circunstâncias e mais lancinantes as dores, tanto mais devemos pedir a Nossa Senhora que ponha termo a tanto sofrimento, não só para fazer cessar nossa dor, mas para maior proveito de nossas almas.

Diz a Teologia que a oração de Maria antecipou o momento em que o mundo deveria ser redimido pelo Messias. Nesta quadra histórica, cheios de angústias, volvamos confiantes nossos olhos à Mãe de Misericórdia, pedindo-Lhe que apresse a chegada do grande momento em que um novo Pentecostes abra clarões de luz e de esperanças nestas trevas, e restaure por toda parte o Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Para a glória de Deus, desejemos grandes e muitas coisas. Peçamos a Nossa Senhora muito e sempre. O que Lhe devemos implorar, sobretudo, é aquilo que a Sagrada Liturgia suplica a Deus: “Emitte Spiritum tuum et creabuntur, et renovabis faciem terræ”. Devemos pedir, pelo intermédio de Maria Santíssima, que Deus nos envie em abundância o Espírito Santo, para que as coisas sejam novamente criadas, e purificada, por uma renovação, a face da Terra.

Confiemos à Santíssima Virgem este anelo, no qual vai todo o nosso coração. As mãos de Maria serão para nossa prece um par de asas puríssimas por meio das quais chegará certamente ao trono de Deus.

Neste mês de Maria, façamos nossas estas súplicas, referentes às necessidades da Santa Mãe Igreja: Para que vos digneis humilhar os inimigos da Santa Igreja, nós vos rogamos, ouvi-nos, Senhor! Para que vos digneis exaltar a Santa Igreja, nós vos rogamos, ouvi-nos, Senhor!*

 

Plinio Corrêa de Oliveira, artigo

* Cfr. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Mês de Maria. Em O Legionário, n. 563, 23/5/1943.

Considerações sobre o Segredo de Maria

Analisando a frase de Dona Lucilia “viver é estar juntos, olhar-se e querer-se bem”, Dr. Plinio fala sobre o Céu, a vida nesta Terra e a respeito do mistério de Nossa Senhora. Tais reflexões ficam como semente em nossas almas, a qual a graça no momento oportuno fará frutificar. Esses temas, suscitados a propósito de Nosso Senhor Jesus Cristo, são montanhas da cordilheira que é o Segredo de Maria

 

Pensando a respeito do Segredo de Maria, do qual fala São Luís Grignion de Montfort, veio-me a seguinte consideração:

A mais alta atividade do homem na Terra

Nossa Senhora é tão grande que poderia ser comparada a um monte o qual se perde nas névoas e cujo cume reaparece, de repente, por cima das nuvens. Tudo n’Ela é segredo, porque é completamente desproporcionada em relação a nós. Ela é incomparável!

Entretanto, a meu ver, o conjunto desses segredos desfecha num outro que é uma espécie de píncaro dos píncaros dos segredos. E se fôssemos elaborando um catálogo a respeito deles, conseguiríamos, talvez, fazer a ideia geral do que é esse Monte incomparável.

Quando minha mãe disse “viver é estar juntos, olhar-se e querer-se bem”, tive uma espécie de choque e pensei: “Como ela, que é uma pessoa de inteligência comum, com a cultura própria às senhoras do tempo dela, portanto em nada uma universitária, sai com isso que revela uma profundidade em que eu não tinha cogitado?” Várias vezes pensei nisto: “No fundo, a sociedade de almas é feita de ‘estar juntos, olhar-se e querer-se bem’”.

Fazer isso noite e dia supõe, em contrapartida, também rejeitar quem deve ser rejeitado, não querer bem os lados que não se deve querer bem, e não olhar. Agir assim é fazer um uso adequado dessa atribuição, dessa atividade.

