Uma ave radiante de beleza

Ainda que não consigamos expressar o que nos vai à alma quando nos deparamos com a beleza posta por Deus em suas criaturas, estas nos encantam e arrebatam.
Dr. Plinio, entretanto, além de enlevar-se com elas, era capaz de, ao analisá-las, explicitar verdadeiras maravilhas.

Quando o pavão abre sua cauda, tem-se uma primeira impressão estonteantemente rica, ordenada e atraente, que faz a pessoa ficar um pouco agredida pela beleza que ela tem.

Depois, num segundo momento, após haver absorvido o aspecto geral que há na ave, começa-se a deitar os olhos neste ou naquele pormenor, a fim de explicitar a primeira impressão.

Começa-se, evidentemente, pelas penas da cauda. Elas têm qualquer coisa de sedoso, próprio do brilho da seda ou do brilho do cristal, eu diria até, do brilho da pedra. Seu brilho fica entre a pedra e a seda. Para compreendermos bem a beleza que há na cauda do pavão, deveríamos imaginar uma pedra sedosa, ou uma seda pétrea.

Suas penas possuem uns semicírculos formados por diferentes cores; no interior há umas como que sub-cores que se acumulam e se resolvem umas nas outras, deixando pasmo quem as contemple.

Quando já estamos pasmos nessa contemplação, o pavão fecha sua cauda e vai passear noutro lugar, tranquilo, arrastando no chão aquela cauda feita de pseudo pedrarias incomparáveis. Temos vontade de apanhá-lo e dizer-lhe: “Não ande assim com essa cauda, ponha isso no alto porque estraga!” Porém, sua cauda é tão superior ao solo que nada a suja. Ela tampouco varreu o chão; apenas passou sobre o solo à semelhança de um avião que sobrevoa uma cidade, sem, entretanto, derrubar nenhum prédio, mas também sem se deixar abalar pelos edifícios!

Em seguida, quando estamos entusiasmados na contemplação de sua cauda, nosso olhar deita-se no pescoço do pavão.

Éclatant1 de beleza, com um colorido composto por uma mistura de verde com azul, ele possui tal distinção que se diria quase tratar-se de uma grande dame2. O pavão, às vezes, vira-se para trás, olha de cima, toma um recuo como quem diz: “Realidade, como te atreves a estar tão próxima de meu olhar! Afasta-te, pois eu te vejo igualmente bem de longe, e tu me vês melhor quando eu estou longe de ti. Para longe!”

No alto da cabeça do pavão há um “topetinho”, que, à primeira vista, não seria necessário de nenhum modo para a beleza dele, mas que tem o encanto do supérfluo. Ele nos dá a seguinte impressão: “A partir de agora, acrescentar algo a essa ave seria demasiado, pois sua beleza não permite mais nenhum ornato”.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 20/3/1993)

Oração: Graça da oração insistente

Ó minha Mãe, olhai misericordiosamente para minha alma e obtende-me o espírito de oração pelo qual eu recorra sempre a Vós. E tanto mais recorra quanto mais me atenderdes, pois vossos favores nos incitam a pedir dons maiores.

Rogo-Vos ainda outra graça: a de Vos pedir tanto mais quanto menos parecerdes me atender. Pois Vós amais a oração insistente e confiante; quanto maior for a aridez ou a demora, mais apreciável será a graça que desde já nos preparais. Amém

(Composta em 30/7/1971)

Nossa Senhora

Quando estiver tardando muito para recebermos uma graça pedida por intermédio de Nossa Senhora, não devemos considerar isto como uma recusa, mas como uma promessa de que, se pedirmos muito, aquela graça nos será dada com uma abundância extraordinária.

Há certos retardamentos de Nossa Senhora, enquanto Auxílio dos Cristãos, onde Ela dá mais tardando do que concedendo logo. E isso em parte porque, se Maria Santíssima atendesse todos os nossos pedidos imediatamente, a Terra se transformaria num paraíso e os sofrimentos desapareceriam.

Ora, umas das maiores graças que Nossa Senhora nos dá são as cruzes e os sofrimentos: muitas vezes Ela tarda em nos atender a fim de recebermos o mérito do sofrimento. Assim crescemos na Fé e na Confiança.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 21/5/1964)

Rainha do Bom Sucesso

Nossa Senhora do Bom Sucesso é a Rainha no verdadeiro sentido da palavra: tem majestade e, ao mesmo tempo, bondade; é a triunfadora e também a batalhadora, cujo semblante dá a ideia de que, ao combater, possui a certeza da vitória. Esta é a Rainha do Bom Sucesso.

Para nós, o que importa em nossa luta não é ganhar a batalha amanhã, a não ser como condição de vencer a guerra, pois é isso que devemos desejar. O sucesso é a grande vitória final da Contra-Revolução na guerra empreendida pela Revolução contra a Santa Igreja e a Civilização Cristã. Esta vitória devemos pedir a Nossa Senhora.

Santo Inácio de Loyola dá um conselho muito sábio: em todas as coisas, devemos atuar como se tudo dependesse de nós e nada de Deus; mas esperar como se tudo dependesse de Deus e nada de nós. Assim, na luta contrarrevolucionária devemos atuar com energia, constância, dedicação como se tudo dependesse de nós; mas confiar reconhecendo que tudo, inclusive a nossa dedicação e energia, depende de Deus Nosso Senhor. É pelas orações de Maria Santíssima que nos vêm as graças do Céu para sermos dedicados.

Temos que começar por suplicar a Ela que nos dê essa dedicação, o amor de Deus, o entusiasmo pela causa católica, aquela compenetração do espírito católico que fez com que o grande Apóstolo São Paulo dissesse de si mesmo: “Já não sou que vivo, é Jesus Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).

Se pedirmos força à Santíssima Virgem, obteremos. Ela é a Rainha dos valentes. A Santa Igreja aplica à Mãe de Deus esta frase da Escritura: “Terrível como um exército em ordem de batalha” (Ct 6, 4).

Devemos, pois, impetrar a Nossa Senhora principalmente duas graças: uma grande confiança na sua misericórdia, e que Ela nos dê a sua intransigência soberana, perfeitíssima, a indignação triunfante com a qual presidirá os acontecimentos preditos por Ela em Fátima.

Então, contemplaremos em seu semblante a expressão de vitória comprazida de Rainha, como A representa a imagem do Convento das Concepcionistas de Quito, na qual encontramos esperança, força, senhorio e dominação.

Nossa Senhora do Bom Sucesso, eu interpreto como sendo, por excelência, a invocação do Reino de Maria. É dessa maneira que Ela Se nos apresentará, como a nos dizer:
“Meus filhos, alegrai-vos, levantai o vosso ânimo! Nada tem importância quando Eu resolver vencer. A minha hora de misericórdia está baixando sobre vós e, portanto, nada vos atingirá de maneira contrária a meus planos. O que atingir será de acordo com meus planos e, no fundo, para vosso bem. Alegrai-vos! O sucesso é meu, porque Eu sou a Rainha do Bom Sucesso; e o sucesso é, portanto, vosso, porque vós sois meus filhos.”

 

* Excertos de conferências de 26/8/1977, 16/11/1977 e 2/6/1979.

