Perante um mundo penetrado pela feiura, Dr. Plinio comenta o papel da beleza e da formosura na vida do homem e mostra como a Igreja elevou a arte ao seu píncaro de esplendor.
Há um “ídolo” que começa a ser adorado na atual era histórica. Trata-se da funcionalidade, segundo a qual é necessário que todas as coisas existam em razão de sua função prática.
O que quer dizer funcionalidade? É a acomodação de todas as formas de existência, costumes e mentalidades à preocupação dominante de que tudo deve ser fácil, simples, direto, sem gastos desnecessários nem esforços para manter a formosura na vida.
Opta-se assim pelo hediondo sob o pretexto da funcionalidade, como se as coisas não pudessem ser ao mesmo tempo belas e funcionais. Então, a era da funcionalidade eliminará a era da formosura.
Forma-se assim um mundo fabricado pelo homem com a intenção de fazer abstração do seguinte princípio: Deus quer que as coisas sejam funcionais e formosas; se não o são, a alma humana fica exilada.
Ora, a alma humana foi feita para a beleza que leva a Deus, e não para um mundo sem formosura, de inexorável feiura, inexpressivo, onde qualquer coisa poderia servir para qualquer destino, qualquer povo e em qualquer lugar. E quando o mundo em que tudo o que existe é tão sem expressão, esse mundo é um horrível nada, um cárcere para o espírito humano.
As criaturas são imagens e semelhança de Deus Nosso Senhor. Tudo que há de belo na vida é um reflexo do Criador. Todas as instituições, todas as almas segundo Deus são geradoras de formosura. Em sentido oposto, as contrárias a Ele são, a prazo maior ou menor, causadoras de hediondez.
Um exemplo característico é a Santa Igreja de Deus, na qual existe ordem e formosura. Ela é o esplendor da ordem. Pelo contrário, a desordem é feia, hedionda, porque resulta das deformações da alma pelo pecado.
A Igreja Católica, que é uma obra-prima de Deus, imediatamente depois de nascer começou a se adornar, se embelezar com a arte. Vêem-se formosas manifestações de arte nos primeiríssimos templos, inclusive nas catacumbas. Nestas, os católicos – entre o drama da manhã quando amigos foram devorados pelas feras, e o do dia seguinte em que outros amigos ou eles mesmos serão trucidados – pensavam em termos de religião. E por isso colocavam obras de arte, muitas de bom gosto, nas mesmas catacumbas tão obscuras e feias.
Cada etapa da vida da Esposa de Cristo é marcada por um estilo artístico próprio, o qual reflete à sua maneira o espírito da Igreja, que é o Espírito Santo. Houve grandes Papas, bispos, fundadores de ordens religiosas, imperadores e reis, nobres, aristocratas, e até pessoas de condição humilde, que modelaram coisas formosíssimas sob o influxo do espírito católico.
Nota-se isso, por exemplo, no Brasil e em quase toda a América do Sul. O Aleijadinho, grande artista católico brasileiro, era um homem do povo que nunca fizera estudos de caráter escolar, mas no terreno da escultura e da pintura produziu obras mestras, hoje notáveis no mundo inteiro.
Ele só tratou de temas religiosos; sua alma cheia de Fé lhe inspirou o sentido da formosura.
Tenho visto um álbum com fotografias de quadros feitos por pintores populares bolivianos, quase todos versando sobre assuntos religiosos. Que piedade, recolhimento, elevação de alma, arte, bom gosto!
De onde vem isto?
Não só de sua natureza, porque enquanto não eram católicos não haviam produzido tais coisas. O influxo da Religião Católica sobre suas aptidões, suas capacidades naturais, inspirou a tendência, a possibilidade de fazer aquelas obras de arte. Nota-se assim que por toda parte a Igreja, por uma propriedade que lhe é intrínseca, gera a arte e a formosura.
(Extraído de conferência de 14/1/1974)