Intimidade eucarística

Nunca seremos tão íntimos de alguém como de Jesus na Sagrada Eucaristia. Nem os mais altos Anjos do Céu têm com Ele a forma de união que nós, homens, temos recebendo a Comunhão. Um Anjo não pode comungar, pois não possui corpo. Ele goza da visão beatífica, está inundado de todas as graças do Céu, mas a Sagrada Eucaristia ele não recebe.
Aquele que é a Santidade condescende em vir até nós nas Sagradas Espécies. Que dom formidável permanecer trancado no sacrário o Homem-Deus, até o momento em que chegamos para comungar! Numa hora por nós escolhida, do modo como queremos, Ele vem e nos visita, mais intimamente do que a residência de Betânia, enquanto estava vivo na Terra. Porque naquela ocasião Nosso Senhor entrava na casa, mas não em Lázaro, Marta e Maria. Na Eucaristia, porém, Ele entra em nós.
Apesar da tibieza dos Apóstolos, que naquela mesma noite iriam abandoná-Lo, o Divino Redentor deu com alegria essa prova suprema de amor, e disse: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco” (Lc 22, 15). Então, quando formos comungar, devemos pensar: “No sacrário, Nosso Senhor está desejando ardentemente ser recebido por mim, apesar de todas as minhas imperfeições. Com confiança irei para a Comunhão.”
(Extraído de conferência de 15/9/1973)

As virgens fiéis e as virgens loucas

As virgens loucas não se prepararam. As fiéis, sim. Desde quando estavam preparadas? A Parábola não o diz. Suponhamos que algumas o estivessem desde o primeiro instante e se foram quintessenciando até a chegada do Esposo. Oh, bem-aventuradas!
Algumas, de outro lado, se atrasaram? Certamente. Como, então, estavam prontas quando o Esposo chegou? A misericórdia baixou sobre elas; e porque estavam humilhadas e arrependidas, o azeite se renovou em suas lâmpadas.
Nossa Senhora dos humilhados e contritos!
Nossa Senhora dos confiantes filiais!
Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia!
Rogai por nós!
(Anotações de Dr. Plinio. Domingo da Paixão de 1981)

Comungar em união com Nossa Senhora

Em virtude de uma extraordinária analogia, Nossa Senhora é o modelo de quem comunga porque, quando recebemos Nosso Senhor na Sagrada Eucaristia, passamos a ser, enquanto durar em nós a presença real, tabernáculos vivos do Santíssimo, como Maria o foi do Verbo Encarnado. Isto nos eleva a uma inimaginável dignidade.
Portanto, ao nos prepararmos para a Comunhão, devemos pedir à Santíssima Virgem que disponha nossos corações a receber convenientemente o Senhor Sacramentado: “Minha Mãe, vinde à minha alma, entrai em meu espírito e preparai-o para a visita de vosso Divino Filho! Concedei-me as disposições necessárias para comungar bem, ainda que de modo árido e insensível.”
Em seguida, peçamos que Ela esteja presente conosco no momento de oferecermos a Nosso Senhor Eucarístico os quatro atos de culto: adoração, ação de graças, reparação e petição. Que dizer a Jesus por meio de Maria? Por exemplo, isto: “Meu Senhor e meu Deus! Eu quereria vos amar muito mais do que vos amo; desejaria receber-vos neste instante com os faustos de um amor inexprimível, do qual, infelizmente, não sou capaz. Entretanto, como há em mim, ao menos, o pesar de não ser assim, peço-vos que aceiteis as adorações de vossa Mãe Santíssima como se minhas fossem. Eu A convidei à minha casa para que Ela vos recebesse em meu lugar. Portanto, sou eu que, de algum modo, vos recebo e pelos lábios de Maria vos adoro.”
E assim devemos proceder na ação de graças, na reparação e na petição, oferecidas a Jesus por intermédio da Santíssima Virgem. Deste modo faremos, com certeza, uma excelente Comunhão. Porque, ao entrar em nossa alma, Nosso Senhor encontrará, pelo menos, a lembrança de sua Santíssima Mãe, e o desejo de O receber em união com Ela. Este desejo e esta lembrança são imensamente eficazes para que Jesus se sinta bem acolhido. Porque Ele está bem onde se encontra Maria.
Este método de receber a Sagrada Eucaristia em íntima união com Nossa Senhora põe ao alcance de quem comunga todas as graças que Jesus Sacramentado proporciona a seus devotos sinceros.

(Extraído de conferência de 1/10/1966)

Jesus bebeu o cálice da morte gota a gota

Em sua Paixão, Nosso Senhor Jesus Cristo passou por todas as formas e graus de dor, e entrou nelas com passo digno, sereno, firme e sem hesitação, caminhando para a Cruz como um rei caminharia ao trono de sua coroação.

Quando analisamos cada lance da Paixão, seja física ou espiritual, notamos não ter sido poupado nada de Nosso Senhor. Ele entrou no abismo mais profundo da dor com passo de herói, assumiu todos os padecimentos possíveis e Se apresentou resplandecente de sofrimento ante a justiça do Padre Eterno. E assim salvou o gênero humano.

Multidões do povo eleito afluíam a Nosso Senhor

É interessante examinar, ponto por ponto, o anoitecer, o “Ofício de Trevas” dentro de Nosso Senhor, considerado no plano da sua humanidade santíssima.
Jesus teve no primeiro ano de sua vida pública a alegria, o bom êxito, a correspondência de amor das multidões do povo eleito afluindo a Ele. Entretanto, sabia que isso tudo – vejam a amargura! – daria um número pequeno de conversões e excitaria os fariseus a determinarem a sua morte.
Se Nosso Senhor tivesse muito menos adeptos, poderia não ter sido morto. Mataram-No por causa do sucesso desse primeiro ano. E nas multidões que O adoravam, Ele via o êxito como o primeiro passo do degrau o qual ia levá-Lo ao alto do patíbulo. Os Apóstolos e as outras pessoas não sabiam. Ele sim.
Mais ainda. O Redentor via esse, aquele, aquele outro na plenitude momentânea da vocação, da alegria, e cuja beleza de alma O encantava. Entretanto, Ele sabia que um deles ia apedrejá-Lo, um outro havia de abandoná-Lo, outro ainda caluniá-Lo, dar risada ao denegri-Lo, insinuando ser verdadeira aquela calúnia. Nosso Senhor tinha tudo isso presente e, portanto, carregava diante de Si a enormidade desses tormentos.
Tenho a impressão de que as calúnias só começaram a se espalhar depois de um certo trabalho do sinédrio junto aos que O seguiam, entibiando alguns e pondo outros contra Ele, de maneira àquela multidão se apresentar frouxa e desunida. E Jesus viu o crepúsculo da frouxidão baixando, à medida do aumento do número dos milagres.

A ressurreição de Lázaro

No segundo ano, quando Nosso Senhor tinha acumulado o castelo das suas maravilhas, Ele entra numa espécie de duelo com a frouxidão, porque a multidão procura escapar das suas mãos. Ele busca retê-la fazendo maravilhas maiores. E fica colocado diante dessa situação humanamente insolúvel: quanto mais Ele faz maravilhas, tanto mais a multidão vai se tornando insensível e indiferente.

