Molduras que cantam

A arte de compor jardins com uma vegetação viçosa junto a edifícios antigos e veneráveis constitui um cântico à eternidade de Deus e à glória imperecível da Santíssima Virgem Maria.

 

Tenho visto muitas coisas bonitas, antigas, nas quais sempre me chamou a atenção um particular: a parte que diz respeito aos jardins.

O ajardinamento constitui uma moldura dentro da qual os acontecimentos se passam. E eu, embora não entenda nada de plantas, tenho alguma prática em fazer comentários a respeito de ambientes e costumes.

Debaixo desse ponto de vista, procurarei explicar o papel da vegetação para a ambientação, não somente de um prédio, mas também dos que nele moram. O que é a arte do ajardinamento?

“Fugindo” para os jardins de Versailles

Não posso me esquecer do verdadeiro encanto que senti quando, pela primeira vez, tive uma fotografia global do palácio de Versailles. Era uma espécie de fotografia aérea que dava uma vista panorâmica do jardim.

Lembro-me de que eu tinha um cartão representando essa cena, na minha carteira no Colégio São Luís. E nas longas horas em que estava obrigado a estudar coisas interessantes, mas também outras desinteressantes, um dos modos de “fugir” era suspender o tampo da minha escrivaninha e ficar olhando a fotografia dos jardins de Versailles, as alamedas, etc. Eu ficava encantadíssimo com o jardim!

Diversas formas de beleza em um jardim

Sempre me atraiu a atenção o fato de que quando há um palácio ou uma igreja, e em torno um jardim, existe um elemento inerte, que é o edifício, e um elemento mutável constituído pelo próprio jardim. Este vai sofrendo transformações ao longo das várias estações do ano, é alterável de acordo com o que nele se planta, enfim, muda enormemente.

Como todo prédio dura muito mais do que a vegetação que o circunda, as plantas tendem a envelhecer em torno do edifício, e por causa disso este tem a sua velhice própria agravada pelo envelhecimento da vegetação. Um prédio se cobre, então, de altas árvores cheias de sombras — às vezes estas árvores trazem no tronco a cicatriz de longas idades heroicamente atravessadas — e o tornam mais digno. Mas é uma dignidade que se soma a outra dignidade; uma velhice que se soma a outra velhice; uma penumbra que se acrescenta à moldura de outra.

O cântico da soma das idades

Ora, a teoria da soma das idades pediria que o prédio e o jardim apresentassem todas as idades e, ao lado de uma veneranda ancianidade, mostrassem o esplendor de uma juventude repleta de viço.

Compreende-se que haja um jardim só com elementos velhos, como determinados jardins de palácios italianos em que, por um inteligente descuido, as árvores até apodrecem e caem, as águas estagnam e surgem mosquitos… Isso tem uma grandeza do passado, uma coisa fenomenal!

Entretanto, causava-me certa má impressão ver sempre o passado circundado de coisas que falavam de morte. E me parecia necessário que algumas formas de vegetação cercassem os prédios magníficos e antigos de todo o viço da coisa nova.

Nesse sentido há determinadas plantas encantadoras que têm ar de coisa sempre jovem, cujas folhas parecem estar na sua primeira alegria, saudando os primeiros raios do Sol.

A visão desse contraste sugere-me a seguinte ideia: Como é bonito plantar, ao lado de monumentos veneráveis e antigos, vegetações novas e cheias de viço! Como é belo que as idades, as forças se somem e que todos juntos cantem a eternidade de Deus e a glória imperecível de Nossa Senhora!

Assim devem ser as coisas, pensava eu, e então concluí: Se algum dia me for dado dispor sobre a ordenação de algum grande jardim de palácio, igreja ou praça pública, farei com que haja, junto ao antigo — conservado na força convicta, desinibida e afirmativa de sua continuidade —, algo de novo que fale de uma vida que emerge com pujança no momento mesmo de seu nascimento.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/3/1980)

O verdadeiro conceito de liberdade

Para muitas pessoas, a liberdade consiste em fazer tudo quanto seja agradável. Porém, a verdadeira liberdade incide na faculdade de escolher entre a verdade e o erro, entre o bem e o mal.

 

Estando diante de um auditório com grande número de jovens, parece-me oportuno tratar de um tema que interessa a todos.

Por toda parte ouve-se falar de liberdade. A Revolução Francesa teve um lema intitulado: “liberdade, igualdade, fraternidade”. Os revolucionários entendiam que os três maiores bens na vida do homem eram: ser livre, liberdade; não ter ninguém acima nem abaixo de si, igualdade; e todos os homens conviverem entre si como irmãos, fraternidade. Então, liberdade, igualdade e fraternidade eram o supremo bem.

Segundo eles, a liberdade e a igualdade produziam a fraternidade. Desde que os homens fossem inteiramente livres de fazer tudo quanto quisessem, fossem totalmente iguais — não houvesse nenhum superior nem inferior —, eles se sentiriam completamente irmãos. Então, a fraternidade seria uma flor nascida dessa dupla semente da liberdade e da igualdade.

Tenho certeza de que desde o tempo da Revolução Francesa, portanto a partir de 1789, a humanidade mais ou menos viveu com essa ilusão de que a liberdade, a igualdade e a fraternidade eram três princípios que orientariam a vida humana e que dariam aos homens a felicidade nesta Terra. Assim se compreende que haja estátuas levantadas em honra da liberdade, por exemplo, a famosa situada na entrada de um rio em Nova York, que foi mandada de presente pela França para os Estados Unidos, a fim de celebrarem o fato de que ambos os países eram, ou pretendiam ser, construídos sobre a base do tríplice princípio da liberdade, igualdade, fraternidade.

“Hippismo” e o lema “liberdade, igualdade e fraternidade”

A afirmação mais moderna desses princípios encontra-se no “hippismo”.

Considerada a vida dos hippies naquilo em que ela se diferencia da existência de um rapaz que anda pela rua, tem um emprego e leva uma vida comum, a grande diferença é exatamente a liberdade.

O hippie perambula de um lado para outro e faz o que quer. Ele não tem residência nem obrigação fixa; não possui vínculo fixo com ninguém. Não se casa, também não se divorcia. Mesmo quando esteja casado, ele abandona a mulher quando quiser; muitas vezes, nem mesmo tem uma mulher fixa.

A fim de ter o mínimo para viver, o hippie exerce um trabalhinho qualquer; não tem o intuito de constituir um capital para adquirir uma casa boa, um automóvel e organizar a sua vida. Por quê? No fundo, ele tem a ideia de que essas coisas lhe tiram a liberdade; e ele quer perambular o dia inteiro de um lado para outro, fazer o que entende, viver solto numa cidade, mais ou menos como um índio vive na floresta.

O que pode distinguir, por exemplo, um índio que vive na floresta, de um aldeamento de gente civilizada dentro da floresta? É que os civilizados se estabelecem, logo dividem aquela área em residências; estas têm proprietários; normalmente eles se casam, constituem família, em relação à qual, quer dizer, àquela mulher, àqueles filhos, todos têm obrigações uns com os outros, se entreajudam e por causa disso têm condições de realizar uma vida normal, progredirem etc. Eles têm necessidade de um afeto, de uma amizade estável, enquanto os hippies não sentem necessidade de nada disso e vagueiam de um lado para outro como os animais.

