Ó minha Mãe, Medianeira de todas as graças, na vossa luz veremos a luz!
Mãe, antes ficar cego do que deixar de ver vossa luz, porque vê-la é viver. Na sua claridade contemplaremos todas as luzes; e sem ela, nenhuma luz refulge. Não considerarei vida os momentos em que ela não brilhar; e eu, da vida, não quererei ter mais nada do que a mente banhada por essa luz.
Ó luz, eu vos seguirei custe o que custar: pelos vales, montes, desertos e ilhas; pelas torturas, pelos abandonos e olvidos; pelas perseguições e tentações, pelos infortúnios, pelas alegrias e triunfos. Eu vos seguirei de tal maneira que, mesmo no fastígio da glória, não me incomodarei com ela, porque só me preocuparei convosco. Eu vos vi, e até o Céu não desejarei outra coisa, porque, uma vez, vos contemplei!
Plinio Corrêa de Oliveira (Composto na década de 1970)
São João Bosco – Virtudes irmãs
São João Bosco possuía o dom de suscitar muita confiança e muita paz nas almas. Ele tinha um sorriso, uma bondade impregnada de fortaleza, mas de tal maneira comunicativa, generosa e apaziguante, que basta rezarmos diante de uma boa imagem dele para percebermos algo de indefinivelmente suave que se perpetuou no seu modo de ser, no seu estilo.
É essa suavidade espiritual que devemos pedir a São João Bosco, nesta época de árduos combates.
Todas as virtudes são irmãs. Portanto, a combatividade mais irredutível e implacável é irmã afetuosíssima dessa bondade, delicadeza e suavidade próprias do espírito de São João Bosco.
(Extraído de conferência de 31/1/1969)
A Jesus, por Maria
Para comungarmos bem, devemos pedir a Nossa Senhora que venha espiritualmente à nossa alma, e preste a Nosso Senhor atos de culto. Dessa forma, nossa Comunhão será inteiramente marial, conforme ensina São Luís Maria Grignion de Montfort.
Acho conveniente deter hoje nossa atenção na invocação de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, quer dizer, a Virgem Maria considerada especialmente em suas relações com a Divina Eucaristia.
Procurarei ser esquemático ao indicar alguns pontos para meditarmos, a fim de que caiba a maior quantidade possível de matéria dentro de pouco tempo.
Nossa Senhora obteve o Santíssimo Sacramento para o gênero humano
Consideremos o seguinte: uma das maiores graças que o gênero humano recebeu foi a instituição da Sagrada Eucaristia, ou seja, da presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo em todos os sacrários da Terra, até o fim do mundo, e a renovação incruenta do Sacrifício da Cruz.
Para medirmos a importância dessa graça, basta considerarmos como julgaríamos magnífico se, de repente, tivéssemos o Redentor visível aqui entre nós. Com toda razão, julgaríamos que uma eternidade não bastaria para agradecer esse favor.
Ora, Nosso Senhor, embora de modo não visível, está realmente presente no Santíssimo Sacramento.
Se recebemos todas essas graças é porque nos vieram a rogos de Maria, por meio d’Ela. De maneira que devemos esses favores insondáveis a Nossa Senhora. Ela obteve o Santíssimo Sacramento para o gênero humano. Mais ainda: todas as graças que Nosso Senhor distribui no Santíssimo Sacramento, Ele o faz pelos pedidos da Virgem Maria. Se Ela não pedisse, não as obteríamos.
Além disso, a única criatura humana que presta ao Santíssimo Sacramento um culto inteiramente digno e perfeito é Nossa Senhora. As outras criaturas humanas sempre têm algum defeito, que macula o alcance desse culto.
Nossa Senhora conhece todos os lugares da Terra onde há o Santíssimo Sacramento, e Ela, do alto do Céu, está adorando continuamente as Sagradas Espécies por toda parte.
Onde as Sagradas Espécies são adequadamente cultuadas, Maria Santíssima presta um culto jubiloso. Quando são tratadas com indiferença ou até com blasfêmia ou sacrilégio, Ela presta um culto reparador.
A devoção ao Santíssimo Sacramento é uma graça; logo, é obtida por Nossa Senhora.
Modo de um escravo de Maria comungar
Cada um desses pontos de meditação nos deve ajudar a comungar como São Luís Maria Grignion quer. Todas as nossas Comunhões são atos de culto a Nosso Senhor Jesus Cristo, mas com Maria, por Maria, em Maria.
Então, dadas todas essas relações que Nossa Senhora tem com o Santíssimo Sacramento, devemos preparar-nos para a Comunhão com o auxílio d’Ela. O que quer dizer isso?
Precisamos pedir a Maria Santíssima que venha à nossa alma, e diga por nós a Nosso Senhor tudo quanto Ela diria se estivesse comungando.
