Santa do glorioso castigo

Depois de oferecer a vida por sua superiora, Santa Gibitrudes foi levada ao Juízo, mas Deus mandou-a voltar à Terra devido a faltas veniais que cometera e não expiara. Ele é tão sublimemente intransigente que não quis suportá-la na sua presença enquanto tivesse aqueles defeitos.

 

A biografia que temos para comentar é de uma Santa da qual nunca ouvira falar. Trata-se de uma monja beneditina do século VII, Santa Gibitrudes. A ficha é tirada do livro Vidas dos Santos, do Padre Rohrbacher(1).

Constância ante os primeiros obstáculos

Sobre Santa Gibitrudes, um monge, chamado Jonas, escreveu:

Uma virgem, chamada Gibitrudes, nobre pelo nascimento e pela Religião, converteu-se e deixou o século para ganhar a comunidade (de Eboriacum), e a mãe do mosteiro, Burgondofara, recebeu-a com alegria, como a um gracioso presente, porque ela era sua parenta. Queimava-a um tal ardor, que sempre a graça do Espírito Santo parecia inflamá-la.

Estava ela ainda na casa paterna quando, a conselho do Espírito Santo, decidiu votar-se ao culto da Religião, e rogou ao pai e à mãe que lhe erigissem um oratório onde pudesse ser a serva de seu Criador.

Os pais julgaram-na erradamente: os dois eram nobres da raça franca e não se importavam ainda com a vida que leva ao Reino dos Céus. Pelo contrário, desejavam fruir das honras do século, e por isso queriam da filha uma posteridade, antes que dar penhor do Céu. Todavia, nada conseguiram fazer para demover a jovem do que trazia no espírito: cederam ao seu desejo e lhe construíram uma pequenina capela.

Como a jovem ali ia dia e noite, a astúcia do hábil inimigo propôs-se tomá-la como alvo. E começou, por meio de sua ama, a causar-lhe obstáculos, a impedir que ela fosse ao oratório. A moça, vendo-se atormentada, principiou a procurar a clemência do Criador, a fim de que aquela que lhe impedia de orar e queria roubar-lhe a luz da alma fosse privada da luz exterior.

A bondade divina não se fez esperar! Bem cedo a mulher, atacada de um mal dos olhos, viu-se despojada da luz necessária e o Árbitro clemente redobrou o temor dos pais castigando o pai com febres. Se bem que inflado pela nobreza, pelo exemplo da filha ele aspirava já ao temor divino; pediu à filha que rogasse ao Senhor por si e, se recuperasse a saúde por sua intercessão, seguir-lhe-ia a vontade.

A este pedido da fé, respondeu a saúde por longo tempo diferida; o fogo da febre deixou-o e o pai recuperou a saúde de outrora. A jovem, então, pediu licença para ir à comunidade de Eboriacum.

Ali levou ela a vida religiosa por muitos anos, quando, um dia, Burgondofara foi tomada de febres, levando a crer que os liames da presente vida dela se desligariam.

“Põe em ordem os teus sentimentos!”

Gibitrudes, vendo a mãe do mosteiro perto da última hora, entrou, angustiada, na basílica e pediu ao Senhor, com lágrimas, que se lembrasse da antiga misericórdia, a fim de que não deixasse morrer a mãe, mas que, a ela mesma, recebesse no Céu com as companheiras, e ali não chamasse a mãe senão para as seguir.

Depois das lágrimas, ouviu uma voz vinda do alto que lhe disse:

– Vai, serva de Cristo, o que pediste obtiveste. Ela, de boa saúde, pode ser unida aos bem-aventurados doutra vez, mas tu serás primeiramente desligada dos entraves da carne.

No mesmo instante, foi tomada pela febre e rendeu a alma pouco depois. Já os Anjos a haviam tomado e levavam além do éter; deposta diante do tribunal do eterno Juiz, via bandos de vestes brancas – foi ela mesma que o referiu depois – toda a milícia do Céu de pé diante da glória do eterno Juiz.

Ouviu uma voz partindo do trono que dizia:

– Volta, porque não estás inteiramente desapegada do século. Está escrito: “Dá e te será dado”, e, ademais, vê-se na oração: “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores”. Tu te lembras dos sentimentos de rancor para com três de tuas irmãs? Não curaste a ferida com o remédio da indulgência. Corrige, pois, as tuas fraquezas, põe em ordem os teus sentimentos, que manchaste com o tédio e com a negligência!

Ó maravilha! Voltando e tomando a vida anterior, ela revelou com tristes gemidos a sentença que recebeu, e confessou as faltas. Chamou as companheiras, pelas quais votara sentimentos de cólera, e pediu perdão para que não incorresse na danação eterna por causa de uma dissimulação.

Novamente saudável, viveu mais seis meses no século; depois, presa da febre, predisse o dia da morte e anunciou a hora em que deixaria o mundo.

A morte foi tão feliz que, na cela, onde o corpo jazia inanimado, acreditava-se sentir exalações de bálsamo. Para nós, que lá estávamos no momento, pareceu-nos um grande milagre.

No trigésimo dia, quando lhe celebrávamos uma Missa, segundo o costume da Igreja, um tal perfume encheu a nave que se diria haver ali todos os eflúvios das essências e dos aromas. A justo título, o Criador fazia brilhar, por seus dons, as almas que lhe foram dedicadas aqui, as que, por seu amor, nada do século quiseram amar”.

O milagre é um prêmio da fé…

A ficha pode parecer tão extraordinária, pelos milagres por ela narrados, que talvez desperte em alguém um sentimento de desconfiança. Não se tratará de uma lenda que teria sido incorporada à História? Será que realmente fatos tão extraordinários se passaram? Tanto mais quanto, se nós acompanharmos a vida dos Santos mais recentes, não notamos milagres dessa ordem. E se não os há, por que os haveria naquele tempo? E neste caso, não estaríamos no nosso direito de duvidar de acontecimentos dessa natureza?

A meu ver, essa seria uma dúvida sem propósito, porque dois dados são indiscutíveis e devem chamar nossa atenção.

O primeiro é: nas épocas de muita fé, Deus Nosso Senhor realiza milagres mais estrondosos do que nos tempos de pouca fé. Dir-se-ia que isso é um paradoxo, pois onde há pouca fé Ele deveria fazer milagres portentosos, e onde já existe muita fé, não haveria necessidade de tais milagres.

Mas o contrário é verdade. O milagre é um prêmio da fé. E quem pede com muita fé pode obter favores tão contrários à ordem normal, que constituam milagres. Exatamente por causa disso, nas épocas de muita fé os milagres excepcionais são mais numerosos.

Na época em que o espírito de dúvida penetra nas almas, e elas começam, a priori, a negar a possibilidade do milagre ou exigir provas muito mais amplas e meticulosas do que seria necessário para reconhecer a existência do milagre; quando as almas não têm apetência do extraterreno, do sobrenatural, do divino e, a “fortiori”, do metafísico e do sublime, a graça se retrai e a ação de Deus vai se tornado mais escassa, rara e difícil de obter. É um castigo para aqueles que não quiseram crer.

Ora, no século VII nós estávamos numa época de fé, a Igreja vivia os primeiros séculos de reconstrução da sociedade medieval que daria na Cristandade. Nesse tempo era natural que os milagres fossem estupendos. Aquelas pessoas pediam e obtinham coisas que realmente as maravilhavam, mas nem tanto as robusteciam na fé, pois já possuíam a fé vigorosa que fora a causa daquele pedido.

No Santuário de Aparecida do Norte, há um recinto chamado “sala dos milagres”, onde as pessoas depositam objetos em gratidão ou cumprimento de promessas, por graças recebidas, em muitas das quais, se devidamente estudadas, poder-se-ia reconhecer o caráter de milagre. Vendo a fé com que aquele povo vai rezar lá, compreende-se que suas orações sejam atendidas. Suponhamos que aquela fé decaísse muito. O número de graças de que a sala guarda recordação não diminuiria também? Sem dúvida. Porque a oração feita com pouca fé é pouco atendida.

…fruto da pregação da Santa Igreja Católica

Alguém dirá: “Mas então não há saída para um povo que cai no despenhadeiro da falta de fé. É um círculo vicioso: ele se emendaria se soubesse de milagres; por outro lado, ele não conhece os milagres porque estes não vêm ao povo fraco na fé. Então ele está perdido, amarrado na sua própria incredulidade e condenado”.

Isso não é verdade. A causa ordinária e comum da fé não é o milagre, mas a pregação da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. É a própria existência da Igreja, a apetência que o espírito humano, tocado pela graça, tem de conhecer as verdades que a Esposa de Cristo ensina e de amá-las como elas são. Eis a causa determinante da fé. O milagre é uma causa excepcional da fé. O grande favor de Deus não é de alguém ter crido por causa de um milagre, mas o de acreditar mesmo sem vê-los.

Atesta-o o famoso episódio de São Tomé que, ao lhe ser anunciada a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, teve dúvida. Quando lhe apareceu o Ressuscitado, ele acreditou. Então, o Divino Mestre exigiu que ele pusesse a mão em seu sagrado flanco para, tocando, constatar ser mesmo Ele. E depois fez este comentário: “Tomé, creste porque Me viste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20, 29).

Poder-se-ia objetar: “Mas, Dr. Plinio, então o senhor reduz muito o papel do milagre, o qual deixa de ser uma tão grande graça”.