Mesmo entre os animais podemos distinguir os gregários e os não gregários. Os primeiros formam grupos, vivem em bandos; os que não são gregários vivem sozinhos.

O hippie não aprecia o raciocínio. Para ele, o raciocinar é algo que tolhe um pouco a liberdade. Gosta de imaginar, de vagabundear pela imaginação como os passos materiais dele vagabundeiam pela cidade.

E, com aquele resíduo mínimo de lógica que existe na cabeça de todo homem, ele se sente livre e acha que os outros são comprometidos, amarrados, algemados.

De outro lado, os hippies se sentem iguais, porque não acumulam dinheiro e entre eles ninguém quer exercer o mando. Os aqui presentes nunca ouviram a frase: “Fulano é o chefe de tal grupo de hippies.” Eles não têm chefe. Pode haver um grupo de hippies, que vivem 24, 48, 72 horas juntos, mas se dispersam “por dá cá aquela palha”; não têm nenhuma continuidade.

E nós, como católicos, devemos compreender por que esse modo de conceber a vida é oposto à Lei de Deus. O que há de sábio na Lei de Deus é o contrário do que existe de errado no princípio do “hippismo”, que é a liberdade, a igualdade e a fraternidade, entendidas de um modo ultrarradical, levado até as suas últimas consequências.

O nosso tema está, portanto, enunciado; vou agora começar a tratar dele.

Proibir o mal significa garantir a liberdade

Imaginemos um menino travesso de dez, onze, doze anos, que tenha o hábito de, acompanhado por mais três, quatro, cinco meninos, seus amigos ou irmãos, brincar com espadinhas feitas de taquara. E a brincadeira consiste em fingir que vai furar o olho do outro menino.

Um pai ou uma mãe vê essa brincadeira e a proíbe; recolhe todas as espadinhas de bambu e as entrega para a cozinheira queimá-las; o menino que for apanhado querendo brincar de furar o olho do outro, é punido.

Pergunta-se: O pai ou a mãe, proibindo o menino de brincar assim, exerceu um ato de tirania ou, pelo contrário, protegeu a liberdade da criança?

A resposta é: Essa brincadeira pode cegar um ou até mais de um menino, causando-lhes um desastre para a vida inteira. As crianças que brincam assim, o fazem por falta de entendimento; elas são vítimas de uma debilidade que há nessa idade, por onde não têm o raciocínio exato. Fazem uma brincadeira que é contrária ao verdadeiro interesse delas. E contrária à natureza delas, porque a natureza do homem consiste em ter dois olhos que funcionem bem; e quando não funcionam é preciso operar, dar um jeito qualquer.

Portanto, os pais garantem a liberdade da criança defendendo o direito dela não ser cega, de viver de acordo com sua natureza, e proibindo-a de fazer o que quer.

Mas, no fundo, é uma proibição na aparência; de fato, é uma garantia da liberdade. Numa idade extremamente jovem, a criança faz coisas que não são racionais, ela é vítima da tirania da falta de maturidade. Para defendê-la contra essa tirania, os pais obrigam-na a fazer uma coisa ou outra.

Dormindo sobre o parapeito de um terraço

Quando eu era menino, tinha uns oito ou nove anos, na minha casa havia um terraço dando para o jardim; era um local batido por ventos, agradável, uma construção em estilo antigo com uma colunata sobre a qual existia um parapeito largo.

Eu estava estudando nesse terraço, e via os tico-ticos, muito abundantes no jardim, que pousavam naquele parapeito, corriam e saíam voando. Às vezes eles abriam as asas e tomavam vento; e eu tinha loucura por tomar vento. Em certo momento, saíam voando, e eu ficava devorado por um secreto desejo de voar também.

Certo dia pensei o seguinte: “Bem, vou parar esse estudo — primeira coisa que eu não devia fazer; mas, sobretudo quando eu tinha que estudar Matemática, o convite era ardente a fim de cessar o estudo imediatamente — e deitar-me em cima do parapeito deste terraço para dormir; meu sono não será muito profundo, mas terei a sensação de um passarinho quando está aqui…”

Deitei-me. Não sei quanto tempo fiquei dormindo lá.

Para tirar-me desse local, do modo mais amável do mundo e sorrindo, sem me causar nenhum susto, Mamãe bateu levemente em mim; acordei e olhei para ela. Eu toda a vida tive uma atração enorme por Mamãe, ainda mais estando ela sorrindo; então, virei-me para o lado de dentro do terraço a fim de acariciá-la. E pensei que ela fosse me acariciar também. Mas não.

Ela me falou com uma seriedade que me deixou pasmo, dizendo que eu precisava prometer-lhe que nunca mais deveria fazer isso. E de fato nunca mais dormi no parapeito do terraço.

Dona Lucilia, fazendo isto, diminuiu a minha liberdade? Ou, pelo contrário, ela garantiu a minha liberdade contra a imbecilidade de minha idade?

Todos assim compreendem que proibir uma pessoa de fazer uma coisa que é contra o bom senso, contra a razão, é uma defesa da liberdade.

Policiais que impedem pessoas tentadas de se atirarem do alto das pontes

A vida é um vale de lágrimas, nela tudo é assim. Quando nas grandes cidades há rios muito grandes, constroem-se sobre eles pontes em geral bonitas, às vezes são verdadeiras obras-primas.

Sobretudo quando são pontes edificadas até o começo do século XX. E quando a ponte é bonita, há muita gente que fica parada sobre a mesma, olhando a água passar, as lanchas, canoas e outras embarcações.

Mas acontece que alguns têm a tentação de se jogar para baixo e se matar. Em São Paulo, por exemplo, algum indivíduo de vez em quando se lança do Viaduto do Chá. Está muito aborrecido, para num daqueles parapeitos feios do viaduto e começa a olhar para baixo; em certo momento, pensa: “Homem, se eu me jogasse, acabaria com essa vida…” E se joga.

Por causa disso, em alguns lugares, a polícia manda vigiar o pessoal que para sobre as pontes. E quando um começa a dar provas de que vai se jogar, os policiais têm a incumbência de ir correndo e agarrá-lo. Quando um policial agarra uma pessoa que vai se suicidar, ele limita a liberdade dela? Não! Ele assegura à pessoa a liberdade de viver, que, num momento de crise, foi ameaçada pela incapacidade de enfrentar as dificuldades da vida. Quer dizer, defende a pessoa contra movimentos errados, por onde ela agiria contra a sua própria natureza.

Então, na aparência o policial que agarrou o suicida limitou a liberdade deste; de fato, ele garantiu o direito do suicida viver, contra uma debilidade que está na natureza humana, ou seja, a de querer acabar com a própria vida por causa de certas circunstâncias — o que não é razoável, não é direito, não é sério.

A boa ordem da natureza

Chegamos assim ao seguinte princípio: Tudo quanto é conforme à boa ordem geral da natureza, tudo quanto é razoável o homem, em princípio, deve ser livre de fazer. Mas quando uma coisa não é razoável, é contrária à boa ordem da natureza — contrária à boa ordem da natureza dele, ou da natureza ambiente —, ele deve ser proibido de realizar.

