Nossa Senhora Auxiliadora

Nossa Senhora é a Auxiliadora por excelência. É quem acode a todos, de todos os modos, em todas as circunstâncias e em todos os lugares. Para agir com tal largueza, só Alguém de uma riqueza fabulosa, e de uma bondade ainda mais extraordinária que essa riqueza, jamais se cansando de ajudar e de perdoar.

E o perdão é um dos seus dons imensamente preciosos, de tal modo que, depois de haver perdoado  muito, Ela ainda tem um sorriso de piedade para quem A ofendeu, quando este A invoca e suplica misericórdia.

Mais. Ela vem em auxilio da alma que não pede, da alma que não vê, da alma que não quer, e a socorre, a bem dizer, pelas costas, alcançando-lhe uma graça que a faz se sentir tocada de amor, de reverência, de gratidão, de força para  rogar novos auxílios. Sua maternal solicitude é uma espécie de roldana que leva até o Céu…

A mais fulgurante de todas as estrelas

Nossa Senhora é chamada, muito a propósito, de Estrela Luminosíssima. Incontáveis astros reluzem no firmamento, porém Ela é o mais resplandecente de todos, ou seja, Maria é a mais luminosa das criaturas. E por que é simbolizada pela estrela? Porque é durante a noite que cintilam as estrelas, e esta vida é para o católico uma noite, um vale de lágrimas, uma época de provação, de perigo e de apreensões. Na eternidade teremos o dia, porém na vida terrena temos o escuro da madrugada. E nesta noite existe uma estrela que nos guia, que é a consolação de quem caminha nas trevas, olhando para o céu: Maria Santíssima, a mais fulgurante de todas as estrelas!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/8/1965)

Revista Dr Plinio 254 (Maio de 2019)

Jesus vivendo em Maria

Nossa Senhora deseja conceder–nos muito mais do que pedimos e até o que não sabemos pedir. Mas é preciso rogar a Ela com a intimidade e a certeza de sermos atendidos como se fôssemos uma criança de colo.

 

Comemora-se em Blois, na França, a festa de Nossa Senhora das Ajudas, a respeito da qual há a seguinte nota aqui consignada:

Cidade onde a heresia jamais penetrou

A devoção à Santíssima  Virgem da cidade de Blois, onde a heresia jamais penetrou, é grande e sincera. É importante que a heresia jamais tenha penetrado lá, porque houve C um período de calvinismo agudo na França  em que mais ou menos em todas as cidades, no século XVI, o protestantismo penetrou em quantidade maior ou menor. Que Blois tenha ficado isenta dessa lepra é uma coisa excelente e digna de  nota, e se relaciona adequadamente com a grande devoção que essa cidade sempre teve para com Nossa Senhora.

Seus habitantes, reconhecidos a tão magnânima Senhora, deram-Lhe o título de Nossa Senhora das Ajudas, pela proteção constante da Virgem que se faz sentir, não só nos tempos das heresias e  pestes, mas também em outras circunstâncias trágicas.

Portanto, a cidade sempre reconheceu ser especialmente protegida pela Santíssima Virgem. Assim constituiu- se a invocação de Nossa Senhora das Ajudas.

Em 1784, as águas do Loire que banham Blois ameaçavam submergir a cidade. O povo, unido, recorreu à sua intercessora e, durante a Missa, no momento da elevação, as águas começaram
a descer rapidamente, até o rio voltar ao seu leito normal.

Ora, uma inundação decorre de causas complexas que atuam com certo vagar. De maneira que é difícil que a água desça tão rapidamente. Temos, pois, a conjunção de dois fatores: de um lado,  Maria Santíssima protegendo nas necessidades materiais, e de outro, tomando essa proteção como um meio para encaminhar as almas à ideia de que Ela ampara também nas necessidades espirituais. Este é o auxílio de Nossa Senhora, o qual se manifesta aqui especialmente no dom inestimável da ortodoxia concedido a essa cidade preservada de modo insigne.

Maria Santíssima nos socorre nas angústias, tribulações e perigos

Relaciona-se com isso o seguinte pensamento de Santo Ildefonso: Ó Virgem Maria, sois clemente em nossas necessidades, doce  em nossas tribulações, boa em nossas angústias, pronta a nos socorrer em nossos perigos. Esta frase está muito bem calculada, porque em relação às necessidades é preciso ter pena, de onde vem exatamente a clemência, pela qual uma pessoa é tocada pelo infortúnio e apuro que outrem está passando.

Então, torna-se generosa. Nas tribulações, a pessoa quer doçura, encontrar um amparo, um apoio, uma palavra amiga. Eis porque, por exemplo, Nosso Senhor quis que seus Apóstolos estivessem  acordados e vigiassem no Monte das Oliveiras. Ele desejava o apoio, a doçura da amizade na tribulação na qual estava.