Não. Em relação aos fracos na fé, o milagre é uma graça por onde Deus arromba, por assim dizer, a alma de alguns especialmente favorecidos e que não quiseram crer. Para estes, o milagre é um grande bem, uma extraordinária dádiva, porém mais felizes eles teriam sido se tivessem crido sem o milagre.

Para os que têm fé, o milagre é de muito valor como uma prova do amor de Nosso Senhor, que rompe seu próprio procedimento normal para atender à súplica de alguém consagrado a Ele, como essa freira, e que Lhe pede um favor.

Assim, vemos como Santa Gibitrudes, sendo consagrada a Nosso Senhor, pediu e obteve graças esplêndidas, entre as quais, a de ficar cega aquela mulher que a atrapalhava na sua vocação.

Existem situações em que se pode pedir a desgraça dos outros

Alguns, talvez, poderão ficar surpresos: “Como é possível alguém pedir que outrem fique cego?! Compreende-se que se implore para uma pessoa recuperar a vista; mas que fique cega… ”

Há casos em que tal oração é perfeitamente legítima, justa. A Santa teve, provavelmente por imponderáveis, conhecimento de uma determinada situação moral, ou recebeu uma comunicação interior, por onde ela ficou vendo que aquela mulher seria absolutamente refratária a qualquer graça. Absolutamente falando, Deus poderia lhe dar graças tão grandes que ela se convertesse. Quiçá aquela mulher tivesse uma alma tão endurecida e merecesse tais castigos que Ele não quisesse conceder-lhe tais graças.

Assim, para a moça restava apenas a seguinte alternativa: ficar gravemente ameaçada de perder a sua vocação ou pedir que a outra se tornasse cega. Ademais, para sua perseguidora era muito melhor ficar cega nesta Terra, mas não causar a perdição de uma alma, do que conservar a vista e comprometer uma vocação. Mas, sobretudo, era muito melhor para a glória de Deus que aquela moça se tornasse uma Santa e que a cega aguentasse depois, com virtude, a sua cegueira.

Há situações, portanto, nas quais se pode pedir o mal dos outros, mas não em qualquer conjuntura. Então, basta uma pessoa estar me atrapalhando, me amolando, prejudicando minha salvação, para eu rogar que ela fique cega? Não é assim. Há todo um conjunto de circunstâncias a serem consideradas. Contudo, existem casos em que se pode pedir a morte, a doença, a desgraça dos outros para que eles não prejudiquem a execução de um desígnio da Providência. Se nos secretos desígnios de Deus não houver outro meio para afastar aquele obstáculo senão a punição daquela pessoa, pedir que ela seja castigada é uma coisa que se pode perfeitamente fazer, com critério.

Para que esse pedido seja bem feito são necessárias duas condições: quem peça faça-o sem nenhum apego pessoal. Logo, não é por raiva, birra, agastamento ou comodismo, mas apenas pelo zelo por sua própria santificação. Em segundo lugar, que por via das dúvidas, na hora de pedir, acentue muito: se esta for a vontade de Deus. Se não houver outro meio de remover do caminho este obstáculo à minha santificação, então rogo que isso se realize. Nessas condições é perfeitamente legítimo pedir.

Severidade e misericórdia não se excluem, mas se completam

Vemos a prova disso no lance final da vida de Santa Gibitrudes. Ela ofereceu sua vida pela superiora e, ao morrer, teve até uma visão esplêndida na qual contemplava a revoada dos Anjos com seus hábitos. Naturalmente, é um símbolo, pois sendo puros espíritos os Anjos não usam hábitos. Levada ao juízo divino, recebeu a comunicação de que havia três freiras de quem ela guardava birra, e ela não podia estar na presença de Deus mantendo com esse defeito.

Vemos nisso um misto da sublime bondade e condescendência do Criador, e sua sublime intransigência. Deus é tão sublimemente intransigente que uma freira para quem Ele fizera milagre tão excelso, não queria, entretanto, suportá-la na sua presença, enquanto ela tivesse aqueles defeitos.

Mas Ele é tão sublimemente misericordioso que praticou este milagre: levou a freira à sua presença e denunciou o pecado que ela, certamente por própria culpa, não via. Mandou-a de volta à Terra para pedir perdão pelo pecado e expiar. Tendo ela expiado e implorado perdão, então levou-a para o Céu. Notem a misericórdia extraordinária d’Ele com ela, ao lado da severidade. E como a severidade e a misericórdia, longe de se excluírem, se completam.

Nós vemos isso na própria alma da Santa. Para Nosso Senhor fazer por ela tudo quanto realizou, é óbvio que é uma grande Santa. Entretanto, tais são as contradições que cabem na pobre alma de uma criatura humana, que esta pode ser elevada em virtudes debaixo de muitos pontos de vista e, portanto, atrair de fato o amor de Deus, mas ter alguns defeitos dos quais ela precisa ser purificada e que a Providência não tolera.

E é neste modo contraditório de ser das criaturas que brilha de uma maneira especial a justaposição da justiça e da misericórdia de Deus. Justo para com um defeito, misericordioso para com o próprio defeito em atenção às altas qualidades, e escolhendo um modo magnífico para curar a freira, no fundo, de uma falta que não era um pecado mortal, pois se o fosse o Criador não faria isso. Não levaria essa alma em estado de pecado mortal para a própria presença d’Ele, para ver os Anjos. Evidentemente eram faltas veniais. Entretanto, naquela alma, sobretudo, Deus não queria tolerar essas faltas. Ele poderia dar graças comuns para ela se arrepender e ir ao Céu sem esse milagre. Mas quis fazê-lo para provar, por essa narração, quanto Ele ama excepcionalmente as almas que O amam excelentemente. E não poderia haver para ela um castigo mais glorioso do que a punição que ela recebeu. Ela poderia chamar-se “a Santa do glorioso castigo”.

Que glória nessa punição!  Que estupendo ser amada de tal maneira que, para receber esse castigo, ela é tirada desta vida, colocada na presença de Deus, sua alma é novamente reintegrada a seu corpo, e lhe é restituída a vida, tendo recebido do próprio Deus a lição que precisava receber. Ele poderia mandar um Anjo fazer isso, mas Ele mesmo o realizou. Pode haver maior glória e maior prova de amor? Era castigo, entretanto.

Olhar luminoso para perceber nossos próprios defeitos

Alguém poderia perguntar: “Mas por que Deus fez isso assim? Foi só por essa Santa?”

Se fosse só por ela já estaria perfeitamente bem feito. Isso se deu no século VII. Nós estamos no século XX, que já vai caminhando para seu fim. Quantos séculos depois, em terras que ninguém imaginava, naquele tempo, que existissem, está-se comentando essa ficha e a sucessão desses fatos! E nós ainda estamos nos extasiando com a maravilha operada por Deus, com esse jogo complexo e de variados aspectos de que estou dando notícia.

Quer dizer, isso foi feito para ficar brilhando na História da Igreja até o fim dos tempos. Quando acabar o mundo e chegar o dia do Juízo Final, é possível que algum daqueles sobre os quais meus olhos estão caindo neste momento, encontre uma Santa que lhe esteja sorrindo de modo particular. E a Santa use como insígnia uma chibata luminosa mais do que muitos sóis, e feita de uma matéria mais preciosa do que o ouro. E a Santa se aproxima de um de nós e diz: “Sabes quem sou? Eu sou Gibitrudes, a Santa do glorioso castigo. Rezei por ti naquela noite em que soubeste do meu castigo e de minha glória. E agora te encontras perto de mim e estamos todos salvos. Olhemos para Nossa Senhora e glorifiquemo-La e, por meio d’Ela, Nosso Senhor Jesus Cristo”.

E nós, então extasiados com a glória de Santa Gibitrudes, nos lembraremos desta pobre conferência, e daremos glória a ela. E nos sentiremos associados à santa alma dela.

Como é bom, então, encerrarmos esta reunião dizendo: “Santa Gibitrudes, rogai por nós. Dai-nos a graça de não nos acontecer o que ia vos sucedendo, ou seja, ter alguns defeitos que por culpa nossa não vejamos. Se não merecemos um castigo tão glorioso quanto o vosso, é verdade também que nós tivemos, pelo menos, uma ajuda luminosa que foi a vossa. Tínhamos defeitos ocultos, mas o vosso exemplo, séculos depois, nos trouxe à presença de vossa biografia. E foi um convite para, na noite de 26 de outubro de 1976, nós vos pedirmos: Santa Gibitrudes, tornai luminoso nosso olhar no exame de consciência, de maneira a percebermos tudo o que está oculto, e nossas almas compareçam diante de Nossa Senhora límpidas como foi a vossa, na segunda vez em que diante de Deus aparecestes. Santa Gibitrudes, rogai por nós!”

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 26/10/1976)

 

1) ROHRBACHER, René François. Vidas dos Santos. São Paulo: Editora das Américas, 1959. Vol. XIX, p. 42-45.

 

Por não aceitar a cruz o mundo apedreja o justo

Sempre desvelado formador de seus seguidores, em especial os mais jovens, Dr. Plinio se empenhava em lhes fazer compreender esta verdade que todo apóstolo deve ter em conta: a via da Cruz e  do sofrimento está em contradição com o espírito do mundo, o qual, por não aceitá-la, chega até a perseguir quem pratica o bem.

 

Há um ponto curioso em nosso apostolado, e de um modo geral na história da Igreja, que convém muito focalizar: o homem que se entrega à virtude, desejando progredir nas vias de Deus, é sujeito de vez em quando a movimentos de idiossincrasia ou de rejeição em relação àqueles mesmos que procuram levá-lo para o bem.

