Nossa Senhora, a morte dos crimes

Certas pessoas podem ter a ideia de que as evoluções do mundo extinguirão os crimes. Verdadeiramente, a morte dos crimes já veio ao mundo com o nascimento de Nossa Senhora. Ela, segundo um lindo cântico gregoriano, é a “Mors críminum”, a “Morte dos crimes”.

Por sua influência, mediação, oração e comunicação de graças, Maria Santíssima mata os crimes, extirpa os pecados e elimina o mal da Terra, triunfando permanentemente sobre ele.

 

Plinio Corrêa de Oliveira, (Extraído de conferência de 18/8/1965)

Firmeza do guerreiro católico

Vemos aqui São Felipe Néri já idoso, com a barba inteiramente branca e o semblante de um homem que lutou muito, e ainda está no combate. E que está olhando atento e desconfiado para um adversário invisível para nós, mas que ele divisava ao longe.

Dir-se-ia que o Santo estava percebendo formar-se uma trama a certa distância dele, e que pensava na argumentação a ser dada e na rasteira a passar em quem avançava contra ele.

O caráter de luta, a meu ver, está não tanto no olhar, que dá muito a ideia de vigilância e de pugnacidade, mas no formato contorcido das sobrancelhas. Dir-se-ia que de tanto franzir as  sobrancelhas elas ficaram com essa forma singular. Como um guerreiro carrega as características da guerra, assim também as sobrancelhas dele carregavam o traçado de profundas preocupações.

Mas, se o olhar é vigilante, toda a atitude do rosto é plácida: é a firmeza do guerreiro católico que tem coragem.

O Rosário, caminho para a vitória!

Para bem compreender o valor da devoção ao Santo Rosário, analisemo-lo com maior profundidade. Após ser entregue diretamente por Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão, a devoção ao Rosário se estendeu rapidamente por toda Igreja, ultrapassando os limites da Ordem Dominicana e ornando-se o distintivo de muitas outras ordens que passaram a portá-lo pendente à cintura.

Tempo houve em que todo católico o trazia habitualmente consigo, não apenas como objeto de contar Ave-Marias, mas como instrumento que atraía as bênçãos de Deus. O Rosário era  considerado uma corrente que liga o fiel a Nossa Senhora, uma  arma que afugenta o demônio.

Esplêndida conjunção da oração vocal com a mental

O que vem a ser o Rosário? Em síntese, o Rosário é uma composição de meditações da vida de Nosso Senhor e de sua Mãe, somada a orações vocais. Tal conjunção — da oração vocal com a mental — é verdadeiramente esplêndida, pois, enquanto se profere com os lábios uma súplica, o espírito se concentra num ponto. Assim o homem faz na ordem sobrenatural tudo quanto pode. Porque  através de suas intenções, se une àquilo que seus lábios pronuncia m, e por sua mente se entrega àquilo que seu espírito medita.

Por esta forma de oração o homem une-se intimamente a Deus, sobretudo porque esta ligação se dá através de Maria, Medianeira de todas as graças.

Alguém poderia perguntar: “Qual o sentido de rezar vocalmente a Nossa Senhora enquanto se edita em outra coisa? Não podia ser algo mais simples? Não seria mais fácil meditar antes, e depois rezar dez Ave Marias?”

A resposta é muito simples. Cada mistério contém, nos seus pormenores, elevações sem fim, as quais nosso pobre espírito está procurando sondar… Ora, para fazê-lo com toda a perfeição, precisamos ser auxiliados pela graça de Deus, e tal graça nos é dada pelo auxílio de Nossa Senhora. Ou seja, pronuncia-se a Ave-Maria para pedir que a Virgem Santíssima nos obtenha as graças para bem meditar.

Obra-prima da espiritualidade católica

No Rosário encontramos pequenos, mas preciosos tesouros teológicos que o tornam uma obra-prima da espiritualidade e da Doutrina Católica. Esta devoção contém enorme força e substância; ela não é apenas feita de emoções; pelo contrário, é séria, cheia de pensamento, com razões firmes. Ela constitui a vida espiritual do varão católico como um sólido e esplendoroso edifício de conclusões e certezas.

