Confiança: flexibilidade nas mãos da Providência

A confiança vem da certeza interior de que a Providência irá conceder aquilo que Ela promete e que não conseguimos por nossas próprias forças. Os momentos em que é preciso confiar são os mais belos da vida de um homem.

 

Confiança em Nossa Senhora! Que magnífico! Que extenso tema cheio de aspectos, de profundidade, de luzes, cheio também de santas exigências!

Necessidade do auxílio da Providência

Como deve ser a confiança em Nossa Senhora?

A palavra “confiança” é cheia de doçura. Não há homem que não tenha necessidade de uma ajuda da Providência a todo momento de sua vida. Se ele é muito orgulhoso e não quer reconhecer a necessidade desse auxílio, o fardo que ele leva é pior, porque não há coisa mais terrível do que levar a vida no isolamento, sentindo a própria insuficiência. E não há homem que não seja insuficiente para a grande tarefa de viver.

Há uma expressão francesa que diz: “Entra-se e grita-se; é a vida! Grita-se e sai-se; é a morte!” Entre dois gritos está a vida de um homem. E quanto é isto verdade! Quanto a vida é cheia de sofrimentos! O homem nasce, e à medida que ele vai adquirindo o uso da razão, de um modo mais ou menos confuso, se estabelece no espírito dele a ideia de que a vida deve ser de um determinado modo.

Essa ideia é muitas vezes influenciada por desejos, por sonhos irrealizáveis, mas pode também ser algo nascido da reta ordenação das coisas, de uma ponderação exata das circunstâncias, que leva o homem a desejar aquilo cuja realização seria razoável. Em busca disto começa a história da vida de um homem.

Homens com e sem história

O que é a história de um homem? Conhecemos, por exemplo, a história deste, daquele; depois tal outro que não tem história. O que é a vida dos homens sem história?

Por mais modesta e apagada, ou por mais magnífica que seja a vida, ela tem história quando possui uma meta e há dificuldades para se alcançá-la. Mesmo quando a pessoa não consegue atingir a meta que traçou para si, ela tem uma história. Pode ser a história de um êxito ou de um fracasso. Por quê? Porque foi a trajetória de um esforço.

Quais são os homens que não têm história? São os que não deixam sulco na História. São os que não tiveram meta. Toda vida humana é interessante desde que ali tenha havido uma meta e um método para alcançar esse objetivo.

Um homem que, por exemplo, jornaleiro — hoje essa profissão não existe mais, era um ofício muitíssimo modesto —, que vende jornais andando pela rua, e gritando de um lado para outro, musicalizando: “O Estado, a Folha…” Às vezes víamos um homem maduro, que passara a vida inteira como jornaleiro, mas percebia-se nele a intenção de ter sido um determinado tipo de jornaleiro, e tinha ou não conseguido aquele intuito.

É uma história anônima. Mas se uma pessoa se debruçasse sobre ela, conhecesse os pormenores, soubesse quais foram as metas, as tentativas, o fracasso e o êxito, se fosse um bom escritor, faria daquela vida um grande livro. Porque onde houve uma meta e um método, esta história mereceria ser escrita.

Não merece ser escrita a história daqueles que não tiveram meta nem método, que passaram a vida vagueando de um lado para outro, sem querer e sem desejar nada, sem ter método para alcançar alguma coisa, ao sabor das circunstâncias, como uma cortiça jogada ao mar. Jogada no Atlântico, tanto pode ir parar no Mar Amarelo, como em Istambul, como pode passar cem anos flutuando nos espaços internos da baía de Guanabara e, depois, desintegrar-se. Não tem interesse, não houve meta, não houve método, houve apenas o jogo fortuito das circunstâncias… São os homens sem história.

Necessidade da confiança para cumprir os desígnios de Deus

Para os homens que possuem história, muitas vezes esta meta é verdadeira. Mas muitas vezes também a pessoa se engana. E chegar a conhecer a verdadeira meta da vida é uma graça. Alguns a têm nos primeiros albores da vida, outros quando a vida já vai madura, a mar alto! A Providência não quis lhes fazer conhecer antes a meta designada para eles. E eles foram vivendo na incerteza, à procura de uma meta, até o momento em que ela floresce dentro do mar onde eles estavam vagando sem sentido.

Às vezes a Providência tem metas desencontradas para uma mesma pessoa, para prová-la. Então, chama um homem, primeiro para guerreiro. Ele luta e, de repente, a Providência dá um jeito, o homem descobre em si mesmo um talento diplomático enorme. Ele deixa de lado a espada e começa a usar a lábia, a gentileza; entra pela diplomacia.

Em determinado momento, lhe vem a ideia, e é a vocação: “Eu devo ser padre, devo ser religioso… Vou — como São Pedro Armengol — ser um homem para resgatar os cativos… eu não quero outra coisa…”

São vidas que parecem quebradas, mas se somam formando um todo, uma bonita unidade, que se percebe melhor depois, quando a pessoa morreu e vemos o caminho seguido por ela.