Ao considerarmos o fruto do trabalho de um apóstolo, será ingenuidade pensar que ele tomou contato com os que o seguem, abriu-lhes o caminho do Céu e, com toda a simplicidade, aceitaram o  convite que lhes foi feito, pondo-se a acompanhar os passos indicados, com amor, dedicação e fidelidade a quem lhes serve de guia.

Na realidade — e a vida dos Apóstolos é cheia de exemplos em sentido contrário — as coisas não ocorrem com essa singeleza, porque na alma humana existem movimentos contraditórios. E se é  verdade que em muitas ocasiões e circunstâncias somos levados a amar aqueles que nos servem de guia para a virtude, há também situações lamentáveis em que esses mesmos benfeitores são objeto de repulsa de nossa parte.

Por quê? Porque o caminho do bem é o caminho da cruz; o caminho da cruz é o caminho do sacrifício; o caminho do sacrifício é o caminho da dor. Ora, o caminho da dor não é aprazível… Se há  um homem que nos diz: “Adianta-se nessa direção! Sei que ir por ali dói, mas, depois, na ponta dessa trajetória está o Céu”, nós temos vontade de responder: “Bendito és tu que nos levas para o  Céu”. E logo em seguida somos tentados a acrescentar: “Que homem insuportável és tu que não encontras outro caminho para o Céu, a não ser pisando sobre espinhos!” É a miserável tendência do espírito humano.

A infidelidade dos Apóstolos na Paixão: o horror da cruz expulsou o amor

Isto se deu de um modo frisante nos Apóstolos com relação a Nosso Senhor.  O Divino Mestre os tratou como sabemos, deu-lhes a abundância de suas graças, manifestou aos olhos deles perfeições que até hoje encantam e entusiasmam a humanidade.

Mas a resposta dos Apóstolos foi a que todos também conhecemos pelas narrações do Evangelho. Tome-se, por exemplo, o discípulo bem-amado, incumbido pelos outros de fazer uma pergunta a  Nosso Senhor, e que foi erigido na qualidade de medianeiro de todos para discernir os arcanos de Deus. São João Evangelista, o primeiro homem que sentiu o pulsar do Coração de Jesus e,  portanto, o primeiro devoto — exceção feita de Nossa Senhora e eventualmente de São José — do Sagrado Coração, recebeu a prova de que o Divino Mestre era grato àquele pedido e ao modo  como era feito, isto é, pondo o ouvido sobre o peito d’Ele. Jesus respondeu: “Aquele a quem eu der o pão embebido no vinho, este é o traidor”. Mas, na hora da Paixão, São João Evangelista fugiu. Ele tinha dormido no momento em que devia estar acordado.

Quando Nosso Senhor repreendeu os Apóstolos por estarem imersos no sono, Ele não disse: “Com exceção de João Evangelista, por que dormis?” Ele pergunta a todos: “Por que dormis?!”  Lembra-o magnificamente o canto polifônico de Tomás Luís de Victoria: “Quid dormitis? Vel Judam non videtis quomodo non dormit, sed festinat tradere me?” — “Vós não vedes Judas que não  dorme, mas se apressa em me trair?!” O próprio discípulo amado estava nesse rol e dele não foi excluído.

Misteriosamente, São João aparece depois aos pés da cruz. Não se sabe em que instante nem de que modo ele se converteu, mas tudo me leva a supor que foi uma graça especial e personalíssima  obtida por Nossa Senhora. A Santíssima Virgem o terá visto passar por algum caminho e lhe disse: “João!”

Quando ele a ouviu pronunciar seu nome, todas as resistências más dele se dobraram, e o futuro Evangelista se transformou. Terá sido esta ou alguma outra graça do gênero. Talvez, por um  fenômeno de bilocação, Ela tenha aparecido e falado com ele num antro qualquer onde estaria escondido, e de algum modo tocou o seu coração. São hipóteses. Assim, vemos que São João Evangelista, apesar do grande amor que nutria por Nosso Senhor, de tê-Lo sempre seguido, em certo momento, quando percebeu como o Divino Mestre estava aterrado e compreendeu a avalanche que viria por cima dele, não resistiu ao espantalho da dor e da perseguição. Fugiu… O medo do sofrimento e o horror da cruz expulsaram  o amor. Só ficou o temor. E ele fugiu. O mesmo se deu com todo o resto do Colégio Apostólico.

Um israelita no qual não havia fraude prevaricou na hora da Paixão

Quando trato deste assunto, costumo comentar o fato impressionante de São Bartolomeu. Ele foi apresentado a Nosso Senhor,  que lhe demonstrou especial afeto e fez dele este elogio magnífico: “Eis um verdadeiro israelita, no qual não há fraude”. Tome-se em consideração que o israelita era o cidadão do povo de Deus.

São Bartolomeu era, pois, um verdadeiro israelita, com algo a mais: não havia fraude nele… O louvor de Nosso Senhor é extraordinário. Jesus, tendo-o visto, disse-lhe certas palavras que revelavam sua omnisciência; São Bartolomeu compreendeu e confessou que Ele era verdadeiramente Deus. Chega, porém, a hora da Paixão, e São Bartolomeu dorme, foge, não está presente em  nenhum momento. Só se sabe dele que apareceu depois no Cenáculo. Nada mais.

A imprevidência, o pecado e a contrição de São Pedro

Percebe-se, assim, o mecanismo singular da vocação, do chamado e da torpeza na alma de homens insignes, que tinham dado provas não negligenciáveis de fidelidade.

Por exemplo, quando Nosso Senhor disse que sua carne é verdadeiramente comida e seu sangue verdadeiramente bebida, e muitos de seus discípulos horrorizados com essa afirmação se  retiraram, Ele se voltou para os Doze e perguntou: “Vós também não quereis me abandonar?” Como quem diz: “Se quiserdes, ide! Porque o que Eu tinha que dizer, Eu disse. Está feita a minha afirmação!”

Nessa hora, São Pedro teve aquela frase lindíssima: “Para onde iremos, Senhor, se só Vós tendes palavras de vida eterna?” Mais tarde, Nosso Senhor lhe profetiza: “Antes que o galo cante, tu me  terás negado três vezes”. São Pedro, depois que Nosso Senhor foi preso, dirigiu-se àquele átrio onde estava acesa uma fogueira, “ut videre in finem”, para ver o que ia acontecer com o Mestre. De  espírito superficial, ele não se lembrou que deveria se acautelar, pois havia uma predição terrível de que ele renegaria, naquela noite, três vezes a Nosso Senhor! Ele se meteu dentro do perigo.

Ou seja, naquele momento, São Pedro revelou uma terrível imprevidência e uma grande superficialidade em não tomar a sério o que Nosso Senhor lhe havia dito. Sem embargo do que, Jesus teve  pena dele, e se conhece todo o resto. Até o fim dos seus dias São Pedro chorava, quando lhe voltava a lembrança desse episódio. E segundo piedosa tradição, seu rosto ficou marcado com o sulco das lágrimas que lhe corriam continuamente ao se recordar daquele divino olhar que o Redentor condescendera em lhe dirigir. Pode-se imaginar o que esse olhar queria dizer! Se nos fosse dado  ter um minuto de um olhar como aquele penetrando o nosso, estremeceríamos de reconhecimento, de confusão, de amor, de pedido de perdão…

Quanto tempo durou o olhar de Nosso Senhor para São Pedro? Como foi esta troca de olhares, a mais emocionante que houve na História dos olhares humanos, se excluirmos o primeiro olhar que  ossa Senhora trocou com o Menino Jesus quando Ele nasceu, e o último olhar entre Ela e Ele antes da morte na Cruz? Esses últimos são olhares pinaculares, que ficam acima de tudo quanto  se pode cogitar, mas depois, abaixo deles, é difícil imaginar que tivesse havido olhar mais comovedor do que esse para São Pedro.

Porém, antes desse olhar, colocado diante de Nosso Senhor que o atraía tanto, que o deslumbrava tanto, quanta infidelidade, quanta coisa irregular, quanta miséria — por que não dizer? — quanta  torpeza! Esse é o mecanismo miseravelmente perigoso da alma e do coração humanos.

Nossos beneficiados nos apedrejam, porque não querem aceitar a cruz

E todos nós que desejamos levar outros a Nossa Senhora e, por meio d’Ela, a Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos esperar essas resistências, essas grosserias de alma, essas recusas, esses  apedrejamentos vindos da parte de quem beneficiamos. E devemos esperar como algo muito provável, presente no caminho daqueles que querem conduzir almas a Deus. Pois aqueles a quem  fazemos bem, esses normalmente — salvo exceções raríssimas — nos apedrejarão, falarão mal de nós, objetarão nossas palavras, etc.

Por quê? Porque sentem a atração do Céu para o qual os convidamos, mas sentem também o convite da cruz. E diante deste chamado, sentem repulsa: “Eu terei que fazer tal coisa, terei de aceitar  tal outra, terei de me conformar com tal situação! Esse homem quer isso de mim! Não haverá um meio mais simples de arranjar isso? Será que eu tenho de pagar todo esse preço?! Dizem-me: ‘Ele tem o direito de te exigir esse preço, porque ele mesmo o  pagou’. Minha resposta é: que tenho eu lá a ver com o preço que ele pagou?! Ele quis pagar, pagou! Eu não tenho força para pagar e não pago! E me ponho contra ele, faço-me inimigo dele!”

imprevidência, o pecado e a contrição de São Pedro

Quantas vezes na história do apostolado católico vemos amizades se transformarem em indiferenças brutais, em hostilidades declaradas, em sistemáticas oposições, às quais cumpre responder como Nosso Senhor respondeu aos seus inimigos quando carregava a cruz: com mansidão, com paciência, sem um momento de cólera, oferecendo os seus sofrimentos por aqueles mesmos que O  injuriavam e O traíam.