Além disso, a meditação de cada mistério da vida de Nosso Senhor proporciona ao fiel receber graças próprias ao fato que está contemplando.

Ao analisarmos as incontáveis graças que Maria Santíssima vem distribuindo por meio da recitação do Santo Rosário, vemos nele algo que o torna superior a outros atos de piedade mariana. Ora, qual é a razão disto?

Antes de mais nada, vale salientar que Nossa Senhora, sendo excelsa Rainha, tem o direito de estabelecer suas preferências! E Ela quis elevar esta devoção além das outras, distribuindo graças especialíssimas através da recitação do Santo Rosário.

Batalha de Lepanto

Entre as diversas graças insignes alcançadas pela recitação do Rosário está a vitória obtida pela Cristandade na Batalha de Lepanto.

São Pio V, então Pontífice, encontrava-se aflito diante da ameaça otomana que cercava a Europa cristã. Ordenou, então, que toda a Cristandade rezasse o Rosário a fim de suplicar a intervenção de Nossa Senhora.

Antes da terrível batalha ocorrida no Golfo de Lepanto, a sete de outubro de 1571, entre as hostes cristãs e muçulmanas, os soldados católicos rezavam o Rosário com grande devoção.

Segundo testemunharam os próprios adversários, a Santíssima Virgem apareceu-lhes durante a batalha, infundindo-lhes grande pavor.

Para comemorar a grande vitória obtida neste dia, o Santo Padre instituiu a festa de Nossa Senhora do Rosário, a qual, no século  XVIII, foi estendida a toda a Igreja Católica por determinação do Papa Clemente XI.

Uma vez que por meio do Santo Rosário a Cristandade tem obtido tão grandes vitórias, não temos razão suficiente para esperar, por meio da recitação desta oração, a vitória em todas as lutas travadas ao longo de nossa existência?

Resolução de rezar sempre o rosário.

Um fato ocorrido na vida de Santo Afonso Maria de Ligório mostra-nos que, sobretudo, numa grande luta o Rosário é penhor de vitória. O santo era conduzido em cadeira de rodas, por um irmão de hábito, através dos corredores do convento, quando perguntou se já haviam rezado todo o Rosário. O companheiro lhe respondeu:

Não me lembro.

Rezemos, então. Disse o santo.

Mas o senhor está cansado! Que mal há um só dia deixar de rezar o Rosário?

Temo por minha salvação eterna se o deixasse de rezar por um só dia.

 É justamente isso que devemos pensar e sentir: o Rosário é a grande garantia de nossa perseverança final. Devemos pedir à Santíssima Virgem a graça de rezar o Rosário todos os dias de nossa vida.

Gostaria ainda de dar uma recomendação para os membros de nosso Movimento: nunca deixarem o Rosário, de modo que, mesmo dormindo, procurem ter o Rosário à mão, de maneira tal que o sintam consigo. E, se tiverem receio de que ele caia — devemos tratá-lo com toda a reverência —, pendurem-no ao pescoço, ou o coloquem no bolso.

“Eu quisera ressuscitar com o Rosário em minhas mãos”

Quando as nossas mãos não puderem mais abrir-se nem fechar-se, e forem movimentadas por outros que nos assistam, tenhamos, como última atitude de oração, o Rosário enleado em nossos dedos, de maneira que, quando chegar a Ressurreição dos mortos e de dentro do caixão nosso corpo retomar a vida, entre seus dedos vivificados esteja o Santo Rosário. Quisera eu que, no momento em que todos os justos forem convocados à Ressurreição, meu primeiro ósculo fosse no Rosário que eu encontrasse em minhas mãos.