Assim, nas angústias Nossa Senhora é bondosa porque nos socorre nas tribulações e perigos. Há em São Paulo uma capelinha com um lindo título: Nossa Senhora dos Aflitos. É a Virgem Maria  invocada enquanto tendo pena, sendo clemente e misericordiosa para aqueles que se encontram em toda espécie de aflições. Quando se trata de uma aflição que Nossa Senhora pode remover sem  diminuir com isso o benefício espiritual da pessoa, Ela remove. Sendo uma aflição que, na sua sabedoria, Maria Santíssima julga necessária para essa mesma finalidade, Ela arranja um jeito de a  pessoa ter mais força, de sentir a doçura d’Ela, de poder resistir melhor àquela aflição. Esta é a ideia que vem externada nesta e em tantas outras devoções à Mãe de Deus.

Um ícone bizantino muito significativo

Mais especialmente esta ideia se exprime no culto a Nossa Senhora Auxiliadora. Para compreendermos cada vez melhor esta devoção, seria interessante fazer aqui o comentário de uma oração  composta pelo famoso Padre Condren, varão de alta espiritualidade da França, completada por Monsenhor Olier e enriquecida por Pio IX, em 1853, com trezentos dias de indulgência.

Esta oração foi objeto de um comentário especial do venerável Padre Libermann, e também Dom Chautard tem alguns trechos em que ele a comenta lindamente, em função de um ícone bizantino  que representa Nossa Senhora com um olhar recolhido em oração, onde se vê que Ela está contemplando ideias, conceitos, voltada para o mundo do espiritual e do imponderável, e não para as coisas contingentes que A cercam.

Ela está de mãos abertas, que era a atitude de quem rezava na antiga liturgia bizantina, e sobre o seu peito aparece um círculo, dentro do qual se encontra Jesus com o halo de santidade na cabeça,  representado ainda como muito mocinho, quase um meninote, tendo um rolo de pergaminho na mão esquerda e a direita em atitude de quem está lecionando. É uma alusão à Encarnação do  Verbo. Tendo em Si o Menino Jesus que, enquanto vivendo n’Ela é um Mestre, Nossa Senhora Se recolhe para ouvir os ensinamentos d’Ele em seu interior.

Por outro lado, a atitude contemplativa da Santíssima Virgem é um ensinamento que Ela dá aos outros. De modo que aqui a mediação se exerce magnificamente. O Menino Jesus ensina a Nossa  Senhora e, através d’Ela, instrui os de fora. O recolhimento d’Ela é docente. Este ícone representa precisamente o princípio de que, se temos vida interior e Jesus Cristo vive em nós pela piedade,  pela vida sobrenatural, pela moral, pelo desejo de nos santificarmos, pela fidelidade à ortodoxia – que é um imperativo do primeiro Mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas –, quando isto  acontece, então Nosso Senhor Se serve de nós como de uma tribuna, um púlpito ou uma cátedra, e através de uma osmose que se nota em nossas palavras e em todo o nosso ser, Ele ensina aos  outros.

Jesus e Maria vivendo em outros

Eu estava lendo uma biografia de São Francisco de Sales, na qual o autor fazia observar que o Santo escreveu alguns livros excelentes, como a “Introdução à Vida Devota”, e outro muito bom, sem  ser tão célebre, que é o “Tratado do Amor de Deus”. Pelas notas de sermões dele, verifica-se que eram exposições de pontos perfeitamente comuns da Doutrina Católica. Entretanto, as pessoas não  e saciavam de ouvir.

Um calvinista daqueles mais horrorosos foi ouvir o que ele dizia, e depois o interpelou, dizendo: — Ouvi o que o senhor disse. Quer que eu lhe diga francamente? Não compreendo sua fama. Não  entendo, sobretudo, porque essas senhoras procuram tanto pelo senhor. Analisando suas palavras, afinal de contas, escrevendo, muitos já disseram o que o senhor afirma. O que há, portanto, de  novo no que o senhor diz? Pois bem. O que havia era Jesus e Maria vivendo em São Francisco de Sales. Existia tal unção, tal vida interior, tal osmose da graça naquilo que ele dizia, que Deus falava  através dele e dava uma fecundidade extraordinária. De onde vinha a fecundidade?

Exatamente deste fato: a presença de Jesus e Maria em alguém, passando por osmose para outrem. São João Batista Maria Vianney era exatamente assim. Dom Chautard conta que uma vez um advogado de Paris foi ver o Cura de Ars e, voltando para a sua cidade, alguém lhe perguntou:

— O que você viu em Ars?

Ele respondeu:
— É muito simples. Eu vi Deus num homem.

Aqui está a ideia da “inabitação” que não é física, evidentemente, não tem relação nem sequer com a presença real, mas é receber a graça e irradiá-la. A graça vem exatamente desta “inabitação” de Deus que Nossa Senhora teve com presença física, real e sobrenatural, em todos os graus e modos possíveis.