Pode-se imaginar, durante a Via Sacra, quantas vezes Nosso Senhor pensou nos Apóstolos que não estavam lá? E quantas vezes Ele terá oferecido a dor pungente que Lhe causava a ausência dos  preferidos? E como Ele, pela voz da graça, pedia a Nossa Senhora, pedia a todas as almas fiéis, às Santas Mulheres que estavam ao pé da cruz, se unissem às orações d’Ele para que aqueles se convertessem?  Imitemos, pois, o nosso divino modelo, e saibamos converter em outro precioso fruto de apostolado, as rejeições e indiferenças de que sejamos objeto.

Esses cânticos de pedra…

Elas povoaram a Europa medieval, ocupando vales e altos de montanhas. Estabeleciam seus muros vigorosos com a mesma solidez do ideal religioso que as idealizara. Erguiam seus tetos e torres  para o céu, como impulsionados pelo mesmo “élan” com que desejavam o Paraíso eterno aquelas almas a viverem entre suas longas colunatas de pedra, seus claustros acolhedores, suas imponentes abóbodas, seus esplendores impregnados de paz e contemplação.

Delas evolavam-se cânticos e preces, ou a misteriosa voz do silêncio, ele também transformado em contínua oração a subir até os tronos de Jesus e de Maria. Em torno ou ao pé delas, como filhos protegidos pela mãe, aglutinaram-se vilas e cidades, que assim cresceram à luz e à sombra dos grandes edifícios consagrados ao serviço de Deus. Sim, o monacato sincero, vivido com profundidade, fez das abadias verdadeiras obras-primas, não apenas geradoras de toda espécie de manifestação de arte, mas, sobretudo, difusoras daquele espírito que levaria a civilização cristã aos seus mais rutilantes dias de glória.

Abadias-fortaleza, abadias-castelo, abadias-sacrário, abadias heroicas, por cima das quais os Anjos pairam e a Virgem Santíssima aparece. Abadias magníficas, cercadas de um cerimonial faustoso, onde, sob as coruscações de lindos vitrais, reluzem os objetos mais preciosos e o culto divino se desenrola com toda a pompa que lhe é devida.

E quando alguns monges, julgando excessiva a riqueza de seus adornos, resolveram emprestar-lhes feições  mais austeras, ainda assim — como todos os frutos engendrados pela Santa Igreja — as abadias se revestiram de particular beleza. Se já não havia a opulência do ouro e da prata, nem a exuberante policromia dos vitrais, tinha-se a singeleza que desprende as almas da Terra para as elevar às pulcritudes da bem-aventurança eterna; concebera-se a simplicidade opalina dos vidros que vieram se aconchegar, humildes e alegres, nos vazios das janelas românicas, das ogivas e das rosáceas.

E tudo isso, aos olhos do espírito católico, é igualmente digno de enlevo e admiração. De muitas, restam apenas gloriosos vestígios que se obstinam contra as voragens do tempo e a indiferença dos homens. Muitas outras ainda sobrevivem, perpetuando neste mundo a afirmação do que pôde o “élan” de almas  santas, amorosas do sublime, e a ousadia de corações que suspiravam pelas  maravilhas do Céu. Seja como for, conservam um papel perene na vida da Igreja, irradiando um perfume do qual, por desígnio divino, nunca se deve privar a Esposa Mística de Cristo.

Plinio Corrêa de Oliveira

Alma de fogo, de sofrimento e de luta

São Bernardo de Claraval era um monge da Ordem religiosa cisterciense, uma rama dos beneditinos, reformada por ele e destinada a praticar uma austeridade maior do que a imposta pelas regras monásticas mais duras de seu tempo. Ele tinha a convicção de que, por meio do sofrimento, o homem expia os próprios pecados e os dos outros.

Foi uma alma de fogo, que queria de todos os modos evitar o paganismo o qual ia ressuscitando ignobilmente de dentro de sua própria sepultura, para dar no neopaganismo moderno: era a Revolução nascente.

São Bernardo resolveu ser um homem de sofrimento e de luta, e recolheu-se no claustro, para onde chamou muitas almas generosas.

A Europa encheu-se de conventos cistercienses, cujos monges começaram a praticar uma regra que até hoje é o espanto e a admiração dos homens.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/9/1989)

Não leiam ou leiam meu próximo artigo

Poucos contrastes há tão frisantes em São Paulo – onde, entretanto eles não faltam, e de toda ordem – do que entre a Avenida Tiradentes e o Convento da Luz, com o Museu de Arte Sacra, que lhe ficam exatamente à margem. Um longo muro, que toma talvez mais de meio quarteirão, separa os dois mundos.

Do lado de fora, a avenida, com seu movimento emaranhado e ruidoso, complicado ainda pelas máquinas superpotentes destinadas à construção do metrô. Muro adentro, quase a mesma atmosfera de há duzentos anos atrás: a tranquilidade, a meditação, a oração e o bom gosto ali deitaram raízes e vêm florescendo há tanto tempo, que chegaram a impregnar de uma vez para sempre a atmosfera de um aroma espiritual sutil e envolvente. Tal envolvimento começa sem que a pessoa se dê conta, desde o momento em que transpõe o largo portão em cuja grade se lê a data de 1870. Penetra-se desta maneira em um jardim de uma despretensão, uma singeleza e uma calma desconcertante. E a não se visitar o lindo museu, caminha-se diretamente para a Igreja. A esta se acede por um átrio calçado de um venerável granito desgastado pelos passos de gerações e gerações de fiéis. Logo em seguida, uma alta porta ouro e branco, em estilo barroco, sólida e sisuda como se fosse a própria face da Meditação, apaga no espírito de quem entra a recordação de toda tralha que ficou a mexer-se e a febricitar pela rua. Entra-se no templo. E tudo é sorriso. Aquele sorriso leve, nobre e superiormente sério que constitui um dos encantos de nossa arte colonial. Alta cúpula, proporções graciosas, altares e imagens cheias de mimo e dignidade. A atenção se fixa, por fim, no presbitério.

Do alto do retábulo, uma imagem da Imaculada Conceição, na penumbra, faz descer de seu nicho sucessivos e ininterruptos eflúvios de meiguice materna, condescendência e esperança de socorro.

Um pouco aquém um tabernáculo, de linhas imponentes como se fora um palácio luisquatorzeano. No chão, uma lápide de mármore assinala dormir ali seu repouso final Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, o franciscano fundador da Casa. Como elogio póstumo só estas palavras simples e supremas: “animam suam in manibus suis semper tenens, placide obdormivit in Domino die 23 decembris. Anno 1822”. – Ter sempre em mãos a própria alma para a governar continuamente!… Que elogio! Quanto isto vale mais do que dirigir um avião superpotente, um país inteiro, ou até um banco (uso aqui a escala de valores característica de certa mentalidade supermoderna). A memória de Frei Galvão resistem à poeira destes 150 anos. Continuamente por ali passam pessoas de todas as idades e classes sociais, pedindo graças de toda ordem. E são  atendidas. Daqui a 150 anos quem frequentará as sepulturas dos homens superpotentes, para quem sobem hoje tantos aplausos e tantas petições… nem sempre atendidas?

Enquanto os olhos estão postos no Sacrário, onde – segundo indica uma lamparina rubra como se fosse um rubi – está realmente presente o Rei dos Reis e Senhor dos Exércitos, e o espírito vagueia por temas desta índole, ouve-se inesperadamente, a certas horas do dia, um conjunto de vozes femininas, de uma pureza que os anos não fanam, a recitarem, em “rectus tonus”, salmos, antífonas e lições. Só então se percebe que, nos fundos da Igreja, uma imensa treliça oculta a olhares profanos esposas de Cristo, cujas faces uma rigorosa clausura impede de serem vistas. Ali passam, há mais de 150 anos, sucessivas gerações de freiras Concepcionistas, apartadas das coisas do mundo, mas voltadas à oração e à expiação, para que Deus perdoe e regenere este mesmo mundo.

Do grau desse distanciamento das coisas terrenas, um simples fato – verdadeiro “fioretti” – pode dar adequada ideia. Contou-me certa vez o grande Arcebispo paulista, D. Duarte Leopoldo, o caso de uma religiosa que entrara em clausura, em remotos tempos em que São Paulo ainda não conhecia estradas de ferro. Quando então apareceram os primeiros trens, seus apitos, rasgando os ares pacatos da urbe de então, chegavam aos ouvidos das religiosas. Como podia entretanto vê-los a velha freira, já que a clausura lhe proibia olhar pelas janelas? Comovido pela observância da religiosa, D. Duarte lhe deu licença para, por uma vez, uma só vez, postar-se à janela quando passasse um comboio. Mas a freira pediu licença para recusar a regalia. Queria morrer sem ver o trem, para com esta mortificação sofrer ainda mais pelos pecados do mundo. Não tardou muito que “animam suas in manibus suis semper tenens”, partisse para contemplar a glória celeste, ao lado do Fundador.