Devemos receber a Eucaristia junto com Nossa Senhora, ou seja, pedir que Ela esteja como que à entrada de nossa alma para acolher a Nosso Senhor e preste os atos de culto a Ele. Como todos sabem, os atos de culto são quatro: adoração, ação de graças, reparação e petição dos dons divinos que precisamos.
No momento de nossa Comunhão, digamos a Nosso Senhor o seguinte: “Meu Deus, Vós encontráveis vosso Paraíso estando em Maria durante vossa Encarnação e durante as comunhões d’Ela. Como é inferior a acolhida que eu Vos dou! Tende, entretanto, em consideração que em espírito vossa Mãe está presente em mim, dispensando-Vos uma acolhida incomparável. Recebei, assim, com benignidade, meus pobres atos de culto, enriquecidos por passarem através d’Ela a fim de chegar a Vós”.
Assim, nossa piedade eucarística se torna inteiramente marial, embebida do espírito de São Luís Maria Grignion de Montfort. Esse é o modo de comungar de um escravo de Maria.
Receber a Eucaristia com a alma plenamente confiante e jubilosa
Dessa forma, se evita que, ao comungar, caiamos em dois erros.
Um é a ideia da inacessibilidade de Deus.
Nosso Senhor Jesus Cristo é tão infinitamente Santo, que não há nenhuma proporção possível entre nós e Ele, debaixo de nenhum ponto de vista.
Então, tendo isso em vista, corre-se o risco de comungar acanhado, quase deprimido.
Mas se se considera que Nossa Senhora está em nós espiritualmente — não realmente como está Ele — comunga-se alegre, porque, apesar de sermos o que somos, Ela se encontra em nossa alma.
Dou um exemplo: imaginem um mendigo que vai receber a visita do maior rei da Terra. Ele não tem nada para oferecer ao monarca, mas consegue que a rainha-mãe lá esteja para acolher o rei. O mendigo está tranquilo; não lhe falta nada. Ao chegar o soberano, a rainha-mãe está na entrada do tugúrio e lhe diz: “Meu filho, eu quis honrar esta casa com a minha presença. Ela é minha, entre!” O dono da casa não tem outra coisa a fazer senão sorrir, regozijar-se, transbordar de alegria porque a recepção está à altura do rei.
Então, devemos comungar com a alma plenamente confiante, jubilosa.
Se cada um de nós for pensar em seus defeitos, ficará acanhado, encafifado. Mas em sua alma está Nossa Senhora! Que tranquilidade, alegria, paz de alma, esperança para tudo!
Conjunção da adoração com a maior das ternuras
Assim, evita-se também a falta de respeito, que teria, por exemplo, um mendigo a quem o rei vai visitar todos os dias. Nunca o mendigo tem algo para oferecer ao monarca. Certo dia, ele diz para o rei: “Sentai-vos ali e conversai comigo. Se vós quiserdes vir em minha casa, só possuo isto para vos oferecer: meu café velho e minha caneca rachada. Não tenho outra coisa; não posso me virar pelo avesso”.
Então, a devoção a Nossa Senhora equilibra isso. Tira o acanhamento, o encafifamento, e também a rotina, o desrespeito.
Há, portanto, uma espécie de equilíbrio da piedade eucarística simplesmente magnífico, pela conjunção da maior das venerações, que se chama adoração, de um lado, com a maior das ternuras. Assim, eu posso tomar com Nosso Senhor as liberdades mais afetuosas, porque fui trazido pela Mãe d’Ele.
Eu quisera que todo membro de nosso Movimento, habitualmente, comungasse nesse espírito, tomando cada dia um desses pontos para considerar.
Por exemplo: “Minha Mãe, eu Vos devo a instituição da Sagrada Eucaristia. Todo o gênero humano Vos deve essa instituição. Ajudai-me a agradecê-la a vosso Divino Filho, vinde à minha alma.” Ao receber a Comunhão, agradecer a Ele. Está feita uma Comunhão excelente.
Acho que este seria um método ideal para a Comunhão, evitando assim a falta de respeito e também a rotina: as Comunhões nas quais as pessoas têm a impressão de que não sabem o que dizer a Deus, como dois velhos amigos que se encontram todos os dias e já não têm mais o que falar um para o outro.
Para Nosso Senhor, nós sempre temos coisas novas para dizer, aprofundando esses horizontes. Cada um desses pontos encheria o tempo da ação de graças de uma Comunhão. Que Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento nos conceda a graça tão preciosa de uma piedade eucarística em união com Ela.
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 17/5/1969)
Repleta de perdões
Quando pensamos na condescendência de Nossa Senhora para conosco, ficamos emudecidos de enlevo e gratidão.
Invocar a Rainha do Céu e da Terra, o tabernáculo vivo do Verbo Encarnado, à qual Este obedeceu como um servo à sua senhora, e d’Ela recebermos um infatigável auxílio, é deveras mais do que nossas pobres palavras podem comentar.