Outro exemplo: Santo Inácio. Há uma beleza especial no fato de ele ter sido guerreiro antes de ser padre. E como embeleza ainda mais a vida deste Santo o fato de, entre o tempo de guerreiro e o de Fundador, ter passado um período de convalescença, com uma perna quebrada, lendo livro de cavalaria, depois livro de Santos, da biblioteca do velho castelo, e mandando quebrar três vezes a perna para consertar…

Como é bonito que depois esse fidalgo deixasse a corte e se vestisse como um mendigo, e fosse para um grupo escolar onde os meninos davam risada dele. Aquele homem já feito quase não tinha cultura. Ele tinha passado a vida guerreando e não tinha tido tempo de estudar. Ele recebe com humildade os apodos, até que sua alma começa a luzir como uma tocha! É a Contrarreforma que brilha nele, talvez como em nenhum outro Santo.

Como tudo isto é magnífico! Como estas coisas são feitas de tal maneira que o homem, para conhecer as vias de Deus, deve medir e pesar com sabedoria as circunstâncias.

De outro lado, deve ouvir a voz de Cristo — “voz misteriosa da graça que fala às almas palavras de doçura e de paz” — e dar mais um passo, fazendo um ato de confiança:

“Um impulso interno do lado bom de minha alma floresce quando eu formo a ideia de seguir tal rumo. Tudo quanto há de bom em mim fenece, quando penso no rumo oposto. Para lá eu devo andar! Há alguma coisa de Deus que me diz isso no interior da alma!”

Quantas e quantas vezes o homem se confunde a respeito da voz de Deus! É preciso medir pela razão, pela sabedoria, se esse impulso interno está direito. “Medi, rezei para conseguir fazer bem. Medi e dei o passo! Está lançada a história, eu comecei!”

Aqui aparece mais especialmente a necessidade da confiança. A pessoa formou aquela certeza e deve andar em determinada direção.

Rezar, rezar muito e não duvidar

Qual é o papel da confiança dentro disso?

“Nossa Senhora me chamou para isto, e Ela não chama em vão. Se a Santíssima Virgem me chamou, eu obterei. Ela muitas vezes me fará passar pelas avenidas dos becos sem saída, muitas vezes me fará conhecer o tormento das situações que não têm solução. Mas eu devo resistir a esses tormentos com muita calma, devo estar sereno… Porque, em determinado momento, as mãos d’Ela abrem as muralhas do beco como se fossem cortinas, e eu passarei com facilidade”.

É a confiança vinda daquela certeza interior, uma certeza meio do raciocínio e meio da graça, na qual nada é contra a razão, mas às vezes é mais do que a simples razão vê. Assim forma-se a resolução de fazer e seguir naquele rumo, sabendo que a Providência Divina acabará dando aquilo que a pessoa julga jamais conseguir. Esses são os mais belos momentos da vida do homem, em que ele diz: “Não consigo, não vou avante! ‘Salve Regina, Mater misericordiæ, vita, dulcedo et spes nostra, salve!'(1) Não tem saída, mas Vós, ó Mãe, sois a saída!”

Quantos e quantos fatos — e não só na vida dos Santos — provam como a alma verdadeiramente confiante, que soube continuar a esperar, mesmo quando tudo parecia perdido, obtém a graça almejada. O que é preciso é, em primeiro lugar, rezar; em segundo lugar, rezar muito; em terceiro lugar, não duvidar que será atendida.

Diante de obstáculos insuperáveis, a certeza do auxílio de Nossa Senhora

Como se define a virtude da confiança?

É a virtude pela qual o homem, levado pela luz da razão e pela luz da Fé, se convence de que um determinado caminho é o dele, e convencendo-se disso, diante dos obstáculos mais impossíveis, das dores mais terríveis, tem certeza de que Nossa Senhora o ajudará. Então, ele não se perturba, não duvida, e nas circunstâncias mais terríveis ele se mantém calmo e em ordem, porque sabe que Nossa Senhora virá em seu socorro. Esta é a virtude da confiança.

A condição da virtude da confiança é não duvidar. Se o homem não duvida, a sua confiança será atendida e premiada. Pelo contrário, se duvida, ele pode não obter. E é por causa disso que a confiança é uma das condições fundamentais da oração. Uma oração confiante move as montanhas.

Desse modo compreende-se como nós devemos nos preparar para a confiança. Custe o que custar e seja de que maneira for, confiar, confiar, confiar! Esperar contra toda esperança! Quando tudo parecer sem solução, confiança, confiança, confiança! A solução vem!

Alguém dirá: “Mas, Dr. Plinio, confiar é tão doce, é um Céu na Terra! Nós não compreendemos onde está a virtude, por que pode haver sacrifício em professar uma confiança tão doce?!”