Espírito metafísico e espírito sobrenatural – I

Quando bem orientado, o espírito metafísico deve buscar sempre a perfeição absoluta, conduzindo a pessoa à ordem sobrenatural na qual a Igreja nos introduz. Esta disposição de alma, que se resume no espírito sacral, é o pressuposto da boa formação espiritual e da Civilização Cristã.

 

O espírito metafísico é aquela excelência do espírito humano pelo qual a inteligência não se contenta com as explicações imediatas das coisas, mas procura uma explicação suprema. Não se contenta com a satisfação limitada que as coisas terrenas podem dar, mas busca um deleite mais alto, transcendente. E com o mero uso da razão, portanto sem recursos sobrenaturais, procura fazer uma ideia de qual seja essa explicação de todas as explicações, esse bem de todos os bens, e constrói aquilo que nós chamaríamos os dados naturais da religião.

Marcha do espírito metafísico

Assim, a existência, a unidade, a eternidade, a perfeição de Deus. Ele enquanto sendo justo e, portanto, que castiga e premia, ama os homens, governa. Essas são verdades a respeito de Deus que o homem com espírito metafísico deduz pela razão, considerando o universo.

A marcha do espírito metafísico pode colocar-se da seguinte maneira. Eu vejo uma pessoa que pratica um ato extremamente bom, por exemplo, de valentia, de caridade ou de severidade. Olho para aquilo e digo: “É extraordinário como esse homem tem tal virtude. Mas ele a possui de modo limitado. Eu poderia imaginar esta virtude existindo em grau muito mais alto em outrem.”

Isto é sempre verdade. Ainda que nós conhecêssemos Aquela que é o sol das virtudes, Nossa Senhora, poderíamos dizer: “Ela tem esta virtude em grau de deslumbrar, de comover, de não se saber o que dizer.” Mas, analisando as coisas com toda a firmeza, nós diríamos: “Ainda que se pudesse ser mais santo do que Ela, Santo de uma santidade inatingível por nenhuma criatura, só Deus”.

Então, depois de eu ver uma pessoa muito boa, posso afirmar: deve existir uma bondade maior do que a dela. Porque toda bondade menor não existiria se não fosse a bondade infinita da qual ela participa. Logo, deve haver a bondade infinita, um Ser que é infinitamente bom; não é apenas infinitamente bom, mas a própria bondade: Deus.

De tudo do universo que eu vejo, posso fazer isso. Por exemplo, aquela flor francesa chamada “muguet” (lirio-do-vale) , que floresce em maio e dá a impressão de uns sinozinhos brancos, é a própria expressão da delicadeza.

Se tal flor tem aquela delicadeza, minha alma que gosta da delicadeza apreciaria conhecer, é apetente de uma delicadeza imensamente maior do que aquela.

Mais ainda. Minha alma, que é finita, apetece uma delicadeza infinita. E depois que eu conheci uma coisa delicada, minha alma só encontra repouso no momento em que encontre a delicadeza infinita.

A Igreja nos introduz numa ordem sobrenatural

Todas as coisas delicadas da Terra não me bastam, eu quero mais, sempre mais, quero o perfeito, o infinito. Esta disposição do espírito de, em matéria de bom, de belo, querer sempre o perfeito e só se contentar com o perfeito, é uma excelência da alma. Isto leva a consideração, pela via da razão, de um Deus que tenha isto, e a minha compreensão: sou um desgraçado, um miserável enquanto não conhecer este Deus. Toda a vida é pálida e inexpressiva enquanto eu não O conhecer.

É absurdo que a natureza seja mal constituída. Ora, ela seria mal constituída se não existisse a delicadeza infinita. Logo, ela existe e, portanto, há um Deus que é a delicadeza infinita. Este é o espírito metafísico.

O próprio do católico que tem a alma bem formada é possuir esses anseios sem fim, das coisas perfeitas e eternas. O característico do católico com a alma mal formada é imaginar que a vida nesta Terra pode satisfazer.

Então, há o espírito metafísico que se estende para essas coisas, e existe o espírito limitado, circunscrito, que fica apenas no físico, e não no metafísico, no além do físico – eu estou forçando um pouco os termos –, e que se contenta com esta vida. Então um dos primeiros pressupostos do amor de Deus é ser incontentável com as coisas desta vida, e só querer o infinito. 

Ademais, se Deus existe, Ele tem que ser de uma essência e de uma natureza maior do que a nossa. Daí vem a facilidade de admitirmos que Deus nos falou e nos comunicou suas verdades e sua graça, deu-nos uma Revelação e uma Igreja que nos introduz numa ordem sobrenatural, e que tudo quanto puramente na ordem natural nós tínhamos pensado é superado pelo que a Revelação nos ensina de um modo fabuloso.

Então nós temos um anseio maior do que o simplesmente metafísico, que é o anseio para o sobrenatural. Admitimos com facilidade a Revelação, não com superficialidade de espírito, por tolice, mas por uma agilidade de espírito por onde compreendemos facilmente que aquilo é verdade. Temos facilidade em amar as coisas reveladas, somos dóceis para a graça e a ordem sobrenatural.

O espírito sobrenatural e o espírito metafísico se resumem numa só palavra: espírito sacral. O espírito sacral tem um aspecto metafísico natural, e um aspecto sobrenatural que diz respeito à Revelação e à graça.

Defeito de alma que enfraquece o edifício das virtudes na mentalidade dos católicos

Então nós devemos dizer que o pressuposto de toda a Civilização Católica, de toda formação espiritual é que as almas tenham essa disposição. Pelo fato de, mesmo na Igreja, não se insistir bastante sobre isto, havia católicos “carunchados”, porque a maior parte dos meninos saía do Catecismo com a seguinte ideia: “Você morre ainda que não queira, não tem remédio, todo mundo morre. Este é o primeiro fato consumado. O segundo é que depois você vai ser julgado. Terceiro fato consumado: há uma tabela de dez pontos que você precisa obedecer, senão vai para o Inferno; queira ou não queira, você vai encontrar isto diante de si. Então trate de andar bem para não ir para o Inferno. Aliás, se você – dito mais rapidamente – não for para o Inferno, vai para o Céu, o que é muito agradável”.

A criança olha um santinho, vê um Anjo sentado numa substância azul olhando a eternidade passar. Ela pensa: “É isso o Céu? Quando eu comparo com o Inferno é uma saída. Depois me dizem que é bom. Não entendo muito aquele azul, mas enfim tem que ser bom em tese. Lá vou para o azul e está acabado”.

Isto não é despertar o senso sobrenatural, porque a criança fica com a ideia seguinte: “O gostoso seria eu viver neste mundo eternamente; sempre feliz, rico, saudável, não ter Céu nem Inferno; não quero mais nada.”

Este é o defeito de alma que torna tão fraco o edifício da virtude na mentalidade dos católicos. É um pressuposto que se deve ressaltar vivamente. Porque todo trabalho da opinião católica que não tonifique fortemente estes dois princípios resulta numa ação fraca. Vem da debilidade destes princípios o fato de que as pessoas praticam – quando praticam – os Mandamentos a duras penas, resvalando entre o bem e o mal, com concessões, e sempre aparecendo o bem como frágil e o mal como forte.