Alguns há a quem a narração deste pequeno fato terá asfixiado. Recomendo-lhes que não leiam meu próximo artigo; não o entenderiam. Os outros, a quem tenha deleitado com um pouco de ar puro, talvez gostem de conhecer o que narrarei sobre a fundadora dessa colmeia de anjos, Madre Helena Maria do Espírito Santo.

Plinio Corrêa de Oliveira 28 de julho de 1974

Frei Galvão

“Animam suam in manibus suis semper tenens” — reza a inscrição na lápide de mármore sob a qual repousam os restos de Frei Galvão, no Convento da Luz. Simples e supremo elogio de quem dominou a própria alma e traçou para si um caminho de salvação. Sensível à voz de Nosso Senhor Jesus Cristo, obedeceu em tudo à vontade d’Ele, custasse o que lhe custasse, doesse ou não doesse, e assim alcançou a perfeição para a qual foi chamado.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 10/2/1989.

Em visita ao Brasil, o Papa Bento XVI canonizou,  no dia 11 de maio, este santo nascido em nosso país:  Santo Antônio de Sant’Ana Galvão.)

A borboleta, o pavão e o cisne

Quantas maravilhas Deus criou no universo! Ao observá-las, o homem deve procurar entender não apenas suas razões funcionais, mas seus sentidos mais elevados, como fazia Dr. Plinio. Pessoa altamente contemplativa, tudo quanto caia sob seus olhos ele relacionava com o Criador.

 

Quando era criança, eu corria atrás de borboletas, encantadíssimo! Há borboletas com um tipo de voo do qual gosto muito: flutuam, brincam com o ar. Sem saber, servem de deleite para outros; e embora não tenham um pingo de faceirice, se fossem faceiras, mexeriam as asas e voariam daquele jeito, para serem mais admiradas. É uma coisa bonita de ver.

O azul luminoso

Em minha opinião, uma das mais belas cores é o azul luminoso, esplendoroso, mas discreto das asas das borboletas. Dir-se-ia que a luz está dentro dessa cor. Ao se movimentarem as asas, o azul desaparece e surge o prateado. É propriamente um furta-cor, ou seja, um roubo de cor, uma cor rouba a outra. A meu ver, isso produz um efeito ocular muito bonito, fantástico! Quase se diria que um inseto como esse não poderia existir.

Isso me faz lembrar uma frase de Nosso Senhor, a propósito dos lírios do campo. Ele ensinou que não devemos nos preocupar com as coisas desta Terra além do limite necessário, porque a Providência vela sobre nós. E, então, disse o Redentor: “Olhai como crescem os lírios do campo! Não trabalham, nem fiam. No entanto, Eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só deles”(1).

Sem dúvida, se víssemos uma pessoa vestida com uma roupa feita de pétalas de lírio, ficaríamos maravilhados! Não existe um tecido como esse, assim como não há um tecido como as asas de uma borboleta.

Um manto real esplêndido

Outras duas belezas da Criação são o cisne e o pavão.

Poder-se-ia dizer que a cauda do pavão é um manto real absolutamente esplêndido e muito bem cortado. Há no pavão uma evidente nobreza, e uma beleza admirável das plumas da cauda, no furta-cor azul e verde das penas, no jeito, na anatomia — por assim dizer — do pescoço dele. Nessa ave tudo é grande, exceto a cabeça, mas esta constitui o centro pequeno e vivo que dá movimentação a todo o resto, enquanto cabe a um ser irracional.

O modo de um pavão se mover é como o de uma rainha. Ele anda com um estilo nobre, calmo, não se assusta com nada; quando corre, fá-lo com uma certa dignidade; e quando para, não fica ofegante, mas com compostura. Cessado o perigo, ele volta à contemplação, não tanto de si mesmo, mas do “pulchrum” formado por ele e pelo que o rodeia.

Quando o pavão abre a roda, prestem atenção no pescoço dele e nos ares que toma; ares de superioridade, como quem diz: “Eu sou dono desta roda magnífica atrás de mim; mas não é apenas uma exposição de penas que levo comigo; sou superior; olhem a minha marcha e o meu pescoço todo feito de ‘joias’! Olhem a posição de minha cabeça! Considerem o meu olhar, o meu bico… Eu sou o pavão!”

O rei da água

Outra expressão do belo é o cisne, entretanto tão menos ornado do que o pavão. Enquanto o pavão tem aquela sua “joalheria”, sendo uma das aves mais belas criadas por Deus, o cisne, não. Ele é de uma cor só: branco ou, então, simplesmente preto. Mas observem o seu jeito de deslizar sobre as águas. Quando quer mover-se um pouco, o cisne faz um leve movimento com as patas por debaixo da água e desliza suavemente. Tem-se a impressão de que ele se contempla nas águas, e que estas ficam contentes de refleti-lo.

Ao confrontar o cisne com o pavão, nota-se serem ambos insignes pela beleza: um pela pulcritude simples e elegante, e o outro pela beleza ornada e majestosa. São duas formas de beleza, levadas pelo Criador a uma perfeição que nos deixa pasmos!

O cisne tem tanta placidez, tal domínio da natureza líquida, onde se move com tanta facilidade, que parece ser o rei da água. E a massa líquida parece feita para adornar e manifestar a beleza do cisne.

Quanta diversidade no cisne! Acima, a cabeça; depois, o pescoço elegantíssimo e o corpo um pouco volumoso. Se considerássemos só a cabeça e o pescoço, seria uma víbora elegante; se olhássemos somente para o corpo, seria um pato elegante. Mas como o cisne é superior ao pato e à víbora! Que harmonia maravilhosa no encontro entre o pescoço tão delicado e o corpo grosso — para o qual, entretanto, não falta elegância… — e ressaltado pelo branco magnífico, feito para brilhar à luz do Sol!

Deixar o prático-prático e contemplar

Uma das razões de ser dessas maravilhas é tirar o homem do prático-prático, fazendo-o compreender que as coisas não existem apenas por um motivo funcional, mas também por um sentido mais elevado.

Quando se tem o frescor da alma católica, sente-se gosto em permanecer vários minutos olhando para o cisne que singra as águas. Contemplando sem nenhum pensamento definido; mas quanta riqueza existe em muitos pensamentos indefinidos!

Vem-nos a impressão de que há algo de mais delicado, mais gracioso, mais digno, mais nobre do que nossa natureza humana considerada só em sua decadência. O que Nosso Senhor disse sobre Salomão e os lírios do campo, poderíamos aplicar ao cisne: Nenhum rei jamais teve glória tão bela como a do cisne!

Então, para além do homem existe algo mais alto: Deus, Nosso Senhor, ao Qual nos convidam os esplêndidos movimentos de alma que quadros como esses sugerem.

 

Plinio Corrêa de Oliveira [Extraído de diversas conferências(2)]

 

1) Mt 6, 28-29.

2) 14/1/1974, 10/6/1985, 9/9/1988, 16/9/1989 e 6/1/1992.

Firmamento de misericórdia

É tão fácil, doce e animador rezar à Santíssima Virgem, que não compreendo como alguém possa não querer recorrer a Ela, que é nossa Mãe!

Quando se recita na Salve Rainha “Mãe de misericórdia”, isto não está escrito ali sem razão. Maria é toda misericórdia. Se pode haver mães que são para seus filhos como um mar de misericórdia, Nossa Senhora é muito mais do que isso: Ela é um firmamento!

Peçamos à Virgem Santíssima, firmamento de misericórdia, que tome a alma de cada um de nós e a ponha nesse firmamento para que, depois de uma vida mais longa ou menos, mais difícil ou menos, entretanto sempre fiel, brilhemos como estrelas no firmamento por toda a eternidade.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 15/1/1990)

Como enfrentar a dor

Ao receber com alegria um pedido de seus discípulos para discorrer a respeito do amor à cruz, Dr. Plinio traça importantes diretrizes sobre como enfrentar, com Fé e entusiasmo, os sofrimentos inerentes à existência humana.

 

Nada eu desejava tanto quanto o momento em que filhos meus me pedissem o amor da cruz. Pois se nossa Obra é, de um lado, um instrumento para a conquista do Reino de Maria, de outro é uma semente desse Reino. E não tenho como autêntica essa semente, como sendo efetivamente uma semente, a não ser quando notar nela o amor à cruz.

Grandes alegrias e grandes sofrimentos

É compreensível, portanto, que ao ouvir esta semente me dizer: “Pai, para ser uma semente falta-me ainda o amor da cruz. Dai-me isto!”, eu solte um brado do fundo de minha alma!

Veio-me ao espírito o episódio ocorrido com Constantino, quando ele viu no céu aparecer uma cruz na qual estava escrita a frase “Neste sinal vencerás — In hoc signo vinces”, e pensei: “Ele não terá sentido talvez uma alegria tão viva, tão intensa, quanto sinto no momento em que ouço meus discípulos me pedirem isso”.

A cruz! O que devemos pensar a respeito dela? O que pensar sobre o sofrimento?

As épocas históricas na vida de um povo, de uma área de civilização ou, conforme o caso, na vida da humanidade inteira, são mais ou menos parecidas com as da vida de um homem.

A vida humana padrão, comum, abrange grandes alegrias e também grandes sofrimentos, que se alternam segundo uma ordem disposta pela sabedoria divina, dentro dos planos da providência geral que Deus tem para o comum dos homens, e da providência especial para aqueles que Ele chama, ama particularmente e, portanto, dá vocações especiais.

Remédios, condecorações, sinais de glória

Então as cruzes não entram apenas num aparente acaso do vaivém aparentemente cego dos acontecimentos da vida, mas elas vêm escolhidas como curativos, remédios, como condecorações, sinais de glória.