Eis um conselho para depois da Ressurreição — nunca ouvi dizer que se desse conselhos, ou se fizesse alguma combinação para essa hora, mas proponho uma combinação: Quando todos ressuscitarmos, entre os resplendores da Ressurreição, lembremo-nos: “Estava combinado!”, e então osculemos o Rosário! Assim este Movimento, que é de Nossa Senhora, ressuscitará tendo nas mãos seu Santo Rosário!

 

Plinio Corrêa de Oliveira, (Extraído de conferências de 7/10/1964 e 10/3/1984)

 

 

 

 

Um perpétuo mês de Maria

No mês de maio, mês de Maria, comentava Dr. Plinio, sente-se uma particular proteção de Nossa Senhora estender-se sobre todos os fiéis, uma alegria que brilha e ilumina nossos corações, exprimindo a certeza dos católicos de que o indispensável patrocínio de nossa Mãe celestial se torna, durante esse período, mais solícito, mais amoroso, mais cheio de visível misericórdia e exorável condescendência. 

Tais sentimentos nutriram a devoção de Dr. Plinio à Santíssima Virgem, desde os anos de sua infância quando, numa penosa conjuntura, viu-se pela primeira vez amparado pela clemência da Auxiliadora dos Cristãos. A Ela passou a recorrer constantemente e, de modo especial, durante o “mês de Maria”, celebrado no Colégio São Luís onde ele estudava, assim como em todas as paróquias. Já homem feito, recordaria com saudades aquelas fervorosas homenagens tributadas à Mãe de Deus:

“As igrejas ficavam repletas, tomadas pelos membros de associações religiosas consagradas a Nossa Senhora — Filhas de Maria, Congregados Marianos, etc. —, além da multidão de fiéis que, nas noites de maio, compareciam a ditas cerimônias. Em geral, o sacerdote puxava o Terço e outras orações, entremeadas de cânticos em louvor da Virgem. Em seguida, o padre, do alto do púlpito, dirigia algumas palavras à assembléia, exaltando as augustas virtudes de Maria e exortando os paroquianos a imitá-La.

“Na seqüência, o momento culminante da celebração com a Bênção do Santíssimo. O sacerdote, revestido de belos paramentos brancos, tomava em suas mãos o ostensório que esplendia raios dourados e, em movimentos solenes, meio envolto nas névoas perfumadas do incenso, traçava no ar o Sinal da Cruz para todos os lados da igreja. Logo depois, depositava o ostensório sobre o altar, recitava as orações prescritas para o encerramento da bênção e, terminadas, guardava novamente o Santíssimo Sacramento no tabernáculo. A cerimônia chegara ao fim. As associações religiosas se retiravam pela sacristia e cada um voltava para sua casa.

“A meu ver, porém, talvez um dos aspectos mais bonitos de tudo aquilo era essa post-cerimônia: o templo que se esvaziava, ecos de cântico religioso ainda ressoando no seu interior, resquícios de incenso flutuando no ar, o sacristão que ia apagando as várias luzes, balançando suas chaves, conferindo se ninguém esquecera algo sobre os bancos ou nos confessionários. Então só restavam ali as almas aflitas, as almas recolhidas diante desse ou daquele altar lateral: ora uma senhora muito idosa, vergada pelo peso das provações, ora um rapaz corpulento, saudável; um obeso senhor de meia idade, uma mãe de família igualmente madura, ou um menino — todos elevando uma premente súplica à Homenageada da noite.

“Afinal, o sacristão balançava com mais força o seu molho de chaves, e aquelas pessoas entendiam que era preciso sair. Lá fora, pelas ruas já despovoadas, podia-se acompanhar os últimos fiéis que se dispersavam: a senhora idosa com sua bolsa estreitada ao corpo, o homem obeso com ar sofrido, o rapaz alegre e esperançado, distanciando-se, como se fossem as derradeiras bênçãos daquela cerimônia que se dirigiam para os vários cantos da cidade. Atrás ficava a igreja, fechada, com sua torre voltada para o céu, sob as nuvens tocadas de luar, à espera da manhã seguinte em que abriria de novo suas portas.