Maria é a medianeira de todas as graças, mas essa medianeira é também nossa Mãe. Apesar de nossas faltas e fraquezas, sempre se acha propensa a nos atender: com comprazimento sôfrego, sorridente, repleto de perdões, desde que para Ela nos voltemos como filhos repassados de devoção e confiança.
Nossa Senhora
Alma de uma imensidade inefável, alma na qual todas as formas de virtude e de beleza existem com uma perfeição supereminente, da qual nenhum de nós pode ter uma ideia exata.
Nossa Senhora é bem aquele mar, aquele céu de virtudes diante do qual o homem deve ficar estarrecido e enlevado, e que com todas as suas forças deve procurar amar e imitar.
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência 15/11/1958)
A beleza e a harmonia dos opostos que se unem
A majestade real resplandeceu num dos atos mais belos da história da Inglaterra quando o Rei Santo Eduardo, cumprindo o desejo do Papa, conduziu em seus ombros um mendigo ao qual curou de uma terrível doença. Analisando o fato, Dr. Plinio nos aponta, com profundidade, a beleza do princípio de ordem e harmonia que nele está refletido.
Num trecho do livro “La Baja Edad Media”(1), de autoria de Cristopher Bruck, Professor de História Medieval da Universidade de Liverpool, está descrito o seguinte fato da vida de Santo Eduardo, a respeito do qual eu gostaria de fazer algumas considerações.
A imagem medieval da pobreza, a realeza e a vontade divina se ilustram na vida do Rei Eduardo, o Confessor, do século XII.
Essa história narra que Gila Michael, um irlandês, foi a Roma em busca de remédio, mas São Pedro lhe disse que sanaria o mal se o Rei Eduardo da Inglaterra o levasse sobre os ombros desde a “Westminster Hall” até a Abadia de Westminster.
São Pedro, neste contexto, quer dizer o Papa.
O virtuoso monarca consentiu. Pelo caminho, o intumescido irlandês sentiu que se afrouxavam os seus nervos e suas pernas se distendiam.
O sangue de suas chagas corria pelos trajes reais, mas o Rei o levou até o altar da Abadia. Ali chegando, o pobre doente ficou curado; começou a andar e pendurou as muletas na Abadia, como sinal do milagre.
“Basta o Rei carregar-te aos ombros”
Como lemos acima, um homem vítima de grave e dolorosa enfermidade, a qual fazia com que seus nervos se contraíssem, produzindo, com isso, feridas que dificultavam extremamente seus movimentos. Certo dia, esse homem conseguiu que o levassem até o Papa para que lhe pedisse a cura. Este respondeu ao enfermo que ele seria curado, mas para isso era necessário que o Rei da Inglaterra o pusesse sobre os ombros e o levasse da grande sala de Westminster até a Abadia, onde por fim encontraria a cura do mal que o atormentava.
Voltando à Inglaterra, o pobre homem teve certamente de percorrer longos trajetos, por estradas onde a todo momento estava em risco de cair em mãos de salteadores. Por outro lado, quanto bom trato e hospitalidade não terá o viajante recebido nos conventos pelos quais passava. Talvez as pessoas generosas lhe ofertassem esmolas para assim poder prosseguir a aventura que consistia tal viagem.
A majestade e a repugnância se encontram
Tendo chegado, por fim, à Inglaterra, o doente dirigi-se ao palácio real. Alegando trazer uma mensagem pontifícia, ele conseguiu comparecer à presença do soberano. Imagine-se como terá sido a cena daquele homem chegando diante do Rei, o qual provavelmente se encontrava em seu trono, cingindo o diadema e as vestes reais, resplandecente de majestade, mas ao mesmo tempo de bondade e afabilidade.
— O que quer? Interroga-lhe o Rei.
— Senhor, eu venho da parte do Papa.
— Então, diga-me do que se trata.
— Ele pede que vós me cureis.
— Mas como poderei fazer isso?
— É ordem do Papa…
Quanto contraste nesta cena! De um lado, o pobre homem, provavelmente um mendigo, coberto de chagas sangrentas e repugnantes; do outro lado, o Rei, saudável, presumivelmente jovem e cheio de majestade.
O recado que é transmitido consiste na manifestação do desejo do Papa de que esse grande monarca, glorioso chefe da nação, carregue ao pescoço aquele mendigo chagado e purulento, apresentando-se nessa postura humilhante pelas ruas, ao longo de todo o percurso.
O santo soberano atende o pedido. E, na pequena Londres de então, o Rei sai de seu palácio, enquanto as sentinelas se perfilam e um arauto toca trombeta avisando que Sua Majestade vai passar.
Provavelmente, nas ruazinhas estreitas da cidade de Londres, o povo se espanta com a saída do Rei, sobretudo porque ele não está, como de costume, montado em seu magnífico corcel, nem tampouco numa carruagem, mas está a pé, sozinho, sem guardas nem tropas e fazendo-se montar por aquele indivíduo.
