Eram famosas aquelas “palavrinhas”, no vasto círculo de amigos de Dr. Plinio. Assim eram chamadas as conversas curtas e informais com pequenos grupos de jovens, cujo principal interesse era ouvir a narração de episódios da vida desse varão. Constituíam excelentes ocasiões para Dr. Plinio cultivar nas almas de seus ouvintes a boa doutrina. Sendo um de seus temas favoritos o amor ao Papado, certa ocasião ele contou o que segue.
O ambiente em que fui educado era o de uma família tradicional nos primórdios do século XX, muito antigo portanto, no qual ocorriam grandes discussões entre duas espécies de pessoas: de um lado, os católicos convictos; de outro, alguns que se diziam ateus. Eram controvérsias calorosas, verdadeiras batalhas intelectuais, embora se mantivesse sempre um fundo de cordialidade. Quer dizer, sem desaforos nem desrespeitos. Uma vez terminado o entrechoque, voltava-se à boa paz. Mas eram batalhas!
Uma consideração de menino: o Papa, supremo e sacrossanto
Cresci, portanto, num meio em que esses problemas de fé, Igreja e correlatos faziam parte de minha formação espiritual, despertando em mim um interesse pela Religião Católica e uma adesão a ela sempre maiores.
O vínculo que se criou com o catolicismo estreitava-se ainda mais quando, nessas discussões, sobressaía a figura maravilhosa da máxima autoridade na Igreja, o Papa. Ele, o Vigário de Cristo, supremo, sacrossanto, que manda em todos e indica a hora certa do pensamento humano no relógio infalível de sua mente, que não pode errar, porque Deus o ampara contra o erro. Eu achava essa posição o supra-sumo do magnífico e do bem-ordenado.
Quando fiquei um pouco mais velho, a essa simpatia se juntou uma adesão mais racional, consciente e profunda que a do menino. Compreendi o quanto estou sujeito a erros, de modo que, sozinho, não posso encontrar o caminho certo. Ora, eu queria encontrar esse caminho verdadeiro, desejava acertar meu passo, custasse o que custasse.
Como me haver nessa situação? Ou haveria um guia infalível, apoiado por Deus, para me conduzir; ou, se não existisse esse guia infalível, todos os homens seríamos cegos guiando outros cegos. Esse guia infalível é o Papa. Era preciso, portanto, alimentar uma confiança inteira nele, ou cair na completa descrença e no achincalhe de tudo, como infelizmente acontece com muitas pessoas pelo mundo, vivendo ao léu, cegos em campo raso, sem saberem para onde vão, o que querem e o que pensam. Andam como tontos.
A linha reta para chegar ao Céu
E daí compreendi que a peça-chave de toda a ordem humana e a linha reta para chegar ao Céu estava no Papado. Então, entusiasmo sem limites pelo Papado! E pelo dom que Deus deu aos homens, quando Nosso Senhor Jesus Cristo fundou a instituição pontifícia, no momento em que perguntou aos seus Apóstolos quem achavam ser Ele, Pedro respondeu: Vós sois Cristo, o Filho de Deus vivo. Ouvindo isso, Nosso Senhor teve as célebres e soleníssimas palavras: Pedro, tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do inferno quer dizer, o poder de Satanás não prevalecer ão contra ela. Jamais a vencerão.
Tudo isso eu achava, e acho, o supra-sumo da história dos homens e das almas. E quero, quando chegar o momento de minha morte, mais do que nunca em minha vida, estar persuadido dessa verdade.
Um pouco mais velho ainda, compreendi outro importante princípio: se devemos reconhecer no Papa o poder que Nosso Senhor Jesus Cristo lhe outorgou, não devemos ver nele nem um poder maior nem, sobretudo, menor do que aquele dado por Jesus. Cumpre aceitarmos e venerarmos o Papado como Nosso Senhor o fez. Não podemos modelar um Papado segundo nossa cabeça, mas entender que a instituição fundada pelo Divino Salvador é excelente, porque Ele é infalível no sentido pleno da palavra. Homem-Deus, incapaz de errar, perfeito em tudo quanto fizesse. Estaremos seguros, apoiados na autoridade de Deus.
De tudo isso, repito, me vem uma tão grande admiração pelo Papado, um tamanho entusiasmo, que eu quase diria uma adoração, se não refreasse a tempo a palavra em meus lábios.
Exemplos da grandeza do papado
É um amor sem limites, uma veneração por aquela grandeza pontifícia que eu próprio vi em alguns fatos históricos do passado. Por exemplo, no tempo de Pio XI o nazismo e o comunismo estavam no auge de seu poder e ameaçavam, um ou outro, tomar conta da Europa. Como? Mediriam forças numa guerra, e aquele que saísse vitorioso dominava o continente europeu. Percebendo o perigo, Pio XI publicou duas encíclicas sucessivas: a primeira, condenando o comunismo, com uma energia única e extraordinária; no dia seguinte, outra encíclica condenando o nazismo.
Enfrentou os dois poderes de peito aberto, reduzindo-os ao silêncio. Sem soldados, sem tropas, sem canhões, sem bombas de gás asfixiante, o Papa os combateu e emudeceu. Para mim, um gesto grandioso! Recordo-me de outro belo episódio em que reluziram a coragem e a sabedoria pontifícias. Desta feita, com o Papa Pio XII, que pronunciou um discurso no qual fez uma distinção famosa entre povo e massa. Tão luminosa, tão acertada, que pode ser considerada uma das coisas mais inteligentes que tenha produzido o pensamento humano.
Um conselheiro do Papa, o Pe. Leiber (com quem mantive muito boas relações), contou-me que, após a publicação desse discurso, Pio XII recebeu calorosas felicitações e agradecimentos do Presidente Roosevelt, dos Estados Unidos. Este desejava externar seu reconhecimento note-se, um protestante por aquelas palavras que lhe serviriam para orientar o próprio governo norte-americano!
Esta é a grandeza do Papado, diante da qual se vergam até as maiores potências da terra.