Um indivíduo poderia comentar: “Ele ressuscitou um morto; essa foi a última coisa que fez?” E riria como quem diz: “Eu estou farto disso, desejo voltar para minha vidinha; maravilhas afastai-vos de mim, quero a banalidade!” E quando Jesus levou ao auge seus milagres, teve conhecimento da sentença de morte. Na ressurreição de Lázaro, Ele soube que resolveram matá-Lo. Ele conhecia tudo e, quando foi para a casa de Lázaro festejar a ressurreição, de fato comemorava a morte, porque a ressurreição de Lázaro foi o começo da morte d’Ele.

Não sei se notam quanto tudo isso é pungente do ponto de vista da tristeza. Para usar uma expressão errada, mas que significa um pouco o que eu quero dizer, envenenava, metia o sabor amargo nas mais legítimas e esplendorosas alegrias.
Imaginem o ambiente da casa de Lázaro, na qual Ele gostava de estar, logo após sua ressurreição. Os Apóstolos, a família de Lázaro, pessoas do lugar que vinham, O adoravam. Nosso Senhor sabia que a maior parte daquelas coisas todas ia dar em nada. E Ele, para o bem daquelas almas, comia o festim e Se alegrava. Entretanto, no íntimo do seu Coração, Ele chorava porque compreendia o que estava acontecendo. Só esse episódio daria um drama do outro mundo. O drama de tragédia grega não seria nada em comparação com isso.
Ele devia sentir também a reação dos que lá estavam: já não era a mesma de outrora, com exceção de Nossa Senhora e de algumas santas mulheres.
Os acontecimentos vão se sucedendo e Jesus alcança um triunfo, contudo, percebe o bafo desse triunfo. Quer dizer, o povinho queria aclamá-Lo, porém não em termos de romper com os fariseus, esperava que estes O entronizassem. Se os fariseus não o fizessem, o povinho seguiria a eles. E fizeram para Nosso Senhor aquela comemoração – a festa da ingenuidade, não do inocente, ingenuidade do mole, tão diferente da do inocente. E Ele, passando no meio daqueles hosanas, percebia perfeitamente o que vinha depois.

 

Losango da dor

Em todos esses passos, é preciso dizer desde já, impressiona notar Nosso Senhor, por desígnio do Padre Eterno, sofrendo aquela dor e não consentindo apenas que o sofrimento caísse sobre Si, mas indo de encontro a ele. Jesus Se afundava no vértice baixo, mais terrível, do losango da dor.
A vida humana pode ser comparada a um losango com duas pontas, a de baixo a dor, a do alto o gáudio. Nosso Senhor desceu ao mais fundo do losango da dor, em cada um desses casos concretos, com uma probidade, uma integridade e uma obediência que lembram o Ecce ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum (Lc 1, 38)1. Ele foi até o fim, de cabeça alta, na atitude que nós O vemos no Santo Sudário. Assim Jesus caminhou.
Isso se torna mais pungente na Quinta-Feira Santa, em que se festeja o ápice da obra d’Ele. O Divino Salvador institui a Missa, a Eucaristia, o Sacramento da Penitência, e com isso o edifício da Igreja fica, em certo sentido da palavra, concluído.

O povo judaico estava todo em festa, comemorando a passagem do Mar Vermelho, a Páscoa. E Nosso Senhor, nesse ambiente de gáudio geral, via com certeza os Apóstolos participarem daquela alegria. Ele faz a festa e completa a sua obra sem desfalecer. Podemos conjecturar o misto de sua alegria e tristeza, pois sabia que dali a algumas horas a grande tragédia deveria começar.
Imaginemos a tristeza do Redentor lavando os pés de Judas, São Pedro, São João, pensando no que fariam em seguida. Depois distribuindo a Eucaristia e passando a ter Presença Real dentro de cada um deles, tão pífios, tão abaixo da tarefa… São Pedro, o Príncipe da Igreja d’Ele, haveria de fazer o que fez!

 

Inflexibilidades do Pai Celeste

Terminado o festim, todas as dores grandes e pequenas confluíram. Começou a agonia terrível, na qual Ele teve a representação de tudo o que sucederia e, na sua inteligência, na sua Alma santíssima, o quis com uma tal integridade que sofreu a desproporção entre a dor que vinha e as forças que possuía. Ele sentiu-Se esmagado. Apesar disso, fez um ato de submissão. Ele suou Sangue e pediu ao Padre Eterno: “Faça-se a vossa vontade e não a minha!” (Cf. Lc 22, 42).
Nosso Senhor possuía uma força divina que não tem nada de comum com a fraqueza, porém teve a aparência da fraqueza. Ele disse “Faça-se a vossa vontade e não a minha”, como quem intuía ou conhecia que a vontade do Pai Celeste tinha inflexibilidades; Jesus estava esbarrando numa delas, na qual Ele Se esmagaria. Vem um Anjo e Lhe dá uma força que não era um consolo para sofrer menos, mas uma capacidade para padecer mais. Há, então, o abandono dos Apóstolos, etc.
Em cada passo, vemos o horror alcançando o inimaginável. Ele entra nesse horror, reveste-Se dele e bebe o cálice da dor. E isso a cada minuto. Por exemplo, tiram-Lhe a túnica, toda empapada de Sangue já seco em alguns lugares e, portanto, colada às feridas. Na hora de puxá-la, uma dilaceração sem nome! Estou certo de que um homem, sem as forças que Ele teve, ficaria louco, morreria de dor.
Essa túnica presumivelmente foi jogada no chão e o Sangue precioso começou a secar ali.
Imaginem se tivéssemos uma camisa ensanguentada com o nosso próprio sangue e este esfriasse, coagulasse, e depois precisássemos vesti-la sobre a carne viva. É verdade que não há nada na Terra comparável ao Sangue d’Ele, contudo se compreende o que quero ponderar.
Deram pontapés, cuspiram, pisaram na túnica. Deve ter sucedido o inimaginável. Ora, dentro do conjunto de tormentos pelos quais Ele passou, isso é uma bagatela.
Em cada um desses passos aconteceu o pior previsível. Ele os tomou por inteiro sem um minuto de adiamento. Em nenhum instante da Paixão o Redentor pede para terem pena d’Ele e adiarem um pouco para poder respirar.