Isso é uma defesa da liberdade dele e dos outros. Porque nunca existe a liberdade de um homem agir contra o seu próprio interesse. A liberdade consiste em que o homem proceda de acordo com o seu interesse. E que significa “seu interesse”? Não é o interesse do gatuno, de apropriar-se dos bens dos outros. Mas o interesse da natureza humana que há nele, que o leva, por exemplo, a trabalhar para ganhar dinheiro a fim de viver honestamente; isto é a boa ordem da natureza, dentro da qual o homem é livre. Quando é uma coisa contrária à boa ordem da natureza, ele não é livre; a liberdade para ele é um mal. E agarrá-lo, privá-lo dessa liberdade, é um bem.

Há povos que, por terem um conceito errado de liberdade — e nem possuem essa noção de ordem natural que acabei de expor —, descem tão baixo que fazem coisas verdadeiramente absurdas; e às vezes são povos muito civilizados.

Viúvas eram queimadas vivas…

A Índia, por exemplo. Até o século XIX, quando os ingleses tomaram conta desse país, havia o seguinte hábito. Ao morrer um marajá, quer dizer, um príncipe, ou um brâmane, isto é, um sacerdote — os sacerdotes em todas as ­religiões podem casar-se, exceto na Religião Católica — ou qualquer pessoa de alta categoria, a viúva devia ser queimada viva.

Então, nos funerais de um marajá, por exemplo, iam animais sagrados para serem queimados, servidores que tocavam músicas fúnebres, e em certo momento do cortejo surgia um carrinho todo enfeitado com matéria preciosa, digamos, revestido de ouro, com tecidos finos, cortinas abaixadas, pessoas na frente e atrás, tocando flautas. Às vezes havia carpideiras, ou seja, mulheres que ganham para chorar.

Quando um grande sacerdote, um pontífice, um príncipe, etc., morria, julgava-se que era bom dar a impressão de que foi muito chorado. Mas às vezes nos funerais ninguém chora. Então contratavam essas choradeiras para irem chorando; elas recebiam um tanto e voltavam para casa. E há pessoas que têm uma facilidade de chorar extraordinária!

No interior do carrinho vinha a esposa do príncipe falecido e, ao final do cortejo, ela era amarrada e lhe ateavam fogo.

Quando a Inglaterra se sentiu firme para poder mandar na Índia, ela proibiu esse rito. Fazendo essa proibição, a Inglaterra tirou a liberdade aos hindus de serem assim, ou libertou-os do mau hábito? Ela libertou os hindus do mau hábito.

Termino com mais um exemplo.

Rodelas colocadas nos beiços

Lembro-me, ainda em tempo de menino, do susto que tive, folheando uma revista; de repente vi uma fotografia de uma pessoa com a cabeça caracteristicamente rapada e com uma rodela metida no beiço inferior e outra no beiço superior. De tal modo que, para falar, ela movimentava essa espécie de castanhola, não tocada pelos dedos, mas pelos beiços.

Fiquei horrorizado e fui imediatamente pedir explicações aos mais velhos. Causou-me espanto o fato de que os mais velhos não pareciam horrorizados; porque todos eles já sabiam do que se tratava.

Eu disse, creio que ao meu pai:

— Olhe aqui que coisa horrorosa!

Ele, com toda a placidez:

— Ah, isso é lá na África!

Perguntei:

— Mas como? Na África não se proíbe isso?

— Hoje parece que já está proibido.

Continuei:

— Mas eles passam a vida inteira assim?

— Habituam-se. Quando a gente se habitua não tem nada.

Posteriormente eu soube que os colonizadores, ao chegarem naquelas regiões, acabaram com esse hábito. Eles privaram aquelas pessoas de um hábito legítimo? Não! Eles impediram um mau hábito, que era contrário à natureza.

Imaginemos que uma pessoa tivesse uma doença por onde ficasse com os beiços assim; ela pagaria qualquer valor para fazer uma operação, a fim de ficar com os lábios normais. Pois seria uma vergonha medonha sair à rua e começar a mexer uma beiçorra com essa forma; simplesmente um horror.

A autoridade pode ser comparada ao corrimão de uma escada

Portanto, está bem claro o princípio: Quando uma nação, um povo, um particular se deixa arrastar a um hábito contrário à sua própria natureza, ele sofreu a debilidade, a tirania do seu lado mau, que o leva a querer fazer coisas contrárias à sua própria natureza. Logo, a liberdade consiste em defendê-lo, proibindo-o de fazer aquele ato mau.

Eu comparo a autoridade que proíbe o indivíduo de trabalhar contra a sua própria natureza, ao corrimão de uma escada.

Ninguém vai dizer que o corrimão limita a liberdade do indivíduo, porque este tem vontade de andar na beiradinha da escada e não pode fazê-lo…

Percebemos assim o erro do liberalismo, que afirma o princípio pelo qual o indivíduo deve fazer tudo quanto é gostoso. E proibir uma pessoa de fazer uma coisa gostosa é atentar contra a liberdade dela.

Pelo contrário, o princípio de autoridade é aquele que protege a razão, a natureza humana. Quer dizer, leva o homem a agir de acordo com a sua natureza; e a razão nos manda agir de acordo com a nossa natureza.

Os dez Mandamentos e a ordem natural

Assim sendo, examinemos as leis mais sábias que há no mundo: os dez Mandamentos da Lei de Deus.

A respeito dos dez Mandamentos da Lei de Deus, Santo Agostinho enuncia um princípio muito bonito. Diz ele: “Imagine um país onde todo o mundo cumprisse os Mandamentos — naquela época os países eram pequenos reinos. O rei, os ministros, os generais, todo homem do povo cumprem os dez Mandamentos. As leis feitas pelo rei são perfeitas, porque estão de acordo com os dez Mandamentos, e a obediência que os súditos prestam a essas leis fazem com que o Estado ande eximiamente”.

Suponhamos uma família onde pai, mãe e filhos cumpram os dez Mandamentos: é a família perfeita. Os dez Mandamentos mandam agir de acordo com a natureza; por isso tudo é tão exímio. Deus é Autor da natureza, e todos os Mandamentos contêm um princípio de acordo com a ordem natural posta pelo Criador; por causa disso o cumprimento dos dez Mandamentos leva à perfeição.

Então, um país onde se ama a Deus sobre todas as coisas; não se toma o seu santo Nome em vão; respeitam-se os dias santificados; não se mata; não se rouba; honra-se pai e mãe; não se peca contra a castidade; não se deseja a mulher do próximo; não se cobiçam os bens alheios; um país onde todo mundo seja assim é necessariamente perfeito.

“Rock and roll” e minueto

E o “hippismo” é a negação mais categórica da razão, do bom senso, da ordem natural. O hippie proclama-se independente de Deus, das regras que todas as coisas devem seguir. Se num país todo mundo se torna hippie, a geração seguinte começa a ficar selvagem.

Uma coisa que indica bem isso é o “rock and roll”, a dança do hippie.

Façamos uma comparação do rock com o minueto.