O homem tem um desejo do Céu, no seu lado bom; mas, no seu lado ruim, ele tem uma misteriosa tendência para os abismos. E um homem que está confiando, e deve a paz e a alegria de sua alma à confiança, tem uma inclinação esquisita a duvidar. Ele fica desconfiado e lhe agrada perguntar-se a sim mesmo: “Será?!…” Agrada-lhe afligir-se, desesperar-se. Este se afunda…

Isso se deu no episódio de São Pedro andando sobre as ondas.

Nosso Senhor mandou-o ir até Ele, São Pedro começou a andar; mas, em certo momento, em vez de olhar para Nosso Senhor, olhou para as ondas. E, coisa terrível, veio a pergunta: “Será?”

Nós não temos o direito de atirar a primeira pedra, mas São Pedro, numa hora destas, deve ter duvidado. Em vez de olhar para a face de Nosso Senhor, que lhe daria toda a certeza, olhou para as águas. Nem era preciso que houvesse água, podia haver vácuo, se ele confiasse caminharia em cima! Podemos imaginar que, para prová-lo, a onda tenha sido tão grande que o tenha feito perder a visão direta da face de Nosso Senhor, e por isso tenha começado a afundar.

Até o momento em que pede ajuda a Nosso Senhor, que o salva. Mas ainda aí há a tentação da desconfiança: “Desta eu escapei, em outra não me meto — a alma humana é assim — chegando à terra firme, nunca mais navego!” Um homem que agisse assim pecaria contra a confiança!

Transponho isso para a nossa vida de apostolado. A três por dois estamos numa situação que não tem saída, num embrulho sem arranjo. Às vezes pensamos que temos a solução na mão. Não temos! Em certo momento, se soubermos confiar, vemos aquilo sendo resolvido. Quando menos esperamos, num canto do horizonte a tempestade começa a passar. Daqui a pouco passa completamente. A primavera chega, vem o verão da confiança. Mas, depois, mais adiante as coisas vão se fazendo novamente esquisitas. “Ih, desta vez não sei se dará certo… Das outras deu, mas desta dará? Que complicação!” São os outonos da confiança. E depois vêm também os terríveis invernos da confiança, em que tudo parece ir contra e dar resultado desfavorável. É preciso confiar, rezar; rezar, confiar, porque Nossa Senhora acabará arranjando.

Há um ponto delicado dentro disso. Tão delicado que, tanto quanto eu me lembro, o próprio Abbé Saint-Laurent, no Livro da Confiança, não trata. É o seguinte.

Nossa Senhora quer que alguns façam uma obra na Terra, e deseja conservá-los para realizar esta obra. Mas de outros Ela dispõe que sejam vítimas expiatórias. E a vítima expiatória deve aguentar nas costas toda espécie de sofrimentos para obter o resgate dos outros. Uma espécie de mercedário, mas com vistas à outra vida. Sofre nesta vida para evitar que outros vão para o Inferno.

E às vezes a Providência dá a entender: “Meu filho, resolvi abreviar a sua vida. E quero o holocausto completo. Você vai morrer!” A ideia da morte causa espavento! Causa dor e tormento! O homem chora diante da ideia da morte! Ele pede para ser daqui a pouco, para terminar tal negócio, acabar tal relação, para fazer tal outra coisa… “Não! Chegou a sua vez de morrer!” É preciso morrer com confiança.

O que significa aí morrer com confiança?

“Eu pensei que a Providência fosse me dar uma longa vida, e confiava que assim seria. Mas, de repente, por um pecado meu, ou porque Deus quis de mim o sacrifício por alguém que eu não conheço, mas que Ele quer salvar, a Providência me pede: ‘Meu filho, queres morrer por mim? É novo, é uma sugestão nova… Tu não sabias, tu não conhecias. Queres morrer por mim?’”

E é preciso ter a confiança de dizer:
— Senhor — ou Senhora —, se Vós o quereis, eu quero também!

É o curso terrível e natural das coisas. É, por exemplo, Santa Joana d’Arc, a heroína da confiança. Confiou, venceu, mas em certo momento foi presa, vendida pelos borguinhões aos ingleses, submetida ao injustíssimo e infamíssimo processo da Inquisição contra ela e, depois, queimada viva.

No último momento, o grande ato de confiança: “As vozes não mentiram! Realmente aquilo que foi prometido, acontecerá!” Ela deve ter tido alguma revelação.

Os paradoxos da confiança

A confiança é bifásica. Ela pede que confiemos de que as coisas vão correr de um determinado jeito, e normalmente correm. Mas, por uma razão excepcional, elas podem não correr. Então se deve começar a confiar num plano mais alto da Providência que não sabemos qual é.