 

Até o Padre Eterno e o Espírito Santo O abandonaram

Quando Ele cai debaixo da Cruz é porque as forças não aguentavam. Logo que pôde levantou-a e continuou, sofrendo tudo com serenidade única, como se não estivesse padecendo nada. Acredito que Pilatos, de dentro das banhas, do conforto dele, tenha tido inveja do bem-estar de Nosso Senhor.
Nosso Senhor é obrigado a esta ação atroz de caminhar carregando a sua própria Cruz para o lugar onde o tormento chegaria ao auge. Quer dizer, cada passo dado Ele não era para a própria libertação. Porque se Lhe dissessem “Se subires esse morro, no alto estarás liberto”, teria um alívio. Ao contrário, os algozes como que afirmavam “Sobes esse morro e quando chegares ao cume terás o pior. Agora anda!” Ele sobe e em seguida começa a crucifixão.
Tem-se a impressão de isso não ser nada em comparação com o que veio depois, ou seja, todo o demorado processo mortal da crucifixão. Ele podia morrer de uma apoplexia, de um momento para outro. Não. Jesus não bebeu o cálice da morte de um trago só, mas gotinha por gotinha, tomando-lhe todo o sabor. Ele sentiu-Se morrer aos milímetros, sendo cada um deles uma pequena morte.
Nosso Senhor transpôs cada milímetro até o fim, e quis que o mundo soubesse não ter tido Ele consolação nenhuma até no gemido final. O Padre Eterno e o Divino Espírito Santo O abandonaram.
A Humanidade santíssima de Jesus ficou abandonada. A Divindade – unida à Humanidade na união hipostática – tornou-se fechada para Ele. E o que no Redentor havia de natureza humana permaneceu na noite mais completa e escura, a ponto de arrancar aquele brado indicativo de duas coisas lindas: a pungência tremenda da dor e, de outro lado, tudo quanto de força restava ainda naquele Homem. “Iesus autem iterum clamans voce magna…” – “Jesus clamou de novo em alta voz…” E depois: “…emisit spiritum.”2 (Mt 27, 50).
É o auge da dor previsto e aceito de longe por uma preparação da Alma para isso.

Ajuda da graça

Para fazer uma meditação sobre Nosso Senhor Jesus Cristo é preciso tomar em consideração tudo isso. Como pode falar em Contra-Revolução quem não tem a alma bem ajustada nesse ponto?
Concretamente, consiste em compreender algo paradoxal: essa vida é a mais terrível que se possa imaginar… exceto a do pecador. Porque é duríssima, mas a pessoa tem forças, tranquilidade, estabilidade, limpezas de alma que já são nesta Terra pelo menos algo do cêntuplo do que ela irá receber.
Como Pilatos deve ter invejado a felicidade de Nosso Senhor! O pecador inveja a pessoa que vive assim, e é injusto porque está pronto a caluniá-la. Essa pessoa é o seu remorso em pé diante dele, e ele calunia seu próprio remorso para ter sossego. Sabe porém ser um desgraçado, e a felicidade existente nesta Terra é aquela.
A dor de encontro à qual a pessoa caminha com passo firme de algum modo diminui. Quando nos esquivamos, ela vai crescendo à medida em que fugimos. Com isso vamos minguando, e na hora de ela nos estraçalhar não somos nada.
Quanto mais o indivíduo previr de longe a dor, tanto menos ela lhe doerá. E a verdadeira ascese consiste na longa previsão, colocando-se nas mãos da Providência. Não tem outro remédio. E, paradoxalmente falando, nós temos aí o nosso cálice do Horto das Oliveiras, quer dizer, o líquido que nos dá força. Isso supõe não dizer “Na hora do drama serei um herói”, mas “na hora do draminha serei um herói”. Nas pequenas coisas da vida cotidiana deverei ser um herói também.

 

 

 

 

 

 

 

 

Moisés no alto do Monte Nebo

Isto não tem a seguinte conclusão: cada vez que se apresenta a perspectiva de uma dor para nós, não devemos pedir o afastamento dela. A oração pode distanciar sofrimentos de nós. Assim como a Providência não só permite, mas quer – e a doutrina da Igreja estimula – que diminuamos as dores das almas no Purgatório, também, como muitas pessoas recebem uma parte desse tormento nesta Terra, é legítimo rogar que seja livrado isso delas. E muitas vezes a Providência de modo misericordioso as liberta. De maneira que não estou pregando a atitude do Múcio Scevola3 com a mão em cima do braseiro. A nota católica consiste em tudo isso, porém com os olhos postos nas misteriosas inflexibilidades de Deus.
Recentemente eu estava falando a respeito do modo de Deus agir com Moisés. O Profeta levou o povo eleito até às proximidades da Terra Prometida, e o Criador lhe disse que ali morreria em castigo de uma infidelidade. Moisés rogou a Deus com insistência para poder entrar na Terra Prometida, a fim de vê-la. O Criador não achou o pedido estúrdio, julgou razoável e até o levou ao cimo do Monte Nebo, de onde pôde contemplar toda a Terra Prometida.
Moisés havia insistido no pedido, mas Deus lhe disse: “Basta!” São das tais inflexibilidades, as quais são adoráveis. De um modo ou doutro, a alma sente isso e deve estar pronta para todos os élans de esperança e de confiança, e também de resignação.
Morre Moisés, o homem fiel entre todos, a bem dizer condenado à morte por Deus. É uma coisa espantosa! O Criador o amava tanto que escondeu o seu corpo; ninguém sabe onde se encontra. O olhar de Deus pousa sobre esse corpo até a ressurreição dos mortos. Moisés esteve presente na Transfiguração, contudo aguentou milênios de Limbo. Um decreto inexorável sobre ele se abateu. E Moisés adorou esse decreto divino.

Papel da confiança

Assim também há no que estou dizendo um claro-obscuro. Primeiro, a ajuda de Nossa Senhora para nós conseguirmos ter força. Não acredito que algum homem, sem o auxílio da Santíssima Virgem, possa fazer isso.
De outro lado, as exorabilidades adoráveis de Deus, ainda mais quando se suplica como intermediária a Mãe d’Ele, a gloriosa intercessio Beatæ Mariæ Virginis. E se podem conseguir coisas espantosas, porém sempre fica este ponto: uma inexorabilidade poderá baixar sobre nós. Nesta hora devemos saber fazer como Moisés: ele morreu sereno nas mãos de Deus.
Se quisermos meditar com seriedade a Paixão, encontramos isso. E, quanto a Nossa Senhora, não se pode imaginar que a uma mera criatura seja pedido tanto quanto foi rogado a Ela.
Imaginem o cuidado e carinho da Virgem Maria a Jesus enquanto menino, depois enquanto mocinho, moço, com que afeto Ela bordou a túnica inconsútil! E aquele Corpo o qual Nossa Senhora havia amado tanto, aquela Alma que Ela procurara encher de consolações – e sabia ter enchido – se encontrava naquele mar de tormentos. Ela estava conjugada com o inexorável de Deus e quis que Jesus morresse.
Não temos ideia do que isso representa. Se devêssemos sentir em nós uma fagulha, morreríamos de dor.
O papel da confiança é muito bonito nesse ponto. Ela é a virtude pela qual de modo misterioso discernimos o que não é o inexorável e conseguimos fazê-lo recuar em algo. A confiança é tão poderosa, creio que um pouco do próprio inexorável às vezes recua.
É uma coisa curiosa, mas confiamos que não virão sobre nós as dores as quais sentimos não estarem normalmente em nosso caminho. Cada um de nós tem uma noção confusa de qual é o caminho das nossas dores. Também sentimos quando esbarramos no próprio inexorável. E aí a confiança muda de nome e se chama resignação. Porém, o mais terrível é quando vem a prova axiológica4, porque a pessoa perde a noção do exorável e do inexorável.
Essa é uma meditação sincera sobre a Semana Santa. Também é preciso dizer: por trás de tudo isso estão as glórias e as esperanças da Ressurreição. Quantas coisas na nossa vida foram à maneira de ressurreição! E virá, sobretudo, a ressurreição final de todos nós. Isto não é, portanto, um horizonte esmagador.
As palavras de Nosso Senhor no alto da Cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonastes?” (Mt 27, 46) são o início de um Salmo profetizando a Ressurreição e a vitória.v

(Extraído de conferência de 31/3/1983)

1) Do latim: Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.
2) Do latm: entregou a alma.
3) Herói da Antiguidade romana que, por ocasião de uma guerra ocorrida em 508 a.C., para dar mostra de sua coragem, queimou sua mão direita diante de seus inimigos.
4) Axiologia provém do latim axis, is: eixo. Assim, na concepção de Dr. Plinio, a palavra “axiologia” e os seus derivados fazem sempre referência ao “eixo” que deve nortear a vida da pessoa, isto é, o fim para o qual o homem é criado e sua vocação específica, em torno do que devem girar todas as suas ideias, volições e atividades.