De fato, isso é a essência da vida dos homens na Terra, o mais alto meio que se tem para chegar a Nosso Senhor, porque na visão beatífica é isso que vai haver. Quando Ele diz: “Eu serei a vossa recompensa demasiadamente grande” (cf. Gn 15, 1), a ideia que se tem é de que isso se realizará estando junto a Ele, olhando-nos e nos querendo bem, reciprocamente. O Céu é isso.

Logo, a mais alta atividade do homem na Terra é “estar junto, olhar e querer bem” àqueles em relação aos quais, por vontade divina, ele deveria fazer. Por isso, nós também somos responsáveis por termos recusado aqueles que não deveríamos recusar, ou aceito quem não deveríamos aceitar, ou ainda por não termos dado a cada um daqueles que, segundo o desígnio da Providência, deveríamos encontrar no nosso caminho, aquilo de “estar junto, de olhar-se e querer-se bem” próprio a cada um, nos planos de Deus. Se todos fizessem isso, teríamos outra ideia da vida humana que habitualmente as pessoas não possuem.

Isso supõe uma finura de percepção psicológica que não é apenas uma penetração como se concebe no discernimento dos espíritos, mas também um estado de alma pelo qual se entra em consonância com os outros, sentindo-se mutuamente. Esse é um elemento fundamental, de maneira que uma atitude de piedade tomada pelo outro repercute em nós, como também um movimento piedoso que tenhamos repercute nele. Por outro lado, os defeitos repercutem também mutuamente à maneira de um golpe, de uma tristeza e, conforme o caso, de uma recusa. Esta perfeita entrosagem faz propriamente a essência da vida.

Trinta anos de convívio na casa de Nazaré

Nosso Senhor Jesus Cristo, ao elevar a sua arqui-criatura, Maria Santíssima, pelo “estar juntos, olhar-se e querer-se bem”, ao arqui-píncaro ao qual Ela era arqui-chamada, levanta atrás d’Ela todo o gênero humano e coloca entre os homens a possibilidade dessa sociedade de almas numa clave que não havia antes, da qual até os pagãos, sem o saberem, de algum modo foram beneficiados, mesmo sem terem conhecimento da existência d’Ele e d’Ela.

Nisto está uma explicação dos trinta anos de convívio na casa de Nazaré precisamente porque, se Nossa Senhora não realizasse toda a santidade a que foi chamada, o plano de Deus para o mundo inteiro não se realizaria, segundo os desígnios d’Ele.

Para termos uma ideia disso, imaginemos um homem a quem Deus conferisse o poder de fazer nascer o Sol. E que então poderia escolher, a cada dia, onde e como despontar o Astro-Rei para determinar sobre a face da Terra a mais bela aurora possível. Isso seria a vida desse homem. Ora, Nosso Senhor fez isso com sua Mãe Santíssima. Ela é o Sol que Ele fez nascer. Então, pode-se imaginar a consolação, o gáudio d’Ele atuando todos os dias e o dia todo sobre Nossa Senhora, e Ela dando continuamente a mais perfeita correspondência possível à ação de seu Divino Filho que, com encanto indizível, contemplava a ascensão d’Ela de arrebol em arrebol. Acrescentemos a isso a consideração de que Ela era o Paraíso de Deus, e compreenderemos bem o que foram esses trinta anos de convívio.

Entretanto com uma circunstância: nasce um segredo. No início de sua Paixão o Divino Redentor teve aquele desfalecimento em que Ele foi ajudado por um Anjo. É, no fundo, uma coisa incompreensível que um Anjo O tenha auxiliado, mas Ele quis isto. Será que, na previsão da Paixão, Nosso Senhor não quis ser amparado por Nossa Senhora, de maneira a Se ajudarem mutuamente?

Não podemos imaginar que, estando sujeitos à condição terrena e tendo o Verbo Se encarnado para sofrer a Paixão redentora, Eles passassem trinta anos de mero gáudio, sem que conversassem sobre a Cruz. É claro que a Santíssima Virgem deve ter perguntado ao Homem-Deus a respeito da Redenção, a fundo; tanto mais que era Ela mesma a Co-Redentora do gênero humano.