Dos mais belos fatos da monarquia inglesa
Naquela cidade pequena, onde todo mundo se conhece, certamente o povo deve ter comentado: Logo Gila Michael, esse mendigo miserável, carregado assim pelo Rei! Nosso augusto Rei, Santo Eduardo, símbolo da Inglaterra e da virtude da Igreja Católica, ele tão majestoso, digno e altivo como um lírio, trazendo um mendigo montado sobre si! Que coisa extravagante!”
Enquanto isso, tanto o mendigo quanto o Rei vão rezando, e pedindo a Nossa Senhora a esperada cura.
Atrás do Rei o povo atônito forma um cortejo que caminha rumo à Abadia de Westminster, a fim de ver qual será o desfecho daquela curiosa cena.
No caminho, porém, as vestes reais vão se enchendo de pus e sangue que começam a verter das chagas daquele homem, o qual ao mesmo tempo começa a sentir que algo nele está se dando.
Ao entrar na Abadia, em meio à expectativa geral, talvez devido ao fato de o povo pressentir que uma das mais belas cenas da história daquele recinto estava prestes a acontecer, o monarca dirige-se para junto do altar, lá tira o precioso fardo de seus ombros e o põe no chão. Então, o homem, que montando no Rei, vinha trazendo nas mãos suas muletas, larga-as e começa a andar, pois suas chagas estavam inteiramente secas e ele miraculosamente curado.
Por outro lado, o Rei está com seus trajes gloriosamente cobertos de sangue e pus. Enquanto se operou por seu intermédio um grande milagre através do qual a majestade real resplandeceu esplendorosamente num dos atos mais belos de toda a história da monarquia inglesa.
Belo como fato ou como lenda
Alguém poderia levantar dúvida sobre a historicidade desse fato. A meu ver, isto não tem grande importância, pois ainda que venha a ser um mito ou uma lenda, o importante é ter havido numa determinada época multidões desejosas de que as coisas tivessem se passado deste modo; caso contrário, nem mesmo seriam capazes de inventar algo assim.
Pode tratar-se de uma lenda baseada num fato verídico, o qual foi glosado e embelezado para atender mais plenamente a apetência das pessoas, porém, o que importa é ter existido um povo que tivesse o estado de espírito tendente a se entusiasmar com a possibilidade das coisas se passarem desta forma.
Como vibram de entusiasmo por realidades diferentes as pobres multidões hodiernas, infelizmente tão massificadas, materializadas e quase aniquiladas!
Este episódio é indiscutivelmente belo, porém é necessário fazermos uma análise a fim de que a beleza que nele se encontra não permaneça apenas como convicção, mas seja fundada no raciocínio, para desta forma podermos compreender mais profundamente o esplendor da Igreja Católica, sem a qual tais fatos seriam impossíveis, seriam impensáveis.
A espera só aos fortes é pedida
O primeiro aspecto encontra-se na Fé daquele homem, que não hesita em ir candidamente pedir ao Papa um milagre. Por outro lado, também, quanto prestígio gozava o Papado naquele tempo! Pois, o enfermo foi até ele com certeza de que seria curado.
Como a Providência tratou a Fé desse homem?
Poderia tê-lo curado logo, mas não o fez. Pelo contrário, inspirou ao Sumo Pontífice de enviá-lo de volta à Inglaterra para lá ser miraculado. Tal ato de confiança Nossa Senhora pede aos fortes. Enquanto aos débeis na Fé, a maior parte das vezes Ela atende imediatamente.
Outro aspecto de beleza é a certeza do pobre homem de que o Rei Eduardo o iria curar. Caso fosse rabugento poderia pensar: “Por que fui até Roma se eu tinha tão perto de mim quem me podia curar?” Mas, não possuindo esse defeito, ele aceitou que Nossa Senhora dispusesse dele como quisesse, indo ter com o Rei cheio de tranquilidade e uma Fé que move montanhas.
Um rei “cavalgado” por um mendigo
Chegando à Inglaterra, o mendigo pede a cura apresentando ao Rei a condição do Papa para alcançar o milagre. Era de que ele “cavalgasse” o Rei.
A condição não poderia parecer mais extravagante, pois o Rei podia curar o mendigo ali na mesma hora. Então, por que deixar-se cavalgar por um doente como aquele? Por outro lado, tratando-se de irem até a Abadia de Westminster, não podiam os dois para lá se dirigir sentados numa carruagem?
Aquele pedido do Papa, o qual no fundo manifestava o desejo da Providência, parece ser a inversão de toda a ordem, pois Deus criou os reis para governar e não para serem montados por mendigos. Isso é uma desordem?
Não, a ordem encontra-se profundamente presente nesse fato. Por quê?
A grandeza de se fazer pequeno
Trata-se do seguinte: É lindo o fato de o poder público dominar, é verdadeiramente maravilhoso e nobre que os inferiores prestem aos detentores deste poder o respeito que lhes é devido. Sobretudo quando se trata de alguém que reconhece a origem divina de seu poder.