O minueto é uma dança que se praticou até mais ou menos cem anos antes de começar a Revolução Francesa. Foi a mais nobre, a mais delicada e a mais bela das danças que existiu durante o “Ancien Régime”(1). Músicas delicadas e homens e senhoras faziam cumprimentos uns para os outros etc., formando figuras geométricas na sala, uma espécie de desenho animado; ficava uma verdadeira maravilha. Era o raciocínio quase geométrico inspirando a dança. Esse era o minueto.

E no rock não se dança, pula-se. O indivíduo sente umas golfadas por onde ele tem vontade de dar saltos de um lado para outro e pula. O raciocínio já está banido. Quem dança rock é escravo; o homem livre é capaz de compreender e dançar o minueto.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 17/1/1987)

 

 

1) Período da História da França que precede a Revolução Francesa.

 

Santa Gemma Galgani

Com traços harmônicos e ar de profunda reflexão, a fisionomia de Santa Gemma Galgani expressa algo de extraterreno. Ela possui uma espécie de altivez e pureza angélicas; sua cútis, impalpavelmente resplandecente e luminosa, exprime a pureza virginal que há nesta santa.

O olhar é de quem tem cogitações que não são desta Terra. E não é tanto o olhar de um pensador, mas é o olhar da mística que está embebida do que vê.

Percebe-se nela a virtude da fortaleza muito saliente: o que ela quer, quer mesmo. Mas, o que ela quer? Servir a Deus e a Nossa Senhora. E esse rumo, sejam quais forem os obstáculos, ela o seguirá!

Eu diria que Santa Gemma é uma representação física, corpórea, da mulher forte do Evangelho: uma pérola rara, de preço incomparável, que compensa ir até os confins do universo para encontrar.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 17/1/1986)

Santa do glorioso castigo

Depois de oferecer a vida por sua superiora, Santa Gibitrudes foi levada ao Juízo, mas Deus mandou-a voltar à Terra devido a faltas veniais que cometera e não expiara. Ele é tão sublimemente intransigente que não quis suportá-la na sua presença enquanto tivesse aqueles defeitos.

 

A biografia que temos para comentar é de uma Santa da qual nunca ouvira falar. Trata-se de uma monja beneditina do século VII, Santa Gibitrudes. A ficha é tirada do livro Vidas dos Santos, do Padre Rohrbacher(1).

Constância ante os primeiros obstáculos

Sobre Santa Gibitrudes, um monge, chamado Jonas, escreveu:

Uma virgem, chamada Gibitrudes, nobre pelo nascimento e pela Religião, converteu-se e deixou o século para ganhar a comunidade (de Eboriacum), e a mãe do mosteiro, Burgondofara, recebeu-a com alegria, como a um gracioso presente, porque ela era sua parenta. Queimava-a um tal ardor, que sempre a graça do Espírito Santo parecia inflamá-la.

Estava ela ainda na casa paterna quando, a conselho do Espírito Santo, decidiu votar-se ao culto da Religião, e rogou ao pai e à mãe que lhe erigissem um oratório onde pudesse ser a serva de seu Criador.

Os pais julgaram-na erradamente: os dois eram nobres da raça franca e não se importavam ainda com a vida que leva ao Reino dos Céus. Pelo contrário, desejavam fruir das honras do século, e por isso queriam da filha uma posteridade, antes que dar penhor do Céu. Todavia, nada conseguiram fazer para demover a jovem do que trazia no espírito: cederam ao seu desejo e lhe construíram uma pequenina capela.

Como a jovem ali ia dia e noite, a astúcia do hábil inimigo propôs-se tomá-la como alvo. E começou, por meio de sua ama, a causar-lhe obstáculos, a impedir que ela fosse ao oratório. A moça, vendo-se atormentada, principiou a procurar a clemência do Criador, a fim de que aquela que lhe impedia de orar e queria roubar-lhe a luz da alma fosse privada da luz exterior.

A bondade divina não se fez esperar! Bem cedo a mulher, atacada de um mal dos olhos, viu-se despojada da luz necessária e o Árbitro clemente redobrou o temor dos pais castigando o pai com febres. Se bem que inflado pela nobreza, pelo exemplo da filha ele aspirava já ao temor divino; pediu à filha que rogasse ao Senhor por si e, se recuperasse a saúde por sua intercessão, seguir-lhe-ia a vontade.

A este pedido da fé, respondeu a saúde por longo tempo diferida; o fogo da febre deixou-o e o pai recuperou a saúde de outrora. A jovem, então, pediu licença para ir à comunidade de Eboriacum.

Ali levou ela a vida religiosa por muitos anos, quando, um dia, Burgondofara foi tomada de febres, levando a crer que os liames da presente vida dela se desligariam.

“Põe em ordem os teus sentimentos!”

Gibitrudes, vendo a mãe do mosteiro perto da última hora, entrou, angustiada, na basílica e pediu ao Senhor, com lágrimas, que se lembrasse da antiga misericórdia, a fim de que não deixasse morrer a mãe, mas que, a ela mesma, recebesse no Céu com as companheiras, e ali não chamasse a mãe senão para as seguir.

Depois das lágrimas, ouviu uma voz vinda do alto que lhe disse:

– Vai, serva de Cristo, o que pediste obtiveste. Ela, de boa saúde, pode ser unida aos bem-aventurados doutra vez, mas tu serás primeiramente desligada dos entraves da carne.

No mesmo instante, foi tomada pela febre e rendeu a alma pouco depois. Já os Anjos a haviam tomado e levavam além do éter; deposta diante do tribunal do eterno Juiz, via bandos de vestes brancas – foi ela mesma que o referiu depois – toda a milícia do Céu de pé diante da glória do eterno Juiz.

Ouviu uma voz partindo do trono que dizia:

– Volta, porque não estás inteiramente desapegada do século. Está escrito: “Dá e te será dado”, e, ademais, vê-se na oração: “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores”. Tu te lembras dos sentimentos de rancor para com três de tuas irmãs? Não curaste a ferida com o remédio da indulgência. Corrige, pois, as tuas fraquezas, põe em ordem os teus sentimentos, que manchaste com o tédio e com a negligência!

Ó maravilha! Voltando e tomando a vida anterior, ela revelou com tristes gemidos a sentença que recebeu, e confessou as faltas. Chamou as companheiras, pelas quais votara sentimentos de cólera, e pediu perdão para que não incorresse na danação eterna por causa de uma dissimulação.

Novamente saudável, viveu mais seis meses no século; depois, presa da febre, predisse o dia da morte e anunciou a hora em que deixaria o mundo.

A morte foi tão feliz que, na cela, onde o corpo jazia inanimado, acreditava-se sentir exalações de bálsamo. Para nós, que lá estávamos no momento, pareceu-nos um grande milagre.

No trigésimo dia, quando lhe celebrávamos uma Missa, segundo o costume da Igreja, um tal perfume encheu a nave que se diria haver ali todos os eflúvios das essências e dos aromas. A justo título, o Criador fazia brilhar, por seus dons, as almas que lhe foram dedicadas aqui, as que, por seu amor, nada do século quiseram amar”.

O milagre é um prêmio da fé…

A ficha pode parecer tão extraordinária, pelos milagres por ela narrados, que talvez desperte em alguém um sentimento de desconfiança. Não se tratará de uma lenda que teria sido incorporada à História? Será que realmente fatos tão extraordinários se passaram? Tanto mais quanto, se nós acompanharmos a vida dos Santos mais recentes, não notamos milagres dessa ordem. E se não os há, por que os haveria naquele tempo? E neste caso, não estaríamos no nosso direito de duvidar de acontecimentos dessa natureza?