Uma por uma, elas são colocadas pela mão do Divino Pastor a rogos d’Aquela por meio de Quem nos vêm todas as graças e, portanto, todas as cruzes. Estas nos chegam em momentos nos quais muitas vezes nós não as entendemos, mas elas se apresentam e temos que suportá-las.

E, neste sentido, há épocas históricas nas quais as cruzes se apresentam para os homens fazendo com que eles sofram muito. De outro lado, existem outras eras históricas em que os homens sofrem menos. Há também épocas históricas em que a alma dos povos está mais sensível à dor, e outras eras históricas em que está menos sensível à dor.

O modo próprio de considerar o que é, ou não é, sofrimento na vida, o que alegra ou não alegra a existência, decorre dessas mutações do espírito humano que vão se dando ao longo da vida de um homem legitimamente; mas que se vão sucedendo também no decorrer da vida dos povos. E que variam no homem de acordo com as disposições do seu temperamento, mutáveis segundo os dias, as circunstâncias, a ocasião; mutáveis nos povos também conforme os dias, as circunstâncias e a ocasião.

O sofrimento é o preço da vitória

Nosso Senhor Jesus Cristo, do alto da Cruz, ofereceu um sacrifício misteriosamente superabundante. Na circuncisão Ele verteu algo do seu Sangue divino. Uma gota desse Sangue — isto é certeza de Fé — teria bastado para operar a Redenção. Mas, por desígnios d’Ele, esse Sangue foi derramado abundantemente ao longo da Paixão e no alto da Cruz.

E esse Sangue seria mais do que suficiente para remir o mundo, mas assim mesmo Ele quis de Nossa Senhora o sofrimento terrível pelo qual Ela passou ao pé da Cruz. De maneira tal que Maria Santíssima é chamada Corredentora do gênero humano. Ela teve tal participação na dor d’Ele, que aquilo compôs, por vontade de Nosso Senhor, o preço que Ele pagou.

Mas o Redentor quer que os católicos, até o fim do mundo, continuem a sofrer com Ele junto da Cruz. E que, quando os ímpios forem punidos, os católicos padeçam também, e muitas vezes sofram mais do que os ímpios e queiram esse sofrimento, porque com isso eles estão comprando a vitória.

A condição da vitória é o sofrimento. A luta tem uma grande significação para a vitória, em muito larga medida porque ela faz sofrer. Se não fizesse padecer, ela teria uma significação muito menor para a vitória. O sofrimento é o preço da vitória. E este sofrimento é tal que — tendo sido os homens resgatados pelo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, infinitamente precioso, e só pelo sangue d’Ele — sem embargo o Divino Salvador quer, para que isto seja inteiramente útil aos homens, que nós soframos juntos.

Um cálice resplandecente com o Sangue de Cristo

Então fica o sofrimento da Cruz, por assim dizer — a metáfora que vou indicar não é teologicamente muito correta — suspenso entre o céu e a Terra, com milhões de almas que o demônio vai tragando, e que Nossa Senhora está chamando com o seu sorriso, sua bondade, suas bênçãos; de um lado, os bons na Terra lutam por essas almas, e, de outro lado, o Inferno está avançando e conquistando.

Entre as duas cenas, imaginem suspenso num Céu maravilhoso apenas um cálice resplandecente, e dentro dele o precioso Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo; entre o mal tremendo e o remédio, é preciso que muitos homens saiam da multidão e bradem: “Senhor, caia sobre nós o vosso sofrimento, mas sobre o mundo o vosso Sangue redentor!”

Então, como que o cálice transborda, o Sangue precioso ferve, começa a extravasar e se derrama. Mas na Terra há homens que padecem cruelmente para que isto aconteça. Eles estão pagando o preço necessário para que desça esse Sangue redentor e divino.

Com o sofrimento isso acontece; sem sofrimento isso não acontece. Portanto, é preciso sofrer. E todo o entusiasmo que não conduza a esta resolução de sofrer, é vontade de festa, não de vitória; é desejo de desafogar contra o adversário nosso amor-próprio ferido, de se vingar porque ele nos fez mal, de limpar a Terra da presença abjeta dele, de cem coisas que consultam ao nosso egoísmo, não é vontade da vitória de Deus, Nosso Senhor.

A pessoa que possui vontade verdadeira da vitória d’Ele é aquela que pode dizer: “Ainda que um raio tenha que me torrar e liquidar, um incêndio me consumir, se este é o preço para que eu conquiste tudo o que deveria conquistar, eu quero!”

Não nos iludamos, o caminho, o preço, é este.

Vejo quanto Nossa Senhora visita vossas almas com consolação, com alegria, mas também com sofrimento. Percebo bem, nas ocasiões de provação, os pânicos, os desconcertos, a dor, as dificuldades.

Espero que, se encontrei um olhar sofredor, ele nunca tenha deixado de encontrar no meu olhar a consolação que eu lhe tenha querido dar. Mas é para ajudar a carregar a cruz, para exortar a que, em relação a esse sofrimento, ele seja varão, seja cristão católico! Quer dizer, meta o peito e diga: “Dor, tu és um gládio. Eu vou de encontro a ti até que o gládio me vare!”

Episódio do Horto das Oliveiras

Devemos compreender que a vida sem dor é uma espécie de “mula sem cabeça”, é a “mãe da natureza”, não tem sentido. No momento em que falta a dor, a cruz dentro do nosso panorama, é porque o panorama está mal visto.

Mas essa dor nós temos que entender como enfrentá-la!

Para compreendermos quais eram as disposições de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao longo da sua Paixão, devemos prestar atenção nos Santos que o exemplo d’Ele foi suscitando ao longo da História. Tudo quanto eles sentiram diante de suas próprias dores, Nosso Senhor sentiu de um modo infinitamente mais perfeito, e foi assim que Ele enfrentou a Cruz.

Então, quando se toma o episódio adorável do Horto das Oliveiras — episódio que entre todos me toca, porque é a hora em que Nosso Senhor mediu o tamanho do cálice e disse “Eu quero!”, e fechou este trato com o Padre Eterno: “Meu Pai, se não há outro remédio, compro por esse preço esses filhos que Vós quereis que Eu resgate e que quero resgatar. Eu aceito!” —, percebe-se que havia em Jesus a grande dor clássica d’Aquele que o Antigo Testamento chamava “Vir dolorum”(1), o Varão de todas as dores, suando sangue no isolamento, durante a noite. E isto ocorreu enquanto a cidade dormitava à espera de acordar para o grande crime; e nas trevas da noite Judas e os outros deicidas já estavam com a trama feita, e começavam a procurá-Lo para matá-Lo.

Mas havia n’Ele o entusiasmo de Carlos Magno, o ímpeto dos Cruzados, o fogo de São Luís ou de São Fernando, ou do Bem-aventurado Nun’Álvares Pereira(2) e de todos os guerreiros cristãos de todas as épocas. E também a ênfase de todos os Doutores, de todos os apologistas, a severidade de todos os teólogos, as desconfianças de todas as inquisições equilibradas e santas, o ímpeto de ação de todos os missionários; tudo isso havia neste passo decidido com que Jesus tomou a Cruz e levou-A até o alto do Calvário!

Nesta Terra ninguém escapa da dor

Nós não interpretamos Nosso Senhor por inteiro se O vemos sentado, vestindo a túnica de bobo, com a coroa de irrisão na cabeça, e não pensamos que Ele carregou essa coroa com altivez muito maior do que Carlos Magno haveria de levar a sua.

Quer dizer, todos os belos atos de virtude praticados nas vastidões da História da Igreja até agora, e até o fim do mundo, encontram sua raiz naqueles fatos da vida de Jesus, Nosso Senhor. Recompondo esses atos de virtude e remontando até a raiz, compreendemos o que nesta havia. Mais ou menos como quem toma a raiz de uma planta: se não viu a flor nem o fruto que a planta dá, não conhece o conteúdo verdadeiro da raiz.

Ora, as frutas e as flores que Nosso Senhor deu foram essas, e não medita bem na Paixão d’Ele quem não é capaz de tomar a História da Igreja hoje e remontar para trás, até os dias de Nosso Senhor, e procurar no Sagrado Coração d’Ele todos esses aspectos que ali havia de um modo superexcelente.

Nesse sentido, todo o entusiasmo, todo o fogo de São Paulo, toda a firmeza de São Pedro depois de Pentecostes, todo o amor extático de São João, tudo, até as coisas mais recentes que estão acontecendo neste momento por amor a Ele, e que nós não sabemos, reproduzem uma aceitação da Cruz de Nosso Senhor, com um aspecto moral que a santíssima humanidade d’Ele tinha no momento que Ele sofreu.

A morte. O Céu está cheio de almas que passaram pela morte, a qual é sempre uma dor. É uma dor até para as criancinhas que morrem batizadas, sem consciência; no momento de morrer, elas sofrem — às vezes doenças crudelíssimas — e aparecem logo para receber, sem julgamento, a glória do Padre Eterno. Mas levam o seu contributo: elas sofreram. A vida é assim.

Certa vez, li numa revista francesa: “On entre, on crie: c’est la vie; on crie, on sort: c’est la mort — Entra-se e geme-se: é a vida que começa; geme-se e sai-se: é a morte”. Até as criancinhas entram com a sua moedinha de dor!