O que dá uma espécie de baixa e de desânimo. A pessoa perde a coragem na prática dos Mandamentos. E pensa: “Não sei como Deus conduz estas coisas. Ele é sempre derrotado. O partido d’Ele é sempre o mole, o fraco. A Fé, a virtude, é uma fraqueza? A força está no vício. Todas as batalhas da História têm sido ganhas pelo mal, a Igreja não faz senão recuar. Ela agora até está se liquefazendo. Eu fico desanimado.”

Ora, se a alma tivesse estes pressupostos bem nítidos e amasse a Deus como estou acabando de dizer, ela seria capaz de todas as fortalezas. Então veríamos a opinião católica caminhar para a frente. Este é o sentido profundo, o ponto fundamental de toda verdadeira formação católica nos termos que podem interessar o homem moderno.

O verdadeiro homem moderno tem que começar por ser homem, e ser moderno no sentido próprio da palavra. Não é um “Maria vai com as outras”, que acompanha o caudal, mas sim um homem à maneira de São João Batista, que era um homem moderno, quer dizer, adequado, oportuno, útil para seus dias, capaz de curar os males de sua época.

Devemos ter em mente que, antes de tudo, somos uma escola de amor de Deus. E como tal procuramos principalmente lecionar, a respeito do amor de Deus, as verdades esquecidas, mais negadas em nossa época. Nossa Senhora, que nos ajudou a caminhar bastante nesta linha, nos ajudará a ver qual é o modo de ensinar isso.

(Continua no próximo número)

 

(Extraído de conferência de 17/11/1972)

Revista Dr Plinio (Março de 2019)

A Apresentação do Menino Jesus e Nossa Senhora do Bom Sucesso

Dos episódios narrados no Evangelho, nenhum evidencia tanto o papel de Nosso Senhor enquanto gladífero como a Apresentação do Menino Jesus no Templo. Nossa Senhora apresenta ali o êxito de sua divina gestação, tornando-Se padroeira de todos quantos procuram um bom sucesso para o serviço da Causa d’Ela.

 

Nossa Senhora do Bom Sucesso, das Candeias, da Purificação. O que querem dizer essas três invocações? O que elas falam a respeito da vida da Santíssima Virgem? Em que sentido devem nos fazer compreender as relações profundas que nossa piedade pode estabelecer entre a festa do Bom Sucesso, das Candeias, da Purificação e nós? Compreendendo isso poderemos relacionar a devoção a Nossa Senhora do Bom Sucesso com as nossas esperanças.

O nascimento do Menino-Deus

Consideremos o Menino Jesus recém-nascido, deitado na manjedoura em Belém, numa noite fria. Nossa Senhora prevendo tudo com o amor que podemos imaginar, apesar de sua pobreza, arranjou pequenas túnicas para pôr n’Ele, assim que nascesse. Evidentemente dispôs essas túnicas de acordo com as várias temperaturas possíveis, de maneira tal que o Menino Deus não sentisse frio.

Como seria o interior, o íntimo de Maria Santíssima cogitando essas coisas!? Admite-se piedosamente que Nosso Senhor tenha nascido à meia-noite e que, antes de Ele nascer, Ela entrou num êxtase altíssimo, durante o qual deu à luz o Menino Jesus.

O nascimento do Homem-Deus se deu um modo maravilhoso pelo qual sua Mãe Santíssima permaneceu virgem antes, durante e depois do parto; verdade esta que a Igreja sempre afirmou com esta energia de linguagem de que só o pensamento católico é capaz, atestando assim, de modo categórico, a virgindade materna de Maria.

Como Ele pôde fazer isso? Há uma cena no Evangelho em que Nosso Senhor entra em um recinto com todas as portas e janelas fechadas. Costuma-se citar essa passagem como explicativo da virgindade durante o parto. Jesus pode atravessar todos os obstáculos materiais, pois, sendo Deus, seu Corpo terreno poderia assumir as propriedades dos corpos gloriosos e atravessar tudo, antes mesmo de sua Ressurreição.

Logo depois, o mais alto dos êxtases se interrompeu e Ela precisou cuidar do Menino que podia estar com frio.

“Aquele que excogitaste, Tu O gerarás!”

Sendo concebida sem pecado original, a Santíssima Virgem possuía uma inteligência perfeita, isenta das fraquezas inerentes à nossa natureza manchada pela nódoa original. Em consequência, ao ler as Escrituras – ainda mais inundada de graças de Deus para interpretá-las – Ela chegou a compor a fisionomia, o espírito, a mentalidade do Messias anunciado pelos profetas e tão esperado por Ela.

No momento em que Maria Santíssima completou a imagem por Ela formada, em meditação, sobre o Messias, o Anjo apareceu convidando-A para ser Mãe d’Aquele que o espírito d’Ela tinha concebido.

Portanto, uma primeira tarefa na vida de Nossa Senhora foi conceber, pela inteligência, como seria o Filho de Deus. Mas conceber com cuidado, evitando qualquer distração e negligência que pudesse tornar um pouco menos nítida, menos santíssima, a imagem que Ela era chamada a ter d’Aquele que, sem Ela saber, seria seu Divino Filho.

Que santidade é necessário possuir para imaginar o olhar, o timbre de voz, os gestos, o andar, o divino repouso do Filho de Deus! Que alma precisa ter para tentar uma coisa como esta e alcançar êxito!

Mais ainda: Que alma deve possuir para, depois de ter feito essa obra interior de composição, Deus dizer a Ela: “Aquele que Tu excogitaste, Tu gerarás!” Que prêmio maravilhoso este: “Excogitaste, dedicaste a tua mente a desvendar isso? Acertaste! Tu fizeste com tanto amor e acerto, que Eu te afirmo: ‘Tu O gerarás!’” Nunca houve e nem haverá prêmio igual na História do mundo.

Jesus despede-se de sua Mãe

Entretanto, Ela ficava encarregada de tomar conta do Menino, de maneira que em nenhum momento um arrepio de frio ou um pouco de sofrimento com o calor pudesse ser sentido por Ele. E que todo o seu desenvolvimento físico e mental fosse perfeito. Ela era a responsável por isso e tinha uma obrigação enorme de levar a sua tarefa ao ponto perfeito.

Esse ponto perfeito foi o momento gaudioso e triste em que Jesus, ficando adulto, disse a Ela:

– Mãe, estou inteiramente constituído e formado. Chegou a minha vez; Eu caminho para a pregação, a fim de maravilhar os homens e ser crucificado por eles. Minha Mãe, adeus!

Podemos imaginar Nossa Senhora indo até a porta da casa, vendo-O afastar-Se pela estrada, talvez ao cair da tarde, e contemplando a sombra d’Ele a estirar-se ao longo do caminho. Depois, Ela fechava a porta e estava sozinha. Quiçá, para consolá-La, os Anjos começaram a cantar! Sem dúvida, era maravilhoso, mas não valia um olhar, uma manifestação de carinho e de respeito do Filho d’Ela. Só de ouvir, por exemplo, o eco de seus pés divinos sobre aquele soalho tão pobre, já A enchia de contentamento. Que andar de rei, de general, de mestre! Pobres reis, pobres generais, pobres mestres… O que é tudo isso em comparação com o reboar de um passo d’Ele sobre as pranchas de madeira da santa casa que hoje está em Loreto? Quem haveria de remediar esta ausência?