Mas, é também esplendoroso que, em certas ocasiões, o maior, às vezes heroicamente, seja pai, amparo e auxílio do menor. Por isso, é bonito que um rei, homem posto no mais alto píncaro da hierarquia social, se lembre de que ele é homem como o outro, pois de certa forma todos são iguais. São desiguais apenas em seus acidentes, os quais por vezes são de uma importância muito grande, mas, em sua essência, o rei é homem como o outro.
Por causa disso, o maior deve ser capaz de servir o menor, respeitando assim a qualidade de homem que ambos têm em comum.
Estes são os dois aspectos lindíssimos desse fato: um pobre resignado, mas que com essa naturalidade e Fé pede ao Rei para que o leve sobre os ombros; um Rei que reconhece a altura de sua realeza, mas é capaz de dizer: “Meu filho, pois não. Suba e vamos juntos pedir o milagre que você necessita.”
A maravilhosa harmonia das desigualdades
Há neste episódio uma harmonia que corresponde à lei profunda das harmonias, a qual admite que os extremos se toquem: é belo ver a realeza tocar na mendicância e, assim, ambas se unirem harmoniosamente.
É belo, portanto, ver ambas se aproximarem do altar junto ao qual está Deus que se encanta ao ver o esplendor daquela obra da qual Ele próprio é Autor. Ele criou o mendigo e também o rei. Ele quis que no mundo houvesse realeza, mas também pobreza, sofrimento, dor, doença, mendicância. E em tudo isso Ele pôs uma harmonia perfeita.
(Extraído de conferência de 28/6/1974)
1) “La Baja Edad Media”, Ed. Labor, Barcelona, 1968, p. 32.
Escravidão de amor a Nossa Senhora
Eis a conclusão das palavras dirigidas por Dr. Plinio a um grupo de jovens que acabavam de fazer a consagração a Nossa Senhora, pelo método de São Luís Grignion de Montfort. Dr. Plinio lhes explicara inicialmente o contexto no qual esse Santo explicitou e desenvolveu suas doutrinas.
Em seu “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”, São Luís Grignion estabelece vários princípios que justificam a nossa consagração a Ela como escravos de amor.
Medianeira desejada pela Providência
O mais importante deles é a mediação universal de Nossa Senhora. Ou seja, o fato de que Ela é a medianeira entre Deus e os homens para a obtenção e a distribuição de todos os dons divinos que pedimos ao Céu.
De tal modo essa intercessão de aria é querida pela Providência que — ensinam os teólogos — nada do que os fiéis pedem a Deus seria alcançado, se a Santíssima Virgem não rogasse também por eles. Pelo contrário, se Ela sozinha fizer a mesma oração em seu favor, será atendida.
Compreende-se. Escolhida para ser a mãe do Verbo encarnado, sempre imaculada e cheia de graça, a união que Nossa Senhora tem com Jesus é a mais alta que uma simples criatura humana pode ter com Deus. Em virtude desse vínculo extraordinário, Nosso Senhor nada recusa à sua Mãe, o que faz d’Ela uma intercessora onipotente junto a Ele. Esse é o princípio ensinado por São Luís Grignion e reconhecido pela Igreja.
Passemos a outro ponto.
Co-redentora do gênero humano
Quando foi decidido pelo Pai Eterno que Jesus Cristo deveria morrer para expiar nossos pecados, quis Ele ter o consentimento da Santíssima Virgem, o que representou para Ela um golpe espantoso.
Pensemos em nossas mães. Se alguém lhes dissesse: “Quer me dar seu filho, para que ele sofra blasfêmias, seja ridicularizado, perseguido, preso, entregue ao desprezo e ao ódio do povo, flagelado, coroado de espinhos, obrigado a carregar sua cruz até o Calvário e morra de modo atroz?” — nenhuma delas cederia o filho! Não há mãe que queira isso para aquele que ela trouxe ao mundo.
Porém, Nossa Senhora sabia ser necessário esse holocausto para a redenção do gênero humano. Ela deu seu consentimento, e com isso sofreu uma dor intensíssima, como se um gládio Lhe transpassasse o coração. Daí vem a devoção a Nossa Senhora das Dores, e a imagem d’Ela com o coração aparente, atravessado por uma espada.
É uma evocação do sacrifício que Ela fez.
Nos seus eternos desígnios, Deus quis que esse padecimento de Maria fosse unido ao de Nosso Senhor para resgatar os homens, e por essa razão Ela é chamada pela Igreja de Co-redentora do gênero humano.
Nossa Senhora é nossa arqui-mãe
Em conseqüência dessa participação de Nossa Senhora na redenção do mundo, podemos dizer, com inteira propriedade, que Ela é nossa mãe: sem o auxílio e o consentimento d’Ela, não teríamos nascido para o Céu e para a vida da graça. Ela aceitou e quis o sacrifício de seu Divino Filho por todos e cada um dos homens, até o fim dos tempos, e é, portanto, mãe de todos e cada um de nós.
