Sagrado Coração de Jesus

Em todas as imagens do Sagrado Coração de Jesus podemos perceber uma nota de suave tristeza, pois em meio à harmonia e formosura da alma d’Ele estavam presentes a cruz e o sofrimento.

Homem-Deus, Nosso Senhor possuía em grau insondável, todos os títulos para ser amado e venerado, aos quais acrescentou as maravilhas de seus milagres e doutrinas.

Jesus realizou o inimaginável, e por certo despertou imensa admiração. Porém, seus admiradores se cansaram d’Ele. Essa rejeição, por ser imerecida e constituir um grande pecado, causava profunda dor à sua humanidade santíssima. No fundo do seu Coração Sagrado havia, pois, habitualmente uma nota de pesar, devido a essa  incorrespondência em relação a quem se dava com tanto amor.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

A maior das glórias

Muito se disse da glória da carreira militar, a qual não advém do número de vítimas que o guerreiro faz, e sim dos riscos que ele corre, emoldurados pelo seu esforço pessoal de combatente. Ele não recuou diante do perigo e da iminência da morte, enfrentou todos os obstáculos na sua ofensiva, deitou toda a energia dos seus músculos e todo o vigor da sua alma naquela refrega.

Em geral as nações — é fato comprovado pela História — têm seu período de glória militar e a fase em que tal esplendor se eclipsa, o entusiasmo pelo heroísmo cede lugar ao desejo de acomodação, de se sentir dentro de casa, protegida, sem os sobressaltos de um conflito.

Surge, então, o papel da glória literária. Esta consiste em levantar na alma do povo o apreço pelo maravilhoso por meio da palavra, da argumentação, da letra de um hino, capazes de suscitar nos corações os sentimentos que fazem do homem um herói. A literatura desse porte alcança despertar numa população inteira que vai se tornando lerda, egoísta e moleirona, o brio da coragem e, com este, a força de se reerguer à altura de seu luminoso passado.

Tal é a glória literária, cuja beleza está no ela poder servir o heroísmo, ressuscitando-o. Exemplo característico, os Lusíadas, de Camões. É um poema que exalta a glória dos navegadores portugueses que venceram todos os mares, tocaram nas Américas, na Índia, no Japão…

Esplendor militar, grandezas da literatura, excelências dignas de admiração. Porém, pode-se considerar ainda mais admirável e mais bela a glória religiosa. Compreende-se, pois esta é a glória daquele que deseja conquistar para Deus uma imensa vitória na Terra, isto é, evangelizar o maior número possível de almas a fim de que Deus seja Senhor e Rei delas no Céu por toda a eternidade. O religioso almeja dar ao Criador algo que Ele ama superlativamente, com amor infinitamente superior àquele que qualquer conquistador tenha por seu próprio triunfo.

Se um missionário conseguisse salvar a alma de um só dos seus semelhantes, ofereceria mais a Deus do que se a Ele fosse dado a terra, a lua e todo o nosso sistema planetário. Pois a Igreja nos ensina que tudo quanto Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu na sua Paixão e Morte preciosíssimas, foi em ordem à redenção de todo o gênero humano, mas o Salvador padeceria os mesmos tormentos por qualquer homem individualmente considerado. Quer dizer, se Deus tivesse criado um só homem e este tivesse pecado, Jesus estaria decidido a sofrer tudo o que sofreu para resgatar essa alma.

Imagine-se, então, a grandiosidade da missão de uma pessoa que consegue para Deus a adesão de um país inteiro, o qual permanecerá católico até o fim dos tempos! Quantas almas irão para o céu porque tal pessoa obteve esse prêmio para Deus!

Camões, Vasco da Gama, guerreiros, literatos e conquistadores ilustres: todos expressões de extrema beleza, mas pouco adiantariam se não houvesse homens especialmente voltados para converter as almas e encaminhá-las nas vias da Civilização Cristã, com suas catedrais, ­suas universidades, toda a sua cultura, obras muito mais filhas de missionários e religiosos do que daqueles expoentes da literatura e da glória militar.

Pensemos, entre outros, nos monges beneditinos, insignes evangelizadores da Europa medieval, os quais, sob o impulso irresistível de seu Fundador, se espalharam pelo Velho Continente fundando mosteiros e abadias, promovendo a edificação de imponentes catedrais, a instituição de renomados estabelecimentos de ensino, a construção de monumentos que encantam o mundo até os presentes dias. Mais. Eles desejavam fugir das cidades para se recolherem em locais ermos, e as cidades corriam atrás deles: fundavam conventos, e as populações católicas cresciam em torno dos muros sagrados.

Não será esta glória superior à militar? À literária?

É a primeira das glórias. Porque visa mais diretamente a glória de Deus. Porque conquista algo que vale incomensuravelmente mais do que terras, cidades e tesouros. Conquista almas.

Plinio Corrêa de Oliveira

Revista Dr Plinio 99 (junho de 2006)

Corações semelhantíssimos

Com grande sabedoria a Igreja instituiu a Festa do Imaculado Coração de Maria no dia seguinte à do Sagrado Coração de Jesus, celebrada este ano na primeira sexta-feira de junho. Assim, a liturgia une no louvor da Terra e do Céu os dois corações que foram sempre inseparáveis, denominados de “semelhantíssimos” (Ladainha do Coração de Maria), pulsando por amor aos homens, e que desde a Assunção de Nossa Senhora se encontram juntos no Céu, em seus corpos gloriosos.

Ao longo de sua vida, Dr. Plinio professou uma ardorosa devoção aos dois Corações. Em sua própria residência venerava as imagens do Sagrado Coração de Jesus que eram de Dona Lucilia, assim como uma estampa do Imaculado Coração de Maria — reproduzida em nossa capa — que o acompanhou desde os primórdios de sua lide profissional, abençoando seus trabalhos e apostolado no escritório de advocacia: “Imagem especialmente piedosa, comentava ele, exprimindo de modo tocante o insondável afeto de Mãe, a bondade, a misericórdia, a pureza e todas as excelsas virtudes que Nossa Senhora possui num grau inconcebível por nós. O quadro A representa no seu resplendor, segurando o coração com a mão, como se este houvesse rompido o peito para se mostrar aparente aos homens e oferecido pela Santíssima Virgem: ‘Ele é vosso; dou, se me pedirdes’. Portanto, é um convite à prece, à súplica ao Imaculado Coração d’Ela, feito por Ela mesma: ‘Sede devotos do meu Imaculado Coração e recebereis graças incontáveis’.”