A confiança é para todos os momentos, para todas as formas. Ela exige, portanto, que tenhamos a certeza de que seremos socorridos, mas, paradoxalmente, ao mesmo tempo experimentemos a impressão de que o auxílio não virá. E fiquemos resignados caso a Providência queira qualquer outra coisa. A confiança comporta esta flexibilidade: quando confiamos numa coisa, se acontecer algo contrário, não nos revoltamos, e nos entregamos. É a confiança em Nosso Senhor Jesus Cristo.

Aí se compreende também toda a doçura e bondade que há no título de Mãe de Misericórdia, e como Nossa Senhora da Divina Providência é a Mãe de Misericórdia num sentido muito especial da palavra, uma espécie de requinte da invocação de Nossa Senhora Auxiliadora. Para Ela, devemos nos voltar em dias como estes.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de Conferência de 17/11/1984)

 

1) Do latim: Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve!

Canal da clemência divina

A insondável misericórdia de Maria Santíssima nos leva a esperar com maior confiança na misericórdia infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo.

É Ela o canal da clemência divina para com os homens, e por esse manancial a bondade do Criador flui com inesgotável exuberância. Sobretudo nos momentos em que nossa alma se julga abandonada e na “estaca zero” da vida espiritual, a Mãe de Misericórdia se acha mais próxima de nós. Nessa hora, confiar no socorro d’Ela é um supremo ato de fidelidade o qual cumpre praticarmos.

Nossa Senhora jamais nos abandonará no meio do caminho.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 17/5/1968)

Oração: Ó Mãe boníssima

Cada festa celebrada pela Igreja é acompanhada de enorme efusão de graças correspondentes às dádivas recebidas em vida pelo santo então celebrado. Isto se dá também quanto aos mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou de Nossa Senhora, que eventualmente consideremos em determinada celebração.

Ora, aproxima-se o dia em que a Santa Igreja reserva para contemplarmos liturgicamente o “mistério dos mistérios”, ou seja, a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo e a redenção do gênero humano.

No momento em que Ele, expirando, disse “consummatum est” e sua Alma se separou do Corpo, a redenção se operou. O gênero humano, de perdido que era, passou a ser salvo. Nesse momento, nós fomos resgatados e a fonte de todas as graças se abriu para nós.

De fato, por causa de seu sacrifício, Nosso Senhor Jesus Cristo é uma fonte de graças aberta para todos nós; este sacrifício abriu para nós uma infinita torrente de misericórdia, que nos traz toda espécie de bem e de perdão, desde que verdadeiramente queiramos dela nos beneficiar.

(Extraído de conferência de 7/4/1966)

Num olhar de Maria, a imensidade de suas virtudes

Entre as características de Dr. Plinio que mais impressionavam seus circunstantes estava sua profunda devoção à Santíssima Virgem. Eram patentes sua veneração, enlevo e entusiasmo pela Mãe  de Deus na maneira de ele rezar, no modo respeitoso e ao mesmo tempo carinhoso de a la se referir, no costume de em tudo se reportar a Ela, e até nos imponderáveis de seu agir.  Em vista disso, certa feita, durante uma reunião, um de seus discípulos lhe pediu que abrisse um pouco o coração a respeito do seu relacionamento de alma com Nossa Senhora. Abaixo transcrevemos as palavras com que Dr. Plinio procurou atender a tão justo pedido.

 

Buscando explicitar para mim mesmo o que tanto me atrai em Nossa Senhora, encontrei uma figura tão simples como mais não se pode conceber, e que exprime bem o meu pensamento. Com a ressalva de que o exemplo talvez não se verifique inteiramente exato no que concerne a Geometria (da qual possuo sumários conhecimentos…), imaginemos um poliedro regular.

Analisando-se uma de suas faces, é possível intuir como são as outras, com suas características e dimensões. Assim é Nossa Senhora. Em virtude de sua perfeição supereminente, possui Ela em grau igualmente incomensurável todas as qualidades de que seja capaz uma criatura humana. E, portanto, ao considerarmos  uma delas, podemos perceber o valor e a magnitude das demais.

Contemplando, digamos, o teor da virtude da Caridade em Maria, nos será dado discernir a riqueza de sua Fé e de sua Esperança. O mesmo sucede com as suas virtudes cardeais e com todos os excelsos predicados de que A enriqueceu a Santíssima Trindade.

Atraído pela inesgotável compaixão de Nossa Senhora

Contudo, o que primeiramente mais me tocou em Nossa Senhora não foi tanto a virginal, régia e insondável santidade dEla, mas a compaixão com que essa santidade olhava para quem não é santo, atendendo com pena, com desejo de dar, com uma misericórdia cujo tamanho era o das outras qualidades.