Por isso, parece-me inconcebível que não tenham tratado sobre a Paixão e Morte de Jesus e, portanto, que não tenham sofrido com isso, sendo esse sofrimento d’Eles interpenetrado por uma união de almas intimíssima. Vou dizer mais: tenho a impressão de que essa união atingiu o seu ápice a propósito da Cruz. Porque quando duas pessoas sofrem juntas, rumo ao mesmo ideal, elas se unem de um modo que nada mais faz unir tanto assim.

Então, o que terão conversado sobre tudo isso? O que Ele terá instruído a Ela? Que perguntas Ela terá feito a Ele?

Barreira entre Nosso Senhor e sua Santíssima Mãe

Toda a vida causou-me uma impressão profundíssima o encontro de Nosso Senhor com Nossa Senhora na “Via Crucis”, que foi o prelúdio da última ajuda, a qual se daria no cimo do Calvário onde, estando Ele no alto da Cruz, ampararam-Se mutuamente.

Por fim, a última despedida, quando a Mãe Dolorosa ouviu o brado: “Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonastes?” (Mt 27, 46).

Esse brado parece-me conter uma constatação terrível: é que, com isso, Nosso Senhor dizia que a própria presença de Nossa Senhora tinha se tornado insensível para Ele. Quem sabe se também d’Ela teria sido pedido esse sacrifício, de maneira que Ele tenha Se tornado insensível para Ela naquele momento! É possível.

Como o martírio d’Ele era mais interior do que físico, também o pior abandono deveria ser interior. Se Ele estivesse inundado de consolação, não teria bradado “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” Ora, Jesus tinha ali a sua Mãe a qual valia incomparavelmente mais do que toda aquela canalhada que estava lá. Nem se pode comparar, pois a simples comparação já é uma blasfêmia.

Consideremos que a dor de Nosso Senhor por aquilo tudo que estava se passando era tal que Ele Se sentia abandonado pelo Pai Celeste, quando foi o próprio Pai Celeste Quem mandou Nossa Senhora para ajudá-Lo. Fazendo uma comparação entre a taça com o líquido que Ele bebeu no Horto das Oliveiras e a presença de Nossa Senhora, essa taça não seria prenunciativa da presença d’Ela junto à Cruz? Não foi exatamente Maria Santíssima Quem deu forças a Ele? Entretanto em certo momento Nosso Senhor não sentia mais essa sustentação.

Podemos ter uma ideia de qual foi a dor d’Ela nesse momento se transpormos essa situação para termos meramente humanos. Um homem está morrendo de uma doença tragicamente dolorosa num hospital, e a sua mãe o assiste com todos os mil desvelos possíveis e imagináveis. Em certo momento ele lhe diz: “Mamãe eu vou lhe fazer uma confidência: de momento, não sinto afeto nenhum pela senhora; e tanto a senhora podia estar aqui como na Cochinchina, pois tal é a dor na qual estou absorvido e precipitado que a sua presença não me adianta de nada: Estou perdido no “mare magnum” dos tormentos.”

A hora em que desceu essa barreira entre Nosso Senhor e sua Santíssima Mãe, e aquele “estar juntos, olhar-se, querer-se bem” se rompeu ainda que fosse na aparência, o tormento que isso devia representar para Ela é inimaginável. Entretanto, a Virgem Maria teve que passar por isso.

Montanhas da cordilheira que é o Segredo de Maria

Ao que parece, os Apóstolos levaram muito tempo para procurar Nossa Senhora, porque ao pé da Cruz só estava São João. Mas para se aproximar d’Ela, depois de tudo quanto tinham feito, qual não seria o mal-estar, a vergonha…

Creio que eles se sentiram meio traidores, no sentido de não terem sido fiéis no cumprimento da missão deles. Quiçá alguns deles, senão todos, puseram-se a andar pelas ruas de Jerusalém meio desatinadamente, e quando se viam não tinham sequer coragem de se olhar e passavam um longe do outro.

