Não raras vezes nos deparamos com tentativas de definir o significado da palavra “cultura”, sem que se tenha a elevação de pensamento religioso para entender tratar-se ela do conhecimento global que o homem deve adquirir sobre o universo. Conhecimento este, acompanhado de uma sensibilidade a respeito das coisas da criação que não se verifica igual para todos. Antes, comporta certa acomodação, determinados matizes, dependendo do indivíduo, da família, da região, do país, constituindo uma visão própria, característica — embora sempre objetiva — do que são os elementos componentes do universo e da maneira como refletem a Deus.
A verdadeira cultura seria, portanto, esse conjunto de conhecimentos, mentalidades e sensibilidades incidindo sobre a realidade criada, sob o influxo de uma postura fundamentalmente religiosa. Destarte, a ordem temporal não pode ser dada como bem considerada a não ser à luz das reflexões católicas, assim como a religião católica e a ordem espiritual não serão bem empregadas se não auxiliarem o homem a formar uma noção civilizada do universo.
Portanto, embora se admita que essa cultura e as noções da beleza da criação que ela traz consigo possam ser analisadas sob o ponto de vista natural, com base em regras da estética, etc., acima disso há algo que nos toca mais intensamente, e que constitui, a meu ver, uma das razões mais profundas da fé do católico. Quero falar dessa experiência como que mística, não da mística dos santos e determinadas almas favorecidas por visões e êxtases, mas dessas sensações do sobrenatural, essas sugestões da graça que completam em nosso espírito aquele mencionado conhecimento.
Neste sentido, é dado a qualquer católico possuir um acabamento cultural, isto é, uma vasta compreensão do universo, pela qual percebe a presença da graça em inúmeras coisas, às vezes não diretamente ligadas à religião, nas quais entretanto lateja a raiz religiosa. E sentindo a raiz religiosa, a pessoa, com a “fé do carvoeiro”, brada: “eu creio!”
Um exemplo colhido em minhas lembranças. Numa das ocasiões em que visitei o Castelo de Chambord, na França, deixei-me ficar ali, em frente ao palácio, não sei por quanto tempo…
Na verdade, podia sobrevir a noite, e eu a passaria na contemplação de Chambord. Atraído, não pelos aspectos majestosos da construção renascentista, mas pelos imponderáveis ali presentes da França de Clóvis, de Saint-Remy, de Santa Clotilde, enfim, de todas as Franças gloriosas e heroicas, que marcaram a história do mundo. É a raiz religiosa percebida em inúmeros monumentos como o Castelo de Chambord, e que nos proporciona essa superior compreensão da criação.
Esta compreensão, creio eu, é o ápice da cultura.