Quer dizer, inesgotável, clementíssima, pacientíssima, pronta a ajudar a qualquer momento, de modo inimaginável, sem nunca um suspiro de cansaço, de extenuação, de agastamento. Sempre disposta, não só a repetir-se a Si própria, mas a superar-se a Si própria. De maneira que, dispensada tal misericórdia, e sendo ela mal correspondida, vem uma misericórdia maior. E, por assim dizer, nossos abismos de ingratidão vão atraindo a luz para o fundo. E quanto mais fugimos d’Ela, mais as suas graças se prolongam e se iluminam em nossa direção.

Um olhar que comunica calma para a vida inteira Eu mesmo experimentei essa maternal compaixão quando, na infância, pela primeira vez atinei com a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Naquela hora, não tive nenhuma visão, nenhum êxtase, nenhuma revelação. Mas, pela ação da graça, senti-me tocado como se a imagem me olhasse.

Se fosse possível comparar o miosótis com o sol, eu diria que esse olhar de Nossa Senhora operou em mim um efeito análogo ao do olhar de Nosso Senhor para São Pedro, durante a Paixão. O Príncipe dos Apóstolos O renegou, o galo cantou, e Jesus olhou para o discípulo infiel. Nesse instante, São Pedro se sentiu tomado por inteiro. E ele, que havia visto tudo quanto os Evangelhos narram — ou como testemunha direta, ou tendo recebido uma repercussão imediata dos acontecimentos — foi objeto de uma graça ímpar, que reavivou em sua alma, de modo intenso e  esplendoroso, tudo o que ele conheceu da infinita bondade de Nosso Senhor. E essa lembrança venceu a ingratidão dele. Por isso, diz a Escritura:

“Et flevit amare — E chorou amargamente”. Daí vem a grande contrição de São Pedro, que constitui um dos mais belos fatos da história dos Santos.

Também eu, no momento daquela graça diante da imagem de Nossa Senhora, tive conhecimento como que pessoal da indizível misericórdia d’Ela, de sua inexcedível bondade a me envolver todo, de maneira tal que, quisesse eu fugir ou renegar, Ela me pegaria afetuosamente e diria: “Meu filho, volte de novo, aqui estou…”

Como resultado desse celestial favor, tornei-me calmo para o resto de minha vida. Porque, seja o que for e como for, uma vez que nós, homens, estamos envolvidos por essa misericórdia, podemos descansar. No fundo, aquele que não é brutalmente insensível com Nossa Senhora, e para Ela se volta, d’Ela acaba recebendo sempre proteção e socorro em suas dificuldades.

E precisamente uma das coisas que mais me enlevaram, e que, dentro da indefinição de minha mentalidade de menino, entretanto ficou-me bem clara, foi o fato de que aquela solicitude materna não representava um privilégio para mim, mas é a atitude d’Ela para com todos os homens.

Nossa Senhora poderia condescender em tratar alguém como um privilegiado, porém não foi disso que eu tive cognição. Antes, compreendi o contrário: “Veja que você é um Zé da rua, e Ela trata da mesma forma a todos os Zés da rua. Para qualquer um, para todos os homens que existiram, existem e existirão, para todos os pecadores que transitam pelas cidades, que enchem as casas, os ônibus e os automóveis, Ela é exatamente assim”.

Volto a dizer que fiquei calmo para a vida inteira. Causa-me muita pena ver alguém, sobretudo um jovem, nervoso e com problemas. “Por que não lhe ser comunicado um olhar como o que recebi de Nossa Senhora?” — penso eu. “Ele ficaria calmo até o fim dos seus dias”.

Medindo a profundidade dessa clemência sem limites, vêm-me ao espírito aquelas palavras que a Santíssima Virgem, no Magnificat, diz do Padre Eterno: “Et misericordia ejus a progenie in progenies timentibus eum”.

Ou seja, a misericórdia divina se estende de geração em geração a todos os que O temem. A tal propósito, sempre pensei: “É bem verdade, e isto se dá por meio d’Ela. Maria é a misericórdia inesgotável, que não se extingue, que se multiplica solícita, bondosa, que toma nossa dimensão, que se faz até menor do que nós para nos pegar, de pena de nós.”

Pureza, fortaleza e sabedoria

Na dimensão dessa misericórdia, e nela contida, vem a ideia da virginalidade. Nossa Senhora é pura, de um grau de pureza do qual não se tem noção. Conhecida a misericórdia, se conhece a pureza. É novamente a figura do poliedro. Todas as purezas que se possam imaginar não chegam nem de longe aos pés da pureza d’Ela, que é feita não só de ausência de qualquer pendor para o mal, mas de um impulso de alma direta e exclusivamente para Deus, sem compromisso com mais nada e ninguém. É um ímpeto inteiro, de uma força, de uma integridade, de um desejo de Absoluto como também não se pode medir. Está na dimensão da misericórdia.

Supérfluo dizer que, nessa concepção de pureza, entra também o sentido de castidade, perto da qual a neve seria um carvão.