Esse amor que tributava aos Sagrados Corações de Jesus e Maria e a confiança plena que neles depositava, fonte de sua invariável e inabalável serenidade, Dr. Plinio procurou alimentá-los igualmente na alma de seus discípulos. Perante um Sacrário, rezava sempre três vezes: “Cor Iesu Eucharisticum”, para venerar o Sagrado Coração na Eucaristia. Ao Coração da Mãe de Deus, costumava louvar com um tríplice “Dulcis Cor Mariae”. E a essa união dos dois Corações assim se referia:

“Se considerarmos o Coração de Jesus formado no seio virginal de Nossa Senhora, com a matéria-prima que a mãe fornece para a constituição do corpo do filho, temos que a carne e o sangue preciosíssimos do Redentor, ligados à divindade em união hipostática, são a própria carne e o próprio sangue de Maria. Portanto, o Coração de Jesus é, de algum modo, o Coração de Maria.

“Se evocamos esse processo de geração tão admirável pelo qual a Mãe como que se desdobrou e deu de si mesma tudo para compor o corpo do Filho, se nos lembramos que a humanidade do Verbo Encarnado foi assim engendrada no claustro da Santíssima Virgem, num incêndio de amor e adoração a esse Filho Divino, entenderemos ainda mais como o Coração de Nosso Senhor está unido ao Coração Imaculado de Maria. E como, em conseqüência, podemos nutrir uma confiança sem reservas na eficácia da intercessão de Nossa Senhora junto a Jesus, pois Este nada recusará a essa Mãe perfeitíssima que O cumula de superlativo e total contentamento, cuja carne sabe ser a própria carne d’Ele, e cujo Coração — por assim dizer — é o seu próprio Coração.

“A meu ver, não existe devoção mais significativa para nós do que esta aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, fonte de inesgotáveis favores, dons e misericórdias celestiais.”

 

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 87 (Junho de 2005)

Santo Eliseu

Na celeste sinfonia entoada pelos santos da Ordem do Carmo, sobressai a voz de Santo Eliseu, Profeta, discípulo e sucessor de Santo Elias. É a voz da fidelidade, da continuidade, da incondicionalidade; é a voz da união completa com aquele que Deus lhe concedeu por guia, senhor e mestre, e do qual herdou, como seu mais precioso legado, uma fervorosa devoção à futura Mãe do Verbo Encarnado, Maria Santíssima.

Santa Edeltrude Vigor e beleza da alma medieval

Como nos mostra Dr. Plinio, a rainha Santa Edeltrude e suas irmãs — também canonizadas — são luminoso exemplo do que foi outrora a “Ilha dos Santos” (o atual Reino Unido), no alvorecer de uma era onde a virtude heróica se fazia freqüente até nos mais altos degraus da sociedade, a partir dos quais se estendia às outras camadas sociais, dando forma àquele conjunto chamado de Cristandade.

 

No dia 23 de junho a Igreja lembra Santa Edeltrude, Rainha e virgem do século VII. Filha de um monarca do Leste Inglês — um dos sete reinos que constituíam a Inglaterra de então — teve ela três irmãs santas: Saxburga, Edilburga e Virtburga. Como sói acontecer naquela época povoada de heróis da Fé, a virtude resplandecia no seio das famílias, e muitos parentes possuíam em comum, não apenas o sangue, mas também a santidade. Neste caso, poder-se-ia construir um esplêndido templo católico no qual houvesse quatro belos altares em honra dessas irmãs bem-aventuradas.

Ousadia e fundação de mosteiro

A respeito de Santa Edeltrude, alguns autores nos apresentam os seguintes dados biográficos:

Nasceu provavelmente por volta de 630 e morreu em Ely, a 23 de junho de 679. Quando ainda muito jovem, foi dada em casamento por seu pai, Anna, Rei de East Anglia, a um certo Tonbert, príncipe a ele subordinado. Deste primeiro marido, Edeltrude recebeu como dote algumas terras na localidade conhecida como a Ilha de Ely.

A santa viveu cinco anos com Tonbert em perfeita continência. Após a morte prematura do príncipe, viveu um pe­río­do de paz com sua vocação religiosa. Seu pai, entretanto, quis que ela se casasse novamente e lhe arranjou a união com Egfrido, filho e herdeiro de Oswy, Rei da Nortúmbria.

 De seu segundo esposo, que consta ter então apenas 14 anos de idade, recebeu mais terras, desta feita em Hexham. Por meio de São Wilfrido (634-709), monge beneditino e Bispo de York, cedeu ditas propriedades para a fundação do mosteiro de Santo André. São Wilfrido tornou-se amigo e guia espiritual de Santa Edeltrude, aprovando e lhe incentivando a guarda da virgindade. Porém, foi a ele que Egfrido recorreu, quando sucedeu seu pai, para fazer valer seus direitos maritais contra a vocação religiosa de Edeltrude.

Primeiramente, o bispo conseguiu persuadir Egfrido a deixá-la viver por certo tempo em sossego, como freira no convento de Coldingham, fundado pela tia dela, Santa Ebba. Mas ante o perigo iminente de ser levada à força pelo rei, Edeltrude fugiu em direção ao sul do país, com apenas duas companheiras, buscando suas terras em Ely. Ali, favorecida por milagres e misericordiosas intervenções divinas, num lugar cercado de pântanos, areias movediças e pelas águas do rio Ouse, iniciou a fundação do mosteiro de Ely.

Como o lugar ficava na região onde Edeltrude nascera, seus parentes de sangue real lhe forneceram os meios necessários para a execução de seus planos. São Wilfrido ainda não havia retornado de Roma, onde lograra obter do Papa Bento II privilégios extraordinários para aquela fundação, quando Edeltrude morreu vítima de uma epidemia a qual ela mesma havia predito.

Por muitos séculos, o corpo da santa foi objeto de devota veneração na famosa catedral de Ely, construída precisamente no local do antigo mosteiro fundado por ela. O atual edifício católico é considerado uma magnífica mostra dos vários estilos góticos, acrescentados durante diversas renovações desde o século IX, sendo que a última parte — o famoso octógono — foi adicionada em 1400.