“No dia 31 de maio dava-se o magnífico encerramento do mês de Maria, quando a imagem da Virgem, posta sobre um andor emoldurado de flores, era solenemente coroada. Enquanto um “anjinho” trazia numa almofada a coroa para colocá-la sobre a cabeça da imagem, o povo, genuflexo, acompanhava os cânticos entoados pelo coro, acentuados pelo timbre do órgão tocado à “toute volée”. Depois, conduzida por algumas pessoas, a imagem coroada percorria o recinto da igreja, seguida pelo celebrante revestido com paramentos de gala. Outras orações, outros cânticos, e tudo estava terminado.

“Todos se despediam de maio com imensas saudades. Gostariam que o ano inteiro fosse um perpétuo mês de Maria. E eu espero que, quando vier para o mundo aquela época luminosa e marial do triunfo do Imaculado Coração da Santíssima Virgem, prometida por Ela em Fátima, tenhamos nós esse imenso mês de Maria, em que todos os dias se preste homenagem a Nossa Senhora e cante-se sua glória como Rainha do Universo.”

Nunca se ouviu dizer…

No mês de maio, mês de Maria, conforme dizia Dr. Plinio, “sente-se uma proteção especial de Nossa Senhora se estender sobre todos os fiéis, e uma alegria que brilha e ilumina nossos corações, exprimindo a universal certeza dos católicos de que o indispensável patrocínio de nossa Mãe celestial se torna, durante esse período, ainda mais solícito, mais amoroso, mais cheio de visível misericórdia e exorável condescendência”.(1)

Condescendência e misericórdia maternais que imploramos com plena confiança ao longo do “Lembrai-vos”, oração atribuída a São Bernardo de Claraval, e por Dr. Plinio não só recitada diversas vezes ao dia, mas também incansavelmente recomendada a seus filhos espirituais. Ouçamo-lo:

“Cumpre analisarmos e compreendermos as magníficas palavras dessa prece: Lembrai-Vos ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer, que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado vossa assistência e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado.

– é bastante categórica; “algum daqueles”, ou seja, qualquer um, ao longo de dois mil anos de história da Igreja;

– proteção, assistência, socorro: proteção para evitar que a tentação venha, assistência é um auxílio numa situação difícil,

– socorro é para uma pessoa que se acha periclitando, sumindo, afundando. Pois bem, “nunca se ouviu dizer que, tendo alguém pedido proteção, assistência e socorro a Nossa Senhora, fosse por Ela desamparado”.

“Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, ó Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho”.

Quer dizer, se Vós nunca deixastes de proteger a ninguém, aqui estou eu, um ente humano, batizado na Igreja Católica; sou vosso filho, venho vos pedir auxílio, estou tentado, tive culpa, digamos que até caí perante uma tentação. Porém, continuo vivo, a vossa clemência me mantém neste mundo e, portanto, tenho o direito e o dever de rezar a Vós. Eis-me aqui, repleto de confiança na vossa misericórdia.

“E, gemendo sob o peso de meus pecados, me prostro a vossos pés”.

Note-se como é animadora essa expressão. Não diz: ‘Eu, o inocente, o puro, o límpido; eu, o homem sem mancha, me dirijo a Vós e peço socorro. A minha inocência me dá direito a vosso auxílio’. Não. ‘Gemendo sob o peso de meus pecados’. Ou seja, são tantas faltas que elas me prostraram no chão. Estou caído ao solo sob o fardo delas, e este me oprime de tal modo que eu chego a gemer. Ora, ‘gemendo sob o peso de meus pecados’, o que faço eu? ‘Prostro-me a vossos pés’. Venho para junto de Vós, minha Mãe, e a Vós me agarro, na opressão de meus pecados.

Em seguida, a conclusão: “Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que Vos rogo. Amém”.

O pensamento é lindo. Dignai-Vos de ouvir com benignidade, com bondade, o que eu estou suplicando. De vossa parte eu espero um sorriso e que me alcanceis aquilo que Vos peço.