Ao longo da narração do Evangelho vemos que Nossa Senhora aparece, às vezes. Sobretudo, naquele encontro com seu Divino Filho no caminho do Calvário. A meu ver, a cena mais pungente que houve na Terra.

À missão de gerar sucede a de cuidar

Maria Santíssima tinha, portanto, uma primeira missão: conceber o Homem-Deus, e O concebeu esplendidamente. Possuía, ademais, a missão de gerá-Lo e, para isso, quantos cuidados a fim de que tudo se desse perfeitamente e essa gestação fosse para o Divino Embrião como um sol que nasce, tudo perfeitamente direito, adequado, conveniente, santo. Imaginem o enlevo d’Ela quando sentia em suas entranhas virginais que Ele Se movia. Mais ainda, Ele Se comunicava com Ela, por oração conversavam.

Vemos, então, como à tarefa de gerar perfeitamente bem Jesus sucede a de cuidar perfeitamente d’Ele. Acaba uma tarefa, começa outra. O Menino nasce, é o termo de todo um período que começou desde a primeira reflexão feita por Ela sobre como seria o Salvador até o momento de seu nascimento. E Ela contempla, pela primeira vez, aquela face que tanto desejara contemplar: rosto pequeno, de criança inocente, mas já fisionomia de Rei, de Mestre, de Quem fará milagres, porque o sobrenatural de tal maneira irradiava de Nosso Senhor que se tem a impressão de que ao aproximar-se d’Ele qualquer enfermo sararia imediatamente.

Sem dúvida, uma das incumbências da Santíssima Virgem foi vestir seu Divino Filho. Quando Adão e Eva pecaram, Deus fez para eles os primeiros trajes. Quando o Menino nasceu, foi a criatura humana que vestiu a Deus. Como tudo isso é bonito e se presta a meditações!

Maria Santíssima apresenta o Menino no Templo

A Lei do Antigo Testamento determinava que, tão logo quanto possível, as mães levassem seu filho recém-nascido ao Templo para apresentá-lo a Deus e se purificassem. Essa era uma regra que toda boa mãe israelita cumpria. Aliás, linda regra na qual se espelha a santidade de Deus. A criança nasce no meio de perigos. Toda a gestação traz riscos. Mas, afinal, ela nasceu. Ó sucesso feliz! A mãe toma a criança, vai até o Templo e oferece a Deus aquele bebê que pertence a Deus, pois Ele o criou. A antiga Lei tornava isso obrigatório.

Nossa Senhora era superior à antiga Lei. Deus não está sujeito à Lei que Ele mesmo fez. O Legislador é superior à Lei, entra pelos olhos. Então, Ele não era obrigado a ir e Ela não estava obrigada a levá-Lo ao Templo de Jerusalém. Mas Ela quis por respeito à Lei, à tradição. E amando esse conceito de tradição, animada pelo amor de Deus intensíssimo que Ela possuía, Nossa Senhora leva a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade ao Templo de Jerusalém.

Episódio único na história do Templo: é o próprio Deus Encarnado que nele entra. Valeria a pena construir um Templo mil vezes mais esplêndido do que aquele, para ali entrar Deus Encarnado. Era a hora máxima, a hora santa, a hora perfeita. Pode-se dizer que, nesse momento, os Anjos encheram o Templo e se puseram a cantar.

Ela entrou, mas quase ninguém notou… Ninguém ouviu os Anjos. A decadência religiosa do povo eleito era enorme. Aquilo estava cheio de barracas com gente fazendo comércio de toda ordem. Os sacerdotes eram os precursores próximos daqueles que haveriam de trabalhar para a crucifixão d’Ele, ou já eram os próprios que O crucificariam. Tudo estava em ruína. Aquele que é o Autor de todas as coisas entra naquelas ruínas espirituais… E aqueles homens de ruína não O perceberam. Ela cumpre o rito da Apresentação.

Um ancião amarrado à vida por uma promessa

Simeão, que era o profeta indicado por Deus para isso, atua para purificá-La, quer dizer, faz o rito com Ela, e recebendo o Menino nos braços entoou aquele cântico que começa assim, em latim: “Nunc dimittis servum tuum in pacem…” – “Agora, Senhor, levai o vosso servo na paz, porque os meus olhos viram o Salvador…”

Ela ouve encantada aquele ancião que parecia amarrado à vida por uma promessa que não se tinha cumprido: a promessa divina de que ele veria o Messias antes de morrer. Aquele homem viu o Messias chegar e canta: “Senhor, agora levai…” E prevê o futuro daquele Menino, a glória e a Cruz. Diz: “Tu serás pedra de escândalo para que se revelem de muitas almas as cogitações”. Mas ao mesmo tempo aclama, dizendo que Ele é “Lumen ad revelationem gentium” – “Luz que se manifesta aos homens”. E uma profetiza, Ana, também canta as glórias d’Ele. Os dois sabem, por inspiração divina, o que até então só São José e Ela sabiam, que Aquele era o Filho de Deus.

Padroeira para a hora em que o Reino de Maria nasça na Terra

O que significa aí o comemorar o bom sucesso? O sucesso é um bom sucesso, digno de nota, quando se realiza algo que pede cuidado, empenho e dá seu resultado. É filho do esforço, da dedicação e do heroísmo! Aí é que há o bom sucesso. Nossa Senhora leva ao Templo Aquele que é a prova de que a gestação fora perfeita. Ali estava o Filho de Deus.

Aqueles que estão entregues a uma tarefa árdua têm uma responsabilidade grande, uma série de coisas difíceis para fazer a fim de chegar a um resultado; quando alcançam o resultado eles têm um sucesso. Nossa Senhora do Bom Sucesso é a padroeira de todos aqueles que procuram um bom sucesso para o serviço da Causa d’Ela.

Como merece ser chamado de “bom sucesso” o êxito daqueles que, nas trevas da noite do neopaganismo de nossos dias, trabalham para que nasça o sol do Reino de Maria! Não será Nossa Senhora do Bom Sucesso uma padroeira muito felizmente indicada para a hora em que o Reino de Maria afinal nasça na Terra? E filhos indignos da Santíssima Virgem, mas amorosos, transidos de enlevo, quando raiar a luz do Reino de Maria poderemos dizer a Ela:

“Senhora, nós Vos apresentamos aqui o mundo que Vós iluminais; a luz de vosso Reino é o nosso sucesso; Mãe nossa, é o vosso sucesso! Vós fizestes tudo, a começar por nós. Quando um de nós, menino ainda, foi levado às fontes batismais, que mérito tinha para isso? Que graça teve senão a de vossas orações? Que gratuidade assombrosa a desse dom!”