Uma das mãos da santa é atualmente venerada na igreja católica de Santa Edeltrude, na Ely Place, em Londres. Trata-se do mais antigo templo católico da capital britânica, e durante a Idade Média era considerado uma espécie de feudo dos bispos de Ely, herdeiros daquelas terras de Santa Edeltrude.

Na Idade Média, ao lado da rudeza, autêntica virtude

Percebemos aqui um flash(1) da Inglaterra primitiva, bem como da aurora da Idade Média que contém algo de selvagem e, ao mesmo tempo, de extraordinariamente sobrenatural. Este contraste encerra, a meu ver, uma intensa beleza.

Após a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, os povos que surgem têm príncipes e princesas evidentemente com resquícios de barbárie. Quanto ao aspecto, ao porte, ao estilo, não podermos imaginar Santa Edeltrude e suas três irmãs semelhantes às filhas de Luís XV, pintadas por Nattier, sobre um fundo azul claro: Madames Henriette e Adélaïde, frágeis, como se fossem de porcelana, quase evanescentes, vestidas com sedas vaporosas. Devemos figurá-las como damas vigorosas, cujas mãos estavam afeitas a árduos trabalhos domésticos, embora fossem orgânica e autenticamente princesas de grande valor nos países onde surgiam.

Cumpre salientar, aliás, que elas eram por assim dizer os berços de posteriores dinastias, e seus povos, os pontos de partida de futuras civilizações. Como lembrei acima, habitava ali certa grandeza e a semente de uma alta santidade. Haja vista a confluência de muitos bem-aventurados: somente na corte da nossa biografada encontravam-se ao mesmo tempo quatro santas, ademais de um diretor espiritual igualmente santo! Além disso, uma disseminação tal da virtude que foi possível a Santa Edeltrude convencer aos seus dois sucessivos maridos — um príncipe e um rei — de guardarem a continência na vida conjugal.

Admirável perseverança

Juntamente com tais virtudes, não se pode ignorar algumas manifestações de primitivismo. Por exemplo, uma princesa que deixa seu esposo por este querer romper o voto de castidade, refugia-se num convento e o marido não ousa ir atrás dela nem invadir o recinto sagrado, o que, naquele tempo, era julgado um fato explicável. Hoje seria considerado um escândalo, com notícias espalhafatosas nos jornais, etc.

Seja como for, é admirável a perseverança de Santa Edeltrude na prática da castidade perfeita. O abandono da vida da corte, com todas as suas glórias, para adotar o estado religioso, a sabedoria com que ela governou seu mosteiro (num país então pequeno, isso representava algo muito importante para a própria vida da nação), encaminhando as religiosas para o Céu, tudo isso forma um conjunto de traços fisionômicos iluminados pela santidade, e justifica plenamente a devoção que os fiéis possam ter para com ela.

Assim, nada mais aconselhável e rico em benefícios para nossa alma do que nos recomendarmos às orações de Santa Edeltrude, Rainha e virgem, no dia de sua festa.  v

 

1) Sobre o termo flash, cf. Dr. Plinio número 55.

 

 

Sagrado Coração de Jesus

Salve Maria!

 

Junho é o mês escolhido pela Igreja para reparar o Sagrado Coração de Jesus e retribuir o amor que Ele tem por nós.

Isso teve início quando Jesus apareceu a Santa Margarida e mostrou o Seu Sagrado Coração coroado de espinhos, dizendo:

“Eis o coração que tanto amou os homens e foi tão desprezado por eles”

A partir daí, quem abraçou com fervor essa devoção recebeu torrentes de graças. E milagres estupendos aconteceram.

Ainda mais beneficiados foram aqueles que passaram a usar o Escudo do Sagrado Coração, fazendo um ato concreto de reparação às ofensas contra esse amor misericordioso.

Eu sempre tive desejo de que a Campanha lhe pudesse oferecer a possibilidade de praticar essa devoção para que você também pudesse receber essas graças. Hoje, esse dia chegou.

Pelos anos de 1673/1675 Santa Margarida Maria Alacoque teve visões e revelações do Sagrado Coração.

Durante anos, Jesus mostrou a Margarida o amor que tem pelos homens e seu ardente desejo de salvar os pecadores.

Mas lamentou-se também de que esse Coração que tudo fez para salvar os homens, é esquecido e desprezado por eles.

E fez magníficas promessas a quem consolasse o Seu Coração e reparasse as ofensas cometidas contra o seu amor:

  • Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  • Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  • Serei seu refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte.
  • Darei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  • Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdia.
  • Minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Coração.
  • As pessoas que propagarem essa devoção terão seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.

E nós precisamos da graça de Deus! Muitos riscos nos esperam todos os dias: assaltos, seqüestros, acidentes de automóvel, sem contar os perigos morais, não é verdade?

Por essa razão, neste mês de junho, seguindo o conselho de Jesus, vamos rezar uns pelos outros.

Além disso, o Secretariado da Campanha lhe dará um presente especial. Mandaremos celebrar em todos os dias de junho uma missa especial por você e sua família.

Mais ainda, você poderá dar as suas próprias intenções para serem incluídas nessas santas missas.

De minha parte, prometo incluir o seu nome nas intenções das missas que mandarei celebrar durante todo o mês de junho pelos participantes da nossa campanha.

Certo de que o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria derramarão tesouros de graça e misericórdia sobre você e toda a sua família, despeço-me com muita estima.

Em Jesus e Maria

 

 

João Sérgio Guimarães

coordenador de campanhas

 

Acesse este PDF e conheça um pouco da mensagem de Jesus a Santa Margarida Maria e o que é o Detem-te: Clique aqui

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Coração de Maria: Imaculado e Sapiencial

Maria Santíssima é verdadeiramente Mãe de uma bondade incomensurável. Seu desvelo para conosco excede a todo amor conhecido, pois não apenas é generoso, terno, envolvente e até heroico, mas parece ultrapassar todos os limites.

Em Fátima, mesmo quando se referiu às punições reservadas para o mundo impenitente, a Mãe de Deus revestiu suas admoestações de profunda tristeza, demonstrando também, por seu modo de se expressar, uma grande pena dos “pobres pecadores”.

Apesar do anúncio da salutar punição, Nossa Senhora encontra-se pronta a nos obter de seu Divino Filho o perdão.

