Morar no Sagrado Coração de Jesus

Eminentemente contemplativo, Dr. Plinio discernia em uma imagem as virtudes do Sagrado Coração de Jesus, cuja consideração maravilhada levou-o, do desejo de uma vida deleitável na prática do bem, ao encanto pelo heroísmo e à luta contra a Revolução.

 

É conhecida a experiência pela qual, fazendo-se girar em alta velocidade um disco composto das cores do arco-íris, cria-se a ilusão de que o disco tornou-se branco. É inegável que o branco tenha sua beleza, como síntese e matriz de todas as cores.

As virtudes se relacionam entre si à maneira das asas de uma borboleta azul e prata

Entretanto, há outro modo das cores se inter-relacionarem que notamos, por exemplo, nas asas da borboleta azul e prata. Não que uma asa seja azul e outra prateada — seria um pesadelo —, mas, conforme o movimento da luz, o azul se transforma em prateado e o prateado em azul. De maneira que, por assim dizer, se teria a ilusão de que uma cor habita na outra.

O conjunto de verdades ou de virtudes numa alma só manifesta sua inteira beleza vista assim, na linha deste furta-cor do azul e prateado na asa da borboleta. Quer dizer, quando se olha uma virtude, de repente, fixando a atenção não apenas especulativa, mas também descritiva, percebe-se sair de dentro outra virtude.

Isso se dá muito com as virtudes cardeais. Considerem, por exemplo, a fortaleza. Em determinado momento, percebe-se que se desprende dela, no mesmo ato da mesma pessoa, algo que se aprecia no ato total, mas seria simplificar chamar apenas de fortaleza. Essa “cor” que se faz notar seria a virtude da prudência. E assim também com as outras virtudes cardeais.

Naturalmente, numa esfera muito mais alta, provavelmente se poderá dizer o mesmo das virtudes teologais.

A meu ver, o inconfundível “unum” de uma pessoa não se deixa ver a não ser por meio de refrações como essas, pelo menos nesta Terra. Esse é o “unum” que representa aquele fundo da alma que, ao tratarmos com um indivíduo, passamos a vida inteira procurando e conhecendo sempre melhor, sem nunca conhecê-lo até o fundo.

Impressões causadas pela Igreja do Sagrado Coração de Jesus

Digo isso para vermos como devemos analisar nossos modelos. Nunca os compreendemos tão bem como no momento em que de uma virtude se desprende outra. Na hora do “borboletear” da coisa é que se pega bem o que é o total.

Se nos perguntamos se a asa da borboleta é azul ou prateada, a resposta é: para além de azul e de prateada, ela tem algo que a capacidade cromática da vista humana não capta, e que não é o contrário do azul nem do prateado, mas uma coisa que não podemos alcançar porque ora se mostra azul, ora prateada. E o azul e o prateado não mentem quando nos dizem ser aquela asa azul ou prateada; mas ela o é de um outro modo que nós não somos capazes de perceber. Há uma coisa mais bela dentro disso.

Por exemplo, no caráter espiritual-temporal no Império Austro-Húngaro, o que era mais bonito: o caráter acidentalmente espiritual que marcava esse Império, ou o caráter essencialmente temporal, enquanto marcado pelo espiritual? Essas coisas não se discernem. Mas, assim como com o azul e o prateado, de uma coisa sai a outra.

Creio que esse fenômeno não é privativo dos santos de comprovada heroicidade de virtudes e próprios a serem canonizados, mas se verifica em todas as almas virtuosas, entendidas como tais as que estão na graça de Deus. Assim, eu poderia explicitar um pouco mais as impressões que tive, quando pequenino, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, e depois as que, a vida inteira, deu-me a Igreja Católica.

A seriedade do Sagrado Coração de Jesus, por exemplo, me impressionava muito. Mas era uma seriedade na qual eu poderia distinguir pelo menos alguns aspectos; porque no seu fundo a seriedade traz consigo que a pessoa, ao observar algo ou alguém, considere-o enquanto inserido em todo o contexto do Universo.

Isso remete a realidades sobrenaturais tão altas que o indivíduo fica meio desconcertado. E a seriedade, vista debaixo desse ângulo, é meio amedrontadora. Há mesmo qualquer coisa dela que muitos homens creem não poder suportar.

Um pequeno episódio da vida doméstica

Por exemplo, uma criança é meio estabanada e deixa cair um copo d’água no tapete. Este episódio tem um inconveniente minúsculo para a vida doméstica; é preciso secar a água e talvez tomar uma pequena providência para não danificar o tapete.