Devemos ser leões que rugem contra o mal

A este propósito, pediram-me para comentar a seguinte oração, e depois falarei de Nossa Senhora como Auxílio dos Cristãos, em função disso.

Ó Jesus, que viveis em Maria, vinde e vivei em vossos servos: no espírito de vossa santidade, na plenitude de vossas forças, na perfeição de vossas vias, na verdade de vossas virtudes, na comunhão de vossos mistérios. Dominai sobre toda potestade inimiga em vosso espírito, para a glória do Padre. Amém.

Jesus viveu em Maria e, por Maria, Ele se comunica aos homens. Nossa Senhora é o sacrário, o santuário de dentro do qual todas as graças se difundem para os homens. Ela é o templo do Espírito  Santo, o tabernáculo onde está Nosso Senhor, e por causa disso devemos pedir a Jesus, enquanto vivente em Maria, pois é de dentro deste Templo que Ele quer receber nossas orações.

Pedir o quê? Que Ele viva em nós. Ou seja, que tenhamos o espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo, um espírito todo ele santo, que é o espírito da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. 

Portanto, o espírito contrarrevolucionário, expressão mais característica e radical do espírito da Santa Igreja.

Além disso, roguemos a plenitude das forças de Nossa Senhora. Maria Santíssima é a Virgem forte, combativa, intransigente e absolutamente inflexível diante do demônio, do mundo e da carne. 

Devemos pedir essa força, que é intransigência, vigilância e iniciativa dentro da combatividade. Contra o quê? Primeiro, contra o que há de mal dentro de nós. Em segundo lugar, contra o mal que  está fora. De maneira tal que sejamos leões rugindo contra o mal, como exatamente Nosso Senhor Jesus Cristo foi o Leão de Judá, e como sua Mãe Santíssima, de Quem se diz que, sozinha, esmagou todas as heresias do mundo inteiro.

Seguir de modo perfeito as vias de nossa vocação

Depois, pedir a perfeição das vias de Jesus. Nosso Senhor é quem traça a via para cada um. E para nós indicou a via de nossa vocação. Muitos não sabem qual é a sua vocação e rolam pela vida  como seixos do fundo de um rio. Nós, graças a Deus, sabemos qual é a nossa . A via para nós está clara. Devemos pedir a graça de segui-la de um modo perfeito, “na verdade de vossas virtudes”,  portanto, não uma virtude fofa, balofa, inconsistente, mas autêntica, verdadeira e sincera. Esta é a vida de Jesus que se comunica a nós.

Agora vem o pedido de uma ação contra nosso adversário: Dominai sobre toda potestade inimiga… Dominai o demônio, as forças do mundo que tentam arrastar-nos para o mal. Nós pedimos para  nosso bem, é evidente, mas para a maior glória de Deus, pois queremos isto por amor a Ele.

Mais do que o êxito do apostolado, precisamos querer nossa santificação

Que relação tem esse comentário com a festa de Nossa Senhora Auxiliadora? O maior dos auxílios que Maria Santíssima pode nos dar é exatamente o de nos comunicar este espírito de santidade,  esta força, esta perfeição de via, esta autenticidade de virtudes, esta comunhão de mistérios, esta vitória contra o demônio; e comunicar-nos tudo isso para nossa santificação.

Acima de tudo, mais até do que o êxito do apostolado, queremos que cada um de nós se santifique. E para esta santificação, o auxílio de Nossa Senhora se opera por essa forma.

O pensamento “Jesus vivendo em Maria” está muito ligado à noção de Nossa Senhora Auxiliadora. Ela apresenta-Se a nós, na imagem, com o Menino Jesus no braço para indicar a relação  materna que Ela tem com seu Divino Filho, aquela relação de intimidade absoluta, de atender as últimas e menores dificuldades de uma criança, com aquele afeto, aquela bondade, que se tem, não para com o grande  e o forte, mas para com o pequenino e o fraco.

Já pensaram o que representava para Nossa Senhora ver uma criança chorar? Perceber que ela tinha frio ou fome, e saber que era Deus infinitamente poderoso, nobre, Criador d’Ela, ali chorando  dentro do berço e pedindo o auxílio d’Ela, querendo ser tratado e adorado por Ela enquanto pequenino?

De tal maneira está entranhada nessa intimidade entre ambos a ideia de que Ele é Filho d’Ela, que Jesus quis receber de Maria um culto meigo, miúdo, acessível, todo feito de carinho, porque na  essência divina há um fundamento para isso.

Como se fôssemos uma criança de colo…

Isto fez da Santíssima Virgem a Mãe de todo o gênero humano. Nossa Senhora, Mãe de Jesus Cristo e de todos os cristãos, é Mãe do Corpo Místico de Cristo. E em relação a cada um de nós, a  posição d’Ela é de querer que sejamos como meninos, como o filho carregado no colo que Lhe pede toda espécie de coisas, e a quem Ela dá muito mais do que pede, até mesmo o que não sabe pedir. Mas a condição é de rezar com aquela intimidade, com a certeza de ser atendido por Ela, como se fôssemos uma criança de colo. É a este título que Maria nos auxilia. É aquela multidão de  auxílios concedida aos pequenos, muito mais do que aos grandes.