Fé e entusiasmo

Vemos, então, que vil sonegador de impostos é o tipo que faz o seguinte raciocínio: “Eu não quero sofrer porque é muito duro. Quero todo o resto. Mas como não posso sonegar todos os sofrimentos que tenho diante de mim, vou padecê-los mal sofridos, meio fraudulentamente, porque, no total, quero fazer parte da parada da vitória”.

Isso não tem sentido!

Na essência, o que é entusiasmo, convicção, Fé?

Fé é uma convicção adquirida em conformidade com as leis da razão, mas de fato incutida pela graça. Esta convicção deve ser tão forte, que o homem esteja disposto a morrer por ela. Porque o homem crê, e no momento em que ele creu lhe é dado o primeiro ato de amor, mas no primeiro ato de amor vem este pedido e esta exigência: morrer por Deus, se for necessário.

Amar a Deus sobre todas as coisas é isto; amar o Criador exceto em caso de morte não seria amá-Lo acima de tudo. Então, a Fé firme gera este amor à cruz, este desejo de pagar o tributo da cruz.

O que é o entusiasmo? É uma forma tal de amor, pelo qual a pessoa não aceita o sofrimento apenas com resignação, mas tem desejo de sofrer.

No que consiste esse desejo? Em pensar do seguinte modo: “Percebo que algo eu tenho que pagar, quero pagar, e terei vergonha por não fazê-lo. Mas vejo mais: há gente que não paga e a quem Nossa Senhora ama também e quer salvar. Compreendo que, se eu sofrer, concorro para a salvação daqueles que Ela quer salvar. Então, eu quero sofrer! Quero de um querer sobrenatural e varonil, católico, apostólico, romano!” É o ato de vontade fecundo que produz de fato o sacrifício.

O entusiasmo é filho da Fé e da razão, e está baseado na constância.

Pode acontecer que, vendo uma alma que Maria Santíssima quer salvar, eu note, pelas circunstâncias, que Ela quer tanto salvá-la que, provavelmente, quando eu tiver sofrido por ela e ela for resgatada, Nossa Senhora vai amá-la mais do que a mim. Vou ficar, portanto, num segundo plano na dileção d’Aquela por Quem eu dou tudo.

Um grão de areia que faz mover um imenso astro

Por exemplo, imaginemos alguém numa cidade do Império Romano do Ocidente, já evangelizado, que vê passar pelas ruas de Milão um jovem, roçando pela idade madura, com olhar de fogo, inteligentíssimo, deita os olhos sobre ele e percebe um chamado.

Esse jovem é um devasso, tem maus costumes, e frequenta um templo herético. É alguém que recusou todas as graças.

O observador olha e diz: “Entretanto, o chamado continua. Ele será um colosso se disser sim, mas para isso Nossa Senhora quer que alguém sofra. Minha Mãe, para que ele seja mais do que eu, Vos dê uma glória que não fui chamado a Vos dar, para que Vós o ameis mais do que a mim, e para que eu, no meu desinteresse, veja a vossa predileção por ele, ame a vossa predileção e vos glorifique, eu Vos dou o que sou, tão pouco e tão zero. Quem sabe se, desta gota que sou eu, Vós tirareis o necessário para converter este homem que se chama Agostinho, tem uma boa mãe chamada Mônica e nasceu em Cartago?”

Esse observador é talvez um homenzinho que está pedindo esmola à porta da igreja, ou um pobre escravo convertido, ou um medíocre atolado no arenal da pequena burguesia, que ninguém conhece e resolve aceitar uma coisa dessas.

Ele volta para casa, está se sentindo normalmente bem e de repente sofre um ataque cerebral. Começa a cavalgata das dores e a morte que vem.

Em certo momento, pouco antes de ele morrer, um Anjo lhe aparece e diz:

— Meu filho, julgas que sou teu Anjo da Guarda. Sou muito mais do que ele. A ti foi dado um Anjo servidor e vassalo meu; eu sou o suserano de teu Anjo da Guarda. Sou o Anjo da Guarda de Agostinho, por quem morres, porque homens como Agostinho são tutelados por Arcanjos e não por Anjos. Eu venho te dizer que Agostinho está se convertendo, ele terminará a conversão no momento em que tu expirares.

E o moribundo responde:

— Mônica gerou para a Terra Agostinho; e depois o gerou o para a santidade, pelas suas inumeráveis dores e tormentos. Faltava esta pequena nulidade para se acrescentar a tudo isso. Eu fui o pequeno grão de areia que pôs a mover esse astro imenso. Morro em paz. Magnificat por Agostinho!

É preciso levar o nosso desinteresse até lá! Se não, nada feito.

Então, devemos querer que os outros sejam mais santos do que nós, desde que sejamos tão santos quanto seja o desígnio de Deus a nosso respeito.

Se quisermos ser fortes, devemos rezar e receber a Sagrada Eucaristia

Há almas a quem Nossa Senhora pede: “Meu filho, tu és feito de tal maneira, tua constituição física, psicológica, o passado que carregas nas veias e tudo o mais são tais, que te é dado agora fazer um ato de vontade de aceitação — ou rejeição —, que marcará tua vida de modo decisivo. Diga “sim”, mas diga já, de boca cheia, de coração cheio, e durante toda a vida vá dizendo “sim” cada vez mais, porque um pouco que afrouxares diminuirá o brilho de teu “sim” final. De ti Eu quero que sejas como uma trombeta profética soando cada vez mais alto, implacável na exigência consigo mesmo, até que tenhas dado o último tom, e os céus e as terras se movam porque tu tocaste a tua trombeta certa”.

Pode haver almas assim, e elas devem ter uma generosidade total desde o primeiro momento. Mas há almas que não são assim, olham para si mesmas e dizem: “Compreendo que deveria fazer isso. Enquanto Dr. Plinio está falando, estou resolvido a tudo, mas eu me conheço. Depois, vou ser fraco. Tenho força para essa virtudezinha de todos os dias, mas para a grande virtude de um grande lance, quando é que eu vou ter força? E agora, o que fazer?”

Isso é assim com todo mundo. O homem mais fenomenal que pudéssemos imaginar, o mais perfeito… em certas circunstâncias lhe faltam as forças. Nenhum homem tem forças para cumprir duravelmente os Mandamentos na sua totalidade. E, portanto, ele precisa de uma força sobrenatural, com a qual ele pode tudo.

Se ele não rezar e não pedir é um derrotado, um espaventoso, um fanfarrão. Ele poderá até se fazer passar por um herói, mas não será verdadeiramente um herói aos olhos de Deus.

Portanto, é preciso ser humilde e reconhecer isto a respeito de si mesmo e dizer: “Eu tenho que pedir, pedir, pedir, até o momento em que efetivamente seja atendido”.

Pedir como, a quem?

As primeiras “Salve-Rainhas” que rezei aos pés de Nossa Senhora Auxiliadora(3) foram porque eu me sentia pavorosamente fraco. Fui fraquíssimo, debilíssimo, e eu pensava que “salve” queria dizer “salvai-me”; não sabia que era uma saudação. Então eu a rezava com esse sentido.

Muitíssimas vezes eu ainda rezo dando à palavra “salve” o mesmo sentido ingênuo e errado, mas que corresponde ao apelo de minha alma: “Salvai-me, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança, nossa. Salvai- me agora, neste momento, nesta situação, nesta ocasião, deste modo. Salvai-me, eu vos peço, salvai-me!”

E Nossa Senhora nunca faltou.

Se quiserdes ser fortes, rezai a Salve-Rainha e alimentai-vos com o Pão dos fortes, do qual o maná não foi senão uma prefigura: a Sagrada Eucaristia.

Quem comunga e reza a Salve-Rainha torna-se forte, se desejar a fortaleza.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 18/9/1982)

 

1) Is 53, 3 (Vulgata).

2) Canonizado em 26/4/2009.

3) Ver Revista Dr. Plinio n. 1, p. 4-7; n. 100, p. 33-34.

A bandeira da vitória!

Ignorada por alguns, pouco comentada por outros, a história do Santo Sudário demonstra como no expirar do século XIX Deus outorgou à Santa Igreja um verdadeiro pendão da ressurreição de Cristo. A seguir, Dr. Plinio comenta o valor e o significado mais profundo deste impressionante milagre.

 

Devido ao fato de a história do Sudário de Turim ser pouco conhecida, não se dá a esta relíquia toda a veneração merecida.

 Os tesouros de outrora

Havia na Europa um pequeno ducado, chamado Sabóia, cuja capital era Turim. Os duques de Sabóia pertenciam a uma dinastia, senhora de dois Estados: Sabóia e Sardenha — uma ilha do Mediterrâneo — tinham os títulos de duques de Sabóia e reis da Sardenha.

Sendo esta uma época de Fé, nela considerava-se tesouro não apenas os metais e pedras preciosas, mas principalmente aquilo que os homens prezavam mais do que tudo: as relíquias! Entre as que pertenciam a esta casa real, figurava um longo tecido trazido para o Ocidente, o qual constava ser o Sudário, ou seja, o pano mortuário no qual o Corpo Sacrossanto de Nosso Senhor Jesus Cristo foi envolvido a fim ser colocado na sepultura, onde ficou até o momento glorioso em que, por um ato de sua vontade, ressuscitou dentre os mortos.

O Sudário será de fato autêntico?

Qual a prova de autenticidade do Sudário?

Os incrédulos levantavam inúmeras objeções quanto à autenticidade da relíquia.

