O arqui-vitral

Se os maravilhosos vitrais das catedrais góticas tanto nos deixam enlevados e admirados, incomparavelmente mais nos deve arrebatar o arqui-vitral, o vitral inimaginável, o primeiro, que é o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, concebido sem pecado original e através do qual reluz, inteiro, o divino Sol de Justiça!

Pela Santíssima Virgem, cheia de graça, passam todos os dons de Deus, iluminando-a de fulgores e cintilações inexcedíveis. Ela é, na verdade, o esplendoroso vitral que filtra para os homens este convite: “Vinde, subi, penetrai em mim, e eu vos mostrarei outros horizontes e vos levarei para outros céus. Não aqueles que o olhar procura, mas os céus e horizontes que Deus revela aos eleitos de sua misericórdia…”

Plinio Corrêa de Oliveira

Decisão e fortaleza dos aflitos

A condição do católico, nesta terra, é “suspirar, gemer e chorar”, como dizemos na Salve Rainha. E um de nossos gemidos é a luta contra os adversários de nossa salvação. É o gemido por ter de tomar a iniciativa de combatê-los, de não ceder nunca, de estar continuamente batalhando, sem desfalecimento. Por isso devemos recorrer sempre a Nossa Senhora, Mãe de misericórdia e Consoladora dos aflitos.

Consolar não é apenas enxugar o pranto de quem chora. É muito mais do que isso. É também dar força, ânimo e decisão. Pode-se, portanto, dizer que Nossa Senhora é a “Decisão dos aflitos”.

Em meio às suas aflições, o homem facilmente se acabrunha e se entristece de modo excessivo, perde a coragem e se deixa dominar pelo desânimo. Nossa Senhora pode, magnificamente, atenuar-lhe os sofrimentos. Contudo, o maior benefício que Ela concede ao homem aflito não é o de suavizar as dores que ele tem de enfrentar, mas o de lhe dar forças para suportá-las.

Nada, portanto, de uma piedade unicamente lacrimosa e passiva. Se estamos gemendo e chorando, devemos imitar a Nosso Senhor no Horto das Oliveiras: peçamos forças para arrostar o perigo, o risco e a luta que estão diante de nós. E Nossa Senhora então nos consolará, dizendo-nos: “Filho, ânimo! Eu te concedo forças para lutar. No Céu serão pagos os teus sofrimentos, e serão  recompensadas em glória todas as cruzes que tiveres de carregar sobre os ombros. Coragem, e anda para a frente!”

Essa é, propriamente, a consolação. Ou seja, um fortalecimento que Nossa Senhora proporciona àqueles que necessitam de vigor e de ânimo para os combates da vida.

Plinio Corrêa de Oliveira

Natividade de Nossa Senhora

Fonte de toda elevação e grandeza, Nosso Senhor escolheu por Mãe aquela que, abaixo d’Ele, veio ao mundo para ser o píncaro da criação. E um ápice com esta característica de particular excelência: possuía tudo na ordem do necessário, acrescido da elegância que se alça para o terreno do supérfluo.

Ela nasceu com o florilégio de todos os charmes possíveis, mil graciosidades, mil distinções, mil belezas que constituem, também, a sua incomparável glória.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Os Céus se alegram, os Infernos estremecem

Há um hino a Nossa Senhora do qual gosto muito, cujas estrofes afirmam:
“Se tu queres o Céu, ó alma, invoca o nome de Maria.
“Aos que invocam Maria, as portas do Céu se abrem.
“Pelo nome de Maria os Céus se alegram, os Infernos estremecem.
“O Céu, a Terra e os mares, o mundo inteiro se rejubila.
“Fogem as culpas e as trevas, as dores da doença e as úlceras.
“Aos vencidos se desatam os pés, e para os navegantes as águas se tornam mansas.
“Glória a Maria, Filha do Pai, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Esposa do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.”
É muito bonitinho, tem muita candura. Ao dizer isto, não o dissocio de Nossa Senhora altíssima, puríssima, reinando no Céu e, por causa disso, exercendo sobre a Terra essa ação benfazeja, mas enorme! Não há mares, não há trevas, não há coisas que Ela não domine, em razão de ser tão boa e estar tão alto.