A meu ver, essa seria uma dúvida sem propósito, porque dois dados são indiscutíveis e devem chamar nossa atenção.

O primeiro é: nas épocas de muita fé, Deus Nosso Senhor realiza milagres mais estrondosos do que nos tempos de pouca fé. Dir-se-ia que isso é um paradoxo, pois onde há pouca fé Ele deveria fazer milagres portentosos, e onde já existe muita fé, não haveria necessidade de tais milagres.

Mas o contrário é verdade. O milagre é um prêmio da fé. E quem pede com muita fé pode obter favores tão contrários à ordem normal, que constituam milagres. Exatamente por causa disso, nas épocas de muita fé os milagres excepcionais são mais numerosos.

Na época em que o espírito de dúvida penetra nas almas, e elas começam, a priori, a negar a possibilidade do milagre ou exigir provas muito mais amplas e meticulosas do que seria necessário para reconhecer a existência do milagre; quando as almas não têm apetência do extraterreno, do sobrenatural, do divino e, a “fortiori”, do metafísico e do sublime, a graça se retrai e a ação de Deus vai se tornado mais escassa, rara e difícil de obter. É um castigo para aqueles que não quiseram crer.

Ora, no século VII nós estávamos numa época de fé, a Igreja vivia os primeiros séculos de reconstrução da sociedade medieval que daria na Cristandade. Nesse tempo era natural que os milagres fossem estupendos. Aquelas pessoas pediam e obtinham coisas que realmente as maravilhavam, mas nem tanto as robusteciam na fé, pois já possuíam a fé vigorosa que fora a causa daquele pedido.

No Santuário de Aparecida do Norte, há um recinto chamado “sala dos milagres”, onde as pessoas depositam objetos em gratidão ou cumprimento de promessas, por graças recebidas, em muitas das quais, se devidamente estudadas, poder-se-ia reconhecer o caráter de milagre. Vendo a fé com que aquele povo vai rezar lá, compreende-se que suas orações sejam atendidas. Suponhamos que aquela fé decaísse muito. O número de graças de que a sala guarda recordação não diminuiria também? Sem dúvida. Porque a oração feita com pouca fé é pouco atendida.

…fruto da pregação da Santa Igreja Católica

Alguém dirá: “Mas então não há saída para um povo que cai no despenhadeiro da falta de fé. É um círculo vicioso: ele se emendaria se soubesse de milagres; por outro lado, ele não conhece os milagres porque estes não vêm ao povo fraco na fé. Então ele está perdido, amarrado na sua própria incredulidade e condenado”.

Isso não é verdade. A causa ordinária e comum da fé não é o milagre, mas a pregação da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. É a própria existência da Igreja, a apetência que o espírito humano, tocado pela graça, tem de conhecer as verdades que a Esposa de Cristo ensina e de amá-las como elas são. Eis a causa determinante da fé. O milagre é uma causa excepcional da fé. O grande favor de Deus não é de alguém ter crido por causa de um milagre, mas o de acreditar mesmo sem vê-los.

Atesta-o o famoso episódio de São Tomé que, ao lhe ser anunciada a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, teve dúvida. Quando lhe apareceu o Ressuscitado, ele acreditou. Então, o Divino Mestre exigiu que ele pusesse a mão em seu sagrado flanco para, tocando, constatar ser mesmo Ele. E depois fez este comentário: “Tomé, creste porque Me viste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20, 29).

Poder-se-ia objetar: “Mas, Dr. Plinio, então o senhor reduz muito o papel do milagre, o qual deixa de ser uma tão grande graça”.

Não. Em relação aos fracos na fé, o milagre é uma graça por onde Deus arromba, por assim dizer, a alma de alguns especialmente favorecidos e que não quiseram crer. Para estes, o milagre é um grande bem, uma extraordinária dádiva, porém mais felizes eles teriam sido se tivessem crido sem o milagre.

Para os que têm fé, o milagre é de muito valor como uma prova do amor de Nosso Senhor, que rompe seu próprio procedimento normal para atender à súplica de alguém consagrado a Ele, como essa freira, e que Lhe pede um favor.

Assim, vemos como Santa Gibitrudes, sendo consagrada a Nosso Senhor, pediu e obteve graças esplêndidas, entre as quais, a de ficar cega aquela mulher que a atrapalhava na sua vocação.

Existem situações em que se pode pedir a desgraça dos outros

Alguns, talvez, poderão ficar surpresos: “Como é possível alguém pedir que outrem fique cego?! Compreende-se que se implore para uma pessoa recuperar a vista; mas que fique cega… ”

Há casos em que tal oração é perfeitamente legítima, justa. A Santa teve, provavelmente por imponderáveis, conhecimento de uma determinada situação moral, ou recebeu uma comunicação interior, por onde ela ficou vendo que aquela mulher seria absolutamente refratária a qualquer graça. Absolutamente falando, Deus poderia lhe dar graças tão grandes que ela se convertesse. Quiçá aquela mulher tivesse uma alma tão endurecida e merecesse tais castigos que Ele não quisesse conceder-lhe tais graças.

Assim, para a moça restava apenas a seguinte alternativa: ficar gravemente ameaçada de perder a sua vocação ou pedir que a outra se tornasse cega. Ademais, para sua perseguidora era muito melhor ficar cega nesta Terra, mas não causar a perdição de uma alma, do que conservar a vista e comprometer uma vocação. Mas, sobretudo, era muito melhor para a glória de Deus que aquela moça se tornasse uma Santa e que a cega aguentasse depois, com virtude, a sua cegueira.

Há situações, portanto, nas quais se pode pedir o mal dos outros, mas não em qualquer conjuntura. Então, basta uma pessoa estar me atrapalhando, me amolando, prejudicando minha salvação, para eu rogar que ela fique cega? Não é assim. Há todo um conjunto de circunstâncias a serem consideradas. Contudo, existem casos em que se pode pedir a morte, a doença, a desgraça dos outros para que eles não prejudiquem a execução de um desígnio da Providência. Se nos secretos desígnios de Deus não houver outro meio para afastar aquele obstáculo senão a punição daquela pessoa, pedir que ela seja castigada é uma coisa que se pode perfeitamente fazer, com critério.

Para que esse pedido seja bem feito são necessárias duas condições: quem peça faça-o sem nenhum apego pessoal. Logo, não é por raiva, birra, agastamento ou comodismo, mas apenas pelo zelo por sua própria santificação. Em segundo lugar, que por via das dúvidas, na hora de pedir, acentue muito: se esta for a vontade de Deus. Se não houver outro meio de remover do caminho este obstáculo à minha santificação, então rogo que isso se realize. Nessas condições é perfeitamente legítimo pedir.

Severidade e misericórdia não se excluem, mas se completam

Vemos a prova disso no lance final da vida de Santa Gibitrudes. Ela ofereceu sua vida pela superiora e, ao morrer, teve até uma visão esplêndida na qual contemplava a revoada dos Anjos com seus hábitos. Naturalmente, é um símbolo, pois sendo puros espíritos os Anjos não usam hábitos. Levada ao juízo divino, recebeu a comunicação de que havia três freiras de quem ela guardava birra, e ela não podia estar na presença de Deus mantendo com esse defeito.