Digamos que isso se dê na casa dos avós da criança, onde também estão presentes seus pais. O trabalho da mãe é passar um pitozinho na criança, para ela aprender a não ser estabanada; mas um pito com leveza, proporcionado à banalidade do que aconteceu, obrigando a criança a trabalhar para secar aquela água, praticar um pouquinho de penitência. Mas deixando-a entrever que aquilo não vai ter muita duração; é um pequeno episódio. À noite, na hora de dormir, ela já nem se lembra do que aconteceu.

A mãe, portanto, tem em vista operações práticas — salvar o tapete —, mas também a educação da criança, que é uma finalidade mais alta. Mas ela visa as vantagens imediatas da criança, evitar que fique tonta, não ganhe prêmio no colégio, etc.; enfim todo o futuro psicológico da criança.

O pai olha com muito menos sensibilidade, preocupado com outras coisas, considerando aquilo meio uma bagatela, mas ao mesmo tempo tomando uma atitude diante do fato por onde a criança compreenda que, se isso se repetir, o ajuste de contas será com ele, que agirá com muito mais severidade do que a mãe.

O avô está lendo um jornal, e a avó uma revista ilustrada. Ao ver o que o menino fez, a avó cai na gargalhada:

— Que engraçado, olha como foi estabanadinho…

O avô:

— Se começa assim, começa mal, porque nessa idade já se tem que aprender…

A avó o defende:

— Não, não, coitadinho!

O avô:

— Olha, muita gente se perdeu porque se disse “coitadinho” em casos semelhantes…

E sobe às mais altas considerações.

Seriedade expressa pela imagem do Sagrado Coração de Jesus

Qual é a imagem perfeita da seriedade aí? No fundo é o avô, porque ele tem razão. Mas se uma criança fosse educada exclusivamente por esse avô, ela ficaria insegura, e não sei onde as coisas iriam parar. Sem dúvida, é verdade que muita gente foi para o Inferno porque, quando criança, não teve um avô para corrigir o estabanamento; mas é verdade também que, se a todo propósito se vai falar do Inferno para a criança, cria-se um ambiente impossível.

Algo dessa seriedade avoenga eu percebia que a imagem do Sagrado Coração de Jesus queria fazer entender. O modo de Nosso Senhor segurar o Coração, rodeado de espinhos e com uma chama, no centro da qual uma cruz; o Coração vermelho daquele modo, por mais bonito que seja, tirado de dentro do peito e exposto, dá uma ideia de certa violência. Tudo isso fazia lembrar a Paixão que Ele tinha sofrido. E a carga desses símbolos significava para mim uma pergunta feita por Nosso Senhor: “Você se dá conta de que, em cada ato mau, você feriu meu Coração? Olhe como Eu sou bom, meça o mal que você fez!”

E em cada imagem do Sagrado Coração de Jesus, feita com um mínimo de idoneidade artesanal ou artística, isso se exprime, a simbologia é essa.

Neste sentido, o apelo do Sagrado Coração de Jesus é admirável, e é bela a dimensão desse apelo: Como as coisas do homem tocam ao infinito! Como é bonita a vida quando se considera que cada pequeno fato toca no Céu, no Inferno! Como tudo é grande!

Tudo isso me vinha muito à mente na consideração do Sagrado Coração de Jesus, e também no ambiente imponderável da igreja. É fora de dúvida que se tratava de uma graça pela qual eu sublimava a imagem. Esta diz algo nessa direção, mas eu a sublimava involuntariamente por efeito da inocência. Mas de fato, para mim, aquela imagem dizia isto, era mesmo a primeira mensagem da imagem.

Doçura

Depois vinha a segunda mensagem: “Entretanto, meu filho, Eu não lhe digo isso para perdê-lo, mas perdoá-lo. Desejo perdoá-lo porque há em Mim a fonte de um afeto, de um carinho mais suave do que o veludo, mais ameno do que qualquer brisa do mar, completamente envolvente e capaz de inundá-lo inteiramente, nas últimas fibras do seu ser.”

De maneira que, logo depois da noção de cobrança, vinha-me a seguinte ideia:

As mãos d’Ele e um de seus pés, que aparece debaixo da túnica, estão chagados; meus defeitos concorreram para isso. Sinto que em mim há matéria-prima, não reprimida ainda, que pode vir dar em maldade. Eu até agora não sou alheio a esses defeitos; eles constituem minha pessoa e, embora sejam defeitos potenciais, não os rejeitei ainda.