A condição é que utilizemos os meios por Ela indicados: o aumento na devoção a Ela, a oração e a penitência.

Não há por que estranhar o caráter condicional dessa promessa de perdão, vinda de Mãe tão bondosa e misericordiosa. Pois, uma vez que alguém está ameaçado de castigo por causa de seus pecados, o modo de ser poupado é deixar de cometê-los.

Devoção ao Imaculado Coração de Maria

Para salvar as almas “dos pobres pecadores, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração” – dizia a Santíssima Virgem na aparição de 13 de julho de 1917, ao tratar do cerne de sua mensagem.

Porém, não foi esta a única ocasião em que Nossa Senhora se referiu à importância dessa devoção. Mencionou-a diversas outras vezes nas suas mensagens, e tal insistência não pode deixar de ser seriamente considerada.

Quem se tomar de verdadeiro e sincero amor por essa boa Mãe, puríssima e inigualável, e pôr em prática a devoção ao seu Imaculado Coração, será favorecido por seu contínuo amparo.

Por maiores que tenham sido os pecados cometidos, Nossa Senhora intercederá pelo fiel devoto junto a seu Divino Filho, obtendo-lhe todas as graças de emenda de vida e perseverança no bom caminho.

A devoção ao Imaculado Coração de Maria é, portanto, um dos principais remédios para a ruína contemporânea.

Coração Imaculado, cheio de Sabedoria

O Coração de Maria Santíssima, ou seja, sua alma, é soberanamente elevado, soberanamente grande, soberanamente sério, soberanamente profundo, porque é sapiencial.

Ela é o vaso de eleição no qual pousou o Espírito Santo, para nele gerar a Nosso Senhor Jesus Cristo. E o único hino que conhecemos como proferido por Nossa Senhora em sua vida terrena, é uma verdadeira maravilha de sabedoria: o “Magnificat”.

O “Magnificat”

“Minha alma engrandece o Senhor; e o meu espírito exulta em Deus meu Criador; porque considerou a humildade de sua serva, por isso todas as gerações me chamarão bem-aventurada”. (Lc. I, 47-48)

Quanto é possível a uma mente criada, Nossa Senhora mediu, por sua sabedoria, toda a grandeza de Deus, e nisto se alegrou. De outro lado, considerou sua pequenez, e então disse:

“Eu me alegro em Deus meu Salvador, porque Ele olhou para a baixeza de sua escrava”.

Isto é um poema! É a escrava que se encanta de ser escrava, de ser pequena, de ver como Deus é infinitamente superior a Ela, e do fundo de seu nada glorifica o Senhor. É o pequeno que reconhece, com agrado, a sua posição.

O escravo não tem direitos, e está colocado abaixo da condição comum dos homens. Pois bem, Nossa Senhora se proclama escrava de Nosso Senhor Jesus Cristo, precursora de todos os escravos que Ela iria ter ao longo dos séculos.

E foi sobre a humildade desta criatura escrava que aprouve ao Senhor deitar os olhos, e por isso Ela exulta: porque a grandeza amou a pequenez.

Eis a verdadeira humildade que ama seu lugar inferior, adorando a grandeza que a eleva. Eis Imaculado Coração de Maria, que também é Sapiencial.

 

Conferência de 21/8/1968 de Plinio Corrêa de Oliveira

Imaculado Coração de Maria: lições de santidade

Refletindo a respeito de uma piedosa invocação da Ladainha do Imaculado Coração de Maria, Dr. Plinio não se prende aos esquemas devotos tradicionais, mas tira  conclusões inesperadas a respeito do materialismo que pode nos escravizar…

 

Como em geral acontece com as ladainhas compostas ao longo dos tempos pela piedade católica, as jaculatórias da Ladainha do Imaculado Coração de Maria sugerem, cada uma, desdobramentos e considerações que muito enriquecem nossa vida espiritual e nossa devoção à Santíssima Virgem.

Procuremos analisar, por exemplo, a invocação “Cor Mariae, in quo Jesus sibi bene complacuit”, que em português poderíamos traduzir assim: Coração de Maria, no qual o Coração de Jesus bem se compraz.

Plenitude de satisfação

Devemos começar por observar que este “bem” salienta a ideia do inteiro e perfeito comprazimento de que nos fala a jaculatória. Ou seja, o Coração de Maria possui uma tal excelência que, tanto quanto é possível à natureza criada, nada lhe falta, e por isso nele Nosso Senhor encontra uma satisfação completa, que não conhece névoa, que não tem limites nem máculas. Excetuando o fato de que o contentamento infinito de Jesus é e só pode ser com o próprio Deus, em tudo o mais Ele acha total alegria no coração e na pessoa de sua Mãe Santíssima.

Quer dizer, Nosso Senhor fita a Santíssima Virgem, olha-A, e ao vê-La, ao contemplá-La, ao analisá-La, experimenta o maior dos prazeres, um deleite indizível, que sobrepuja todas as outras delícias que Lhe proporciona a consideração de suas demais criaturas.

Não poderia ser diferente, em se tratando d’Aquela que foi escolhida, desde toda a eternidade, para engendrar em suas entranhas virginais o Filho de Deus; d’Aquela, portanto, em que tudo haveria de ser absolutamente puro e perfeitamente magnífico. Em todos os momentos de sua vida terrena, Ela não deixou de crescer em santidade, de um modo inimaginável. Cada graça que Deus lhe concedeu para se adiantar na virtude era correspondida com tal excelência que todo o progresso feito por Ela é insondável para a mente humana.

Assim, em todos os instantes da existência de Nossa Senhora neste mundo, Jesus teve com Ela um contentamento completo.

Mesmo nas ocasiões mais difíceis como, por exemplo, quando Ela se viu chamada a consentir na morte de seu Divino Filho, e através de uma anuência inteira, heroica, da qual não sobrasse nenhum resíduo, mesmo em situações como essa o procedimento de Maria foi perfeito, no sentido mais exato da palavra. Porque Ela era, enquanto mera criatura, absolutamente exímia. E, como reza a Ladainha, Nosso Senhor encontrou n’Ela a sua complacência.

Uma lição da sabedoria divina

Do fato desse comprazimento podemos tirar uma bela lição que Deus dá aos homens.