Presença régia e vitoriosa do Divino Infante

Como o mundo atual é semelhante àquele no qual viveram os homens nas vésperas do Natal! Tudo parecia ruir, porém almas esparsas pela Terra esperavam por uma restauração. Não virá para nós também um acontecimento que nos liberte de todo o horror dentro do qual estamos?

Um Menino está para nascer em Belém! O que dizer desse acontecimento?
Quando o Verbo se encarnou e habitou entre nós, qual era a situação da humanidade? Com certeza, bastante parecida com a de nossos dias.

Num mundo pagão algumas almas esperavam a restauração

Apesar do pecado de Adão e Eva, havia uma como que inocência patriarcal das primeiras eras da humanidade, que foi deixando vestígios cada vez mais raros ao longo da História. E uma ou outra pessoa de cá, de lá ou de acolá, ainda refletia essa retidão primitiva. Homens esparsos que não se conheciam, pois não tinham contato entre si, e, em consequência, não formavam um todo, mas saudosos e pensando com nostalgia num passado tão longínquo que talvez nem sequer tivessem dele um conhecimento umbrático; olhavam o estado da humanidade do seu tempo representando uma decadência terrível, confirmada pelo que havia de poderoso e cheio de vitalidade: o Império Romano.
Ele era o mais quintessenciado, o último e mais alto produto do progresso. Porém, não durou muito tempo, pois caiu por causa de sua devassidão. Assim, coube-lhe o fim inglório de ser calcado aos pés pelos bárbaros, aqueles a quem os próprios romanos desprezavam e consideravam feitos para serem seus escravos. Esses haveriam de tomar conta deles.
Esse poderoso Império dominara um mundo podre. E se teve tanta facilidade para dominá-lo, em grande parte foi porque ainda era um pouco sadio. Devorando o mundo, o Império engoliu a podridão; e deglutindo a conquista, esta matou o conquistador. Todos os vícios do Oriente escorreram como torrentes em Roma e a tomaram. Assim, transformada numa cloaca, numa sentina, por sua vez, espalhava por toda parte – multiplicada e acrescida – aquela corrupção.
Entretanto, algumas almas opressas por essa situação sentiam que algo estava por acontecer e compreendiam que, ou o mundo acabaria, ou a Providência de Deus interviria. Essas almas tinham a sua desventura e a sua angústia levadas ao máximo na véspera do dia de Natal. Vivia-se o fim de uma era em seus estertores, mas na aparência da paz, e ninguém tinha ideia de qual poderia ser a saída.
Eis que, naquela véspera de Natal, tão terrivelmente opressiva para todos, em Belém, numa gruta, havia um casal que possuía uma castidade ilibada, e a Virgem Esposa, entretanto, seria Mãe. E, nessa gruta, em determinado momento, enquanto se rezava em profundo recolhimento, o Menino Jesus estava na Terra!

Autêntica adoração

Os pastores, que relembravam a retidão antiga, vendo aparecer os Anjos cantando e anunciando-lhes a primeira notícia: “Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na Terra aos homens de boa vontade!”, encantaram-se e foram em direção ao presépio, levando seus presentinhos ao Menino Jesus. Foi o primeiro magnífico ato de adoração, o qual bem poderíamos chamar de “ato de adoração da tradição”.
Eles representavam a tradição da retidão pastoril, daquelas condições de vida puras, perdidas em meio ao mundo depravado e cuidando de pequenos animais. Pastores que, levando uma vida recatada à margem da podridão daquela civilização, foi-lhes anunciado em primeiro lugar o grande fato: “Puer natus est nobis, et filius datus est nobis” (Is 9, 5) – “Um Menino nasceu para nós, um Filho nos foi dado!”
Pouco depois, no outro extremo da escala social, vinha também uma caravana, era outra maravilha. Uma estrela peregrina no horizonte… e, do fundo dos mistérios pútridos do Oriente, homens sábios, magos, cingindo a coroa real, deslocam-se de seus respectivos reinos.
Imaginemos que, em determinado momento, esses grandes monarcas se encontraram e se veneraram reciprocamente. Sem dúvida, cada um contou para os outros de onde vinha, e os três se encantaram ao ver que os aliara a mesma convicção, a mesma esperança e o chamado para percorrer o mesmo itinerário. Por fim, chegaram juntos à gruta levando as três culminâncias dos respectivos países: ouro, incenso e mirra, e renderam outra adoração ao Menino Jesus. Aí já não era mais a tradição dos mais humildes, mas sim, a dos mais elevados.
A tradição tem isso de interessante, de tal maneira ela é feita para todos, que possui um modo próprio de residir em todas as camadas sociais. Na burguesia ela se manifesta simplesmente na estabilidade. Na nobreza, pela continuidade na glória; enquanto no povinho, pela continuidade na inocência. Ora, esses reis, ápices da nobreza de seus respectivos países, traziam junto com a dignidade real, uma outra elevada honra: a de serem magos. Eram homens sábios, tinham estudado com espírito de sabedoria, pois no momento em que eles receberam a ordem: “Ide a Belém, e ali tereis as vossas esperanças realizadas”, seus espíritos encontravam-se preparados por tudo aquilo que conheciam e tinham estudado do passado.

Logo irrompe a perseguição

De imediato, desencadeou-se a perseguição. A meu ver, não seria razoável, nestas circunstâncias, meditarmos no Natal sem tomarmos em consideração a matança dos inocentes; essa tragédia que acompanha tão de perto a celeste paz, a serenidade magnífica e toda cheia de sobrenatural, do “Stille Nacht, Heilige Nacht”. Essa cruel matança tingiu de sangue a terra que mais tarde se tornaria sagrada, porque aquele Menino ali verteria seu Sangue Sacrossanto. Apenas Ele se manifestou, a espada assassina dos poderosos se moveu contra Ele. No momento em que essas maravilhas se afirmam, o ódio dos maus se levanta contra elas como uma corja.
Com frequência, a matança dos inocentes é considerada de um modo humanitário. Não há dúvida de que essa ponderação tem algum cabimento, pois eles eram inocentes e foram mortos, crianças covardemente trucidadas. Porém, essa apreciação justa e de compaixão empana, no espírito moderno e naturalista, a consideração mais importante: aquele massacre era o prenúncio do deicídio, pois tendo recebido a informação de que ali nasceria o Messias, o rei dos judeus teve a intenção de matá-Lo, e para isso mandou assassinar todos os meninos!
Embora não tivessem plena consciência de ser o Homem-Deus, de um modo ou de outro, a intenção era de atingir, senão Deus, pelo menos o enviado d’Ele. Daí uma série de outros fatos, e a História Sagrada se desenrola diante de nós.