Aqui está bem o traço filial da devoção a Nossa Senhora Auxiliadora e que estabelece uma linha de comunicação, de afinidade ou de identidade com a pequena via de Santa Teresinha do Menino   Jesus. É a criança, o pequeno que cultua a Virgem Maria por esta forma, e com quem Ela quer ter relações assim. Debaixo deste ponto de vista se poderia dizer que o Reino dos Céus é dos  meninos, e quem não for pequenino não entra nele.

Na Igreja, as almas mais grandiosas, mais majestosas, mais fortes, mais extraordinárias, sempre que trataram da Santíssima Virgem Maria, falaram nesse diapasão. Mesmo quando disseram as  coisas mais altas sobre Ela, tinham bem em mente ser a Mãe que desejava tratar a cada um deles com aquela bondade, aquela solicitude, aquele sorriso com que se trata um menino. Aqui está um “aperçu” da devoção a Nossa Senhora enquanto Auxiliadora.

 

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 254 (Maio de 2019)

Visita de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel

Ao entoar o seu Magnificat, Nossa Senhora se alegra pelo fato de Deus, tendo considerado a sua pequenez, querer exaltá-La, estabelecendo com Ela uma gloriosa relação. “Engrandeceu-me, e nisto agiu santamente Aquele que é poderoso, pois o me ter feito grande redundará em benefício e obra de misericórdia para todas as gerações, em todas as épocas da História” — é o pensamento que A inspirava.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 27/9/1990)

Invencível esperança na misericórdia de Maria

Evocando o momento em que, pela primeira vez, sentiu-se amparado pela misericórdia de Nossa Senhora, Dr. Plinio nos convida a nutrirmos uma ilimitada e constante confiança na bondade de Maria Santíssima, “em todas as ocasiões, em todas as circunstâncias e de todos os modos”.

 

Como já tive oportunidade de comentar, quando menino, estudando no Colégio São Luís, certa ocasião procedi mal. Eu atravessava, talvez, a pior época de minha vida, e estava descontente comigo mesmo. Ora, aconteceu-me de, por essa época, receber nota 6 em uma disciplina e, inconformado, no boletim escrevi sobre ela um “10”.

Julgava ser objeto de merecido castigo

Ao saber do fato, mamãe — sempre muito afetiva, mas também firme —, por mais que quisesse minha companhia, me disse:

— Se ficar provado que você não merecia a nota que escreveu, inabilmente, com seu próprio punho no boletim, mandarei você para o Caraça.

Tratava-se de um colégio muito bom de Minas Gerais, com regime de internato, mas cuja fama em São Paulo, por razões que ignoro, era a de uma penitenciária de crianças. Naturalmente, a ideia de ir para lá causava-me horror.

Afinal, verificou-se que um funcionário do colégio havia se enganado ao passar as notas no boletim, e que eu havia tirado 10, como constava no livro apropriado. Antes de se comprovar o fato, porém, passei por grande apuro. Como, a propósito de outras questões, eu também havia procedido mal, julguei-me objeto de merecido castigo.

Angustiado olhar para a imagem de Maria Auxiliadora

Sob o peso dessa apreensão, fui assistir à Missa dominical na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, grande edifício que, juntamente com o liceu dos salesianos, ocupa um quarteirão inteiro. Por coincidência, realizava-se naquela hora a celebração dedicada aos estudantes do liceu. Só estes enchiam o templo. Formados em fileiras, entoavam cânticos religiosos, e qualquer outra pessoa que estivesse ocupando algum lugar nos bancos devia ceder-lhe a eles. Foi o que aconteceu comigo. Tive de me deslocar para o fundo da igreja e, não encontrando espaço na nave central, fui para a lateral, à direita de quem olha para o altar, fazendo face à imagem de Nossa Senhora Auxiliadora.

Deu-se início à Missa. O contraste entre a situação daqueles meninos cantando, felizes, e meu apuro, era penoso. Em certo momento, olhei para a imagem e pedi a Nossa Senhora que me ajudasse. Pareceu-me, então, que os traços de seu rosto se moviam, e ela sorria para mim, afagava-me, como se dela partisse uma promessa de que tudo se arranjaria. Não se tratava de um milagre, mas de uma impressão.

“Pela primeira vez senti o sabor da Salve Rainha”

Durante esse fato eu rezava a Salve Rainha, prece conhecida por mim, mas que nunca me havia chamado especialmente a atenção. Não sabendo bem o latim, eu a recitava em português. Ora, no idioma latino, “salve” significa uma saudação. Contudo, eu entendia que tal palavra estivesse relacionada com “salvação”. Eu dizia, portanto, “Salve Rainha, Mãe de misericórdia”, no sentido de “Salvai-me Rainha”! Seja como for, naquela hora de aflição senti o sabor dessa oração pela primeira vez na vida.