De repente, um deles passa perto de um homem e de uma mulher, e esta se gaba de ter dado uma bofetada em Jesus. E o homem diz: “Isso não é nada, eu O joguei no chão…”

Um Apóstolo que visse isso sairia de Jerusalém pelo campo afora correndo, sem saber para onde ir. Imaginem um outro que estivesse no terraço de uma casa e o vento trouxesse para ele o eco da voz de Nosso Senhor bradando de dor em algum lugar…

Se um Anjo nos fizesse ouvir um brado, um gemido d’Ele, púnhamo-nos de joelhos e ficávamos rezando indefinidamente… Imagine, então, quem tinha ouvido aquela voz durante três anos, admirando todas suas inflexões, e compreendia toda aquela dor… Eu não teria a menor surpresa se algum deles tivesse morrido de dor, só por pensar: “Por que fizemos isso? Mas meu Deus do Céu, como era possível!?”

Daria vontade de se ajoelhar, oscular o chão e dizer: “Eu não ouso pedir que a minha voz asquerosa chegue até Vós, Senhor, mas vou procurar a vossa Mãe. Não tenho outra saída, eu vou procurá-La.”

Por fim, fazendo uma análise desta conferência, podemos afirmar que o tema relativo a Nossa Senhora foi sondado por nós e transportado para as analogias com a vida nesta Terra, com a nossa vocação e os nossos deveres.  Ademais, foi feito um aprofundamento do mistério d’Ela e, em função disso, também do mistério existente no nosso relacionamento. Porque sou propenso a afirmar que há qualquer coisa de nossa vocação iluminada por um discernimento, sem o qual tudo nela se torna misterioso, e nós não compreendemos.

Então, do que adiantam essas considerações? Eu tenho a impressão de que isso fica como semente em nossas almas, e que a graça no seu momento oportuno fará frutificar, render. São temas suscitados a propósito de Nosso Senhor Jesus Cristo os quais, por si, já são montanhas da cordilheira que é o Segredo de Maria.

Afinal de contas, em presença do que a Fé nos ensina sobre Nosso Senhor, Nossa Senhora, a Igreja, nós estivemos juntos, nos olhamos e nos quisemos bem.          v

 

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 6/9/1986)
Revista Dr Plinio 265
Abril de 2020

Nossa Senhora e a Ressurreição

Nossa Senhora nos ensina a perseverança na fé, no senso católico e na virtude do apostolado destemido — “Fides intrepida” — mesmo quando parece tudo perdido. A Ressurreição virá logo. Felizes dos que souberem perseverar como Ela e com Ela. Deles serão as alegrias, em certa medida as glórias do dia da Ressurreição.

Plinio Corrêa de Oliveira (Da Via-Sacra escrita para o “Legionário”, abril de 1941)

Na Anunciação, grandeza e humildade de Maria

Como já o temos afirmado, engana-se quem pensa que os temas preferidos de Dr. Plinio eram de natureza social e política. Seriam, então, os históricos e os culturais? Ou os puramente filosóficos? Nenhum desses. Conquanto seja verdade que navegava por todos eles com desembaraço, discernimento e sabedoria — disto é prova o rico leque de  matérias publicadas nesta revista — os temas com os quais especialmente se regalava eram de índole teológica: a infinitude das perfeições de Deus, as relações entre as três  Pessoas divinas, o Sagrado Coração de Jesus, a santidade da Igreja Católica, etc.

Em conferências que mais pareciam meditações em voz alta, tinha ele predileção em discorrer sobre a Mãe de Deus. Agradava-lhe imaginar, por exemplo, como teriam sido as trocas de olhares entre Jesus e Maria, na gruta de Belém, na casa de Nazaré, no Calvário, no primeiro encontro após a Ressurreição. Ou conjecturar sobre as cogitações que povoavam a alma de Nossa Senhora nas várias circunstâncias de sua vida.