Ontem e hoje o mundo agoniza

Como a nossa vida é parecida com a dos homens que viveram na véspera do “Puer natus est nobis, et filius datus est nobis!” O mundo de hoje agoniza como agonizava o das vésperas do nascimento de Nosso Senhor. Tudo é desconcertante, loucura e delírio. Todos procuram aquilo que cada vez mais foge deles, como o bem-estar, a vidinha, o gozo infame, as trinta moedas com as quais cada um vende o Divino Mestre, que implora a defesa e o entusiasmo daqueles a quem Ele remiu.
É muito provável que nestas condições haja algum homem, pela vastidão da Terra, a gemer por presenciar diante de si o mundo caindo em pedaços; é o descalabro da Cristandade ou, hélas, a terrível crise na Santa Igreja imortal, fundada e assistida por Nosso Senhor Jesus Cristo, de tal maneira em declive que se soubéssemos ser ela mortal, seríamos levados a dizer que está morta.
Eu me pergunto: não virá para nós um acontecimento enorme, talvez dos maiores da História – embora infinitamente pequeno em comparação com o Santo Natal –, que nos liberte também de todo o horror dentro do qual estamos?

 

O que dar e pedir ao Menino Jesus?

Aos pés do Presépio, se Deus quiser, vamos celebrar o Santo Natal, e devemos levar nossos presentes o Menino-Deus como fizeram os Reis Magos e os pastores. Entretanto, o que dar-Lhe? O melhor presente que Ele quer de nós é a nossa própria alma, o nosso coração! O Divino Infante não deseja nenhum outro presente da nossa parte a não ser este.
Alguém dirá: “Que pífio presente, eu dar a mim mesmo a Ele!” Não é verdade! Se Jesus nos receber em suas mãos divinas, nos transformará em vinho como a água nas bodas de Caná e seremos outros. Digamos a Ele: “Senhor, modificai-nos! Asperges me hyssopo et mundabor: lavabis me, et super nivem dealbabor. Senhor, aspergi-me com hissope e eu ficarei limpo; lavai-me e tornar-me-ei mais alvo do que a própria neve! (Sl 51, 7). Vosso presente, Senhor, é a criatura que vos pede: aspergi-me, purificai-me!”
Ora, esse presente devemos oferecê-lo pela intercessão de Nossa Senhora, pois, como oferecer algo como nós, a não ser por meio d’Ela? E se tudo fazemos por seu intermédio, por que não pedir um presente a Nosso Senhor também através de sua Mãe? Sem dúvida, o dom fundamental que devemos implorar é o seguinte: “Senhor, mudai o mundo! Ou, se não há outro meio, abreviai os dias cumprindo as promessas e as ameaças de Fátima! Mas, para perseverar pelo menos os que ainda perseveram, Senhor, tende pena deles, abreviai os dias de aflição e fazei vir o quanto antes o Reino de vossa Mãe.”
Enquanto estivermos cantando o “Stille Nacht, Heilige Nacht” e as demais canções sagradas do Natal, devemos ter bem presente o seguinte: tudo é muito bonito e muito bom na lembrança do fato havido há dois mil anos, sobretudo porque temos a convicção de que Nosso Senhor continua presente na sua Santa Igreja e na Sagrada Eucaristia, e sua Mãe nos auxilia desde o Céu
Na Terra, porém, é preciso pedir uma presença régia e vitoriosa do Divino Infante! Inclusive, podemos dar a esse pedido uma outra formulação: “Ut inimicos Sanctæ Matris Ecclesiæ humiliare digneris, te rogamos audi nos!” “Senhor recém-nascido, que repousais nos braços de vossa Mãe como no mais esplendoroso trono que jamais houve e haverá para um rei na Terra, nós vos suplicamos: dignai-vos humilhar, abaixar, castigar, tirar a influência, o prestígio, a quantidade e a capacidade de fazer mal, aos inimigos da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, a começar pelos mais terríveis; e estes não são os externos, mas os internos!” Em suma, peçamos a forma mais requintada da vitória de Nosso Senhor: o esmagamento dos seus adversários e a vitória de sua Mãe Santíssima!

 

Lembranças das noites de Natal

As recordações dos natais da infância fixadas na minha memória se fundiram num só Natal. Todos se repetiram com muito encanto e agrado para mim, sem que eu os deixasse de achar sempre novos. Eu poderia tentar descrever as sucessivas impressões de como se comemorava o Natal na igreja e em casa.
O Natal na igreja se celebrava com uma Missa, mas não era a do Galo. Nela se adorava a Nosso Senhor, enquanto recém-nascido em Belém, e em seguida, fazia-se uma consideração do Presépio. Por último, o sacerdote pronunciava a bênção.
Eu tinha uma dupla impressão do Natal. Por um lado, chegava diante do Presépio e me comovia muito, me emocionava, pois me parecia que dele, de fato, emanava paz e tranquilidade. Vendo o Menino deitado de braços abertos, tinha a sensação de estarem abertos para mim e para todos os que O venerassem. Braços acolhedores, afáveis, cheios de simpatia e perdão.
Assim, eu me tomava com aquela alegria do Natal, toda ela intensa e sobrenatural, mas, ao mesmo tempo, carregada de tristeza. Por quê? Vejam, por exemplo, a imagem do Sagrado Coração de Jesus que se encontra numa das capelas laterais da igreja dedicada a Ele, na cidade de São Paulo. Essa imagem é muito bondosa e vê-se Nosso Senhor imerso na felicidade celeste, mas Ele aponta para o seu Coração num gesto de tristeza, como que repetindo as palavras ditas a Santa Margarida Maria Alacoque: “Eis aqui o Coração que tanto amou os homens e por eles foi tão pouco amado.” Por isso, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem essa nota reparadora, em que nós devemos atenuar o sofrimento d’Ele pelos pecados dos homens.
Então, essa serenidade da dor, misteriosamente ligada à alegria natalina, tinha para mim um sabor especial, que não sabia explicar, mas me parecia que a alegria perderia muito sua razão de ser se a dor ali não estivesse presente. Era, de fato o júbilo natalino, mas numa determinada forma que o Natal não apresenta de imediato, ou seja, a alegria da resignação para o que viria no futuro, aceitando-o com bondade e com abertura de alma para a dor.
Assim como o Divino Redentor sofreu, todos os homens sofrerão. Então, aquele menino que estava festejando o Natal sofreria também. Mas, quando chegasse a hora da dor, ele já deveria ter conquistado uma certa serenidade tranquila, augusta, cheia de paz, a qual faria com que dentro da própria dor, ele tivesse alegria.
Essa era a mensagem de Natal que se tornava tão clara, no seu sentido religioso, na Missa do dia celebrada na Igreja. Na véspera do Natal não tinha a mesma intensidade. O sentido religioso era claro, mas a festa era feita num ambiente temporal. Na família, célula da sociedade, vive-se o prazer lícito das coisas temporais inocentes, da boa diversão, das crianças contentes pelos dons recebidos de Deus; infantes que ainda não começaram a batalha contra o pecado e se alegram por estarem vivos e existirem no mundo.
É a alegria que teria uma borboleta ou um passarinho, se pudessem pensar, sentindo seu próprio voo de fruta em fruta ou de flor em flor, debaixo do Sol. Alegria muito boa, sem dúvida, que faz sentir à alma todos os prazeres da virtude, porque o verdadeiro prazer não provém do pecado. Assim, quando vier a tentação roncando, resfolegando e agitando o guizo, a alma humana compreenderá ser aquilo mentira do demônio, pois o que parece prazer é tristeza.
Eis algumas lembranças da noite de Natal.v