Ora, foi a Santíssima Virgem quem nos obteve a graça que nos levou a sermos batizados. Quem trouxe essa graça para o gênero humano senão o Filho por Ela gerado? Ele é o autor e a fonte da graça. Se Nosso Senhor não tivesse morrido na Cruz, nós não teríamos a graça. Essa torrente de graça que jorra sobre o mundo abriu-se para os homens na hora em que Ele morreu. Mas essa graça, de algum modo, começou a estar presente no mundo no momento em que Ela disse: “Fiat mihi secundum verbum tuum!” – “Faça-se em mim, segundo a tua palavra!” E jorrou sobre o mundo no momento em que o Padre Eterno pediu o consentimento d’Ela para que Nosso Senhor Jesus Cristo morresse na Cruz. E Ela fez essa coisa sublimemente terrível, dizendo: “Morra então Ele, por amor ao gênero humano e para que se faça a vossa vontade”.

Todos os que trabalham a favor da Contra-Revolução, em última análise, atuam para que nasça o sol do Reino de Maria sobre o mundo! É algo vagamente parecido com uma geração, e o Reino de Maria se parecerá admiravelmente com um bom sucesso, com um magnífico sucesso.

Indicações para esculpir uma imagem

Talvez se encontre aí a explicação para o fato de Nossa Senhora aparecer tão régia na imagem que A representa, no convento das concepcionistas de Quito, esculpida milagrosamente por Anjos.

Durante uma aparição à Madre Mariana de Jesus Torres, a Santíssima Virgem dera todas as indicações de como deveria ser sua imagem, inclusive o tamanho, tomando o cordão do hábito da Madre Mariana e medindo-Se a Si própria.

O escultor começou a fazer a imagem e não conseguia. Um belo dia, ele chegou ao coro onde estava esculpindo a imagem em madeira e a encontrou pronta.

Depois disso, Nossa Senhora aparecia para conversar com Madre Mariana de Jesus Torres e andavam juntas por aqueles claustros do convento. Como prova da autenticidade dessas aparições, ao amanhecer o manto d’Ela estava todo molhado de orvalho. Que maravilha, o orvalho cair sobre o manto da Rainha do Céu e da Terra! Nenhum palácio, nenhum diadema real, nada teve a beleza dessas gotas de orvalho pousando e cintilando sobre o manto da Virgem!

Um fatinho da vida de Madre Mariana, profetiza do Bom Sucesso de Nossa Senhora

Madre Mariana de Jesus Torres, para ser fiel a sua vocação – uma espécie de profetiza do Bom Sucesso de Nossa Senhora, do Reino de Maria –, teve que passar por provações terríveis. Eu não resisto ao desejo de contar uma:

O mosteiro dela foi erigido no tempo em que tanto o Brasil como a América hispânica eram colônias, respectivamente de Portugal e da Espanha. Teve sete fundadoras; ela era uma, mas as outras religiosas fundaram com ela o convento. Depois receberam outras vocações da Espanha, creio eu, e entraram também muitas do lugar, que eram mestiças de índias. E uma freira péssima – Judas os há por toda parte e nos dois sexos –, índia, ou mestiça de índia, chefiou a revolta das índias contra as espanholas, que eram santas. Fizeram uma perseguição medonha, e Madre Mariana de Jesus Torres chegou a ser presa na cadeia do convento. Ela rezou continuamente pela perseguidora.

Em determinado momento ficou claro que a perseguidora não tinha razão, e que Madre Mariana estava certa, e foi eleita como abadessa. A perseguidora daí a algum tempo adoeceu, entrou em agonia e ia morrer. Madre Mariana, que havia cumulado essa revolucionária de bondades durante a sua doença, quando de sua agonia pediu especialmente a Deus, por meio de Nossa Senhora, que salvasse aquela alma. A resposta que veio foi esta: “Poderá ser salva, se por amor à tua perseguidora consentires em que tua alma passe cinco anos no Inferno”.

Ela consentiu e a freira se salvou, tendo passado por um Purgatório não pequeno. E a alma de Madre Mariana foi posta no Inferno. O que ela sofreu durante esses cinco anos é uma coisa tremenda, inclusive – as memórias dela não me pareceram muito claras a esse respeito – parece que ela tinha se esquecido que fizera esse oferecimento e passou cinco anos com o pavor da ideia de ter sido condenada, e que sofreria o Inferno por toda a eternidade. Ela só pedia uma coisa a Deus: nunca permitisse que ela deixasse de amá-Lo.

Passados os cinco anos, foi-lhe revelada a realidade e o tormento cessou. E ela que era uma pessoa de uma grande beleza, um prodígio de beleza, muito rosada, com cores muito saudáveis que ela conservou até o fim da vida, durante esse tempo emagreceu, definhou, mas depois refloresceu completamente!

Por aqueles claustros, que várias pessoas aqui presentes viram, passou penando, por uma inimiga, Madre Mariana. Com a alma sofrendo os tormentos do Inferno. Ela ali conversou com Nossa Senhora do Bom Sucesso. Que conversas… parecidas com as de Adão com Deus no Paraíso! Que penas e tormentos, que alegria quando ela voltou à luz e compreendeu que diante dela estava mais um tanto de vida e o Céu se abria.

Apresentação do Menino: Nosso Senhor enquanto gladífero

É interessante notar que, de todas as páginas do Evangelho, não me lembro de nenhuma em que o papel de Nosso Senhor enquanto gladífero venha tão bem acentuado quanto nessa passagem da Apresentação do Menino Jesus no Templo. Porque Ele é qualificado pelo Profeta Simeão, o qual recebe o Menino Jesus das mãos de Nossa Senhora, como pedra de escândalo que vai dividir os homens para que se conheçam em muitos corações as verdadeiras cogitações.

Quer dizer, Ele cria um caso, divide as almas ao longo de toda a História. Escandaliza os escandalosos, os sem-vergonha, os maus, os hipócritas. Esses que Nosso Senhor denuncia e coloca mal à vontade levantar-se-ão contra Ele. Aquele Menino levanta uma grande batalha até a consumação dos séculos e divide a humanidade. O grande divisor da humanidade é Nosso Senhor Jesus Cristo, aquele mesmo Menino, tão encantador, que nos é apresentado no presépio no Natal.

Como seria interessante se houvesse, em alguma igreja, ao pé do presépio uma faixa citando a respeito daquele Menino tão engraçadinho e inocente, com os braços em forma de cruz, a frase afirmando que Ele vai dividir o gênero humano! Como seria bom, como conformaria bem a piedade, como seria magnífico!

Castigos, sorrisos e provas de amor maternal que sobre a América Latina sobrevirão

Ora, a profecia de Nossa Senhora, de que Madre Mariana de Jesus Torres recolheu a revelação, trata exatamente disso. Ela fala de um tempo em que o Equador se terá tornado independente da Espanha, adotará uma forma de governo próprio, e que esse país e toda a América do Sul serão sacudidos por uma grande revolução.

E se refere indiscriminadamente à América do Sul como sendo um grande todo sócio-político-econômico que vai passar por uma revolução religiosa e uma revolução de ordem temporal, as quais irão chacoalhar tudo e que será um castigo para a humanidade. E depois virá o triunfo de Maria Santíssima, o Reino d’Ela, a vitória daqueles que Nossa Senhora tiver suscitado para lutarem por Ela nessa ocasião difícil.