Mãe a um título mais alto que simplesmente o de mãe natural, posto ser mais alta a vida sobrenatural para a qual Ela nos gerou. Em certo sentido, Ela é a nossa arqui-Mãe, a Mãe das mães. E tem, então, para conosco, uma tal misericórdia, que São Luís Grignion de Montfort não hesita em afirmar que Maria ama cada um em particular mais que todas as mães somadas amariam seu filho único. Daí, diga-se de passagem, a entranhada confiança que devemos depositar na clemência d’Ela.
É louvável que nos consagremos a Nossa Senhora
Ora, se Nossa Senhora nos deu de tal maneira seu sacrifício, sua alma, se Ela nos amou a tal ponto, se é tão autenticamente nossa mãe, se Ela nos ofereceu seu Filho, o Filho de Deus, se O imolou por nós, se nos cumulou de tantos bens, é justo e louvável que nos consagremos a Ela por completo.
Eis a tese de São Luís Grignion. Pertencemos a Ela, de direito, pelo que Ela fez por nós. O santo autor diz muito bem que, quando um rei (ele se referia aos monarcas absolutistas) conquista um povo, torna-se senhor desse povo.
Nossa Senhora nos comprou e nos conquistou por seu sacrifício, e por isso Lhe pertencemos. Mas, como somos seres inteligentes e livres, é preciso que, por uma deliberação nossa, nos entreguemos a Ela. Com nosso consentimento, essa união se torna completa.
De fato, não pode haver dom mais proporcionado ao que Nossa Senhora nos fez, do que a doação de nós mesmos a Ela, como seus devotíssimos escravos. Quer dizer, a escravidão de amor à Santíssima Virgem Maria como Mãe de Deus, como nossa Co-redentora e nosso celestial amparo.
Características dessa escravidão
Por essa escravidão consagramos nossa vida nas mãos de Maria Santíssima, e Lhe entregamos todos os nossos méritos para que disponha deles como melhor quiser. Convenhamos, não é um muito bom negócio para Ela… Que são os pobres méritos dos homens em comparação com os que Ela alcançou! Mas, se é este o desejo d’Ela, deixemos que Nossa Senhora use de nossos méritos como Lhe aprouver, em benefício de terceiros, em tal intenção da Igreja, etc., etc. São Luís Grignion, entretanto, procura nos fazer ver a inestimável vantagem dessa entrega, aplicando à generosidade de Nossa Senhora uma expressão francesa muito interessante: “Em troca de um ovo, ela nos dá um boi”.
Ou seja, damos diminutos méritos e, em retribuição, Ela nos concede uma torrente de graças. Devemos, pois, fazer tudo o que Nossa Senhora deseja que façamos, quer dizer, cumprir a lei de Deus e procurar sermos perfeitos. Em outras palavras, tudo o que sabemos que seja o melhor para os interesses da Igreja, segundo a moral e a perfeição cristã.
Em compensação, Ela nos toma sob sua proteção de modo especial, e nos torna beneficiários de méritos superabundantes. Eis no que consiste essa consagração de amor à Santíssima Virgem.
"Porta do céu, abri-vos para mim!"
Nossa Senhora é chamada a Porta do Céu. É por meio d’Ela que Nosso Senhor Jesus Cristo passou do Céu para a Terra, e é através d’Ela que os homens passam do mundo para a eterna bem-aventurança. É por essa porta que todas as nossas orações chegam até Deus, e é por meio d’Ela que obremos as graças necessárias para nossa salvação.
Assim, em todos os dias de nossa vida e, sobretudo, no momento em que estivermos para entrar na eternidade, a Ela devemos dirigir esta filial e confiante súplica: “Porta do Céu, abri-vos para mim!”
Misercordes oculos ad nos converte
Quando menino, aos doze anos de idade, diante de uma imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, venerada na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Dr. Plinio foi “contemplado” pelo misericordioso e compassivo olhar de Maria Santíssima. A graça recebida nessa ocasião marcou profundamente sua vida.
Procurando fazer melhor explicitação a respeito de Nossa Senhora, recentemente encontrei uma figura que, embora muito simples, exprime bem meu pensamento. Não sei se ela, em Geometria, é inteiramente exata, pois, como todos sabem, meus conhecimentos nessa matéria são os mais sumários e desinteressados possíveis.
Imaginemos um poliedro, um corpo com várias faces — esta é a ideia muito primitiva que tenho de um poliedro —, bem construído. Se suas faces são triangulares, olhando-se para uma delas, se vê de certo modo as outras, pois todas têm a forma de um triângulo.
Assim é a Mãe de Deus, cuja perfeição é supereminente, e a Quem a Igreja vota o culto de hiperdulia. Considerando-se uma de suas altíssimas qualidades, percebe-se que Ela tem igualmente todas as outras virtudes de que uma criatura humana seja capaz. Conhecida, por exemplo, sua fé, se entende sua esperança e sua caridade. Vendo-se um lado do poliedro, se intui como são todos os outros, com suas dimensões. Se, conforme a Geometria, o poliedro não é exatamente assim, essa figura serve ao menos como metáfora.