Essa pureza, no meu modo de entender, traz consigo a ideia da fortaleza. E fortaleza aqui não significa apenas algo que nada quebra. É diferente. Nada tem comparação possível com essa fortaleza.

O que Ela, na sua pureza, decidiu, o resto do mundo se flecte e se liquida, e o universo inteiro é zero, pela força da vontade de Nossa Senhora. Quando Ela decide, é uma resolução que torna impossível a resistência de quem e do que quer que seja. É uma soberania e um domínio de igual dimensão da misericórdia e da virginalidade, uma envergadura para a qual não há palavras humanas. Todas as armas modernas são pobres e inofensivos brinquedos em comparação com um ato de vontade d’Ela. Por sua vez, essa misericórdia, essa pureza e essa fortaleza trazem uma idéia da sabedoria da Fidelíssima Esposa do Espírito Santo.

Ela conhece tudo, e as inter relações de todas as coisas, com acuidade tão superior que Ela penetra até as entranhas de todo ser, vê como é cada qual e discerne a ordem de Deus no universo, tão  grande, tão inabarcável! Diante de sua sabedoria lúcida, adamantina, na qual não cabe nenhuma dúvida, compreendemos mais uma vez qual é a imensidade da pureza e da fortaleza da Virgem Santíssima.

Essas são as virtudes marianas que mais me chamam a atenção quando me lembro daquele olhar da imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus.

“Meu filho, eu te quero”  — “Minha Mãe, eu sou vosso”

Alguém poderá me dizer: “Mas, Dr. Plinio, o senhor contemplou esse olhar como um menino de onze ou doze anos. E depois, nunca mais houve algo assim?” Respondo que, para mim, essa graça foi tão excepcional que permaneceu como um sol a iluminar toda a minha existência. É como se tivesse acontecido ontem. Como se, naquele momento, Ela me houvesse dito: “Meu filho, eu te quero”, e ouvisse de mim: “Minha Mãe, eu sou vosso”.

Poderão, ainda, perguntar-me: “E nesse relacionamento do senhor com Nossa Senhora, onde se encontra Nosso Senhor Jesus Cristo?”

Eu respondo: em tudo! É a ideia desenvolvida por São Luís Grignion de Montfort no seu célebre “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”. Nossa Senhora é o claustro, o oratório, o tabernáculo sagrado onde está Nosso Senhor Jesus Cristo, e quanto mais estivermos próximos d’Ela, tanto mais estaremos próximos d’Ele.

Minha devoção a Ele passa por Ela, e, por isso, nunca alguém me vê proferir uma palavra de adoração a Nosso Senhor, sem que logo depois eu não fale de sua Mãe Santíssima. É sistemático. Outros poderão todavia observar: “Muitas vezes o senhor se refere a Ela sem mencioná-Lo”. É isso mesmo. Porque, sendo Jesus infinitamente maior do que Nossa Senhora, está Ele contido de  modo implícito em toda referência que eu faça a Ela. A recíproca, porém, não se verifica. Razão pela qual procedo dessa forma e, se Ela me ajudar — queiram ou não queiram, agrade ou não agrade — assim procederei até morrer.

Plinio Corrêa de Oliveira

A Santa Igreja, espelho das virtudes de Maria

Ao comentar os ardorosos louvores que Santo Agostinho dirige a Nossa Senhora, Dr. Plinio tece um paralelo entre os excelsos predicados de Maria e a Santa Igreja Católica Apostólica Romana — virgem na sua perfeição sem mácula, e mãe de todos homens nela batizados e engendrados como filhos de Deus.

 

O grande Santo Agostinho deixou-nos esse belo texto a propósito das virtudes de Nossa Senhora:

Ó Maria, cumpristes perfeitamente a vontade do Pai Celeste. Vossa maior honra, vossa maior felicidade não foi de ter sido a Mãe, mas a discípula de Cristo. Bem‑aventurada sois por terdes ouvido o Verbo de Deus e conservado [sua palavra] em vosso coração. Vós guardastes a verdade de Cristo em vossa inteligência, mais ainda que sua carne em vosso seio. Não se saberia comparar‑vos às mulheres do Antigo Testamento, a Ana, a Suzana. A que alturas não vos elevastes acima delas? Aqui ainda não falamos na santa virgindade; vossas outras virtudes, ó Maria, há no mundo alguém que as ignore?

Maria, “beleza e dignidade da Terra”

Para exemplo e ensinamento para todas as mulheres, convém somente não esquecer vossa santa e admirável modéstia.

Cumpre ressaltar que, na linguagem católica, modéstia não significa acanhamento, nem a pessoa estar de olhos baixos, apagada, sumida. Trata-se de ter boas maneiras, compostas e elevadas, de acordo com a virtude cristã. Prossegue o comentário de Santo Agostinho:

Vós fostes julgada digna de conceber o filho do Altíssimo e, entretanto, permanecestes a mais humilde de todas as criaturas; porque fizestes sem cessar a vontade de Deus, sois segundo a carne e o espírito, a Mãe de Cristo, sua Mãe e sua irmã, mulher única, mãe e virgem, e o sois corporal e espiritualmente.