E quais terão sido os pensamentos d’Ela na Anunciação? Sobre este tema, oferecemos nestas páginas ao leitor algumas considerações feitas por Dr. Plinio:

A Anunciação é a festa em que celebramos este fato culminante da história do mundo: Deus, através do Arcanjo São Gabriel, comunica a Nossa Senhora que a Segunda  Pessoa da Santíssima Trindade haveria de assumir nossa natureza, a fim de resgatar o gênero humano.

As circunstâncias em que se realizaram esses eternos desígnios do Altíssimo não poderiam ser mais singelas nem mais maravilhosas.

Em sua modesta casa de Nazaré, uma Virgem, há pouco desposada com um varão igualmente virgem, encontrava-se imersa em subidas contemplações. De modo muito piedoso e razoável, supõe-se que Maria, com base no Antigo Testamento, procurava meditar e imaginar como seria o Messias, de cuja mãe desejava ser a mais dedicada das  servas.

Pode-se conjecturar que, ao completar Ela no seu espírito a composição da figura do Salvador, apareceu-Lhe o Anjo dirigindo-Lhe as célebres palavras: “Ave, ó cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és Tu entre as mulheres”.

E Maria se perturbou, perguntando-se o que significava aquela saudação. Um Anjo tão eminente, tão extraordinário, aparecer a Ela, tão pequena! (a seus próprios olhos), e   chamá-La “cheia de graça”? Ela estava, então, repleta dos dons divinos? “Bendita sois Vós entre as mulheres”, quer dizer que, em meio a todas as filhas de Deus que houve, há e haverá até o fim dos tempos, Ela seria a bendita por excelência? Existiam tantas mulheres santas no Antigo Testamento, e quantas outras ainda viriam pela história afora, e justamente Ela era a escolhida? Na sua humildade, Maria ficou perplexa: “Como é isto? É um Anjo que está falando, mas não compreendo como suas palavras se podem aplicar a mim”.

O celeste mensageiro, por sua vez, responde de forma curiosa, pois assim começa: “Não temas, Maria”. O que indica que Ela manifestara um certo temor. Mas, concebida sem  pecado original, sem ter sombra da menor imperfeição, como poderia Nossa Senhora ter medo de São Gabriel e do que este Lhe dizia?

Na verdade, na presença de um Anjo, e sobretudo na de um Arcanjo, a criatura humana está colocada diante de um ser de tal densidade que este lhe causa não pequeno susto. Anjos houve que, aparecendo a homens, foram por estes tomados como o próprio Deus. E Nossa Senhora, na sua sensibilidade imaculada e perfeita, sentiu essa presença angélica de forma impressionante.

Além disso, recebendo aquela saudação inusitada, prenúncio dos altíssimos planos do Senhor para com Ela, pode-se bem conceber que em sua humildade tenha temido não   dar cabo da extraordinária missão que Lhe seria confiada.

Perplexidade e receio que só aumentaram, quando São Gabriel, a princípio tranquilizando-A, prosseguiu no seu anúncio: “Não temas, Maria, porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás em teu seio, e darás à luz um Filho…”, etc.

Ela havia feito voto de virgindade perpétua e, segundo a tradição católica, entendera- se com São José para que ambos permanecessem fiéis aos seus propósitos de castidade  perfeita até o fim da vida. Entretanto, chega-Lhe agora da parte de Deus um aviso que contraria de frente seus mais entranhados anseios. Nova indagação: “Como se fará  isso?”

O Anjo Lhe explica ser a vontade de Deus que d’Ela nasça o Messias, concebido pela ação do próprio Espírito Santo no seu claustro imaculado. Tudo se esclarece. A serenidade e a paz reinam no coração da Santíssima Virgem, que pronuncia então esta frase admirável: “Ecce ancilla Domini; fiat mihi secundum verbum tuum” — “Eis a Escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a vossa palavra!”

Quer dizer, esse anúncio era uma palavra vinda de Deus, da qual Ela não podia duvidar. Assim sendo, estava inteiramente à disposição. E desse diálogo, cuja beleza e simplicidade nos deixam abismados, resultou a Encarnação do Verbo!