Compreende-se essa concepção da América do Sul como que constituindo um todo. Porque no tempo em que Madre Mariana de Jesus Torres recebeu as revelações, o Brasil fazia parte da Coroa espanhola. Quer dizer, a Coroa de Portugal fora herdada por Felipe II, que era, portanto, Rei da Espanha e de Portugal. E, enquanto tal, senhor do Brasil, que era colônia portuguesa. Razão pela qual toda a América do Sul estava debaixo do domínio de um só monarca, que era Felipe II e seus sucessores. Compreende-se que ela visse isso tudo como um abalo só.

É curioso que perante o mundo de nossos dias a América Latina é tida como um todo só também. Tem-se, portanto, a noção da grande unidade que a América Latina constitui e, consequentemente, dos grandes castigos, sorrisos e provas de amor maternal que sobre a América Latina se abrirão.

Assim, esta festa nos diz muito especialmente respeito.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 2/2/1983 e 2/2/1985)

Sinal de contradição

A invocação de Nossa Senhora da Luz refere-se ao episódio em que Ela apresentou o Menino Jesus no Templo, onde Ele foi recebido por um profeta, Simeão, e por uma profetisa, Ana.

Simeão fez uma linda profecia na qual ele enaltece Nosso Senhor como Luz para iluminar as nações e sinal de contradição para a queda e o soerguimento de muitos em Israel.

Assim como uma pedra posta no meio do rio separa as águas, estaria Ele no centro da História da humanidade, dividindo os homens, sendo objeto da ira de uns e do amor de muitos outros, para  que se revelassem as cogitações dos corações.

Devemos ter o desígnio de representar Nosso Senhor nesta perfeição: sermos pedras a dividir as águas. De maneira que onde o rio da impureza e da Revolução corre sem ninguém se contrapor, ali esteja um escravo de Maria contestando: “Eu não estou de acordo!”

Que linda vocação! (Extraído de conferência de 19/7/1985)

Oração: Propósito de fidelidade à luz da graça

Ó minha Mãe, Medianeira de todas as graças, na vossa luz veremos a luz!
Mãe, antes ficar cego do que deixar de ver vossa luz, porque vê-la é viver. Na sua claridade contemplaremos todas as luzes; e sem ela, nenhuma luz refulge. Não considerarei vida os momentos em que ela não brilhar; e eu, da vida, não quererei ter mais nada do que a mente banhada por essa luz.
Ó luz, eu vos seguirei custe o que custar: pelos vales, montes, desertos e ilhas; pelas torturas, pelos abandonos e olvidos; pelas perseguições e tentações, pelos infortúnios, pelas alegrias e triunfos. Eu vos seguirei de tal maneira que, mesmo no fastígio da glória, não me incomodarei com ela, porque só me preocuparei convosco. Eu vos vi, e até o Céu não desejarei outra coisa, porque, uma vez, vos contemplei!
Plinio Corrêa de Oliveira (Composto na década de 1970)

Ó Igreja Católica!

Diante da Catedral de São Marcos somos objeto de uma determinada impressão a respeito do desejo de maravilhoso, de grandioso, inspirado pelo espírito de Fé, com que, em louvor de São Marcos, ela foi construída. É uma das mil cintilações deslumbrantes do espírito católico que se manifesta ali, de maneira que, ao contemplá-la, uma pessoa pode dizer: “Igreja Católica é isto. Ó Igreja Católica!”

Quando se faz uma viagem muito cheia de impressões, densa de coisas que se viu e sobre as quais se pensou – ao menos no meu espírito é assim –, nem tudo aflora imediatamente. A pessoa deixa repousar as impressões de viagem e depois elas vão se evolando de tempos em tempos, mais ou menos como as flores que demoram para exalar todo o seu perfume. Passa-se por uma flor, ela se abriu e esparge seu perfume novo. No dia seguinte ela não está recendendo a nada, mas no terceiro dia, quando se pensa que já deixou de exalar sua fragrância, há uma segunda onda de perfume que se exala da flor, e assim por diante. Deste modo são também as recordações de viagem: há várias exalações consecutivas, de vários significados e bons aromas que se vão apresentando, formulando-se à medida que o tempo passa.

Obras impregnadas pelo sobrenatural

Recentemente consegui explicitar melhor alguma coisa que me vinha à mente em minha última visita à Europa, pela comparação entre a impressão que o Velho Continente me causou nas anteriores viagens e a que tive nesta.

Para ficar bem clara a questão, parece-me melhor exemplificar em concreto com a Catedral de São Marcos. Antes, porém, dou uma pequena introdução e depois faço a aplicação.

Suponhamos que um escritor como São Bernardo redige um sermão sobre Nossa Senhora, ou um rei como São Luís IX publica suas Capitulares, isto é, uma legislação sobre um determinado corpo de assuntos. Mas tudo é feito com espírito católico e com a intenção de servir à Santa Igreja e à Civilização Cristã. Por causa da intenção que presidiu a isso, a graça pousa, por assim dizer, naquela obra. E quem a lê tem duas impressões.

Uma natural e humana que a leitura daquele texto pode causar. Por exemplo, São Bernardo é um escritor exímio, de grandes voos literários, um notável burilador da língua francesa, sob o impulso de quem esse idioma explicitou de sua genialidade original tais aspectos novos. São impressões naturais que nos vêm ao espírito, causadas pela leitura do trabalho de São Bernardo.

Mas como aquela obra foi feita por amor de Deus, com a intenção de despertar pensamentos sobrenaturais inspirados pela Fé e tendentes à glória do Criador, entra também uma graça, porque ninguém é capaz de pensar uma obra com base na Doutrina Católica, nem de querer uma coisa para o bem da Santa Igreja ou para a glória de Deus, que não seja pela graça.

Sem auxílio dela ninguém pode fazer essas operações intelectuais e da vontade, pois o homem  é inteiramente inerte e incapaz de as realizar se não tiver o auxílio da graça.

Assim, São Francisco de Sales – para tomar outro autor – escreveu a “Filoteia”, a “Introdução à Vida Devota”, e quem a lê tem a impressão de estar essa obra embebida pela graça, e é absorvido  pela graça que baixa de Deus, mas ajustada, correlata ao texto lido.

Então, ao operar natural da inteligência, da vontade e da sensibilidade, soma-se uma operação de origem sobrenatural pela qual na leitura a pessoa percebe belezas novas de caráter absolutamente superior, extraordinário. Às vezes elas reluzem aos olhos do espírito do leitor através de um fenômeno da mística. São de uma pulcritude maior do que todas as belezas naturais, pois o  sobrenatural vale mais do que o natural.

Amor de Deus, corolário das construções medievais

Isto que se diz a respeito de escritos pode-se igualmente aplicar a monumentos, catedrais, imagens, obras de arte. Por exemplo, as estalas superiormente bem esculpidas de um convento, uma  armadura medieval, um vitral, obras estas realizadas com espírito sobrenatural para o serviço de Deus, mas também com uma finalidade natural. Quem as vê é visitado por uma graça que lhe faz compreender as analogias que elas têm com realidades sobrenaturais.