Com efeito, criou Ele magnificências materiais extraordinárias. Quantos mistérios haverá por todas as galáxias do universo? E quando nos detemos na análise dos micro-organismos, dos seres pequenos, quantas novidades imensas se descobrem ao nosso maravilhamento! Todo esse fabuloso conjunto, incluindo os homens e os Anjos, constitui para Deus o objeto de uma eterna contemplação.

Ora, tendo Ele tanto a apreciar, todavia coloca acima de tudo, como fonte do supremo gáudio que pode tirar de suas criaturas, a consideração de Nossa Senhora. Ela que, enquanto ser criado, não é o mais alto pois na ordem da natureza o homem vem abaixo do espírito angélico, porém, do ponto de vista graça, virtude e santidade, não só está acima de todos os Anjos, como é deles Rainha. É essa incomparável santidade, portanto, que Deus se compraz em considerar, e em auferir dela uma especial e completa felicidade.

Qual a lição que daí devemos colher?

É um ensinamento que combate o nosso fundamental materialismo. Infelizmente, a grande maioria dos homens está imbuída da ideia de que o verdadeiro prazer nesta vida consiste na posse de bens materiais, de qualquer natureza que seja: dinheiro, saúde e uma série de outras coisas que estão fora das vias da verdadeira felicidade do homem nesta terra.

Com efeito, sem engano podemos dizer que, nesta vida, encontra a felicidade autêntica quem é capaz de seguir o exemplo de Deus e fazer a sua alegria da consideração das outras almas e da virtude que nelas exista. O homem que passa pelo mundo procurando a virtude e a santidade para admirá-las, amá-las e servi-las, onde ele as encontra, aí se detém e põe seu prazer e seu júbilo. De maneira tal que ele tenha mais satisfação em estar numa choupana ou num leprosário conversando com um verdadeiro santo, do que no local mais magnífico em meio a pecadores.

Por quê? Porque o santo representa um particular reflexo, uma transparente manifestação de Deus. A alma de um santo possui uma perfeição que nenhuma beleza criada tem, e, por causa disso, aquele que sabe procurar os verdadeiros valores da vida, vai atrás da santidade, da perfeição moral dos seus semelhantes.

E quando a encontra, ele dá graças a Deus, eleva sua alma a Nossa Senhora e agradece também a Ela, porque é pelo seu maternal auxílio e intercessão que aquela santidade existe numa alma, e foi por meio d’Ela que ele, homem humilde e admirativo, teve a alegria e a honra de encontrar essa alma virtuosa. Ele teve a glória de experimentar um antegozo do céu, que é o conhecer, nesta vida, um verdadeiro santo.

Sigamos o exemplo de Nosso Senhor

Tratemos, então, de imitar a Deus, que se compraz na alma perfeitíssima de Maria.

Devemos procurar, em nossa existência terrena, as almas honestas, conhecê-las, amá-las e saber discernir nelas o esplendor do bem. Devemos nos alegrar com essa bondade, até mesmo comparando-a e contrastando-a com o que há de mal em torno dela. Devemos ter genuíno comprazimento ao ver que Nosso Senhor recompensa a virtude dessas almas que Lhe são tão diletas, assim como importa que compreendamos e aceitemos a reprovação que Ele, em sua infinita justiça, reserva à maldade impenitente. É o Deus três vezes santo, absolutamente puro e superior, que condena o que é errado, porque não é conforme a Ele.

Quantos ensinamentos a se tirar de apenas uma das mencionadas invocações! Essa é a beleza inexcedível de tudo o que é de Deus, é a insondável formosura de Nossa Senhora, é o maravilhoso tesouro dos princípios da doutrina católica!

Embora muito houvesse ainda por se aprender com as preciosas verdades contidas nessa jaculatória, creio não poder deixar de ressaltar o seguinte e importante aspecto: o enlevo de Jesus em relação à sua Mãe Santíssima, infinitamente inferior a Ele e por Ele amada com amor inexprimível, mostra-nos bem como devemos procurar ver a santidade até naqueles que são inferiores a nós. Amar essa perfeição, enlevar-se com ela, é, mais uma vez, imitar o exemplo de Deus olhando para Nossa Senhora.

E no fim dessas breves considerações, só nos resta elevarmos uma prece filial e confiante ao objeto da inteira complacência de Jesus:

“Ó Coração Imaculado de Maria, fazei o meu coração sem mancha, cheio de fé, de força, de heroísmo e santidade, como o vosso!”

Novena irresistível ao Sagrado Coração de Jesus

Esta novena merece este título por ser uma oração na qual a pessoa se dirige ao Sagrado Coração de Jesus apresentando-Lhe as razões mais fortes para alcançar as graças temporais e, sobretudo, espirituais desejadas.

Assim como o melhor dos pais atende com maior solicitude a um filho, de acordo com o pedido e o modo de pedir, também o Sagrado Coração de Jesus é mais propenso a nos conceder o que precisamos quando, por meio do Imaculado Coração de Maria, alegamos altas razões em nosso favor.

E as alegações indicadas nesta novena tornam-na irresistível.

Passo a comentá-la:

Ó meu Jesus, que dissestes: “Em verdade vos digo: pedi e recebereis, procurai e achareis, batei e ser-vos-á aberto”. Eis que eu bato, procuro e peço… (fazer o pedido).

É um pedido admirável e inteiramente racional. Tomando as palavras do Sagrado Coração de Jesus, que jamais mente, invoca esta promessa de misericórdia diante d’Ele. Então, quando tivermos problemas espirituais, sobretudo, dizer isto a Ele, na Comunhão ou em outras ocasiões, é soberanamente eficiente.

Ó meu Jesus, que dissestes: “Em verdade vos digo: qualquer coisa que peçais a meu Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá!” Eis que a vosso Pai, no vosso nome, eu Vos peço… (fazer o pedido).

Realmente, é outra promessa d’Ele que se deve invocar. Quem pedir ao Pai Eterno algo em nome de Jesus e, consequentemente, quem pedir a Nosso Senhor em nome de Nossa Senhora, obterá.

Ó meu Jesus, que dissestes: “Em verdade vos digo: passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais!” Eis que, apoiado na infalibilidade de vossas santas palavras, eu Vos peço… (fazer o pedido).

Primeiro vêm duas palavras d’Ele, em seguida, lembramos-Lhe que essas palavras são infalíveis.