Por mais que seu percurso até ao Ocidente fosse conhecido, como, entretanto, teria ela passado a fazer parte dos tesouros da casa dos imperadores do Oriente? De que modo o Sudário fora transferido dos Apóstolos para eles? Esteve de fato em poder dos Apóstolos?

Não havia provas, era uma tradição. A propensão legítima que possuíam os antigos para acreditar nas tradições, levou os imperadores de Constantinopla e os príncipes da Casa de Sabóia a prestar a devida homenagem e o devido culto ao Sudário, incorporando-o a seus tesouros.

Por determinação dos duques de Sabóia, o Santo Sudário foi colocado numa capela entre o Palácio Real e a Catedral de Turim, em um monumento de mármore, no interior de uma magnífica caixa. De fato, trata-se de uma tão preciosa relíquia que todo o ouro e toda a prata da Terra não seriam dignos de contê-la.

A fotografia revela a autenticidade do Sudário

No decorrer do século XIX surgiu a fotografia.

Pelo emprego de determinados sais de prata e diversos processos científicos, foi possível fixar sobre o papel diversas figuras das mais variadas coisas.

Em certas ocasiões o Santo Sudário era exposto à veneração dos fiéis, e numa delas um fotógrafo experiente, que havia em Turim, deliberou fotografá-lo(1). Naquele tempo, a revelação de fotografias era muito complicada e lenta, exigindo uma manipulação de certos líquidos, sais e diversos objetos, num ambiente iluminado por uma tênue luz vermelha.

Quando o fotógrafo começou a revelar o negativo, verificou que havia um vulto no tecido, e por fim a fotografia demonstrou a existência dessa figura. Assim, ficou revelada a autenticidade do Santo Sudário.

O mundo, a Cristandade e a Igreja chegaram a receber este legado verdadeiramente inestimável: uma fotografia de Nosso Senhor Jesus Cristo!

As fotografias do Santo Sudário foram difundidas em todo o orbe, causando admiração geral e grande desapontamento nos incrédulos. Foi então possível observar a evidente analogia entre a Face do Santo Sudário e a das imagens correntes de Nosso Senhor Jesus Cristo. De dentro da fotografia salta uma verdade religiosa que destrói inúmeras incredulidades de uma só vez!

O tecido da humilhação se transformou em bandeira da vitória!

A impiedade, entretanto, tem artimanhas… A polêmica feneceu a partir de 1912, 1915. Não mais se punha em dúvida o milagre. Os ateus não queriam deduzir que Jesus Cristo provadamente existiu. Contudo já não o negavam.

Por ser um argumento triunfante contra os incréus, o Sudário não era comentado. Com o passar do tempo, o tema foi sendo esquecido: vitória do Santo Sudário.

Vitória tanto mais linda quando se considera o seguinte: José de Arimateia e Nicodemos, acompanhados por São João Evangelista e as santas mulheres, adquiriram o tecido para depositar Nosso Senhor Jesus Cristo no sepulcro. Cobriram de unguentos todas as suas feridas, segundo o ritual antigo. Foi grande a quantidade de unguentos, pois — como diz a profecia a respeito de seus sofrimentos: “Do alto da cabeça à planta dos pés nada havia que estivesse são” — Ele estava completamente coberto de lesões, devido aos golpes desferidos pelos algozes. Envolvendo Nosso Senhor no tecido e levando-O para a sepultura, lacrando-a, imaginaram eles que aquele Sudário, muitos séculos depois, seria um triunfo sobre a impiedade?

O que parecia ser o pano da humilhação e da derrota, da tristeza e da dor, do desconcerto e da aflição, foi transformado em bandeira de vitória! Isso eles não podiam imaginar.

Tinham eles diante de si um fato concreto: Aquele Cristo Jesus, a Quem tinham adorado e continuavam a adorar — Ele, o Vencedor e Rei tão majestoso, diante de Quem qualquer rei da Terra não poderia tomar outra atitude senão tirar sua coroa, prostrar-se e pedir licença para tocar seus divinos pés com o diadema — havia morrido.

Nas sombras da morte

Como seria o convívio com este Varão, estando Ele vivo? Quem ousaria falar-Lhe “está frio o tempo…”? Antes de terminar a frase, já se sentiria que era uma bagatela que não poderia ser levada à presença d’Ele.

Dever-se-ia então dizer-Lhe:

“Senhor, falai porque vosso servo escuta! Fito vossos olhos divinos e vejo que aí está a Sabedoria infinita! Vós dizeis qualquer palavra e esta vale mais do que todo o ouro da Terra! Vós dais um passo à frente e percebo que sois Rei, pelo semblante com que avançais! Vós encontrais um pobre, um pecador, e Vos dirigis a ele para lhe fazer bem ao corpo e à alma! Noto tanta bondade em Vós, que me vejo de azinhavre em comparação convosco! Senhor, diante de Vós, quem pode subsistir? Sou feito para Vos olhar e para Vos adorar, por misericórdia vossa, pois não sou digno disso.”

O Rei das nações — como se considerava a Nosso Senhor cuja genealogia régia indiscutivelmente chegava até David e Salomão, os dois grandes reis de Israel — estava ali morto entre dois ladrões, acompanhado pelo séquito da dor: uma Mãe em cuja alma não havia senão o sofrimento mais pungente que se possa imaginar. Fiel a Ele, somente um discípulo! Ele que tivera tantos! Dois homens que eram “cripto-discípulos” e não ousavam mostrarem-se em público como seguidores d’Ele: Nicodemos e José de Arimateia.

Santa Maria Madalena, vertendo copiosas lágrimas, e as santas mulheres carregam aquele Corpo Sagrado, após O terem embalsamado e envolvido no Sudário, e O depositam na sepultura. Era preciso andar depressa, pois em pouco tempo começaria a Páscoa, festa entre os judeus, não sendo permitido fazer enterros nem trabalhos manuais. Eles desejavam preparar tudo lentamente, tranquilamente, elevando os olhos e a mente para o último olhar a Jesus. Entretanto, fizeram tudo com rapidez. Fecharam o sepulcro. E, excetuando Nossa Senhora, acreditavam que tudo havia terminado, pois não entendiam bem o que Ele tinha profetizado acerca de sua própria ressurreição.

A morte e a sepultura O tragaram. Sonho maravilhoso… decepção cruel! Todos choravam. Portanto, sobre o Sudário caíram talvez as lágrimas deles… e possivelmente também as de Nossa Senhora. E esse pano entrou nas sombras da morte.

Cristo, Tu venceste!

Quando o século XIX estava no auge de seu orgulho, preparando-se para transmitir ao século XX muitos frutos da Civilização — infelizmente havia algo que tornava todos esses frutos podres: a impiedade triunfante —, surgiu o Santo Sudário como uma bandeira magnífica da ressurreição! Nosso Senhor morto foi envolvido naquele precioso tecido. Entretanto quem o guardou com tanta piedade, atravessando várias centúrias, não tinha conhecimento de que aquele invólucro continha também uma prova da ressurreição de Cristo.

Seu Divino Corpo emanou sinais que marcaram o lençol e foram revelados pela fotografia! A Ciência ímpia dobrava os joelhos e dizia: Cristo, Tu venceste!

Nota-se na figura de Nosso Senhor estampada no tecido os sinais, entre outros, da coroação de espinhos. O Santo Sudário é tal maravilha e tão grande prova da existência de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua ressurreição, comprovando nossa Fé, que em todos os ambientes religiosos se deveria falar dele. Porém, o homem contemporâneo dá as costas para o Santo Sudário.

Os meios de pesquisa se desenvolveram enormemente, e os processos existentes para se verificar a autenticidade do Sudário chegaram ao inimaginável.

Ora, os equipamentos científicos indicaram que o Santo Sudário tem restos de pólen de plantas da Ásia Menor, algumas das quais não existem no Ocidente, e na data precisa em que viveu Nosso Senhor. Foi mais uma confirmação de sua autenticidade, feita pela Ciência. Com o desenvolvimento dos microscópios e outros processos complementares, tornou-se possível colher em panos antigos fragmentos mínimos de restos de flores, e polens que voam pelos ares e impregnam os tecidos. Os do Santo Sudário são de flores da Ásia Menor, do tempo de Jesus Cristo.

Uma fotografia detalhada dos olhos de Nosso Senhor revela que por sobre as pálpebras foram colocadas moedas, para mantê-las fechadas. Foi possível fotografar umas moedas cuja marca ficou no pano, e verificou-se que eram da época de Nosso Senhor.

Verificamos assim que a própria Ciência comprova até à evidência a autenticidade desse tecido sagrado.

Grandeza, poder e bondade de Deus

Entre outras perguntas de ordem científica, surgiu a seguinte: o que marcou este pano da forma como está caracterizado? Foram apenas evaporações e transudações de um cadáver?

Feita a análise, chegou-se à resposta: não! Houve, isto sim, outra força que marcou o pano e desenhou a figura.

Qual é essa força? Sabemos ser a ação triunfante, onipotente, de Deus, que pousou sobre esse Cadáver e O fez ressuscitar. Por desígnios misteriosos, Deus desejou que essa ação delineasse aquela figura no pano. Ele quis, Ele fez! Cientistas estudaram-na, concluindo ter ela três dimensões.

Relembrando nossas considerações anteriores, dizemos que o século XIX recebeu, ao expirar, enorme manifestação de grandeza, de poder e de bondade de Deus.

O Santo Sudário é como um estandarte que afirma à Santa Igreja: Tu não morrerás!

 

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 28/4/1984)

 

1) O advogado Secondo Pia fotografou o Sudário em maio de 1898.