(Extraído de conferência de 23/12/1983)

Para pedir um total desapego

Ó Coração Sapiencial e Imaculado de Maria, dotado dos maiores dons naturais e sobrenaturais, isento da mais leve sombra de defeito, Vós vos mantínheis desapegado de tudo, não querendo esses dons para aparecer aos olhos dos homens e nem sequer dos Anjos, mas exclusivamente para o amor, glória e serviço de vosso Divino Filho e da Santa Igreja, considerai o coração deste vosso filho, tão apegado às minhas qualidades reais ou imaginárias e até mesmo a meus míseros defeitos, e tende pena do estado de minha alma.
Vossa prece é onipotente. Alcançai-me, pois, a graça de uma transformação radical que me converta até os mais últimos fundamentos da minha alma, tornando-me totalmente desapegado de tudo e voltado para Vós, de sorte que eu alcance ser, por vossa misericórdia, um filho e escravo que prefira morrer a viver em uma Igreja devastada e sem honra, e viva da confiança de que a Revolução acabará e virá o vosso Reino. Assim seja.

(Composta em 12/10/1968)

Restauração da inocência

Sacratíssimo Coração de Jesus, por meio do Imaculado Coração de vossa Mãe Santíssima, nós vos pedimos perdão por todos os pecados e infidelidades que tenhamos cometido até o momento presente. Bem sabemos que eles devem ter maculado as nossas almas e diminuído o brilho alvíssimo e magnífico da inocência tão rica em flores e frutos da vida espiritual.
Certos de que essa inocência nos torna aptos a receber vossos reflexos, nós vos suplicamos, ó Jesus, por Maria, que restaureis na integridade e leveis até os últimos limites que desejardes a inocência outrora perdida. Assim seja.

(Composta em 1/10/1994)

Beata Angelina, modelo de confiança na promessa divina

Por vezes, as coisas mais nobres e santas que desejamos esbarram em obstáculos inesperados, permitidos pela Providência Divina. É o caso da Beata Angelina: passando por terríveis perplexidades, soube acreditar na promessa interior da graça, confiando na realização de sua vocação.

No dia 14 de julho comemoramos a Beata Angelina, virgem, a respeito de quem diz Daras, na Vida dos Santos1:

Uma via de perplexidades enfrentada com confiança

Beata Angelina nasceu em 1377, em Montegiove, perto de Orvieto, descendente dos Condes de Corbara, por parte de pai, e dos Condes de Marciano, por parte de mãe.
Aos doze anos consagrou a Deus sua virgindade, correspondendo às graças que recebia desde a infância. Mas, três anos depois, seu pai decidiu casá-la com o Conde de Civitella. Em vão a jovem implorou-lhe que a deixasse consagrar-se a Deus. Foi ameaçada de morte se não consentisse no casamento no prazo de oito dias. Nessa aflição, Angelina recorreu ao Senhor, que lhe recomendou cumprir a vontade do pai. Ela desposou então o conde, decorrendo a cerimônia em meio a grandes festejos tradicionais.
Ao aproximar-se a noite, a jovem refugiou-se no quarto e, cheia de angústia, ajoelhou-se aos pés do crucifixo, pedindo a Deus que a protegesse. O conde, chegando, perguntou-lhe o motivo de suas lágrimas e, ao saber do voto que fizera, tocado pela graça, quis imitá-la. Ajoelhou-se e prometeu, com sua jovem esposa, guardar a castidade e considerá-la como irmã. E ambos agradeceram a Deus a grande graça recebida.
Um ano depois o conde morria, deixando Angelina livre. Esta entrou na Ordem Terceira de São Francisco, dedicando-se inteiramente às obras de caridade e à conversão dos pecadores.
Seus milagres tornaram-na famosa e, por causa disso, retirou-se para Civitella; porém, grande número de nobres dessa cidade, desgostosos de ver os jovens das grandes famílias entrarem no convento por influência de Angelina, queixaram-se ao rei, que a exilou. Ela continuou, no exílio, seu trabalho, fundando numerosos conventos de clausura, segundo a Regra franciscana.
Morreu em 1435, como mãe de uma grande família de almas.
É mais uma lindíssima biografia nos relatando o apuro pelo qual passou essa bem-aventurada e a grande confiança na Providência demonstrada por ela.
Ela fizera um voto de virgindade. Entretanto, o pai determina que ela se case, e ameaça matá-la caso não o fizesse. Isso exprime bem a eterna posição do liberal. Quando alguém faz voto de virgindade, outro tem direito até de matar para obrigar a não cumprir o voto. É muito provável que, se esse pai tivesse uma filha devassa, fechasse os olhos e nem desse atenção a isso. Entretanto, como a filha não era assim, ele foi um verdadeiro tirano.
Alguém dirá: “Dr. Plinio, o senhor falou em liberalismo, mas na Idade Média ele não existia”. E eu respondo: O liberalismo não existia como doutrina especificamente explicitada, mas ele é velho como o mundo, e existiu sempre depois do pecado original, como impulso, como estado habitual de contradição, como ódio crônico ao bem, de maneira que, aqui, se pode falar de liberalismo.

Promessas desmentidas e, afinal, realizadas

A Beata Angelina reza, pedindo a Deus para lhe indicar o que deve fazer, e Ele lhe revela que deve se casar. Ela, então, com toda obediência, casa-se; mas, vê-se que a santa dama levava no fundo da alma, se não era nos termos expressos da revelação divina, a esperança de que ela não seria obrigada a desistir de sua bem-amada virgindade.
Ora, depois de um dia de festas nupciais – podem imaginar como foi um dia trágico para essa coitada! –, ela vai ao crucifixo chorando e pede a Deus auxílio a fim de, no novo estado ao qual entrara por vontade d’Ele, ela encontrasse, entretanto, a possibilidade de praticar a virgindade.
Nesse instante, entra o jovem esposo e encontra-a rezando junto ao crucifixo. Ele a vê chorando e pergunta por quê. Ao declarar-lhe a razão, ele, tocado pela graça, resolve viver com ela como um irmão.
Vejam a linda transformação, um verdadeiro milagre moral! Dessa forma, Deus premiava a sua confiança; até o último minuto esperou contra toda esperança, nada dava a entender que o caso dela teria saída, mas, no momento oportuno, houve o milagre.
Um ano depois o cônjuge morre e, então, ela fica livre. Tendo conservado sua virgindade, a santa mulher está em condições de se consagrar à sua vocação.