Vemos nisso um misto da sublime bondade e condescendência do Criador, e sua sublime intransigência. Deus é tão sublimemente intransigente que uma freira para quem Ele fizera milagre tão excelso, não queria, entretanto, suportá-la na sua presença, enquanto ela tivesse aqueles defeitos.

Mas Ele é tão sublimemente misericordioso que praticou este milagre: levou a freira à sua presença e denunciou o pecado que ela, certamente por própria culpa, não via. Mandou-a de volta à Terra para pedir perdão pelo pecado e expiar. Tendo ela expiado e implorado perdão, então levou-a para o Céu. Notem a misericórdia extraordinária d’Ele com ela, ao lado da severidade. E como a severidade e a misericórdia, longe de se excluírem, se completam.

Nós vemos isso na própria alma da Santa. Para Nosso Senhor fazer por ela tudo quanto realizou, é óbvio que é uma grande Santa. Entretanto, tais são as contradições que cabem na pobre alma de uma criatura humana, que esta pode ser elevada em virtudes debaixo de muitos pontos de vista e, portanto, atrair de fato o amor de Deus, mas ter alguns defeitos dos quais ela precisa ser purificada e que a Providência não tolera.

E é neste modo contraditório de ser das criaturas que brilha de uma maneira especial a justaposição da justiça e da misericórdia de Deus. Justo para com um defeito, misericordioso para com o próprio defeito em atenção às altas qualidades, e escolhendo um modo magnífico para curar a freira, no fundo, de uma falta que não era um pecado mortal, pois se o fosse o Criador não faria isso. Não levaria essa alma em estado de pecado mortal para a própria presença d’Ele, para ver os Anjos. Evidentemente eram faltas veniais. Entretanto, naquela alma, sobretudo, Deus não queria tolerar essas faltas. Ele poderia dar graças comuns para ela se arrepender e ir ao Céu sem esse milagre. Mas quis fazê-lo para provar, por essa narração, quanto Ele ama excepcionalmente as almas que O amam excelentemente. E não poderia haver para ela um castigo mais glorioso do que a punição que ela recebeu. Ela poderia chamar-se “a Santa do glorioso castigo”.

Que glória nessa punição!  Que estupendo ser amada de tal maneira que, para receber esse castigo, ela é tirada desta vida, colocada na presença de Deus, sua alma é novamente reintegrada a seu corpo, e lhe é restituída a vida, tendo recebido do próprio Deus a lição que precisava receber. Ele poderia mandar um Anjo fazer isso, mas Ele mesmo o realizou. Pode haver maior glória e maior prova de amor? Era castigo, entretanto.

Olhar luminoso para perceber nossos próprios defeitos

Alguém poderia perguntar: “Mas por que Deus fez isso assim? Foi só por essa Santa?”

Se fosse só por ela já estaria perfeitamente bem feito. Isso se deu no século VII. Nós estamos no século XX, que já vai caminhando para seu fim. Quantos séculos depois, em terras que ninguém imaginava, naquele tempo, que existissem, está-se comentando essa ficha e a sucessão desses fatos! E nós ainda estamos nos extasiando com a maravilha operada por Deus, com esse jogo complexo e de variados aspectos de que estou dando notícia.

Quer dizer, isso foi feito para ficar brilhando na História da Igreja até o fim dos tempos. Quando acabar o mundo e chegar o dia do Juízo Final, é possível que algum daqueles sobre os quais meus olhos estão caindo neste momento, encontre uma Santa que lhe esteja sorrindo de modo particular. E a Santa use como insígnia uma chibata luminosa mais do que muitos sóis, e feita de uma matéria mais preciosa do que o ouro. E a Santa se aproxima de um de nós e diz: “Sabes quem sou? Eu sou Gibitrudes, a Santa do glorioso castigo. Rezei por ti naquela noite em que soubeste do meu castigo e de minha glória. E agora te encontras perto de mim e estamos todos salvos. Olhemos para Nossa Senhora e glorifiquemo-La e, por meio d’Ela, Nosso Senhor Jesus Cristo”.

E nós, então extasiados com a glória de Santa Gibitrudes, nos lembraremos desta pobre conferência, e daremos glória a ela. E nos sentiremos associados à santa alma dela.

Como é bom, então, encerrarmos esta reunião dizendo: “Santa Gibitrudes, rogai por nós. Dai-nos a graça de não nos acontecer o que ia vos sucedendo, ou seja, ter alguns defeitos que por culpa nossa não vejamos. Se não merecemos um castigo tão glorioso quanto o vosso, é verdade também que nós tivemos, pelo menos, uma ajuda luminosa que foi a vossa. Tínhamos defeitos ocultos, mas o vosso exemplo, séculos depois, nos trouxe à presença de vossa biografia. E foi um convite para, na noite de 26 de outubro de 1976, nós vos pedirmos: Santa Gibitrudes, tornai luminoso nosso olhar no exame de consciência, de maneira a percebermos tudo o que está oculto, e nossas almas compareçam diante de Nossa Senhora límpidas como foi a vossa, na segunda vez em que diante de Deus aparecestes. Santa Gibitrudes, rogai por nós!”

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 26/10/1976)

 

1) ROHRBACHER, René François. Vidas dos Santos. São Paulo: Editora das Américas, 1959. Vol. XIX, p. 42-45.

 

Esses cânticos de pedra…

Elas povoaram a Europa medieval, ocupando vales e altos de montanhas. Estabeleciam seus muros vigorosos com a mesma solidez do ideal religioso que as idealizara. Erguiam seus tetos e torres  para o céu, como impulsionados pelo mesmo “élan” com que desejavam o Paraíso eterno aquelas almas a viverem entre suas longas colunatas de pedra, seus claustros acolhedores, suas imponentes abóbodas, seus esplendores impregnados de paz e contemplação.

Delas evolavam-se cânticos e preces, ou a misteriosa voz do silêncio, ele também transformado em contínua oração a subir até os tronos de Jesus e de Maria. Em torno ou ao pé delas, como filhos protegidos pela mãe, aglutinaram-se vilas e cidades, que assim cresceram à luz e à sombra dos grandes edifícios consagrados ao serviço de Deus. Sim, o monacato sincero, vivido com profundidade, fez das abadias verdadeiras obras-primas, não apenas geradoras de toda espécie de manifestação de arte, mas, sobretudo, difusoras daquele espírito que levaria a civilização cristã aos seus mais rutilantes dias de glória.

Abadias-fortaleza, abadias-castelo, abadias-sacrário, abadias heroicas, por cima das quais os Anjos pairam e a Virgem Santíssima aparece. Abadias magníficas, cercadas de um cerimonial faustoso, onde, sob as coruscações de lindos vitrais, reluzem os objetos mais preciosos e o culto divino se desenrola com toda a pompa que lhe é devida.