Essa é uma tocante e filial manifestação da confiança de qualquer alma, em qualquer estado, posta em qualquer situação, para com Nossa Senhora. Confiança que a reveste de ânimo e a faz se voltar à Santíssima Virgem, certa de receber o socorro da Virgem. O raciocínio que essa súplica encerra é simples: “Vós nunca abandonastes ninguém. Ora, eu sou alguém; logo, Vós não me abandonareis”. Trata-se de uma reflexão a mais lógica, concludente e convincente possível; a mais singela na sua esquematicidade e a mais irresistível, expressa numa linguagem de fervor e devoção.

“Assim, resta-me fazer essa recomendação, jamais supérflua: nunca, nunca, nunca deixemos de rezar a Nossa Senhora. É preciso invocá-La, é necessário que a Ela sempre recorramos, máxime nos momentos difíceis de nossa existência. Seja nas horas de tentações, de provações, angústias e sofrimentos, seja nos problemas comuns de todos os dias, Ela nos ajudará. E se, por infelicidade, sucumbirmos à tentação, redobremos de ânimo e brademos: ‘Lembrai-Vos ó piíssima Virgem Maria!’

“Ela, a melhor de todas as Mães, terá compaixão de nós, seus filhos, e nos reerguerá com um sorriso repassado de solicitude e carinho inimagináveis.”

1) Última Hora, 7/5/1984

Sagrada Família: três auges de perfeição

Na humilde casa de Nazaré verificava-se uma ascensão em graça e santidade, perante Deus e os homens, das três pessoas excelsas que ali moravam. Três perfeições que alcançaram o auge ao qual cada uma devia chegar. Eram três auges desiguais, que se amavam e se intercompreendiam de modo intenso, e que constituíam uma hierarquia — disposta pela Divina Providência — admiravelmente inversa: o chefe da casa no plano humano era o menor na ordem sobrenatural; e o menino, que devia obediência aos pais, era Deus.

A Sagrada Família, modelo de todas as famílias, compunha-se portanto de três perfeições altíssimas, magníficas, mas distintas, realizando uma extraordinária harmonia de desigualdades, como nunca houve nem haverá semelhante na terra.

Senso da presença de Deus

Santa Isabel foi dotada pelo Espírito Santo de um dom que a fez sentir a presença do Menino Jesus em Nossa Senhora.

Em certa medida, o verdadeiro católico também recebe essa graça, de tal forma que, quando a ela corresponde, ele deve saber discernir onde está e onde não está Deus, não física, mas moral e sobrenaturalmente. Todo autêntico membro da Igreja deve ser munido de um senso tal, que lhe indique quando as coisas são ou não segundo Deus.

Para isso não é preciso ter grande cultura, inteligência ou conhecimento teológico; basta ter este verdadeiro senso católico, privilégio dos que correspondem à graça do batismo. Disto Santa Isabel nos dá um maravilhoso exemplo ao perceber a presença do Menino Jesus no claustro materno de sua Santíssima prima.

 

Plinio Corrêa de Oliveira, (Extraído de conferência de 2/7/1970)

Maria… fora de comparação!

“De Maria nunquam satis”. Com esta curta mas expressiva frase, afirma São Bernardo que nunca se louvou, exaltou, honrou, amou e serviu suficientemente a Maria. Dr. Plinio demonstrou sempre grande entusiasmo por esta tese. Apesar de sua imensa capacidade de expressão, gostava ele de reafirmar a insuficiência do vocabulário humano para exaltar convenientemente a Rainha do Céu e da Terra.

 

Neste mês de Maio, mês de Maria, nossos leitores gostarão certamente de conhecer uma significativa amostra dessas manifestações de devoção mariana. Para tanto, transcrevemos um pequeno trecho de seus comentários sobre o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”.

Sendo Deus “Aquele que é”, nunca se passou nada que, de longe, pudesse ser tão importante como a Encarnação do Verbo. Este é um fato relacionado com a própria natureza divina, e tudo que diz respeito a Deus é incomparavelmente mais importante do que tudo que diga respeito ao homem. A Encarnação de Deus a tudo transcende em importância.