 

Confiança na voz interior da graça

A Beata Angelina funda um convento, o qual floresce tanto que começa a se encher de moças. Em decorrência disso, aparece a má atitude de várias pessoas furiosas contra ela, como o próprio pai, ou os pais de outras amigas, não querendo a presença da Santa nesse lugar, pedem a sua expulsão, pois ela está atraindo para o convento as moças da alta sociedade.
Eles ficaram rosnando sem poder fazer nada. Por quê? Porque Nossa Senhora tinha colocado sua mão sobre essa obra e, como diz bem o Hino das Congregações Marianas, “de mil soldados não teme a espada, quem pugna à sombra da Imaculada”. Nossa Senhora resolveu e venceu tudo.
Feliz época de grande receptividade para a vocação dada por Deus, na qual uma pessoa santa podia fundar um convento; neste, não ser perseguida, mas permanecer como Superiora e atrair as moças.
Porém, ao ser expulsa daquela região, ela funda conventos em vários outros lugares; portanto, fundou uma Congregação. A sua obra está completa. De revés em revés, de apuro em apuro, de precipício em precipício, ela conclui o périplo completo.
É uma lição para o nosso apostolado. Devemos compreender que, às vezes, as coisas mais altas desejadas por nós, as mais difíceis, mais nobres e santas esbarram em obstáculos inesperados, porque Nossa Senhora quer, Ela mesma, depois, resolver o caso. E todos os esforços humanos se tornam baldos diante disso. Pouco importa! Tenhamos confiança na voz interior da graça, naquilo que Deus, Nosso Senhor, nos disse dentro da alma, porque chegará o momento no qual Maria Santíssima intervirá, e aquilo que a graça falou se realizará.

Nossa grande esperança atual

O “Livro da Confiança”2 começa com essas palavras expressivas: “Voz de Cristo, voz misteriosa da graça, Vós murmurais, no interior de nossas almas, palavras de doçura e de paz”. Com efeito, quantas e quantas vezes sentimos, em nossas almas, movimentos da graça cheios de doçura e de paz que nos levam a pedir coisas aparentemente inalcançáveis. Mas, à força de confiar contra toda esperança, nessa doçura e nessa paz; à força de rezar e de agir, isso acaba se realizando.
Qual é nossa grande esperança do momento presente? Neste apuro sempre mais trágico do cerco desferido contra a Igreja e a Mãe de Deus pelos seus adversários, nós, mais do que nunca, devemos confiar que Nossa Senhora, afinal, consiga de Deus – que parece dormir como no barco de São Pedro –, que Se levante e comece a Se mover no mundo, para operar as suas grandes obras. Dia e noite, devemos estar devorados por este desejo.
Porque, quando Deus começar a agir, ninguém O deterá. E nós que, por enquanto, vemos a Causa Católica tão perseguida e sofrendo tantas provações, quando Deus Se mover, então compreenderemos como é o braço poderoso de Deus. Ficaremos estarrecidos ao ver os obstáculos desmoronando, as montanhas se fundindo, os condenados caindo no Inferno, as almas ainda aproveitáveis se convertendo, e o Espírito Santo, a rogos de Nossa Senhora, soprando sobre toda a Terra, para renová-la. Isso nós devemos pedir de todo o coração.v

(Extraído de conferência de 21/12/1966)

1) Não dispomos dos dados desta ficha.
2) De autoria do Pe. Thomás de Saint-Laurent.

 

Um lírio florescido no lodo

A vida de Santo Alexandre parece um conto de fadas: andrajoso e enegrecido pelo ofício de carvoeiro, era, na verdade, um vaso de eleição. Elevado à dignidade episcopal, manifestou nobreza e fidelidade. Eis um Santo, símbolo de tantas outras almas dispersas pelo mundo e que possuem uma beleza rara. Nossa Senhora realiza através delas os magníficos desígnios da Providência Divina para esta Terra.

Os dados que vou expor a continuação foram tirados do livro Vidas dos Santos, escrito por Rohrbacher1. Trata-se da escolha de Santo Alexandre como Bispo de Comana.

Desprezível aos olhos dos homens

Em meados do século terceiro, os cristãos de Comana, no Ponto, enviaram deputados a São Gregório Taumaturgo, Bispo de Cesareia, pedindo-lhe um bispo. São Gregório dirigiu-se à cidade procurando um pastor para a nova diocese. Os magistrados e principais do lugar procuravam o mais nobre, o mais eloquente ou o que mais se distinguisse por brilhantes qualidades. Apresentaram-lhe numerosos pretendentes. São Gregório, que considerava mais a virtude, disse-lhes que não deviam desdenhar mesmo aqueles cujo exterior parecesse desprezível. Um dos que presidiu a eleição quis ridicularizar as palavras do Santo e disse:
— Se não quereis o que temos de melhor, é preciso ir buscar um bispo entre os artesãos e a plebe. Aconselho-vos Alexandre, o carvoeiro. Nós todos consentiremos na escolha.

— E quem é esse Alexandre? – perguntou Gregório.
Apresentaram-no, então. Estava seminu, coberto de andrajos sujos e rotos. Via-se claramente qual era sua profissão pelo negrume das mãos e do rosto. Todo mundo começou a rir, vendo esta figura em meio à assembleia.

Um vaso de eleição escondido pelo demônio

Alexandre não estava admirado, não olhou ninguém e parecia estar satisfeito com o seu estado. De fato, era um filósofo cristão, um verdadeiro sábio. Não fora a necessidade que o reduzira àquele estado, mas o desejo de se ocultar para praticar a virtude. Ele era jovem e belo, não lhe faltaria ocasiões de tentação, e ele queria ser casto. A poeira do carvão que o desfigurava era como uma máscara que o impedia de ser reconhecido. Seu ofício servia-lhe, ainda, para viver inocentemente e praticar boas obras. São Gregório, descobrindo quem era, mandou que o banhassem e vestissem com seus próprios trajes.
Assim, ele veio parecendo um outro homem, atraindo a atenção de todos os olhares.
— Não vos admireis – disse São Gregório – se vos enganastes, julgando segundo os sentidos. O demônio queria tornar inútil esse vaso de eleição, escondendo-o.
Consagrado solenemente, ao fazer seu primeiro discurso, Alexandre assombrou os presentes.
Santo Alexandre, célebre por sua pregação, governou dignamente a Igreja de Comana até a perseguição de Décio, quando então sofreu o martírio pela Fé.
Parece um conto de fadas. Nesse episódio não há nada que não seja admirável. Que comentários fazer a respeito de um fato como esse?
Notem que o maravilhoso se soma ao maravilhoso. Um jovem belo, grande filósofo, sagacíssimo, um verdadeiro sábio que resolve fugir do mundo, vai para um lugarejo como Comana e se faz carvoeiro, profissão modesta, humilde, escolhida por ele para desaparecer aos olhos do mundo.