E quando alguns monges, julgando excessiva a riqueza de seus adornos, resolveram emprestar-lhes feições  mais austeras, ainda assim — como todos os frutos engendrados pela Santa Igreja — as abadias se revestiram de particular beleza. Se já não havia a opulência do ouro e da prata, nem a exuberante policromia dos vitrais, tinha-se a singeleza que desprende as almas da Terra para as elevar às pulcritudes da bem-aventurança eterna; concebera-se a simplicidade opalina dos vidros que vieram se aconchegar, humildes e alegres, nos vazios das janelas românicas, das ogivas e das rosáceas.

E tudo isso, aos olhos do espírito católico, é igualmente digno de enlevo e admiração. De muitas, restam apenas gloriosos vestígios que se obstinam contra as voragens do tempo e a indiferença dos homens. Muitas outras ainda sobrevivem, perpetuando neste mundo a afirmação do que pôde o “élan” de almas  santas, amorosas do sublime, e a ousadia de corações que suspiravam pelas  maravilhas do Céu. Seja como for, conservam um papel perene na vida da Igreja, irradiando um perfume do qual, por desígnio divino, nunca se deve privar a Esposa Mística de Cristo.

Plinio Corrêa de Oliveira

Alma de fogo, de sofrimento e de luta

São Bernardo de Claraval era um monge da Ordem religiosa cisterciense, uma rama dos beneditinos, reformada por ele e destinada a praticar uma austeridade maior do que a imposta pelas regras monásticas mais duras de seu tempo. Ele tinha a convicção de que, por meio do sofrimento, o homem expia os próprios pecados e os dos outros.

Foi uma alma de fogo, que queria de todos os modos evitar o paganismo o qual ia ressuscitando ignobilmente de dentro de sua própria sepultura, para dar no neopaganismo moderno: era a Revolução nascente.

São Bernardo resolveu ser um homem de sofrimento e de luta, e recolheu-se no claustro, para onde chamou muitas almas generosas.

A Europa encheu-se de conventos cistercienses, cujos monges começaram a praticar uma regra que até hoje é o espanto e a admiração dos homens.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/9/1989)

Não leiam ou leiam meu próximo artigo

Poucos contrastes há tão frisantes em São Paulo – onde, entretanto eles não faltam, e de toda ordem – do que entre a Avenida Tiradentes e o Convento da Luz, com o Museu de Arte Sacra, que lhe ficam exatamente à margem. Um longo muro, que toma talvez mais de meio quarteirão, separa os dois mundos.

Do lado de fora, a avenida, com seu movimento emaranhado e ruidoso, complicado ainda pelas máquinas superpotentes destinadas à construção do metrô. Muro adentro, quase a mesma atmosfera de há duzentos anos atrás: a tranquilidade, a meditação, a oração e o bom gosto ali deitaram raízes e vêm florescendo há tanto tempo, que chegaram a impregnar de uma vez para sempre a atmosfera de um aroma espiritual sutil e envolvente. Tal envolvimento começa sem que a pessoa se dê conta, desde o momento em que transpõe o largo portão em cuja grade se lê a data de 1870. Penetra-se desta maneira em um jardim de uma despretensão, uma singeleza e uma calma desconcertante. E a não se visitar o lindo museu, caminha-se diretamente para a Igreja. A esta se acede por um átrio calçado de um venerável granito desgastado pelos passos de gerações e gerações de fiéis. Logo em seguida, uma alta porta ouro e branco, em estilo barroco, sólida e sisuda como se fosse a própria face da Meditação, apaga no espírito de quem entra a recordação de toda tralha que ficou a mexer-se e a febricitar pela rua. Entra-se no templo. E tudo é sorriso. Aquele sorriso leve, nobre e superiormente sério que constitui um dos encantos de nossa arte colonial. Alta cúpula, proporções graciosas, altares e imagens cheias de mimo e dignidade. A atenção se fixa, por fim, no presbitério.

Do alto do retábulo, uma imagem da Imaculada Conceição, na penumbra, faz descer de seu nicho sucessivos e ininterruptos eflúvios de meiguice materna, condescendência e esperança de socorro.

Um pouco aquém um tabernáculo, de linhas imponentes como se fora um palácio luisquatorzeano. No chão, uma lápide de mármore assinala dormir ali seu repouso final Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, o franciscano fundador da Casa. Como elogio póstumo só estas palavras simples e supremas: “animam suam in manibus suis semper tenens, placide obdormivit in Domino die 23 decembris. Anno 1822”. – Ter sempre em mãos a própria alma para a governar continuamente!… Que elogio! Quanto isto vale mais do que dirigir um avião superpotente, um país inteiro, ou até um banco (uso aqui a escala de valores característica de certa mentalidade supermoderna). A memória de Frei Galvão resistem à poeira destes 150 anos. Continuamente por ali passam pessoas de todas as idades e classes sociais, pedindo graças de toda ordem. E são  atendidas. Daqui a 150 anos quem frequentará as sepulturas dos homens superpotentes, para quem sobem hoje tantos aplausos e tantas petições… nem sempre atendidas?

Enquanto os olhos estão postos no Sacrário, onde – segundo indica uma lamparina rubra como se fosse um rubi – está realmente presente o Rei dos Reis e Senhor dos Exércitos, e o espírito vagueia por temas desta índole, ouve-se inesperadamente, a certas horas do dia, um conjunto de vozes femininas, de uma pureza que os anos não fanam, a recitarem, em “rectus tonus”, salmos, antífonas e lições. Só então se percebe que, nos fundos da Igreja, uma imensa treliça oculta a olhares profanos esposas de Cristo, cujas faces uma rigorosa clausura impede de serem vistas. Ali passam, há mais de 150 anos, sucessivas gerações de freiras Concepcionistas, apartadas das coisas do mundo, mas voltadas à oração e à expiação, para que Deus perdoe e regenere este mesmo mundo.

Do grau desse distanciamento das coisas terrenas, um simples fato – verdadeiro “fioretti” – pode dar adequada ideia. Contou-me certa vez o grande Arcebispo paulista, D. Duarte Leopoldo, o caso de uma religiosa que entrara em clausura, em remotos tempos em que São Paulo ainda não conhecia estradas de ferro. Quando então apareceram os primeiros trens, seus apitos, rasgando os ares pacatos da urbe de então, chegavam aos ouvidos das religiosas. Como podia entretanto vê-los a velha freira, já que a clausura lhe proibia olhar pelas janelas? Comovido pela observância da religiosa, D. Duarte lhe deu licença para, por uma vez, uma só vez, postar-se à janela quando passasse um comboio. Mas a freira pediu licença para recusar a regalia. Queria morrer sem ver o trem, para com esta mortificação sofrer ainda mais pelos pecados do mundo. Não tardou muito que “animam suas in manibus suis semper tenens”, partisse para contemplar a glória celeste, ao lado do Fundador.

Alguns há a quem a narração deste pequeno fato terá asfixiado. Recomendo-lhes que não leiam meu próximo artigo; não o entenderiam. Os outros, a quem tenha deleitado com um pouco de ar puro, talvez gostem de conhecer o que narrarei sobre a fundadora dessa colmeia de anjos, Madre Helena Maria do Espírito Santo.