Por este motivo, o papel de Nossa Senhora na Encarnação situa bem o papel d’Ela em todos os planos divinos, e precisamente no que eles têm de mais importante e de mais fundamental.

Achamos admirável, por exemplo, Nosso Senhor ter escolhido Constantino para tirar a Igreja das catacumbas. Mas o que é isto, perto de ter escolhido Nossa Senhora para n’Ela ser gerado?  Absolutamente nada! Admiramos muito o Pe. Anchieta, porque ele evangelizou o Brasil. Mas o que é evangelizar um país, em comparação com o cooperar na Encarnação do Verbo? Nada!

Digamos que se tratasse de salvar o mundo de sua crise atual e de restabelecer o reino de Cristo, e suponhamos que Nosso Senhor escolhesse um só homem para esta tarefa. Nós acharíamos esta missão algo de formidável, e com razão. Mas, o que seria isto em comparação com a missão de Nossa Senhora? Nada! Ela situa-se num plano que está fora de comparação com a missão histórica de qualquer homem. A respeito de Nossa Senhora é-se sempre obrigado a repetir a expressão: “fora de comparação”, porque Ela faz estalar todo o vocabulário humano. Há uma tal desproporção entre Ela e todas as demais criaturas, que a única coisa segura que se pode dizer é que é “fora de comparação”…

* * *

Estava já em fase final de preparação este número de nossa Revista quando o Papa João Paulo II presenteou o orbe católico com a encíclica Ecclesia de Eucharistia (A Igreja vive da Eucaristia),  datada de 17 de abril, Quinta-Feira Santa. Nesse luminoso documento,  o Papa ressalta a suprema importância do Sacrifício do Altar, centro e ápice da vida cristã, e incita os fiéis do mundo inteiro  a darem todo o valor devido a este imenso dom de Deus, que é a presença real de Cristo na Eucaristia.

Por uma feliz coincidência, é este o tema da seção “Dr. Plinio comenta”: a grande alegria que dá a Jesus Cristo quem O recebe na Comunhão, ou ao menos faz uma curta visita ao Santíssimo  Sacramento, e a estreitíssima intimidade que Ele estabelece com a alma que O recebe.

Em consonância com os anseios manifestados pelo Santo Padre em sua valiosa encíclica, trataremos mais amplamente do tema da Eucaristia no próximo número, mês da festa do Corpo de Deus.

Plinio Corrêa de Oliveira

A mediação universal de Nossa Senhora

O  meio para atingirmos a finalidade de nossas vidas é sermos devotos de Nossa Senhora. Ela é medianeira de todas as graças; todos os nossos pedidos vão a Jesus Cristo, Nosso Senhor, por meio d’Ela.Isso se exprime de um modo característico com um axioma da Teologia: um pedido feito a Deus por todos os anjos e santos, em conjunto, ao qual Nossa Senhora não se associe, não é atendido. Porém, se Ela pedir sozinha será atendida.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência  de 28/10/1990)

Ponde em mim os olhos de Vossa piedade

Minha Mãe, eu sei bem, ou ao menos julgo saber bem, quais são os meus defeitos. Receio, porém, ter uma noção hipertrofiada de minhas qualidades. Vós bem sabeis como é uma coisa e como é outra.

Não me interessa saber até que ponto minhas qualidades podem me obter o que eu preciso; nem me interessa saber até que ponto meus defeitos atraem sobre mim punições que eu poderia não sofrer se eu não os tivesse. Porque Vós vedes tudo isso e Vós rezais por mim com empenho de Mãe de Misericórdia. E onde entram os vossos méritos e a vossa súplica, o contributo de minha súplica é uma gota de água.

Entretanto, Vós quereis a oração de vossos filhos. Olhai, pois, para as minhas necessidades, elas são um bramido que se levanta a Vós, pedindo-Vos aquilo que eu preciso.

Tende pena de mim, ponde em mim os olhos de vossa piedade, e atendei-me.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 22/11/1988)