Humilde, casto e despretensioso, cheio de sabedoria

Decide apresentar-se enegrecido pelo carvão para que sua formosura não atraísse manifestações de admiração. Por esta forma, vive inocentemente numa profissão árdua, que lhe dá pobreza e na qual não tem ocasiões de pecado, roubo e outras coisas parecidas, mas vive entre seus carvões e sua Filosofia.
O que seria um crepúsculo assistido por Santo Alexandre, sendo ainda carvoeiro?
Imaginemo-lo sentado num casebre qualquer de um arrabalde de Comana, próximo a uma floresta, que talvez fosse uma terra abandonada de onde ele retirava a lenha para reduzi-la a carvão.
Ali, no silêncio de uma tarde pesada e calorosa, ele permanece sentado do lado de fora da casa com as mãos e o rosto sujos pelo carvão, esperando que acabasse de cozer uma comidinha preparada na cozinha, meditando e fazendo filosofia daquilo, pensando, distinguindo, elaborando uma arquitetura de espírito, elevando-se até a Teologia, rezando a Nossa Senhora, tendo eventualmente uma visão; depois, entra na casa para ir comer as aboborinhas que preparara e, em seguida, volta à meditação. A horas tantas, vai à igreja para rezar, visitar o Santíssimo Sacramento e a imagem de Nossa Senhora e, por fim, começa a noite casta, pia e tranquila de sua Comana.
Pode-se imaginar algo melhor do que isso? Dá vontade de deixar tudo e ir correndo para dentro da carvoaria de Santo Alexandre, com a condição de não ouvir falar do mundo moderno, e levar uma vida tranquila, casta e despreocupada. Que coisa maravilhosa!

Enlevo recíproco que destrona os orgulhosos

Pois bem, esse homem é chamado, de repente, para uma assembleia e aí vem o toque do extraordinário em sua vida. Começam a rir dele: “Está aí! Pega esse carvoeiro!” Ele, que interiormente poderia estar dando risada de todos por ser muito mais inteligente e culto do que eles, entretanto está satisfeito, sentindo-se bem por ser objeto de caçoada, pois ama a humildade.
Imaginem, naquela assembleia, os notáveis decadentes da aldeia, querendo um bispo que os enfeitasse com considerações apenas humanas; e, ali, a figura provavelmente majestosa, venerável, sábia, calma, cheia de interioridades e de mistérios, de São Gregório Taumaturgo, célebre por realizar uma quantidade enorme de milagres, e que está presidindo a reunião. Estão presentes dois Santos, um em face do outro, em torno à pequena autoridade degradada de Comana.
Percebe-se, no fundo, aquilo que a narração não diz: com certeza, Santo Alexandre contemplava embevecido São Gregório Taumaturgo que, por sua vez, olhava encantado para o humilde carvoeiro, pois percebeu nele uma pessoa de alto valor. Então, interessou-se por ele, mandou ver quem era e, afinal de contas, tirou o brilhante de dentro da ganga.
Ora, imaginem as notabilidadezinhas esmagadas, o mundanismo trucidado, quando entra na mesma assembleia Santo Alexandre, esbelto, fino, limpo, trajado com os próprios ornamentos episcopais de São Gregório. Eis a derrota completa. Quem fora esmagado, agora é levantado, e aqueles que davam risadas ficam quietos. Verifica-se a frase do Magnificat: “deposuit potentes de sede et exaltavit humiles”– tirou do trono os poderosos e exaltou os humildes (Lc 1, 46). Santo Alexandre é sagrado bispo e faz um sermão que deixa todo mundo pasmo. Aquelas “grandezas” locais, suburbanas, caipiras estavam todas achatadas pela figura superior do novo prelado.

O lírio nascido do lodo, na noite e sob a tempestade

Como termina a vida de Santo Alexandre? Estoura uma perseguição. Um belo dia, prendem-no, ele derrama seu nobre sangue em holocausto por Nosso Senhor Jesus Cristo e para testemunhar sua adesão à Fé Católica. É um mártir a mais que, depois de ter estado todo pintado de preto, acabou tingido do vermelho de seu próprio sangue. Com certeza o corpo dele foi levado para as catacumbas e ali conservado pela piedade dos fiéis.
É possível desejar maior maravilha do que essa? Infelizmente, só podemos lamentar que nossa época, tão infensa ao maravilhoso, não tenha tais belezas; mas é exatamente dessa forma que Deus castigou estes tempos, dispondo as coisas de tal maneira que o maravilhoso não aparece mais. Tudo é banal, raso e insípido, quando não é hediondo e pecaminoso.
Contudo, existem almas dispersas pelo mundo que possuem uma beleza rara e, portanto, escapam a essa hediondez, por meio das quais Nossa Senhora faz a maravilha da humildade completa, da sujeição e da fidelidade perfeita à Igreja Católica Apostólica Romana nos seus piores dias, precisamente nos momentos em que essa fidelidade seria mais difícil de se esperar.
Maria Santíssima imprime nessas almas eleitas o maravilhoso perfume de uma devoção mariana levada até os extremos limites desejados por São Luís Maria Grignion de Montfort, e são as únicas capazes de espargir esse aroma em meio à pestilência e de emitir luz entre as trevas, porque são luminosas, nobres e possuem uma maravilha própria.
É como um lírio que floresce no pântano, na noite e sob a tempestade, para indicar que a Providência Divina e Nossa Senhora têm magníficos desígnios para esta Terra. O maravilhoso está praticamente reduzido a nada, mas terá uma verdadeira expansão no Reino de Maria que, se Deus quiser, não vai tardar.v

(Extraído de conferência de 10/8/1967)

1) Cf. ROHRBACHER, René François. Vidas dos Santos. Vol. XIV. São Paulo: Editora das Américas, 1959. p. 331-333.

Fortaleza e suavidade

São Pio X realizou maravilhosamente, em sua vida, a síntese de dois aspectos do Catolicismo: fortaleza e suavidade. Acolhedor e afável para os bons e os verdadeiramente arrependidos, foi o martelo inexorável das heresias, não regateando os golpes com que feriu os propagandistas do erro. É este mesmo Papa doce e amável quem acumula, em suas encíclicas, as expressões duras e contundentes contra os semeadores da mentira e da discórdia. Ainda aí havia a inenarrável suavidade do pastor que, por amor de suas ovelhas, acomete corajosa e intrepidamente, sem cuidar de si, a matilha dos lobos esfaimados.
O Modernismo, por exemplo, se apresentava com esta nota inédita: a primeira heresia que não abria luta declarada contra a doutrina oficial, mas se confundia habilmente em manejos tortuosos, procurando aninhar-se no seio da Igreja. Foi São Pio X quem, de espada em punho, saiu a desentocar essa serpente.
Entretanto, embora ferido de morte, o Modernismo ainda continua a empestar os ambientes católicos. Certas mofas contra o valor da apologética, a incoerência em que se diluem os conceitos mais elementares e principalmente tanto laxismo que corre o mundo sob capa de caridade não passam de autêntico Modernismo.
Que as virtudes do grande Papa sejam um estímulo e exemplo para os que combatem os erros da era presente.
(Extraído de O Legionário n. 488, 18/1/1942)