Plinio Corrêa de Oliveira 28 de julho de 1974

Frei Galvão

“Animam suam in manibus suis semper tenens” — reza a inscrição na lápide de mármore sob a qual repousam os restos de Frei Galvão, no Convento da Luz. Simples e supremo elogio de quem dominou a própria alma e traçou para si um caminho de salvação. Sensível à voz de Nosso Senhor Jesus Cristo, obedeceu em tudo à vontade d’Ele, custasse o que lhe custasse, doesse ou não doesse, e assim alcançou a perfeição para a qual foi chamado.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 10/2/1989.

Em visita ao Brasil, o Papa Bento XVI canonizou,  no dia 11 de maio, este santo nascido em nosso país:  Santo Antônio de Sant’Ana Galvão.)

A borboleta, o pavão e o cisne

Quantas maravilhas Deus criou no universo! Ao observá-las, o homem deve procurar entender não apenas suas razões funcionais, mas seus sentidos mais elevados, como fazia Dr. Plinio. Pessoa altamente contemplativa, tudo quanto caia sob seus olhos ele relacionava com o Criador.

 

Quando era criança, eu corria atrás de borboletas, encantadíssimo! Há borboletas com um tipo de voo do qual gosto muito: flutuam, brincam com o ar. Sem saber, servem de deleite para outros; e embora não tenham um pingo de faceirice, se fossem faceiras, mexeriam as asas e voariam daquele jeito, para serem mais admiradas. É uma coisa bonita de ver.

O azul luminoso

Em minha opinião, uma das mais belas cores é o azul luminoso, esplendoroso, mas discreto das asas das borboletas. Dir-se-ia que a luz está dentro dessa cor. Ao se movimentarem as asas, o azul desaparece e surge o prateado. É propriamente um furta-cor, ou seja, um roubo de cor, uma cor rouba a outra. A meu ver, isso produz um efeito ocular muito bonito, fantástico! Quase se diria que um inseto como esse não poderia existir.

Isso me faz lembrar uma frase de Nosso Senhor, a propósito dos lírios do campo. Ele ensinou que não devemos nos preocupar com as coisas desta Terra além do limite necessário, porque a Providência vela sobre nós. E, então, disse o Redentor: “Olhai como crescem os lírios do campo! Não trabalham, nem fiam. No entanto, Eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só deles”(1).

Sem dúvida, se víssemos uma pessoa vestida com uma roupa feita de pétalas de lírio, ficaríamos maravilhados! Não existe um tecido como esse, assim como não há um tecido como as asas de uma borboleta.

Um manto real esplêndido

Outras duas belezas da Criação são o cisne e o pavão.

Poder-se-ia dizer que a cauda do pavão é um manto real absolutamente esplêndido e muito bem cortado. Há no pavão uma evidente nobreza, e uma beleza admirável das plumas da cauda, no furta-cor azul e verde das penas, no jeito, na anatomia — por assim dizer — do pescoço dele. Nessa ave tudo é grande, exceto a cabeça, mas esta constitui o centro pequeno e vivo que dá movimentação a todo o resto, enquanto cabe a um ser irracional.

O modo de um pavão se mover é como o de uma rainha. Ele anda com um estilo nobre, calmo, não se assusta com nada; quando corre, fá-lo com uma certa dignidade; e quando para, não fica ofegante, mas com compostura. Cessado o perigo, ele volta à contemplação, não tanto de si mesmo, mas do “pulchrum” formado por ele e pelo que o rodeia.

Quando o pavão abre a roda, prestem atenção no pescoço dele e nos ares que toma; ares de superioridade, como quem diz: “Eu sou dono desta roda magnífica atrás de mim; mas não é apenas uma exposição de penas que levo comigo; sou superior; olhem a minha marcha e o meu pescoço todo feito de ‘joias’! Olhem a posição de minha cabeça! Considerem o meu olhar, o meu bico… Eu sou o pavão!”

O rei da água

Outra expressão do belo é o cisne, entretanto tão menos ornado do que o pavão. Enquanto o pavão tem aquela sua “joalheria”, sendo uma das aves mais belas criadas por Deus, o cisne, não. Ele é de uma cor só: branco ou, então, simplesmente preto. Mas observem o seu jeito de deslizar sobre as águas. Quando quer mover-se um pouco, o cisne faz um leve movimento com as patas por debaixo da água e desliza suavemente. Tem-se a impressão de que ele se contempla nas águas, e que estas ficam contentes de refleti-lo.

Ao confrontar o cisne com o pavão, nota-se serem ambos insignes pela beleza: um pela pulcritude simples e elegante, e o outro pela beleza ornada e majestosa. São duas formas de beleza, levadas pelo Criador a uma perfeição que nos deixa pasmos!

O cisne tem tanta placidez, tal domínio da natureza líquida, onde se move com tanta facilidade, que parece ser o rei da água. E a massa líquida parece feita para adornar e manifestar a beleza do cisne.

Quanta diversidade no cisne! Acima, a cabeça; depois, o pescoço elegantíssimo e o corpo um pouco volumoso. Se considerássemos só a cabeça e o pescoço, seria uma víbora elegante; se olhássemos somente para o corpo, seria um pato elegante. Mas como o cisne é superior ao pato e à víbora! Que harmonia maravilhosa no encontro entre o pescoço tão delicado e o corpo grosso — para o qual, entretanto, não falta elegância… — e ressaltado pelo branco magnífico, feito para brilhar à luz do Sol!

Deixar o prático-prático e contemplar

Uma das razões de ser dessas maravilhas é tirar o homem do prático-prático, fazendo-o compreender que as coisas não existem apenas por um motivo funcional, mas também por um sentido mais elevado.

Quando se tem o frescor da alma católica, sente-se gosto em permanecer vários minutos olhando para o cisne que singra as águas. Contemplando sem nenhum pensamento definido; mas quanta riqueza existe em muitos pensamentos indefinidos!

Vem-nos a impressão de que há algo de mais delicado, mais gracioso, mais digno, mais nobre do que nossa natureza humana considerada só em sua decadência. O que Nosso Senhor disse sobre Salomão e os lírios do campo, poderíamos aplicar ao cisne: Nenhum rei jamais teve glória tão bela como a do cisne!

Então, para além do homem existe algo mais alto: Deus, Nosso Senhor, ao Qual nos convidam os esplêndidos movimentos de alma que quadros como esses sugerem.

 

Plinio Corrêa de Oliveira [Extraído de diversas conferências(2)]

 

1) Mt 6, 28-29.

2) 14/1/1974, 10/6/1985, 9/9/1988, 16/9/1989 e 6/1/1992.

Firmamento de misericórdia

É tão fácil, doce e animador rezar à Santíssima Virgem, que não compreendo como alguém possa não querer recorrer a Ela, que é nossa Mãe!

Quando se recita na Salve Rainha “Mãe de misericórdia”, isto não está escrito ali sem razão. Maria é toda misericórdia. Se pode haver mães que são para seus filhos como um mar de misericórdia, Nossa Senhora é muito mais do que isso: Ela é um firmamento!

Peçamos à Virgem Santíssima, firmamento de misericórdia, que tome a alma de cada um de nós e a ponha nesse firmamento para que, depois de uma vida mais longa ou menos, mais difícil ou menos, entretanto sempre fiel, brilhemos como estrelas no firmamento por toda a eternidade.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 15/1/1990)