 

Plinio Corrêa de Oliveira(Extraído de conferência de 6/7/1985)
Revista Dr Plinio 234 (Setembro de 2017)

Corrigi-me em minha oração

Minha Mãe, Vós sabeis o que me convém, entretanto eu nem sempre o sei. Às vezes eu não peço o que me convém, porque não sei. Outras vezes eu peço o que não me convém, porque imagino que é bom.

Senhora, eu Vos peço, ponde um seletivo em minha oração. De forma que Vós, que bem sabeis o que me é conveniente, me obtenhais, ainda que eu não peça, porque eu não sei o que de fato me convém. Corrigi-me em minha oração, caso peça algo que me pareça muito razoável, porém por razões que ignoro e Vós sabeis, não seja conveniente.

Fazei o que me convenha!

“Oportet semper orare et non deficere!” É preciso rezar sempre e não desanimar nunca!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 5/12/1987)

Do mais alto dos Céus, desce até nós, misericordiosa e benigna

Disse Nosso Senhor que “todo o que se humilha será exaltado” (Lc 14, 11). Ora, Maria Santíssima, afirmando ser escrava de Deus, humilhou-Se além de todo o limite. Por isso foi elevada ao mais alto dos Céus, ocupando um lugar que nenhuma outra mera criatura, abaixo do Homem-Deus, alcançará.

Assim, o verdadeiro escravo de Nossa Senhora, ao invocá-La, deve ter presente as magnificências de que Deus A revestiu. E, portanto, nunca se dirigirá a Ela senão com sumo respeito, suma admiração e suma confiança. Confiança, sim, porque sendo Maria a mais alta e eminente de todas as criaturas, é também a mais benigna, misericordiosa, afável e a que mais desce até nós.

A grandeza da Santíssima Virgem é tão imensa que preenche todos os espaços, por enormes que sejam, que vão d’Ela até o último dos homens. Embora entronizada no alto dos Céus, Ela nos é mais acessível, está mais disposta a nos atender e a nos perdoar. No seu insondável e fixo amor para com os degredados filhos de Eva, podemos e devemos ter uma total confiança.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 16/6/1972)/
Revista Dr Plinio 245 (Agosto de 2018)

Rainha da Contra-Revolução

Nossa Senhora enquanto Rainha dos Anjos é a Rainha da Contra-Revolução. Ela dirige a Contra-Revolução dos Anjos que atuam sobre nós e os acontecimentos da Terra, de maneira a se passar tudo como Ela quiser.

Maria Santíssima tem todos os matizes, todas as glórias, todas as cores, todas as belezas da Contra-Revolução. É a Imaculada Conceição esmagando a cabeça da serpente, a Rainha dos Anjos que comanda o exército angélico, como o exército dos Santos – “Regina Sanctorum Omnium”, Rainha de todos os Santos. É a Rainha dos contrarrevolucionários, nossa Mãe, que nos guia e nos ama especialmente por esta razão. E Nossa Senhora é o arquétipo da virtude dos anjos que, tendo decaído, terminaram por ser lançados no Inferno, e que devemos substituir no Céu. Assim, há um nexo especial entre nós e Ela.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 28/5/1988)

Bendito o dia que viu Nossa Senhora nascer!

Segundo a Liturgia, foi no mês de setembro que, há mais de vinte séculos, veio ao mundo a Mulher destinada a ser Mãe do Divino Salvador. Ao recordar esse nascimento entre todos venturoso  para o gênero humano, Dr. Plinio teceu os piedosos e admirativos comentários que ora transcrevemos.

 

O nascimento de Nossa Senhora trouxe para a humanidade um valor que, devido à falta de nossos primeiros pais, era então desconhecido: uma criatura isenta de qualquer mancha, um lírio de incomparável formosura que deveria alegrar os coros angélicos e a terra inteira. Era, em meio ao exílio do gênero humano corrompido, o aparecimento de um ser imaculado, concebido sem  pecado original.

Considere-se ainda que Nossa Senhora trazia consigo todas as riquezas naturais que podem caber numa mulher. Deus lhe concedeu uma personalidade valiosíssima, e, a esse título também, sua  presença entre os homens representava um tesouro verdadeiramente incalculável.