Mãe de Deus, Esposa do Espírito Santo

Com efeito, a maior parte dos intérpretes afirma que, às palavras “Eis aqui a Escrava do Senhor…”, nesse preciso momento, pela ação do Espírito Santo, Jesus foi concebido no seio puríssimo de Maria.

Quem pode imaginar a fisionomia esplendorosa d’Ela, nessa hora em que a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade se tornou seu Esposo, e Ela engendrou o Menino Jesus?!

A adoração que teve pelo Divino Filho, logo no primeiro instante em que, de seu sangue e carne virginais, Ele começou a ser formado? Maravilha tanto mais inimaginável  quanto Jesus, Homem-Deus perfeitíssimo, assim que passou a viver encarnado em Maria, conheceu-A e amou com uma insondável dileção. E os dois começaram a se querer num mútuo amor que durará por toda a eternidade.

Oh assombroso convívio de almas! Por outro lado, devemos considerar o relacionamento d’Ela com o Espírito Santo, seu Divino Esposo. Em geral, no ato dos desponsórios,  costuma o marido oferecer à sua consorte um presente tão rico e magnífico quanto esteja ao alcance de suas posses. Pensemos então no valor das prendas com que o Todo-Poderoso terá adornado a alma de sua fidelíssima Esposa! Que acúmulo de graças e de esplendores! Mais ainda. A partir do Mistério da Encarnação, Nossa Senhora passou a receber d’Ele orientações, diretrizes, atos de amor e consolações de uma sublimidade indizível, que tinham nexo com as relações entre Ela e Deus Pai, entre Ela e seu  adorável Filho. Assim se estabeleceu um convívio altíssimo, em que Maria era, a um título único e muito especial, a Filha do Pai Eterno, a Mãe do Verbo Encarnado e a    Esposa do Divino Espírito Santo.

Virgindade, humildade e grandeza

Analisado esse comércio de almas entre Nossa Senhora e a Santíssima Trindade, voltemos nossos olhos para as virtudes e predicados marianos que transparecem de modo  singular na Anunciação.

Em primeiro lugar, a pureza. Ela é a Virgem das virgens, e o foi antes, durante e depois do parto, não perdendo sua integridade um só instante. E todo o procedimento d’Ela  durante o fato da Encarnação revelou-se perfeitamente virginal.

De outro lado, consideremos a humildade de Nossa Senhora; como Ela se fez pequena em toda a medida, ao se ver abençoada pelo Altíssimo de uma forma tão extraordinária. Era Ela quem Deus havia destinado, desde todo o sempre, para ser sua Mãe, porque A julgou digna de semelhante missão. Ele preparou a alma e o corpo  d’Ela, para que em tudo fosse inteiramente proporcionada — tanto quanto o pode ser uma criatura humana — à honra da maternidade divina. Porém, Ela que era digna por  excelência, não fazia de si uma alta ideia, nem se deixava levar por conceitos enfatuados de sua própria pessoa. Não! Pelo contrário, ficou perturbada, pois julgava aqueles elogios feitos pelo Anjo inteiramente descabidos para Ela. Mas, bastou que São Gabriel Lhe convencesse de que tal anúncio vinha de Deus, para Nossa Senhora se submeter.

Assim, da humildade e da pureza conjugadas em Maria Santíssima, resultou sua aceitação dos desígnios do Pai Eterno a respeito de seu Divino Filho.

Terceiro predicado a se ressaltar: no momento em que concebeu o Verbo Encarnado, Ela inteira foi elevada a uma condição superior a todos os Anjos e a todos os Santos  reunidos. Ou seja, se somássemos toda a santidade que houve, há e haverá em todos os Anjos e Santos, desde o começo até o fim do mundo, e comparássemos esse resultado  com a perfeição de Nossa Senhora, Ela se mostraria incomparavelmente mais santa do que toda essa montanha de virtude que Deus foi suscitando na Igreja ao longo dos  séculos!