Mãe da nossa cabeça, que é o Salvador,  sois também, e perfeitamente, mãe de todos os membros de Cristo, porque cooperastes, por vossa caridade, para o nascimento dos fiéis na Igreja.

 Única entre todas as mulheres sois, ainda uma vez, mãe e virgem. Mãe de Cristo e virgem de Cristo. Foi por vós, ó Mãe do Senhor, que a dignidade virginal começou sobre a Terra. Por Vós, ó Maria, que merecestes ter um filho, mas que o merecestes sem deixar de ser virgem. Para honra do Salvador Jesus, o pecado não se aproximou de Vós. Sabemos que para vencer o pecado, e vencê-lo por completo, foi dada a graça abundante à criatura digna de conceber e de cuidar do Impecável.

A beleza e a dignidade da Terra sois Vós, ó Virgem, que fostes sem cessar a figura da Santa Igreja. Por uma mulher, a morte; por uma mulher, a vida. E essa última sois Vós, ó Mãe de Deus.

Assim como Nossa Senhora, a Igreja é virgem e mãe

Desse lindo trecho de Santo Agostinho parece-me oportuno salientar o pensamento final, quando ele se refere a Nossa Senhora como sendo a figura perfeita da Santa Igreja Católica. Se ousarmos aprofundar a ideia do insigne autor, poderíamos nos perguntar em que sentido a Igreja, assim como Nossa Senhora, é igualmente virgem e mãe, tornando-se, por sua vez, imagem magnífica de Maria Santíssima.

A Igreja é virgem no sentido de que manifesta uma santidade inteira, sem nenhuma forma de condescendência para com o mal. Por causa disso, nela não se acha mácula alguma e é, portanto, intacta como uma virgem consagrada a Deus.

Por outro lado, ela é mãe, pois todos os homens nascem para a vida espiritual de dentro da Igreja; no seio desta são batizados e engendrados como filhos de Deus e irmãos de Nosso Senhor Jesus Cristo. E ela procede como uma mãe em relação a seus rebentos, nutrindo-os com os sacramentos, propiciando-lhes os dons sobrenaturais da graça, formando-os por meio de seu magistério infalível e os guiando em bom caminho por meio da autoridade da hierarquia eclesiástica. Dessa forma, ela exerce junto a cada católico todos os ofícios e misteres que uma boa mãe dedica a seu filho.

Estabelecido esse paralelo, pode-se aplicar à Esposa Mística de Cristo a mesma afirmação — repassada de beleza e de veracidade — que se faz de Nossa Senhora: ninguém é mais virgem do que a Igreja, e ninguém mais do que ela é mãe, pois entre todas as instituições e todas as mães da Terra, nenhuma teve uma maternidade mais copiosa do que a Igreja Católica. Desde o momento em que foi fundada, até o fim do mundo, a maioria dos homens que se salvarem serão gerados em seu grêmio e por ela conduzidos à bem-aventurança eterna.

Remédio para as dificuldades espirituais

 Daí se compreende como o amor à Igreja Católica é uma fonte de todas as virtudes. Quem a considera e a ama como à melhor das mães, alcança graças e forças para se santificar.

Não raro, ouço lamentações de pessoas que sentem dificuldade em perseverar na prática dos Mandamentos ou em progredir na vida espiritual. Ora, uma das muitas soluções — pois a Igreja é a cidade da salvação onde para toda doença há diversos remédios — é exatamente aumentar nosso amor a ela. Crescendo nesse amor, nossa determinação para praticar o bem e repudiar o mal também aumentará.

Fixemos, então, esse pensamento valioso: a Igreja é a figura de Nossa Senhora, ela é resplandecente e bela na Terra, e devemos procurar amá-la como desejamos amar a Santíssima Virgem hoje e no Céu. Amemos a Igreja acima de todas as coisas no mundo, na sua hierarquia, nos seus mil aspectos autenticamente divinos.

Três elementos da beleza da Igreja

Por exemplo, evoquemos apenas três elementos da Igreja, dignos de nosso amor e de nosso entusiasmo. Primeiro, a infalibilidade pontifícia: a figura de um homem infalível, governando a todos e ensinando à humanidade o caminho da salvação. Nunca se concebeu, em matéria de autoridade e orientação, algo mais belo e mais nobre do que o Papado.

Admiremos, por outro lado, a Eucaristia. Sob as espécies consagradas, de modo misteriosamente oculto, está Nosso Senhor Jesus Cristo, realmente presente entre nós, em corpo, alma e divindade. E é a Igreja que oferece essa possibilidade de o homem estabelecer com Deus um convívio tão íntimo e até insondável. O Criador vem ao homem e como que se faz um com este. Pode-se imaginar algo mais esplêndido do que o Onipotente condescender em ter tal familiaridade com cada um de seus filhos?