Entretanto, se aos dons naturais acrescentarmos os tesouros das graças incomensuráveis que com Ela vinham, as maiores que Deus Nosso Senhor tenha concedido a alguém, podemos compreender o enorme significado de seu advento ao mundo. O nascer do sol é uma pálida realidade em comparação com a resplandecente aurora que foi o aparecimento de Nossa Senhora nesta   terra! A entronização mais solene que se possa imaginar de um rei ou de uma rainha, ou os fenômenos da natureza mais grandiosos, nada são diante do nascimento de Maria, momento bendito  certamente saudado pela alegria de todos os Anjos do Céu, e pode-se conjecturar que tenha provocado inusitados sentimentos de júbilo nas almas retas esparsas pela terra.

Esse sentimento de alegria bem pode ser expresso com uma paráfrase das palavras de Jó: “Bendito o dia que viu Nossa Senhora nascer, benditas as estrelas que A viram pequenina, bendito o  momento em que veio ao  mundo a criatura virginal destinada a ser Mãe do Salvador!”

O início de nossa redenção

Se se pode dizer que a redenção dos homens teve início com o nascimento de  Nosso Senhor Jesus Cristo, pode-se afirmar que o mesmo se aplica — guardadas as proporções — à natividade de Nossa Senhora. Pois tudo quanto o Salvador nos trouxe, começou a nos vir com Aquela que O daria ao mundo.

Daí se compreendem todas as esperanças de salvação, de indulgência, de reconciliação, de perdão e de misericórdia que se abriram, afinal, para a humanidade, naquele bendito dia em que Maria nasceu nesta terra de exílio. Feliz e magnífico momento, marco inicial de uma existência insondavelmente perfeita, pura, fiel, e que seria a maior glória do gênero humano em todos os tempos,  abaixo apenas de Nosso Senhor  Jesus Cristo, o Verbo de Deus encarnado.

Afirmam muitos teólogos que, concebida sem pecado  original, Nossa Senhora foi dotada do uso da razão desde o primeiro instante de seu ser. Vivendo no seio de Sant’Ana como num tabernáculo,  á tinha, portanto, altíssimos e sublimíssimos pensamentos. Pode-se traçar um paralelo dessa situação com o que narra a Sagrada Escritura a respeito de São João Batista. Ele, que fora engendrado no pecado original, ao ouvir a voz de Nossa Senhora saudando Santa Isabel, estremeceu de alegria no seio de sua mãe.

É possível, assim, que a Bem-aventurada Virgem, com a altíssima ciência que recebera pela graça de Deus, já no seio de Sant’Ana tenha começado a pedir a vinda do Messias, estabelecendo-se, em  seu espírito, o elevadíssimo intuito de vir a ser, um dia, a servidora da Mãe do Redentor.

De qualquer modo, sua presença na terra era uma fonte de graças para todos os que d’Ela se aproximavam, quando ainda se encontrava no seio de Sant’Ana, e mais ainda depois de seu  nascimento. Se da túnica de  Nosso Senhor, como conta o Evangelho, irradiavam-se virtudes curativas para quem a tocasse, quanto mais da Mãe de Deus, Vaso de Eleição!

Recém-nascida e já vitoriosa sobre o demônio

A vinda do Salvador seria a derrota de todo o mal no gênero humano. Portanto, no bendito momento do nascimento da Santíssima Virgem, a vitória do bem começou a ser afirmada e o demônio a  ser esmagado, ele mesmo percebendo que algo de seu cetro estava irremediavelmente partido. Era Nossa Senhora já começando a influir nos destinos da humanidade.

O mundo de então achava-se prostrado no mais radical paganismo. Uma situação em tudo parecida com a de nossos dias: todos os vícios imperavam, todas as formas de idolatria tinham  dominado a terra, e a decadência ameaçava a própria religião judaica, que era o prenúncio da religião católica. Por toda parte, o erro e o demônio eram vitoriosos. Porém, no momento decretado por Deus em sua misericórdia, Ele derruba a muralha do mal, fazendo nascer Nossa Senhora. E com a vinda d’Ela — que era a raiz de Jessé, da qual nasceria o divino lírio, Nosso Senhor Jesus  Cristo — tinha início a irreversível destruição do reino de satanás.

“Nascimento” de Maria em nossa vida espiritual …

Esse triunfo de Nossa Senhora sobre o mal, já por ocasião do nascimento d’Ela, sugere-nos outra reflexão.