É um modo de rezar altamente piedoso e benfazejo, próprio de uma piedade raciocinada e clara, que realmente arrasta o Sagrado Coração de Jesus: “Vós dissestes isto e aquilo, garantindo-me que serei atendido. Ora, Vós nunca mentis, e eu Vos peço, portanto, que realmente me atendais”.

Depois vem a parte final que é muito bonita:

Ó Sagrado Coração de Jesus, a quem uma única coisa é impossível, isto é, não ter compaixão dos infelizes, tende piedade de nós, míseros pecadores, e concedei-nos as graças que Vos pedimos, por intermédio do Coração Imaculado de vossa e nossa terna Mãe.

Sobretudo é impossível ao Sagrado Coração de Jesus, quando solicitado por Nossa Senhora, não ter compaixão daqueles que sofrem as dificuldades, as agruras, as tentações e, diríamos até, as misérias da vida espiritual.

São José de Anchieta: dedicação heroica aos índios

Grande taumaturgo, de esmerada cultura europeia e requintados dotes naturais, São José de Anchieta colocou-se inteiramente à disposição da Divina Providência, servindo de instrumento eficaz da graça para a conversão dos indígenas.

 

Há muitos anos, li uma biografia do Padre José de Anchieta que me agradou bastante, mas depois me esqueci dos fatos, e a figura dele me saiu algum tanto do espírito. E agora chegou às minhas mãos um “santinho” que traz uma síntese biográfica dele, com alguns detalhes curiosos e uma beleza própria, que me parece adequada para um comentário. O “santinho” diz o seguinte:

Recebeu o título de ”novo Adão”

O Padre José de Anchieta nasceu em São Cristóvão da Laguna, na ilha de Tenerife, no ano de 1534.

Depois de mencionar os vários lugares onde ele estudou, continua:

Exerceu poder tão extraordinário sobre os animais que mereceu o nome de “novo Adão”.

É lindo o título. Sabemos, pelo Gênesis, que quando Adão foi criado todos os bichos do Paraíso desfilaram diante dele. E Adão foi dando a cada um o nome, de acordo com a sua natureza, quer dizer, uma espécie de definição, classificação científica dos animais. E ele tinha sobre os animais um domínio absoluto.

Notem bem a lógica interna desses dons que o Padre José de Anchieta recebeu. Ele era um missionário mandado ao Brasil para dominar uma natureza ingrata e rebelde ao homem, a fim de permitir que os católicos pudessem implantar aqui o seu domínio, e abrir caminho para a civilização cristã.

Havia nele, portanto, em primeiro lugar na ordem da execução, o aspecto de um lutador contra uma natureza bravia, ainda não dominada, não batizada, por assim dizer, como a natureza europeia.

Mas, depois, ele era também o fundador de uma cidade que haveria de ter um papel enorme na vida de um país e da Contra-Revolução. Quer dizer, ele está na origem de uma série de fundações.

Então, enquanto batalhador contra a natureza agreste, ele foi dotado de um domínio especial sobre os bichos, que eram os maiores inimigos do homem, na ordem da natureza selvagem. Enquanto fundador, foi dotado do dom de profecia. Ele era um profeta, e pode-se ver isto no encanto e na beleza dos fatos da sua vida contados aqui.

Domínio sobre as aves…

Da janela do quarto em que residia, chamava as aves que vinham ter com ele.

Vejam que coisa bonita! No Pátio do Colégio, de manhã cedinho, o Padre Anchieta acorda e vê um belo pássaro. Chama-o para junto de si, a ave pousa, ele passa um pouquinho a mão em suas penas. O pássaro, sentindo o carisma do santo e todo agradado com esta manifestação dele, voa de novo. E as pessoas ali presentes pasmam com este novo Adão, que por esta forma domina a natureza.

Notem também a variedade dos dons da Providência. Para um São Francisco Solano, no Paraguai, Ela dá um violino que, ao ser tocado, aquieta os índios. Aqui, ao Padre Anchieta, que esteve preso entre os índios como refém, a Providência não deu o dom de tocar violino. Ele escreveu com um pau qualquer, sobre a areia, seu famoso poema a Nossa Senhora, em latim, mas não aquietou os indígenas; esteve no meio deles, correndo gravíssimo perigo de vida, e não foi morto. Entretanto, foi-lhe dado o dom de aplacar os bichos.

Podemos imaginar como esse dom impressionava os índios. Porque a cidade era muito frequentada por indígenas mansos, os quais, por sua vez, tinham contato com os índios agressivos. E a fama se espalhava, então, de que o “grão-pajé branco” dominava completamente a natureza. Sem dúvida, isso auxiliava muito a conversão dos indígenas.

Vemos assim, sob uma forma muito poética, elevada e nobre, aquele homem de ferro, um filho de Santo Inácio dos grandes tempos, que subia a pé a Serra do Mar. Pois bem, um homem assim abre a janelinha de seu quarto, numa São Paulo cheia de neblina, de garoa, frente a uma praça com árvores, onde se encontram índios, escravos negros, portugueses, chama dois, três pássaros, dá-lhes alguma coisa para comerem e despede-os. É o primeiro momento de distração de um santo, antes de um dia cheio de trabalho.

…as feras e as cobras

Aqui são narrados outros fatos interessantes: Mesmo as feras e as serpentes venenosas abrandavam ante ele a sua ferocidade, e perdiam o natural veneno. Muitas vezes, bastou a invocação de seu nome para livrar seus devotos das mordeduras venenosas.

As cobras eram o terror do Brasil daquele tempo. Era uma ameaça constante para os bandeirantes e para todo mundo que vinha morar aqui, inclusive para os índios. E além do perigo das serpentes, havia também os outros animais selvagens: a onça, por exemplo. Então ele, quando atacado, ou via alguém agredido por uma fera, mandava esta recuar e era obedecido, ou, se fosse uma cobra, a mesma perdia o seu veneno.

Alguém uma vez definiu que cobra sem veneno é minhoca. Ele, portanto, “aminhocava” as cobras, reduzindo-as a nada.

Considerem que coisa bonita: numa estrada de mato, aparece uma serpente, que está para armar um bote contra uma criancinha. Padre Anchieta ordena: “Para!” A cobra fica imóvel e se deixa capturar. Vão examinar, não tem mais veneno.  Ele sorri e os pais do indiozinho pedem para ser batizados. É um dos feitos do Padre Anchieta dentro da mata.