Por fim, pensemos no sacramento da Penitência. Difícil seria conceber nossa existência neste vale de lágrimas se não nos fosse dado abrir sobre os nossos pecados e não tivéssemos a certeza do perdão de Deus através da absolvição ministrada pelo sacerdote no confessionário. Um confessionário: que obra-prima de sabedoria e de discrição, com a inviolabilidade do segredo de consciência nunca traído!

Então compreendemos melhor quão maravilhosa é a Igreja e quão digna de nosso amor. Meditemos nessas verdades e, com o misericordioso auxílio da Virgem Mãe, encontraremos em nós maior resolução para combater nossos defeitos e  praticar a virtude.

 

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 24/9/1969)

Revista Dr Plinio 121 (Abril de 2019)

Oração pedindo a graça de rezar bem

Ó minha Mãe, olhai misericordiosamente para minha alma e obtende-me o espírito de oração pelo qual eu recorra sempre a Vós. E tanto mais recorra quanto mais me atenderdes, pois vossos favores nos incitam a pedir dons maiores.

Rogo-Vos ainda outra graça: a de Vos pedir tanto mais quanto menos parecerdes me atender. Pois Vós amais a oração insistente e confiante; quanto maior for a aridez ou a demora, mais apreciável será a graça que desde já nos preparais. Amém

Plinio Corrêa de Oliveira, Composta em 30/7/1971

Oração a Nossa Senhora do Brasil

Ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças e, mais do que todas, concedei-nos a graça das graças: Ó Mãe, uni intimamente a Vós este vosso Brasil!

Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes. Tornai sempre mais largo e misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.

Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.

Fazei-nos sempre mais fortes na luta por Cristo-Rei, Filho vosso e Senhor nosso. De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para Lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina do cêntuplo nesta Terra e da bem-aventurança eterna.

Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece? Onde encontrá-las senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superiora a qualquer louvor humano? De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito palavras que amorosamente aqui repetimos: “Tu gloria Ierusalem, tu lætitia Israel, tu honorificentia populi nostri” (Jt 15, 10).

Sois Vós a glória, a alegria, a honra deste povo que Vos ama!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído do Jornal “Última Hora” de 12/10/1983)

Oração pedindo a sabedoria

Ó Maria, Esposa Imaculada do Espírito Santo, dai-me a graça de ver os imponderáveis da Criação, de me enlevar por eles, e de ser impelido por um amor desinteressado à contemplação das perfeições que a alma humana possui pela natureza e pela graça.

Fazei-me subir dessa consideração à da natureza angélica e puramente espiritual, e, por fim, à de vosso Divino Filho que, na sua humanidade santíssima, é o ápice e a síntese de toda a Criação.

Fazei-me, em seguida, por um voo ainda mais possante de despretensão e de enlevo, fixar a minha mente na consideração da própria essência divina, da qual toda a Criação é imagem ou semelhança, de maneira que, analisando depois as criaturas, possa antegozar o Céu, preparando-me desse modo para entrar nele e Vos louvar por toda a eternidade. Amém.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

A confiança não será decepcionada

A Providência permite muitas vezes que as circunstâncias mais desalentadoras se acumulem uma sobre a outra de um modo inimaginável, mas continuamos a confiar. No fim, há um sucesso que coroa a nossa insistência, porque coroa a nossa confiança. Daria para ter desanimado, mas confiando, Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano acaba dando-nos a vitória. 

Há vitórias às quais se chega tendo passado por decepções e desagrados de toda ordem, dando-nos a impressão de que Deus nos abandonou, mas em certo momento nos mostram a presença da Providência na sua bondade, na sua generosidade, premiando a nossa confiança e a nossa coragem; esta é a glória do verdadeiro contrarrevolucionário.

Virá um momento em que meus filhos espirituais terão que lutar sem mim. Então, poderá haver movimentos de desalento com a ideia de que nada tem solução.

Tudo tem solução desde que confiemos sempre e, dentro dos maiores absurdos, digamos: “Confio em Deus, em Nossa Senhora; e essa confiança não será decepcionada. Vamos para a frente com passo firme e seguro, olhar para o Céu e terço na mão. A vitória será nossa!”

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 28/1/1994

Nossa Senhora

Meu filho, aqui estou eu sozinha, no canto a que teu desprezo me relegou, cheia daquele amor que tua rejeição comprime em mim e impede que se expanda.

Tal amor, porém, se conserva intacto em sua intensidade e sua abundância, palpitando de ansiedade, tristeza e pressa, à espera de que retornes, para envolver-te, lavar-te e te cumular do dom de habitar nele, como do dom da inocência primeva e de todos os outros dons.