Quantas vezes, em nossa vida espiritual, vemo-nos imersos na luta contra as tentações, contorcendo-nos e nos revolvendo em dificuldades! E não temos ideia de quando virá o bendito dia em que  uma grande graça, um insigne favor, colocará fim a nossos tormentos, a nossas lutas, e, afinal, nos proporcionará um grande progresso na prática da virtude. É então que se verifica um como que  nascimento da Santíssima Virgem em nossa alma. Na noite das maiores provações e das mais espessas trevas, Ela surge e desde logo começa a vencer as dificuldades com que nos defrontamos.

Nesse momento, Ela se levanta também  como uma aurora em nossa existência e, em nossa vida espiritual, passa a representar um papel até então desconhecido por nós.  Esse pensamento nos  deve encher de alegria e de esperança,  e nos dar a certeza de que Nossa Senhora nunca nos abandona. Nas horas mais difíceis por que passamos, Ela como que irrompe entre nós, resolve todos os  nossos problemas, alivia nossas dores, e nos dá a  combatividade e a coragem necessárias para cumprirmos nosso dever até o fim, por mais árduo que este seja.

A maior consolação que Ela nos traz é, precisamente, o fortalecer nossa vontade, para empreendermos a luta contra os inimigos da nossa salvação.

… e nas tramas da história

Como nos fortalece, também, para nos tornarmos zelosos filhos da Igreja e defensores da religião católica. Elementos históricos existem para se poder afirmar que todas as grandes almas que  combateram as diversas heresias, ao longo dos séculos, foram especialmente suscitadas por Nossa Senhora. É o que insinua, de modo muito bonito, o brasão dos claretianos, onde, além do  Imaculado Coração de Maria, figuram São Miguel Arcanjo e a divisa: Os filhos d’Ela se levantaram e A proclamaram Bem-aventurada.

Esse levantar dos devotos da Santíssima Virgem para glorificá-La não é também uma forma de nascimento d’Ela, como magnífica aurora, nas tramas da história? Assim, os verdadeiros filhos de  Nossa Senhora devem desejar e pedir a Ela a graça de serem indomáveis e implacáveis contra o demônio e seus sequazes que, em nossos dias, procuram conspurcar a glória da imortal Igreja de  Cristo.

Plinio Corrêa de Oliveira

PERFEIÇÕES DA VIRGEM-MÃE, BELEZAS DA IGREJA

Nossa Senhora é a imagem perfeita da Igreja Católica. Dr. Plinio escolhe esta afirmação de Santo Agostinho, quando se vê na contingência de optar por um tema que seja bem-assimilado por seu auditório de jovens.

 

A propósito da festa de Nossa Senhora das Mercês, gostaria de fazer alguns comentários sobre um trecho de Santo Agostinho. O grande Bispo de Hipona se dirige à Santíssima Virgem neste  belíssimo louvor: Ó Maria, cumpristes perfeitamente a vontade do Pai Celeste. Vossa maior honra, vossa maior felicidade não foi de ter sido a Mãe, mas a discípula de Cristo. Bem-aventurada sois  por terdes ouvido o Verbo de Deus e conservado (suas palavras) em vosso coração. Vós guardastes a verdade de Cristo em vossa  inteligência, mais ainda que sua carne em vosso seio. Não se saberia comparar-Vos às mulheres do Antigo Testamento, a Ana, a Suzana. A que alturas não Vos elevastes acima delas? Aqui ainda não falamos na santa virgindade, mas em vossas outras  virtudes: ó Maria, há no mundo alguém que as ignore?

Para exemplo e ensinamento para todas as mulheres convém somente não esquecer vossa santa e admirável modéstia. Vós fostes julgada digna de conceber o filho do Altíssimo e, entretanto, permanecestes a mais humilde de todas as criaturas; porque fizestes sem cessar a vontade de Deus, sois segundo a carne e o espírito, a Mãe de Cristo, sua Mãe e sua irmã, mulher única, mãe e  virgem, e Vós o sois corporalmente e espiritualmente.

Mãe de nosso Chefe, que é o Salvador, Vós sois também e perfeitamente mãe de todos os membros de Cristo, porque cooperastes, por vossa caridade, para o nascimento dos fiéis na Igreja.