O que significa não podermos ter noção de qual foi e é a grandeza espiritual da Santíssima Virgem. Se Moisés, ao suplicar a Deus a graça de poder vê-Lo, ouviu esta resposta:  “Tu não me podes ver, porque, se me vires, morrerás”, somos levados a cogitar no que nos aconteceria, se nos fosse dada a suprema felicidade de contemplar nesta vida a face  de Nossa Senhora, com todo o seu esplendor e formosura. Quem sabe, não morrer íamos também…

Na Paixão de Jesus, outro “fiat mihi” Agora, a esse momento de submissão e grandeza de Maria, no início da existência terrena de Jesus, corresponde outro ato de suma  humildade d’Ela — não menos grandioso — quando seu Divino Filho estava prestes a expirar na Cruz. Ele viera ao mundo a fim de resgatar as criaturas humanas do pecado, obter- lhes o perdão do Pai, e abrir novamente as portas do Céu. Essa augusta missão do Filho de Deus estava presente no fundo de quadro das meditações de Nossa  Senhora, e Ela provavelmente compreendeu que a Anunciação do Anjo comportava tudo isto: as promessas, o futuro, a glória, mas também o preço da glória: a dor!

Assim, chegado o tempo da Paixão, Deus quis o consentimento da Santíssima Virgem para que o Filho d’Ela fosse imolado, e Ela mesma O oferecesse como vítima expiatória por nossas culpas. Se outros fossem os desejos de Nossa Senhora, Jesus não sofreria a morte, Deus o libertaria das mãos de seus inimigos, e sua vida teria um rumo diverso.

Contudo, a humanidade não seria resgatada. Por isso Nossa Senhora consentiu no holocausto do Divino Redentor. Ela O contemplava estertorando na Cruz, Ela o ouvia exalar esse brado lancinante: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”, e aceitava que tudo isso acontecesse, para o gênero humano ser redimido e as almas poderem entrar na bem-aventurança eterna.

Como era desígnio de Deus que Ela quisesse, Ela quis! E foi este o seu outro “ecce ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum”, de extrema e verdadeira beleza.

Imitemos Nossa Senhora da Anunciação

Para encerrar, recolhamos um fruto concreto dessas reflexões. Encarnando-se no seio de Maria Santíssima, no momento da Anunciação, Jesus se deu a Ela com um tal amanhecer de alma, com um espírito tão cheio de louçania, que não se tem palavras para descrever a felicidade que nesse dia inundou a pessoa de Nossa Senhora.

As promessas eram superlativas! Nada menos que o resgate do gênero humano. Entretanto, o próprio fato da Redenção, com os sacrifícios indizíveis que comportaria para  Mãe e Filho, indica bem como caminham as promessas de Deus: passam pelas esperanças mais alegres e pelos desmentidos aparentes mais terríveis. E a alma tem de ir se  habituando às promessas, às alegrias e aos pretensos desmentidos, como o fez Nossa Senhora. Ela disse “sim” a tudo, e dessa inteira submissão Lhe adveio toda a sua gloriosa  dignidade.

Pois a verdadeira glória consiste, antes de qualquer coisa, em aceitar e fazer sempre a vontade de Deus.

Eis a conseqüência que para nós devemos tirar: nos momentos de alegria e, sobretudo, nos de dor e provação, saibamos imitar Nossa Senhora, dizendo “sim” aos desígnios de  Deus a nosso respeito.

À maneira de uma gota de orvalho em que se reflete o sol, saibamos espelhar em nós as virtudes de Nossa Senhora da Anunciação, isto é, sejamos humildes, pequenos, mas  fortes, puros e confiantes. Que do entusiasmo de nossa pureza, de nossa força e de nossa confiança partam contínuos atos de amor e glorificação a Nosso Senhor Jesus Cristo, a Maria e à Santa Igreja Católica Apostólica Romana!

 

Plinio Corrêa de Oliveira