Coisas destas deveriam se contar nos cursos de História do Brasil. Isso não daria um outro perfume à nossa História?

Ressuscitou mortos e teve o dom de profecia

Nos processos de beatificação que ainda se conservam, juraram os contemporâneos numerosíssimos prodígios do grande taumaturgo, tais como ressurreições operadas na Bahia…

Quer dizer, este homem ressuscitou mortos na Bahia!

…e muitas profecias, como a do desastre de Alcácer Quibir, em que pereceu o Rei Dom Sebastião de Portugal.

Foi a famosa batalha em que o Rei Dom Sebastião atacou os mouros, e ele, com a flor da nobreza portuguesa, foram dizimados. O trono de Portugal tornou-se vacante e, pouco depois, passou para a Casa d’Áustria que governava a Espanha. Mas isso representava, durante algumas décadas, o fim de Portugal.

O Padre Anchieta previu também o dia de sua morte, e, aproximando-se a data de seu falecimento, fez todas as visitas de despedidas, como para uma viagem. Entrava nas casas das pessoas por ele conhecidas — mais ou menos toda a aldeia —, sentava-se e dizia: “Queria agradecer as atenções, as gentilezas, e prometo rezar por vós no Céu. Vou morrer no dia tal, de maneira que eu vim aqui me despedir”.

Imaginem a sensação dos membros de uma família, ao receberem a visita de um homem que eles viram deter as onças, chamar os pássaros, profetizar a queda de Portugal e agora prevê a data da própria morte! Depois, ele levanta-se, cumprimenta e pergunta:

— Não quer nada do Céu?

— Ah! me recomende a Santana, a Nossa Senhora da Assunção, Padroeira de São Paulo, reze por mim, arranje tal caso…

— Pois não, vou providenciar.

Anchieta morreu no dia exato previsto por ele.

É tão bonito, de tal maneira um encanto, que vale a pena comentar isso numa reunião nossa.

O encontro com um velho índio que esperava conhecer a verdadeira Religião

Naquelas andanças do Padre José de Anchieta, mato adentro, não à procura de esmeraldas, mas de almas, a certa altura ele encontrou sentado num tronco de árvore um índio muito velho. Conhecedor dos vários dialetos indígenas, Padre Anchieta se dirigiu afavelmente ao homem, perguntando-lhe se precisava de alguma coisa.

O indígena explicou que estava esperando ali a hora da morte.

— Mas como a hora de sua morte?! — perguntou o Padre Anchieta.

O índio respondeu:

— Sonhei que, quando estivesse velho, viria um homem vestido com esse traje preto com que o senhor está, e me ensinaria a Religião verdadeira, a qual a vida inteira eu quis conhecer. Há tempos me sento neste tronco à espera desse homem. Hoje o senhor veio; queira me ensinar a verdadeira Religião.

Podemos imaginar a comoção do Padre Anchieta! Ensinou-lhe as verdades essenciais da Fé, batizou-o, e depois o homem morreu na paz de Deus.

O pobre índio tinha um tal desejo que, se não fosse a Providência ter pena dele e abrir essa exceção, ele morreria tendo recebido o Batismo de desejo.

Mas, como vale a pena ser batizado com água! Vale tanto, que esse velho indígena — que poderia ter o Batismo de desejo — recebeu da Providência o benefício de ficar esperando, até vir o homem que pudesse pronunciar a fórmula e derramar sobre ele a água mil vezes querida e respeitável.

Imaginemos o lugar em que se deu essa cena:

Naquela época, o que era uma franja de civilização portuguesa no Brasil, levada pelo Padre José de Anchieta no meio de matos que nunca um ente civilizado tinha pisado? Portanto, todo mundo ignorava esse fato, que se passava sem publicidade.

Na selva, com algum sabiá cantando, algumas borboletas azuis esvoaçando de um lado para outro, um raio de sol que entra no meio da vegetação, o índio encantadíssimo, e Anchieta, derramando sobre ele a água de um Tocantins qualquer, dizendo com a voz serena, harmoniosa: “Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.”

Nessa hora, o índio entra para a Igreja Católica sem que outrem na Terra, a não ser ele e o Padre Anchieta, saiba que a Esposa de Cristo tem ali um novo filho. Fato ignorado, que não é nem sequer suburbano, mas do último extremo, da última franja, da franja mais ousada da civilização.

E assim nasce para a Igreja um filho procurado dentro da gentilidade, e trazido com amor — depois de uma revelação em sonho — para junto de um tronco, onde ele encontrou a salvação.

Após adquirir grande cultura na Europa, é enviado ao Brasil para tratar com índios

No mundo civilizado da época do Padre Anchieta havia um alto grau de cultura. Ele se beneficiou das circunstâncias que aumentaram a categoria de sua personalidade. E quando entrou em liça para lutar por Nossa Senhora, levava todos os elementos positivos que cercaram sua formação, e estava pronto para essa grande obra, porque procurara continuamente aproveitar tudo de bom que havia em torno dele: a virtude ensinada no Seminário e toda a cultura existente nos meios religiosos e no ambiente daquele tempo.

Isso representa um esforço considerável. Ninguém fica um homem muito culto sem ter empregado um grande vigor, pois sem esforço não há cultura.

Agricultura o que é? É o trabalho que o homem faz para tornar a terra útil ao plantio e, depois, a plantação que se faz no solo trabalhado. “Agri” vem de “ager”, campo; cultura é exatamente esse esforço de preparar a terra, de pôr a semente e de cultivá-la para que dê o resultado esperado.

Assim é a cultura do homem, entretanto muito mais nobre do que a cultura do campo, porque o homem é um ser incomparavelmente superior à terra. Por causa disso, a cultura do homem é muito mais exigente do que a agricultura, ou qualquer outra forma de cultura.

Anchieta precisou, portanto, trabalhar, esforçar-se, aprender, decorar, polir-se e adaptar-se de todos os modos possíveis. E, de repente, recebe do Geral da Companhia de Jesus — que decidia o destino de todos os jesuítas, pelo voto de obediência — a ordem de vir para o Brasil.

Depois de todo esse esforço de civilização e de cultura, ele é mandado para cá, a fim de ter contato com os botocudos, os guaianazes, os tupiniquins, com quanta espécie de índios mais ou menos bárbaros e selvagens que havia aqui. Dir-se-ia que todo aquele esforço intelectual anterior estava liquidado. Para tratar com os índios, do que adiantava isso?