Sinto que isso que Ele está me mostrando não é para cobrar algo de mim, para me castigar, nem se vingar, nem pôr o seu pé chagado, mas vencedor, sobre minha cabeça desvairada e pecadora; é para me dizer que, sem nenhum interesse próprio que não seja o amor da própria glória de Deus, Ele absolutamente não me cobraria nada, e está disposto a me pagar o bem pelo mal.

Porque me quer apesar de tudo, tem pena de mim, considera minha pequenez, meu isolamento, considera tudo, e tem algo a mais do que tudo isso, que me inunda como um mar: é a doçura d’Ele. Entra aqui outra ideia da grandeza: a seriedade d’Ele indica uma dimensão dessa doçura, que eu não seria capaz de medir só pela doçura.

Eu sentia bem que Ele dizia isso a mim, interiormente — não era aparição nem visão, mas estava na economia comum da graça —, não como quem vê passar pela estrada um pimpolho, perdido no meio de milhões de outros homens, e para o qual afirma: “Uma vez que você está aqui, Eu tenho algo a lhe dizer. Agora ande e trate de tirar proveito!” Se fosse isso, já teria sido boníssimo, muito mais do que eu mereço.

Mas é um Pastor, um Rei que empreendeu de me governar, vai me dar conselhos, indicações, ordens, me prepara o caminho para eu voltar até Ele. E que, portanto, quer absolutamente que eu seja dócil ao que Ele indique, porque, em primeiro lugar, Ele merece: Olha a perfeição d’Ele! Em segundo lugar, se eu não fizer isso, estou perdido. Vejo bem tudo quanto formiga em mim de ruim e, ou eu deito a atenção nisso ou, então, não sei até onde vou chegar!

E eu percebia bem que chegaria espantosamente até o fim de qualquer caminho que tomasse. E que, portanto, toda cabeça de caminho ou era bem escolhida, ou seria um bordo de precipício. Aliás, isso é com todo o mundo, não só comigo; eu não me sentia uma pessoa diferente das outras.

Asseio, boas maneiras, intransigência

Outra coisa que me encantava era o asseio e as boas maneiras de Jesus.

Por vezes Ele é apresentado como tendo uma túnica de uma cor que me atrai especialmente, o vermelho, com uma discreta bordadura dourada que me parecia indispensável à grandeza d’Ele. Sem ouro Nosso Senhor não teria sabido reverenciar sua própria grandeza como devia. E a consciência que Ele tinha da sua grandeza era uma coisa que me encantava.

E a túnica dava ideia de estar Ele perpetuamente limpíssimo, não tinha mancha nenhuma, nem na alma, nem na roupa. E essa limpeza na indumentária se manifestava ainda mais na limpeza do Corpo d’Ele. Não só não tinha nenhuma mancha, nada de ensebado ou de doente, mas parecia emitir luz.

E eu dizia a mim mesmo o seguinte: “Veja as boas maneiras d’Ele, como está em pé com distinção! O modo com que Ele segura o Coração é de uma pessoa bem educada. Como a impostação da cabeça é de uma pessoa que teve uma boa formação! Como a barba está bem arranjada, sem faceirice! Que supremo aristocratismo natural no cabelo! Tem-se a impressão de que Ele nem pensa no seu cabelo, mas não há um cacho, um fio, que não esteja inteiramente no lugar, para dar uma ideia perfeita d’Ele mesmo”.

Sei que foi um artista, um artesão que esculpiu essa imagem, mas percebo, pela perfeição moral d’Ele, que era de fato assim, e o artista quis exprimir uma coisa que havia na alma de Nosso Senhor. Então, meu encanto!

Conclusão: Como Ele é amigo da ordem universal! E coerente com essa ordem! Todas as coisas Ele as ama na ordem própria e no mais belo aspecto que elas podem apresentar de si mesmas. E com que carinho Ele as ama! Jesus gosta dessa rosa que foi posta aos pés d’Ele, um pouco como gosta de mim que estou aqui aos seus pés também. Ele é afim com tudo o que é reto, que não tem pecado.

Mas olhe a intransigência: basta ter um pecado, que Ele mostra o Coração ferido! Veja a pureza! Depois, como tudo isso está bem calculado, bem posto n’Ele! Que sabedoria!

Comer éclair ou Apfelstrudel com “chantilly” aos pés da imagem

À medida que eu via essas coisas — não com a precisão com que estou dando agora, mas com aquela intuição de uma criança —, ia me sentindo impregnado por elas, de fora para dentro. Quer dizer, Ele era assim; essas coisas não tinham sua nascente em mim, mas Nosso Senhor as comunicava. E daí o desejo evidente de me unir a Ele.