Lembro-me de que ao dizer “Mãe de misericórdia”, eu pensava: “Mamãe é tão boa, mas eu não diria dela que é mãe de misericórdia. Nossa Senhora, sim, o é. E, por mais que mamãe me queira bem, sei que Nossa Senhora me quer insondavelmente mais. Com Ela, conseguirei safar-me dessa situação”.

Ponto por ponto, uma prece consoladora

Ao dizer: “Vida, doçura e esperança nossa, salve!”, vinha-me à mente: “É isso mesmo! Vida é com Ela, porque nos livra de apuros como este, e de precipícios nos quais nem nossa mãe pode nos escorar. É a doçura d’Ela que nessa apreensão me atende”.

“Esperança… Minha esperança é Nossa Senhora, porque, se Ela não olhar para mim, estou perdido.”

E o pensamento me voltava: “Já que sois assim, salvai-me! pois estou arrasado”.

“A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva”. Eu não sabia exatamente o significado de “degredados filhos de Eva”, mas entendia que tal expressão indicava uma situação muito infeliz, como aquela na qual me encontrava. “Estou nessa dificuldade sem saída”, pensava eu. “Esta é a oração para resolver o meu caso”.

“A Vós suspiramos, gemendo e chorando…” Veja! Eu inteiro sou um gemido. “… Nesse vale de lágrimas”. É isso! Estou nadando nas minhas próprias lágrimas.

“Eia, pois, advogada nossa…” Maria Santíssima não vai me julgar. Deus é o Juiz; Ela é minha advogada, que me defende em qualquer situação. Sinto que, se Ela estiver do meu lado, sou atendido.

“Esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei”. Eu olhava para a imagem e tinha a impressão de que sorria para mim. Tranquilizava-me essa ideia: “Ela me acompanha do Céu, com seus olhos de Mãe misericordiosa. Isso vai dar certo!”

“E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre. Quer dizer, após sair dessa difícil circunstância, no fim da vida verei Jesus. Realmente! Esta oração foi feita para mim”.

A partir daquele momento, minha devoção a Nossa Senhora se tornou mais fervorosa. E com o passar do tempo, pelo favor d’Ela, continuou a crescer.

Nunca deixemos de confiar n’Aquela que é nossa esperança

Baseado nesse meu exemplo pessoal, seja-me permitido ressaltar a necessidade de nutrirmos uma confiança sem limites e constante na bondade de Maria Santíssima, em todas as ocasiões, em todas as circunstâncias e de todos os modos, dizendo a Ela: “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!”

Ela é a nossa vida, porque, não fosse sua insondável misericórdia para conosco, estaríamos mortos. É nossa doçura, pois tudo quanto existe de doce em nossa existência nos vem pelo intermédio d’Ela. E a suavidade de Nossa Senhora para com seus filhos, ainda mesmo quando fracos e infiéis, é incomparável. Todas as formas materiais de doçura — a do mel, do açúcar, da brisa, ou a própria doçura dos corações maternos — não são senão pálida imagem dessa doçura das doçuras que vem a ser o Imaculado Coração de Maria, inundado da suavidade infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Maria, vida, doçura, esperança nossa, salve. Esperemos sempre na intercessão d’Ela por nós, na sua misericórdia para conosco, com uma esperança invencível, pois quem possui tal Mãe, que de tal maneira induz os seus filhos a olharem para Ela, nunca pode deixar de esperar no seu maternal auxílio.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências em 6/5/1968 e 21/7/1990)

 

O grampo de ouro

A Virgem Santíssima é para Deus Padre a mais eleita das criaturas, escolhida por Ele desde toda a eternidade para ser a Esposa de Deus Espírito Santo e a Mãe de Deus Filho. Para estar à altura dessa dignidade, Maria havia de ser a ponta de pirâmide de toda a Criação, acima dos próprios Anjos, elevada a uma inimaginável plenitude de glória, perfeição e santidade.

Nossa Senhora é o grampo de ouro que une a Nosso Senhor Jesus Cristo toda a Criação, da qual Ela é o ápice e a suprema beleza.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 7/2/1971)

Viver para lutar ou morrer por Nossa Senhora

Ó Senhora de Fátima, Rainha combatida e, por ora, aparentemente derrotada; Rainha das lágrimas hoje, Rainha vitoriosa amanhã; Virgem Imaculada, assim predestinada por Deus antes de todos os séculos, e venerada no tempo e na eternidade!

Dai-nos a graça de que a consideração de vossa Mensagem, de vosso semblante e de vosso pranto desperte em nós a convicção de que a hora presente tem toda a gravidade trágica simbolizada por vossas lágrimas.