Única entre todas as mulheres sois, ainda uma vez, mãe e virgem. Mãe de Cristo e virgem de Cristo. Foi por Vós, ó Mãe do Senhor, que a dignidade virginal começou (a florescer) sobre a terra. Por  Vós, ó Maria, que merecestes ter um filho, mas que o merecestes sem deixar de ser virgem. Para honra do Salvador Jesus, o pecado não se aproximou de Vós. Sabemos que  para vencer o pecado e   o vencer inteiramente foi dada graça abundante Àquela que foi digna de conceber e de cuidar do Impecável.

A beleza e a dignidade da terra sois Vós, ó Virgem, que fostes sem cessar a imagem da Santa Igreja. Por uma mulher, a morte; por uma mulher, a vida. E esta última sois Vós, ó Mãe de Deus.

Assim como Maria, a Igreja é Virgem e Mãe

É um lindo trecho de Santo Agostinho, talvez num estilo não inteiramente acessível às novas gerações. Por outro lado, seria muito ingrato dessorarmos o santo Autor, tirando o pensamento dele de dentro das palavras majestosas que ele escreveu.

De maneira que me parece suficiente, para aproveitarmos bem esta passagem, compreendermos um pouco a frase final dele, quando fala que Nossa Senhora é a imagem perfeita da Igreja Católica.  Procuremos, então, analisar em que sentido a Igreja é virgem e é mãe, e de que modo ela é, por sua vez, imagem de Nossa Senhora.

A Igreja é virgem nessa acepção da palavra de que ela é de uma santidade absoluta, sem nenhuma forma de condescendência com o erro nem com o mal. Nela não existe qualquer espécie de mácula. Ela é, portanto, intacta como uma virgem.

De outra parte, ela é mãe porque todos os homens nascem para a vida espiritual de dentro da Igreja, são engendrados por ela para a existência cristã. Se não fosse a Igreja, nenhum homem poderia salvar-se. E ela procede como mãe em relação aos filhos, os nutre com os Sacramentos, com a vida sobrenatural da graça; ela os ensina por meio do Magistério infalível; ela os guia através da  autoridade da hierarquia eclesiástica, de maneira tal que ela exerce, em relação a cada homem, a cada um dos católicos, todos os ofícios e todos os misteres que a mãe exerce em relação ao filho.

Esse paralelo se torna ainda mais esplendoroso quando podemos dizer, a exemplo de Nossa Senhora, que ninguém é mais virgem do que a Igreja, e ninguém é mais mãe do que a Esposa Mística de Cristo.

Tomem-se todas as instituições e todas as mães da terra, e nenhuma teve nem terá uma maternidade mais copiosa do que a Santa Igreja. Desde o momento em que ela foi fundada, até o fim do  mundo, todos os homens que se salvarem serão gerados nela e será ela que os conduzirá à vida eterna.

Aceitar ou recusar a Fé, salvar-se ou  condenar-se

Naturalmente, haverá pessoas que se salvarão sem serem católicas. São aquelas que não tiveram oportunidade de conhecer a Igreja, porque viveram em regiões longínquas, porque nunca ouviram falar dela, etc., e não puderam adivinhar que a Igreja Católica existia.

Porém, Santo Tomás de Aquino ensina que, antes de essas pessoas morrerem, elas recebem de algum modo — quiçá por seus Anjos da Guarda — a revelação sobre os mistérios essenciais da Fé cristã, e são convidadas, no seu derradeiro momento de vida, a crer ou a recusar. Se creem, elas se salvam; se recusam, condenam-se. Assim, segundo a doutrina tomista, no último instante todas as pessoas que se salvam acabam pertencendo à Igreja Católica, se não pelo batismo da água, pelo batismo de desejo.

E por esse ensinamento vemos como Santo Tomás de Aquino concebe o papel da Fé na salvação e o papel da Igreja para cada católico. Imaginemos a situação: a alma está nos últimos transes, talvez o homem até sendo dado por morto por todos os circunstantes. Mas vem um Anjo e revela as verdades essenciais da Fé, aquelas sem as quais ninguém se pode salvar. E naquele momento a  pessoa é levada a fazer um ato de amor àquilo e tem para isso as graças suficientes. Mas é possível que, por força de seus vícios, em vez de um ato de amor tenha um ato de ódio. Se ela amar, se  salvará; se ela odiar, se perderá.

O amor à Igreja é uma fonte de virtudes

Compreende-se, então, como o amor a Deus, o amor à Igreja Católica é a fonte de todas as virtudes. Quem ama se salva, porque depois praticará os  Mandamentos e cultivará as melhores qualidades morais. Quem não ama, se perde, porque cortou com a raiz de todos os valores da piedade.