Compaixão de Nossa Senhora
O que mais me tocou, primeiramente, em Nossa Senhora não foi tanto sua santidade virginal e régia, mas a compaixão com que Ela olha para quem não é santo, atendendo com pena e solícita em dar, em suma, uma misericórdia que tem as mesmas dimensões das outras qualidades. Quer dizer, inesgotável, clementíssima, pacientíssima, pronta a ajudar a qualquer momento, de modo inimaginável, sem nunca ter um suspiro de cansaço, de extenuação, de impaciência, mas sempre disposta não só a repetir sua bondade, mas a superar-se a Si própria. De maneira que feita tal misericórdia, embora mal correspondida, vem outra maior. Por assim dizer, nossos abismos vão atraindo sua luz. E quanto mais fugimos d’Ela, mais as graças por Ela obtidas se prolongam e se iluminam em nossa direção.
“Um olhar que me deixou calmo para a vida inteira”
Comparemos o miosótis com o sol. Entre nós e a Santíssima Virgem a diferença transcende ainda mais. Embora seja Ela mera criatura, sua ação poderia ser comparada com o efeito do olhar de Nosso Senhor para São Pedro, que O renegou durante a Paixão e o galo cantou. Quando o Redentor o fitou, ele se sentiu tomado por inteiro. O Apóstolo havia sido testemunha direta ou tivera repercussão imediata de tudo quanto os Evangelhos narram, e conhecia Nosso Senhor perfeitamente. Naquele olhar ele recebeu uma comunicação de tudo quanto sabia, mas com tal acento e esplendor, que derrubou sua ingratidão: “Et flevit amare — E chorou amargamente” (Lc 22, 62). A grande contrição de Pedro é um dos fatos mais bonitos da história dos santos.
Quando menino, tendo ido à Igreja do Coração de Jesus e, pela primeira vez, atinado com a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, não tive nenhuma visão, êxtase ou revelação. Mas me senti como se a imagem me olhasse, e tive conhecimento como que pessoal dessa bondade insondável que me envolvia totalmente. Ainda que eu quisesse fugir ou renegar, Ela me pegaria afetuosamente e diria: “Meu filho, volte de novo, aqui estou Eu!”, fazendo-me entender a profundidade dessa misericórdia.
Em primeiro lugar, fiquei calmo para a vida inteira. De fato, por maiores que sejam as dificuldades, se estamos envolvidos por essa misericórdia, podemos descansar; porque no fundo, para quem não é brutalmente insensível, mas se volta à Virgem Maria, Ela acaba arranjando todas as coisas. E, notem bem, uma das coisas que — dentro da indefinição de minha mentalidade de menino, entretanto eu tinha bem claro mais me enlevaram, foi que isso não era um privilégio para mim, mas era a atitude d’Ela diante de todos os homens.
Nossa Senhora poderia condescender em querer tratar-me como um privilegiado; porém, tive cognição do contrário: Para todas as pessoas que existiram e existem, todos os pecadores que estão nas ruas, nas casas, nos bondes, nos automóveis, etc., Ela é exatamente assim. Porém, muitos A rejeitam.
Tenho muita pena quando vejo alguém — um “enjolras”(1), por exemplo — nervoso e com problemas; penso: “Por que não posso comunicar-lhe um olhar como o que recebi de Nossa Senhora? Ele ficaria calmo para a vida inteira.”
Não consigo exprimir completamente como foi essa graça. Quando rezo o trecho do Magnificat “et misericórdia eius a progenie in progenies timentibus eum”, quer dizer, a misericórdia de Deus vai de geração em geração a todos os que O temem, sempre pensei: “É bem verdade, e por meio de Maria Santíssima. Ela é a misericórdia insaciável, que não acaba, mas se multiplica solícita, bondosa, tomando nossa dimensão e, por compaixão, faz-se até menor do que nós para nos acolher”.
Muitos pensam que eu sou uma fera, não tenho pena dos outros. Eles não têm ideia do que é essa cognição da misericórdia de Nossa Senhora, a qual penetrou em minha alma.
Misericórdia, pureza, fortaleza e sabedoria de Nossa Senhora
Considerando essa misericórdia, vem-nos à ideia a virginalidade de Maria Santíssima, porque essas noções, por assim dizer, se contêm umas nas outras. Ela é pura, com um grau de pureza indizível. Conhecida a misericórdia se conhece a pureza; é novamente a figura do poliedro. Qualquer castidade que se possa conceber não se compara à pureza d’Ela, toda feita não só de ausência de qualquer pendor para o mal, mas de um jorro de alma direta e exclusivamente para Deus, sem compromisso com mais nada e ninguém, um “élan” inteiro, de uma força, integridade, um desejo de Absoluto, que não se pode medir.