Tornai presente às nossas almas a infâmia do pecado imenso de Revolução e a gravidade apocalíptica do castigo que este merece. E não permitais que essas considerações desfechem num sentimentalismo vago, o qual – hoje mais do que nunca – seria criminoso.

Fazei-nos compreender que por vossas lágrimas quereis estimular-nos à luta entusiástica, heroica e incessante. De tal forma, ó Senhora, que desapareçam as escórias da Revolução em nossas  almas e, em face de vossos inimigos, sejamos guerreiros inflexíveis, leões de Judá, verdadeiros continuadores, na Terra, dos Anjos que expulsaram do Céu os espíritos rebeldes.

Fazei-nos homens de Fé, inteiramente puros, entusiasmados com as desigualdades harmônicas que constituem a ordem do universo; homens de disciplina e de abnegação, cujo pensamento  dominante até a implantação de vosso Reino seja só este: É melhor morrer a viver numa Igreja e num mundo devastados e sem honra. Viver, minha Mãe, é viver para lutar ou morrer por Vós.

Amém.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 1973)

Diante de Fátima, duas famílias de almas

Ante as afirmações, de uma grandeza apocalíptica, feitas por Nossa Senhora aos três pastorinhos de Fátima em 1917, o mundo vai se dividindo cada vez mais em duas famílias de almas. Uma considera que a humanidade é presa de um feixe de erros e iniquidades, as quais começaram na esfera religiosa e cultural com o humanismo, a Renascença e a Pseudo-Reforma protestante. Tais erros se agravaram com o iluminismo e o racionalismo, culminando na esfera política com a Revolução Francesa. Do terreno político passaram para o campo social e econômico, no século XIX, com o socialismo utópico e o socialismo dito científico.

Com o advento do comunismo na Rússia, toda essa congérie de erros passou a ter um começo de transposição, incipiente, mas maciça, para a ordem concreta dos fatos, nascendo daí o império comunista, desde o coração da Alemanha até o Vietnã, e cuja unidade é indiscutível. Ao mesmo tempo, sobretudo a partir da Grande Guerra, a moralidade se pôs a declinar com rapidez espantosa no Ocidente, preparando-o para a capitulação ante o comunismo, o qual é a mais audaciosa expressão doutrinária e institucional da  amoralidade. Para incontáveis almas de todos os estados, condições de vida e nações, que adotam este modo de pensar, a mensagem de Fátima é tudo quanto há de mais coerente com a Doutrina  Católica e com a realidade dos fatos.

Há também outra família de almas para a qual os problemas do mundo contemporâneo pouca ou nenhuma relação têm com a impiedade e a imoralidade. Nascem eles exclusivamente de  equívocos involuntários resultantes de carências econômicas, e que uma boa difusão doutrinária e um conhecimento objetivo da realidade podem dissipar. Com o auxílio da ciência e da técnica a  crise da humanidade se resolverá. Não havendo, como nota tônica das catástrofes e dos perigos em meio aos quais nos debatemos, o fator culpa, a noção de um castigo universal se torna  incompreensível.

Entre essas famílias de almas há muitas gamas. À medida que qualquer das correntes intermediárias se aproxima de um polo ou de outro, para ela se vai tornando compreensível ou  incompreensível a mensagem da Santíssima Virgem. Fátima se encontra, pois, neste sentido, como um verdadeiro divisor de águas das mentalidades contemporâneas.

Dar-se-ão os acontecimentos previstos em Fátima, e ainda não realizados até aqui? Em princípio, não há como duvidar. Pois o fato de uma parte das profecias já se haver realizado com  impressionante precisão prova o caráter sobrenatural delas.

Sobreleva notar que, na Cova da Iria, Nossa Senhora formulou duas condições, ambas indispensáveis para que se desviassem os castigos com que Ela nos ameaçava: a consagração da Rússia ao  seu Coração Puríssimo e a divulgação da prática da Comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados.

Há ainda outra condição, implícita na mensagem, mas também indispensável: a vitória do mundo sobre as mil formas de impiedade e de impureza que o vêm dominando. Tudo indica que esta  vitória não foi alcançada e, pelo contrário, nos aproximamos cada vez mais do paroxismo nesta matéria. E à medida que caminhamos para esse paroxismo, mais provável se vai tornando que  rumemos para a efetivação dos castigos.

A não serem vistas as coisas assim, a mensagem de Fátima seria absurda. Pois, se Nossa Senhora afirmou em 1917 que os pecados do mundo haviam chegado a tal cúmulo que clamavam pelo  castigo de Deus, não pareceria lógico que esses pecados continuassem a crescer, o mundo se recusasse obstinadamente e até o fim a ouvir o que lhe foi dito em Fátima, e o castigo não viesse.

Desde que não se operou no orbe a imensa transformação espiritual pedida na Cova da Iria, vamos cada vez mais caminhando para o abismo, e aquela transformação se vai tornando sempre mais  improvável(*).

 

* Cf. Bifurcação do mundo, em Última hora, 4/6/1982.