De onde um muito grande apreço do homem por aquilo que ele vê. Por exemplo, a Catedral de São Marcos e a de Notre-Dame de Paris. Mas não apenas catedrais, às vezes são edifícios destinados a uma finalidade civil, como uma fortaleza, um castelo, que é a residência de uma família feudal e, ao mesmo tempo, a defesa desta família e da população, do burgo vizinho, contra possíveis agressões de maometanos, de bárbaros. Portanto, uma finalidade natural.

Mas o castelo com aquelas torres, aquele jogo de ameias e barbacãs, dá uma impressão sobrenatural, proporcionada pela graça, e que vem do fato de que o castelo simboliza extraordinariamente bem para nós a virtude da fortaleza, enquanto praticada por amor de Deus.

Assim, chegamos à conclusão de que muitos dos monumentos existentes na Europa foram construídos na plena era do amor de Deus, isto é, no apogeu da Idade Média. Outros em épocas posteriores ou anteriores. Nas anteriores, enquanto o gótico começava apenas a ser vislumbrado pelos seus primeiros artistas, o românico era o estilo usado.

Tinha ele, entretanto, charmes, encantos em que algo do sorriso todo cheio de afabilidade, de majestade e de uma discreta melancolia do gótico ia se formando, aparecendo, o que pode ser notado num edifício, numa praça, etc. Ademais, é possível que a graça dê à pessoa um especial discernimento do espírito com que, em concreto, aquilo foi construído. Então, diante da Praça do Paço Municipal de Siena, a pessoa pode ter um discernimento especial de qual era o espírito dos sienenses daquele tempo, de como entrava ali a graça, e fazer uma recomposição das famosas “contradas”, aqueles jogos entre as corporações e associações religiosas, que despertam esse ou aquele estado de espírito. Então aqui está uma ordem de ideias.

Há locais impregnados pelo sagrado…

Passo a considerar agora outra ordem de ideias. Não é mais o estilo, a aparência material, nem mesmo a mentalidade dos que planejaram, executaram ou viveram em determinado lugar, mas é a natureza dos atos que ali se passaram.

Há um princípio admitido pela piedade católica segundo o qual, quando em um ambiente se passou algo de muito sagrado, aquele lugar fica de algum modo sagrado também. Vou dar um exemplo de tal maneira supremo que, por assim dizer, estoura o assunto, mas enfim de um estourar sagrado, magnífico: o Horto das Oliveiras, onde se deu o primeiro mistério doloroso do Rosário, a  Agonia de Nosso Senhor Jesus Cristo. “Agonia”, em grego, quer dizer “luta”.

Então a luta de Nosso Senhor contra o legítimo arrepio de seus sentidos diante da perspectiva da morte que deveria vir, com tudo quanto a antecedeu. Ali, onde Ele disse: “Pai, se for possível afaste-se de Mim este cálice, mas faça-se a vossa vontade e não a minha” (Lc 22,42).

Veio então um Anjo – o qual podemos imaginar cercado, nimbado de uma luz ao mesmo tempo alvíssima e triste por causa da tarefa que ele devia executar – levando para Nosso Senhor um cálice de uma bebida que haveria de Lhe dar força sobrenatural para tudo aquilo que Ele suportou na Paixão.

Então, onde Ele esteve, sofreu e derramou o primeiro Sangue da Paixão, tudo isso torna sagrado  lugar em que essas cenas se passaram. Por essa razão, quando se está naquele lugar recebem-se graças, não raramente sensíveis, pelas quais a alma é levada ao amor de Deus, à contrição, ao arrependimento, à compunção, à piedade, à compaixão para com o Cordeiro de Deus que ali sofreu para nossa salvação.

Aquele lugar tem bênçãos especiais.

…outros, habitados por uma graça

“Mutatis mutandis”, os locais onde se passaram grandes fatos históricos, eminentes atos de coragem, de virtude, de renúncia, na História da Cristandade, tornam-se lugares particularmente dignos de reverência. Às vezes até fatos sem uma relação direta com a Religião, mas nos quais reluz algo do espírito católico.

Vem à minha memória a execução do Duque d’Enghien, ordenada por Napoleão. Esse duque, último da linhagem dos Príncipes de Condé, reunia em si o aspecto heroico, a estampa afidalgada, a coragem, a ousadia, quase a temeridade de seus antepassados. Possuía qualquer coisa do espírito repentino e irresistível do Grande Condé.

Napoleão tinha intuitos de acabar com esse último descendente da Casa dos Condé, e para isso aproveitou-se do fato de que esse duque estava noivo de uma princesa francesa residente não longe da fronteira alemã, mas do lado alemão, onde a tropas de Napoleão não podiam penetrar. O Duque d’Enghien foi visitar a noiva e quando o Sol já havia se posto, Napoleão mandou um destacamento transpor o Reno, entrar nesse  lugarzinho, agarrar o Condé e levá-lo preso para a França.

Depois de um simulacro de julgamento, que ninguém toma a sério, mandou matá-lo. A calma do Duque d’Enghien nesse momento extremo, sua dignidade, presença de espírito – segurou calmamente a lanterna para que os tiros acertassem nele –, suas últimas cartas, tudo isso tem um aroma de Cavalaria. É bonito ver esse cintilar de luzes da Cavalaria, brilhando na época miserável em que o mundo estava conspurcado pela Revolução Francesa.

Estando em Vincennes, e sabendo onde o Duque foi executado, eu quereria ir visitar o local em espírito de peregrinação. Não tenho nenhum documento comprovatório de que esse homem fosse especialmente piedoso. Dói-me a hipótese de que não o tenha sido. Apesar disso, não há dúvida nenhuma de que se ele não descendesse de ancestrais católicos, não seria essa flor do heroísmo católico a desabrochar dentro da poluição imunda da Revolução Francesa. Portanto, nessas condições, eu iria em espírito de peregrinação ao lugar onde ele foi imolado com tanto garbo, tanta galhardia, e rezaria por sua alma.

Isso nos dá a impressão – notem bem, não é a realidade – de que as cenas ocorridas em determinados lugares, como que ainda estão se passando ali. É fora de dúvida que aquele passado todo revive, e para quem está ali ele tem um prolongamento, uma continuidade misteriosa que emociona especialmente o visitante. Onde existem coisas assim, houve graças extraordinárias.

E do mesmo modo como a graça desce à alma de quem lê, com trezentos anos de diferença, um livro de São Francisco de Sales, ela também age na alma de quem, duzentos anos depois, visita o lugar onde o Duque d’Enghien foi fuzilado.

Essa impressão de lugar habitado pela  graça, no qual se tem a impressão de que os fatos revivem e entramos numa misteriosa intimidade com eles, é altamente benfazeja para o espírito e enriquece o sentir, o degustar do homem que se encontra nesse local.

Desejo do maravilhoso inspirado pela Fé

Tomemos, por exemplo, a Catedral de São Marcos. Vista durante a noite, quando não há turistas e os pombos estão dormindo, a catedral apresenta-se na sua majestosa solidão, esplendidamente iluminada, deixando perceber o branco reluzente do mármore de que foi construída, bem como seus pormenores magníficos, e torna-se especialmente evidente sua linha geral.

Faço notar as três profundidades para a vista humana diante dessa catedral. Em primeiro lugar, as arcadas que têm como centro um arco maior com um magnífico mosaico e, acima, um terraço.