A pureza de Nossa Senhora, comparada à de outras pessoas, é como a alvura da neve em relação ao carvão.
E, na perspectiva em que me coloco, a pureza traz consigo a ideia da fortaleza, a qual não significa que nada quebra. É algo diferente: ante o que a Mãe de Deus, na sua pureza, decidiu, o resto do mundo se flecte pela força da vontade d’Ela; é um ímpeto, uma resolução, uma ausência de possibilidade de resistência de qualquer pessoa ou coisa que seja, uma soberania, um domínio numa tal dimensão que não há palavras humanas para exprimi-la.
Hoje se fala de obuses e outras armas. Na realidade, são simples caranguejolas inofensivas e ridículas em comparação com um ato de vontade, uma preferência da Santíssima Virgem.
Por sua vez, essa fortaleza, misericórdia e pureza trazem uma ideia de sua sabedoria lúcida, adamantina, dispositiva de todas as coisas, nunca tendo qualquer dúvida, mas somente certezas. Quer dizer, Ela conhece todas as coisas, suas inter-relações, e penetra até as entranhas de todo ser. O universo é tão grande! Pelo fato de Nossa Senhora compreender a ordem do universo e o seu ponto ápice, mais uma vez vislumbramos qual é a imensidade de sua pureza, fortaleza e misericórdia.
Essas são as virtudes que, de momento, mais me chamam a atenção quando me lembro do olhar de Nossa Senhora Auxiliadora na Igreja do Sagrado Coração de Jesus.
“Meu filho, Eu te quero”— “Minha Mãe, eu sou vosso”
Poder-se-ia perguntar-me: “O senhor recebeu esse olhar quando menino, com onze, doze anos; e nunca mais houve algo semelhante?”
Essa graça me foi dada de tal maneira que ficou como um sol para a vida inteira. O fato parece ter ocorrido ontem. A Santíssima Virgem como que me disse: “Meu filho, Eu te quero”. E eu declarei: “Minha Mãe, eu sou vosso”.
Alguém indagaria: “Mas nessas considerações onde o senhor coloca a Nosso Senhor Jesus Cristo?” Respondo: “Em tudo!” É a ideia que São Luís Grignion desenvolve muito: Nossa Senhora é o claustro, o oratório, o tabernáculo sagrado onde está o Redentor, e quanto mais estivermos próximos d’Ela, tanto mais estaremos próximos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Imaginem Nossa Senhora no período em que, no seu corpo virginal, estava se formando o Menino Jesus, por ação do Espírito Santo, e que alguém quisesse adorar ao Messias, abstraindo d’Ela. Seria uma estupidez, não teria sentido!
Sei que estarei mais unido a Nosso Senhor quanto mais estiver unido a Maria Santíssima.
Naturalmente, daí decorre que minha devoção a Ele passa por Ela. Creio que mesmo nas ocasiões de maior cansaço — espero, pelo menos —, quando faço referência à adoração devida a Nosso Senhor, logo depois falo de sua Mãe Virginal. É sistemático.
Dir-se-á: “Mas muitas vezes o senhor fala sobre Ela sem se referir a Ele.” Sim, porque Ele é infinitamente maior do que Ela. Assim, falando d’Ela, Ele está implicitamente contido. Mas, tratando a respeito d’Ele, Ela não está implicitamente contida. Por isso, queiram ou não queiram, gostem ou não gostem, se Nossa Senhora me ajudar, farei isto até morrer. v
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 9/1/1982)
1) Palavra afetuosa utilizada por Dr. Plinio para designar seus jovens discípulos, surgidos aproximadamente a partir de 1970. Havia neles acentuado grau de debilidade, se comparados com aqueles que os antecederam, os da “geração nova” (cf. “Dr. Plinio” número 81, p. 17).
Paraíso do “Novo Adão”
O Paraíso Terrestre era um lugar de maravilhas, de esplendores e de imensa felicidade, no qual Deus introduziu nosso primeiro pai, Adão, para que este desfrutasse de todas as delícias que o Criador ali havia depositado. Porém, Adão e Eva prevaricaram, e foram expulsos daquele mirífico Éden.
Ora, Nosso Senhor Jesus Cristo é considerado, a justo título, o segundo Adão, isto é, Aquele que veio resgatar a humanidade das sombras da morte e restabelecê-la no estado de graça, através da imolação que Ele fez de Si mesmo no alto da Cruz.
E assim como o primeiro Adão, também o segundo teve seu jardim de delícias. Esse Paraíso do novo Adão era Nossa Senhora. Tudo aquilo que o Paraíso Terrestre tinha de belo e de esplêndido na sua realidade material, Nossa Senhora o tinha, ainda mais belo e mais esplêndido, na sua realidade espiritual.
E Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo nas castíssimas entranhas de Maria Virgem, teve aí incomparavelmente mais felicidade e contentamento, do que Adão no Éden.
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 5/6/1972)