SANTOS JACINTA E FRANCISCO, modelos de aceitação do sofrimento

Vinte de fevereiro, dia da morte de Jacinta Marto, foi a data escolhida pelo Papa João Paulo II para que a Igreja celebrasse a festa da jovem pastora de Fátima e do seu irmão, Francisco, aos quais Nossa Senhora apareceu em 1917. Ao recordar essa piedosíssima morte, Dr. Plinio teceu valiosos comentários sobre o papel do sofrimento na existência humana.

Como se sabe, dos três videntes, dois morreram pouco depois das aparições, conforme a promessa da Santíssima Virgem: Francisco e Jacinta. Ambos deviam ir para o Céu. Antes disso, porém, haveriam de cumprir nesta Terra duas missões diferentes. A de Jacinta era rezar e sofrer pela conversão dos pecadores, enquanto a de Francisco consistia numa reparação ante a tristeza de Nosso Senhor e de Nossa Senhora pelos pecados do mundo, que tinham motivado a mensagem de Fátima.

A importância do sofrimento humano nas grandes obras de Deus

A missão de Jacinta nos revela a necessidade de vítimas expiatórias que contribuíssem com a sua dor e o sacrifício de sua vida — as duas crianças morreram em circunstâncias  extraordinariamente difíceis e dolorosas — para que as palavras de Nossa Senhora encontrassem terreno fértil nos corações dos homens, dando todos os frutos por Ela desejados.

Compreende-se, pois, como esse apostolado do sofrimento é verdadeiramente insubstituível, e como abre os caminhos para a Igreja. Todas as grandes obras de Deus, máxime as que tratam da salvação das almas, em geral se fazem com a participação de outras almas que lutaram, sofreram e rezaram para que essas obras de fato se realizassem. Sempre é preciso a participação do  sofrimento humano.

Sem ele, nada de grande se faz.

Certa vez, um talentoso pintor expôs um de seus quadros que retratava Nosso Senhor como Bom Pastor batendo à porta de uma choupana. A pintura, tocante e piedosa, atraía muitas atenções. Em determinado momento, um visitante julgou notar um defeito no quadro, e disse ao artista: “O senhor cometeu um erro de execução, pois a porta dessa cabana não tem fechadura”. Sorrindo, o pintor lhe respondeu: “É verdade. Isto, porém, não foi um erro. Esta porta simboliza a porta do coração humano, onde Nosso Senhor vem bater. Ela não possui fechadura no lado de fora, mas somente no de dentro, para significar que há certos tipos de abertura de alma onde ninguém consegue intervir: ou a alma toma a iniciativa de se abrir, ou permanecerá fechada”.

Ora, o modo de se obter que as almas fechadas se abram é exatamente por meio da oração, dos sacrifícios e das dores que a Providência dispõe em nossas vidas. É por meio do carregar  amorosamente a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, compreendendo que assim se cumpre a superior vontade divina. Essas são as almas decisivas na História, e que levam a cabo as grandes obras
de Deus.

Claro está que não se trata de um sofrer meramente passivo, mas também de um sofrer ativo. O que significa muitas vezes tomar a iniciativa da luta, rompendo  com aqueles que prejudicam nossa alma.

Significa arrostar a opinião dos outros, aceitando ser posto em situações difíceis e contrafeitas. Significa, enfim todo o sofrimento da batalha mais intrépida, mais ousada e mais repleta de determinação. Tudo isso é sofrer, e até sofrer por excelência.

O contrário do mito do “happy end”

Não nos esqueçamos, porém, de que, se todas as formas de sacrifícios são agradáveis a Nossa Senhora, o que mais deseja Ela receber dos homens é virtude. Acima dos sofrimentos, Lhe compraz oferecermos a Ela a retidão e a pureza de nossa alma. Se quisermos de fato pesar nas deliberações da Providência, devemos apresentar a Ela almas contritas e humilhadas, almas que se tornem pequenas diante de Deus, renunciando a toda forma de orgulho, vanglória e vaidade, para se mostrarem diante d’Ele como realmente são. Reconhecendo a sua própria impotência, pelas vias naturais, para corrigir os seus defeitos; e, portanto, implorando o auxílio de Maria, para que Ela por nós interceda e nos alcance a tão esperada conversão.

E isto exatamente nos é dito pelo sacrifício de Jacinta. Devemos, portanto, pedir a ela que nos obtenha de Nossa Senhora esse senso de sofrimento, indispensável para que qualquer católico seja verdadeiramente um fiel generoso e dedicado.

Essa aceitação da cruz é contrária ao mito do homem moderno, que se reflete na mentalidade do “happy end”, segundo a qual tudo é alegria, tudo é luz, e o padecimento é uma espécie de bicho de  sete cabeças irrompendo estouvadamente na vida das pessoas.