Há uma espécie de desilusão nesse primeiro lance: se faz todo um esforço, o homem se torna primoroso; de repente, recebe a ordem: “Vá lá para o mato tratar com os tupiniquins!”

Utilizando seus dotes naturais como instrumento da graça divina

Anchieta tomou todos os recursos intelectuais que havia preparado e aplicou-os para o estudo do seguinte problema: Como são essas almas que Deus me manda evangelizar? Qual é a psicologia delas? Como entendem as coisas? Para começar, qual é a língua desses indígenas? Eles têm uma gramática?  Falar-lhes na sua própria língua é um primeiro passo para ter influência junto a eles e abrir-lhes os corações, porque ficam contentes ao ver que um homem branco, civilizado, aprendeu e fala o idioma deles.

Então, o Padre Anchieta estuda a língua tupi, faz uma gramática, uma espécie de dicionário. Desse material tosco, ele recolhe, com jeito, todos os conhecimentos necessários para entender a alma dos índios, a fim de saber como tratar com eles, para compreender sua instabilidade, como mudam continuamente de atitude e disposição em relação a alguém.

Que coisa difícil é lidar com um selvagem, de maneira que, aos poucos, ele se civilize! É mais árduo elevar um tupiniquim à condição de um católico do que um homem, nas mais altas cortes da Europa, encantar os reis e as rainhas pela sua própria cultura.

Anchieta tomou os recursos que ele tinha e os aproveitou, na aparência, para uma obra inferior, isto é, tratar com “sub-homens”; mas na realidade era uma obra dificílima, uma super-obra, precisamente porque se tratava de tomar os pobres índios, filhos amados de Deus, cuja salvação Ele quer, e elevá-los à condição de homens civilizados.

De que maneira a Providência agiu?

Antes de tudo, mandou graças extraordinárias para esses índios a fim de que, em contato com o Padre Anchieta, seus corações ficassem tocados. A graça fazia com que eles possuíssem admiração pelo santo missionário, se sentissem adoçados em companhia dele, tivessem grande desejo de estar, para falar — um pouquinho que fosse — com ele. Era efeito da graça vinda do alto, que dispunha seus corações para receber aqueles bens naturais que Anchieta pusera na sua própria alma e transmitia a eles. A graça baixava sobre esses dons naturais, dando-lhes um brilho sobrenatural, e ele os apresentava para os índios, que ficavam encantados.

Além disso, havia os milagres realizados por Deus para prestigiar o Padre Anchieta diante dos índios. Vê-se como a Providência ama os indígenas, quer o bem deles, e faz todo o possível para que correspondam à graça.

Salvo por um milagre, contribuiu para salvar inúmeras almas

Dou mais um exemplo. Anchieta estava escrevendo aquele poema a Nossa Senhora — ao qual me referi —, que é um poema lindo, composto em um latim muito puro, nas areias ainda virgens do litoral brasileiro. Escrever um poema em latim! Podemos imaginar o que isso representa de contraste com todo o ambiente que o rodeava.

Como não possuía tinta nem papel, ele escrevia com a ponta de uma vara na areia e decorava. Depois de ter decorado — ele tinha boa memória —, compunha mais um tanto. Evidentemente, uma coisa movediça, porque a noite chega, a maré sobe e apaga tudo; do que ele havia escrito não ficava nada. Portanto, ou guardava na memória, ou não adiantava.

Houve um tratado entre os portugueses e os índios, pelo qual os primeiros se comprometiam a determinadas obrigações para com os indígenas. Mas estes ficaram desconfiados que os portugueses não cumprissem sua parte. Então, o chefe dos portugueses entregou o Padre Anchieta como refém e disse: “Se nós não cumprirmos, matem-no”. E ele, como ainda não sabia falar a língua dos índios, tinha muito tempo livre, e aproveitou-o para escrever esse poema, enquanto aguardava o desfecho do caso.

Estava ele redigindo de costas para o mar — com certeza por causa da posição do sol, de um jogo de luz —, e não percebeu o que estava se dando atrás dele. A maré estava subindo, subindo… Os índios, vendo o que estava acontecendo, começaram a se refugiar em algumas elevações próximas. Eles percebiam que haveria um momento em que o mar deglutiria o Padre José de Anchieta. Então, gritavam frases que o santo missionário não entendia, mas que queriam dizer, mais ou menos, o seguinte: “Preste atenção! Tome cuidado! A água vem chegando!”

Mas, impressionado com a beleza do que estava compondo e, mais ainda, com a incomparável pulcritude moral d’Aquela em honra de Quem ele escrevia, o Padre Anchieta não se incomodou.

Em certo momento, por gestos dos indígenas, o santo missionário percebeu que estavam apontando para alguma coisa atrás dele. O Padre Anchieta olhou, e era o mar que formara uma parede, mas não o cobria porque Deus não permitia. E os índios, por serem muito emotivos e gostarem dele, começaram a berrar, pois não queriam que Padre Anchieta morresse. Só então ele percebeu a situação e saiu correndo. O mar o foi acompanhando, sem degluti-lo, até uma distância onde se espraiou naturalmente na linha do litoral.

Ele estava salvo por um milagre, e foram salvas inúmeras almas de índios que, encantados com aquilo e percebendo haver algo de sobrenatural, começaram a acreditar no que ele dizia.

Vemos em tudo isso o papel da graça, este dom de Deus, recebido no Batismo, que nos faz participar da própria vida divina, e nos confere uma energia, uma clareza de vistas, uma superioridade maiores do que aquelas que nos são próprias segundo a natureza. E começamos a entender, a falar, a fazer coisas maiores do que seríamos capazes naturalmente. É o mais alto dom que uma criatura pode receber.

Quando chegarem horas difíceis, talvez haja momentos em que julgaremos estar tudo perdido. Lembremo-nos de que essas são as horas de ganhar tudo; não duvidemos de nossa vitória, pois é Nossa Senhora Quem combate por nós. Se rezarmos a Deus por meio d’Ela, confiando em Maria Santíssima contra toda aparência, as águas se levantarão em torno de nós e não nos deglutirão, como aconteceu com o Padre José de Anchieta.

 

(Extraído de conferências de 11/10/1971, 7/6/1981 e 27/2/1993)