Constituem o primeiro corpo do edifício. Depois, uma espécie de ogiva central muito grande, onde se percebem os famosos cavalos, dois torreões, e de cada lado duas ogivas muito abertas, encimadas cada qual com uma figura. Por fim, constituindo a terceira dimensão, encontram-se as cúpulas ladeadas de umas torrezinhas.

Diante dessa catedral somos objeto de uma determinada impressão a respeito do desejo de maravilhoso, de grandioso, inspirado pelo espírito de Fé, com que, em louvor de São Marcos, ela foi construída. É uma das mil cintilações deslumbrantes do espírito católico que se manifesta ali, de maneira que, ao contemplá-la, uma pessoa pode dizer: “Igreja Católica é isto. Ó Igreja Católica!”

Entretanto, dentro dessa catedral passaram-se fatos históricos da maior importância que determinaram rotações inteiras na História da Cristandade, das nações banhadas pelo Mar Adriático, que se manifestaram na História de Veneza e da Itália, episódios ora de violência, ora de refinamento político e esperteza levada a um grau inimaginável.

Veneza era uma escola de diplomatas extraordinários. Nos arquivos dessa cidade se conservam relatórios que os embaixadores venezianos mandavam periodicamente, contando o que se passava nos países onde viviam. As narrações são tão bem feitas, tão seguras – de tal maneira eles sabem evitar boatos –, as análises tão finas e tão sutis, que essas cartas servem de fonte ótima para a História de qualquer país da Europa.

Imponderável de São Pio X em Veneza

Assim, pelo auxílio da graça, temos não apenas uma percepção do espírito de Fé que levantou tudo isso, mas também uma ideia dos mil fatos que ali se passaram. Um desses fatos se deu no começo do século XX. São Pio X, antes de ser eleito Papa, era o Patriarca de Veneza, portanto, Cardeal e Arcebispo daquela cidade. Quando morreu Leão XIII, convocaram o Conclave. São Pio X – então Cardeal Giuseppe Sarto – comprou passagem de ida e volta, pois ao que parece ele não contava com a possibilidade de ser eleito e, ademais, não tinha vontade nenhuma. Ainda nas vésperas de sua eleição, o Cardeal Sarto julgava que não seria escolhido, mas como, de repente, as coisas viraram e sua escolha tornou-se iminente, ele chorou, porque tinha pânico de ser Papa, pelo peso da responsabilidade do Papado.

Podemos imaginar a última visita desse Santo Cardeal, pouco antes de tomar a gôndola para se dirigir ao Conclave; sua longa figura esguia, com os trajes cardinalícios, cabelos já muito brancos, ele mesmo alvíssimo, acompanhado de seus secretários, monsenhores, prelados, entrando na Basílica de São Marcos para rezar. Depois, com o coração pesado de presságios que via apenas obliquamente, ele tomar a embarcação e partir para o lugar de onde o trem o conduziria até Roma.

Seria a cena de Veneza despedindo-se do mais recente dos Papas canonizados, que previu e combateu a crise do modernismo. Quem passeia por debaixo dessas colunas do átrio ou transpõe a porta, pensando em tudo isso, tem a impressão de que São Pio X encontra-se um pouco aí revivendo tudo isso. De fato, ele não se encontra, mas está presente uma graça relacionada ao que se passou e que torna especialmente sagrado esse lugar.

Passeando de gôndola pelos canais de Veneza

Em minha última viagem à Europa, tive diante de muitos monumentos a impressão triste, de cortar o coração, de que essas graças tinham se retirado, e as cenas históricas ali desenroladas haviam perdido o nexo sobrenatural com aqueles monumentos. Ou que esses restos de continuidade da graça estavam nos seus últimos lampejos e já iam desaparecendo, o que a multidão de turistas não censurava, e nem sequer sabia ser possível sentir isso, e visitava a Catedral de São Marcos, por exemplo, mais ou menos como se visita um museu.

No entanto, essa densa presença de sobrenatural e de história, que em Veneza é incomparável, ainda senti quando tomei uma gôndola para passear pelos canais da cidade. Navegando no escuro entre aqueles palácios, tem-se a impressão de estar participando da vida psicológica, temperamental, social, daqueles personagens de trajes medievais ou do tempo das monarquias absolutas, com máscaras como se usava em Veneza, o bater dos remos na água, o brado dos gondoleiros para evitar trombadas; de repente, vê-se um homem que, ao passar diante de uma casa onde não quer ser reconhecido, pega o seu manto e cobre o corpo inteiro, só se desvendando mais adiante… Esses mistérios todos de Veneza temos a impressão de que ainda vivem, e nos metemos no meio deles ao passear de gôndola à noite pela cidade.

O uso da lancha nos canais já estraga isso, porque o mistério vai embora. A lancha tem o determinismo estúpido das coisas mecânicas. O bonito é o silêncio, o mistério e o deslizar lento da gôndola, na qual os passageiros vão sentados meditando no que fizeram ou farão. Esse mistério tem seu charme.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 11/1/1989)

Duas formas de grandeza

Basílica de São Pedro e Catedral de Notre-Dame de Paris, duas igrejas completamente diferentes. Na primeira, com um esforço de piedade, a criatura tenta elevar-se até o Criador; na segunda, é  o Criador quem desce até a criatura.

 

Na minha ótica de homem do século XX, com os padrões deteriorados pelos apartamentos de São Paulo, quando entrei pela primeira vez na Basílica de São Pedro, depois de vê-la pelo lado de fora, tive uma certa surpresa, julgando-a muito menor do que eu a imaginava.

Isto se deve ao fato de que, na construção da Basílica, Michelangelo teve o cuidado de ocultar, tanto quanto possível, o tamanho do Cupolone. Naquele tempo, onde o materialismo ainda não tinha feito tantos progressos, era bonito realçar a proporção e esconder o tamanho. Porque o tamanho é matéria, e a proporção é espírito. O espírito deve dominar sobre a matéria.

Houve uma tal preocupação em disfarçar a altura dele, que eu não notei ser o “duomo” de São Pedro tão alto quanto o Martinelli, o maior edifício de São Paulo daqueles tempos.

Porém, a Basílica de São Pedro é toda influenciada pela Renascença. E, portanto, do ponto de vista artístico, ela não é senão uma reapresentação de elementos de beleza clássica, apresentados pelas gerações que vieram depois do Renascimento.

Ora, isso não tem, absolutamente, o espírito católico da Idade Média.

Nota-se, claramente, que a Basílica de São Pedro é uma igreja muito bem composta, cuja pompa está à altura do que os homens podem dispor para venerar a Sé de Pedro e ser, nesse sentido, a primeira igreja da Cristandade. Mas, de certo modo, o homem não tem ali a sensação de proximidade com Deus que há na Catedral de Notre-Dame, em Paris.

Eu traduziria essa impressão nos seguintes termos: na Basílica de São Pedro eu vejo uma tentativa do homem elevar-se até Deus, num esforço de piedade; na Catedral de Notre-Dame, é Deus quem desce até os homens. Por causa disso, a impressão de proximidade de Deus lá é muito maior do que no próprio Vaticano.

 

 

(Extraído de conferência de 18/5/1976)