Quantas e quantas vezes tenho ouvido lamentações de pessoas que apresentam dificuldades em tocar a vida espiritual, em perseverar na prática dos Mandamentos, ou pelo menos problemas para  progredir na virtude. A solução qual é?

Uma das muitas soluções — porque a Igreja é a cidade da salvação onde para tudo há diversas saídas— é exatamente aumentar nossa Fé, é aumentar o nosso amor à Igreja Católica. Aumentando esse  amor, cresce igualmente a nossa determinação para praticar o bem e a nossa repulsa ao mal. E, cumpre notar, muitas vezes as pessoas não têm suficiente aversão ao mal, porque no fundo não têm suficiente amor à Igreja.

Infalibilidade papal, Eucaristia e Confissão: três belezas da Igreja

Voltamos então ao pensamento que pretendíamos aprofundar: a Igreja é a figura de Nossa Senhora, e é resplandecente e bela na terra, e devemos procurar amá-la a fim de nos prepararmos para amar Nossa Senhora no Céu. É necessário que tenhamos os olhos sempre voltados para a Igreja eterna, a Igreja imutável, que não se identifica com as misérias presentes e transitórias, a Igreja que devemos amar acima de todas as coisas no mundo. A Igreja na sua hierarquia, nos seus mil aspectos verdadeiramente divinos.

Recordemos, por exemplo, tudo quanto há de belo na infalibilidade papal, na figura de um homem infalível, governando a todos e a todos ensinando o caminho da verdade, num governo que não é temporal, mas do espírito. Nunca se concebeu, em matéria de governo, algo de tão bonito, de tão nobre quanto isso.

Consideremos, de outro lado, a Eucaristia. Deus verdadeira e realmente presente entre nós, embora oculto de modo misterioso sob as espécies eucarísticas, conferindo ao homem a possibilidade  de ter com Deus um convívio tão íntimo e até insondável.

Deus entra nesse homem e como que se faz um com ele. Pode-se imaginar coisa mais esplêndida do que o Todo Poderoso condescender em ter tal familiaridade com cada um dos homens que Ele  criou? Depois, o sacramento da Penitência. Pode-se conceber que inferno seria o mundo sem o confessionário? Se nós não pudéssemos nos abrir sobre os nossos pecados, e não tivéssemos a  certeza do perdão? Que horror seria a incerteza sobre se Deus nos perdoou ou não, se estamos ou não em estado de graça, etc., etc.

Que obra-prima de sabedoria existe no confessionário, e no fato de o segredo de confissão nunca ser traído! E quanto mais o mundo afunda numa decadência moral, mais aparece os raios de luz  que partem da Igreja, mais compreendemos o quanto ela é bela e digna de amor. Quando nós pensarmos em tudo isso, encontraremos mais resolução para combater os nossos pecados e para  praticar a virtude.

Que Nossa Senhora das Mercês nos ajude a isso. “Mercê” é uma graça, é um favor. Nossa Senhora das Mercês é Nossa Senhora dos favores, disposta a todo momento a nos conceder dons excelentes e a nos convidar a pedi-los.

Tenhamos para com Ela esse tipo de relação muito filial e muito confiante, certos de que sobre nós descerão as misericórdias de nossa Mãe santíssima.

 

Consolação e doçura

Como reza a Igreja, Nossa Senhora é a Consoladora dos aflitos, clemente em nossas necessidades, doce em nossas tribulações, boa em nossas angústias, e sempre pronta a nos socorrer em nossos perigos. Clemente, porque se compadece de nossas carências, e se deixa tocar pelos nossos infortúnios.

Doce, porque nos ampara em nossas provações, nos dizendo no fundo do coração palavras maternas de conforto e esperança. E porque clemente e doce, é também incansavelmente bondosa, disposta a nos auxiliar em todos os nossos perigos e aflições.

Jamais deixemos, pois, de recorrer a essa Mãe de inesgotáveis misericórdias: pedindo que a suavidade d’Ela amenize nossos sofrimentos; ou que nos dê forças para melhor suportá-los, se assim o dispuser a Divina Sabedoria em benefício de nossas próprias almas.

Plinio Corrêa de Oliveira