A verdade é outra: uma existência sem cruzes, pouco vale. São Luís Grignion de Montfort chega mesmo a afirmar que, vendo-se alguém poupado pelos sofrimentos, deve — após judiciosa  orientação de seu diretor espiritual — pedi-los a Deus, fazer romarias e rezar com empenho nessa intenção, pois sua salvação eterna pode estar correndo um risco não pequeno.

Mais do que nunca, a necessidade de sacrifícios

Análogas considerações poderiam ser feitas a propósito da missão de Francisco, isto é, a de reparar os Sacratíssimos Corações de Jesus e de Maria pelos pecados e ofensas contra Eles cometidos na face da Terra.

Ora, de 1917 até nossos dias, a maré montante dos pecados não fez senão crescer de modo incomensurável: pecados individuais, pecados públicos, pecados das nações, pecados das instituições, etc.

Tal constatação nos obriga a concluir que, se a ofensa cresceu, a reparação também se faz mais necessária e mais intensa no que ela tem de mais excelente, ou seja, alimentar em nossas almas a indignação pelos ultrajes que são feitos ao Coração Imaculado de Maria; acrisolar nosso desejo de sermos instrumentos de Nossa Senhora para a implantação de seu Reino sobre a Terra.

Devemos pedir ao Francisco que nos obtenha esse espírito, esse ardoroso anelo de assim reparar o Coração Imaculado de Maria e, por meio d’Ele, o Coração Sagrado de Jesus.

Plinio Corrêa de Oliveira

 

Frescor de alma na espera

Durante uma longa espera de algo que se deseja muito, por vezes ocorre o seguinte: primeiro, um susto por não ter recebido; depois a vontade aumenta e não só se vence o espanto, mas o desejo se multiplica pelo desejo, a ponto de se tornar abrasado. Quando não se recebe ainda, a situação passa além de todo meridiano e fica-se com uma vontade por assim dizer trans sonora que canta diante de Nossa Senhora continuamente a súplica daqueles que emudeceram de tanto querer.

Neste caso estão aqueles que há muitas décadas anseiam pela realização das promessas de Fátima. Só se pode encontrar um paralelo para isso: é dos homens que vão esperar a vinda de Nosso Senhor no fim do mundo, dos quais está dito que se esses dias não fossem abreviados, nem eles perseverariam.Esses sofrerão tanto com a espera que, segundo alguns intérpretes das Sagradas Escrituras,serão poupados da morte, tal o tormento deles e tal o desejo de Deus de glorificá-los por terem passado por um sofrimento equivalente à morte.

Nós passamos propriamente pela prova da espera porque se tivéssemos, de um momento para outro,a declaração de que o desejo será realizado em tal data, nós exultaríamos e reverdejaríamos. Porém, Nossa Senhora não nos comunica isso.

Para a espera ser assim premiada é preciso que seja perfeita. E a espera perfeita não é apenas a que chega até o dia da realização da promessa, mas sim aquela na qual a alma arde mais ou menos como a sarça ardente vista por Moisés, a qual o fogo queimava sem destruir.

É preciso que a alma seja queimada pelo desejo da vinda dos acontecimentos e pelo tormento da espera, sem perder com isso nada de seu verdor, de sua indestrutível juventude. Espere com o frescor de alma do primeiro momento, de maneira que as sucessivas desilusões não crestem a alma.

Como fazer para que a espera não nos creste a alma? Ser incondicional com Deus no modo de esperar.

Há dois modos de se colocar diante da eventual proximidade do cumprimento das promessas. Um é o de quem diz: “Virá, e eu não tolero a ideia de que não venha logo”. Neste caso, se não vier, a alma cresta um pouco.

Outro é: “Virá, e é provável que seja em breve, certeza não tenho. Porém, de Deus tolero tudo, porque Ele é meu Senhor. Ele e minha Mãe celeste dispõem de mim como quiserem. Se dispuserem outra delonga, eu a bendirei e andarei com paz nas sombras da demora, certo de estar fazendo a divina vontade”.

Assim o frescor da alma até se revigora, por ser o fruto da obediência incondicional.

Contudo, se alguém receia já não ter conservado esse frescor de alma, poderá dirigir a Deus esta oração:

“Meu Deus, não aceitei de Vós o caminho que passava pela inteira obediência. Deixai-me ao menos aceitar a via que passa pela punição justa. Adoro vossa infinita perfeição enquanto tendo me castigado, pois eu merecia. Mas Vós me destes por Advogada a Mãe de Misericórdia. A Ela eu suplico que tenha pena de mim, ‘desencrespe’ minha alma e a restaure.”

Com isso poderemos nos revigorar, pois para os que tiverem qualquer grão de esperança haverá sempre uma enorme possibilidade de salvação.

Peçamos a Nossa Senhora que nos dê esse grau de esperança flexível e íntegra que nunca se cansa nem se cresta; essa contrição perfeita que adora o castigo, a intransigência e a repulsa de Deus, mas recorre confiante à Mãe de Misericórdia