E não só de me unir, mas morar n’Ele. Se eu pudesse estudar, rezar, conversar com amigos, enfim, fazer tudo quanto faz um menino, aos pés da imagem do Sagrado Coração de Jesus, seria para mim uma explosão de alegria, porque a imagem impregnaria dessas perfeições tudo o que eu realizasse, inclusive meus amigos.

Notem uma particularidade: eu poderia afirmar que quereria estar o tempo inteiro rezando lá, dizendo não às brincadeiras, à comedoria, ao leito bom, ao meu conforto, tudo por amor a Ele. Não era isso, mas algo diferente: como seria bom se Jesus pudesse estar presidindo tudo isso! Toda a minha vida gostei muito de éclair e de Apfelstrudel com “chantilly”. Se pudesse trazer às escondidas esses doces e comer aos pés d’Ele, como eu ficaria contentíssimo!

Creio que não tinha nada de mau nisso. E, portanto, também dizer a Ele: “Senhor, aqui está um Apfelstrudel — ou um éclair — tão afim convosco, que eu vou me unir a Vós comendo-o e pensando em Vós. Abençoai este doce!”

E se eu não pudesse fazer tudo lá, depois iria embora dizendo: “Senhor, infinitas graças pela boa companhia que me destes!”

Explicitando a vocação

Há nisso, em raiz, a vocação da “consecratio mundi”, da sacralização da ordem temporal.

Não estava em mim ser nem asceta, nem revolucionário. Eu era um menino da ordem temporal, que gostava da ordem temporal, alegrando-me muito em poder deleitar-me com ela, mantendo meu estado de graça e sabendo que nesse meu deleite não entrava pecado, pelo contrário, era bom e afim com Ele.

E neste sentido, eu gostava enormemente, em certas horas, de estar só. Não propriamente rezando — embora isso já fosse oração —, mas eu me deleitava em ver como tudo aquilo não era pecado, como era bom. E se nesses momentos alguém me dissesse, com provas de evidência, que o Sagrado Coração de Jesus não existia, eu era capaz de ter uma convulsão, um ataque e morrer. Portanto, era uma atitude profundamente religiosa.

Nessas horas de silêncio, eu sentia uma paz e um gáudio sensível da virtude, da união com Ele, mas intensa, que era minha alegria de viver. E, como não conhecia a Revolução, eu pensava que a vida inteira seria assim.

Naquela fotografia onde apareço sentado no braço de uma poltrona — postura da qual não gostei, por ser esportiva e contrária às boas maneiras; mas o fotógrafo mandou, e vi que ele estava sancionado pela “Fräulein” —, eu estou feliz e sentindo que minha felicidade me vem disso que estou descrevendo. Lembro-me bem daquele momento.

Veio depois o contato com o Colégio São Luís e o encontro com a Revolução. Então, estouro! Apresenta-se o sofrimento, batendo na porta, inopinadamente. Começa a batalha!

Todo esse edifício anterior para o que serviria?

De um lado, ajudou-me enormemente, porque foi para mim um elemento de apoio para a resistência. De outro lado, diante das solicitações do mundo, o desejo de uma vida temporal honesta, limpa, com o tempo passou a ser uma vida temporal admiradora do heroico, que já não tem sentido a não ser em função do heroísmo.

Era minha vocação que ia se explicitando através dessas evoluções.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 18/10/1985)

“Sede devotos do meu Imaculado Coração…”

Sempre que me refiro a Nossa Senhora, tenho muito em vista a devoção ao Imaculado Coração de Maria.

Ao adorarmos o Sagrado Coração de Jesus temos em consideração não só a afetividade, a bondade, mas toda a personalidade moral e todo o conjunto de virtudes d’Ele. Assim também o culto de hiperdulia que prestamos ao Coração Imaculado de Maria abarca e exprime seu afeto, sua bondade, sua misericórdia de Mãe, bem como sua pureza e todas as virtudes excelsas que Ela possui num grau inconcebível por nós.

O quadro presente em meu apartamento representa Nossa Senhora no seu resplendor, tendo atrás de Si uma série de luzes fulgurando, como que emanadas principalmente da cabeça, e constituindo uma espécie de auréola.

Maria Santíssima está segurando seu Imaculado Coração e o apresenta para os homens, como quem diz: “Ele é vosso, Eu vô-lo dou se Me pedirdes”.

Portanto, é um convite à prece ao Imaculado Coração d’Ela, feito por Ela mesma: “Sede devotos do meu Imaculado Coração e recebereis graças incontáveis”.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 27/2/1992)

Prece ao Imaculado Coração de Maria

Dai-nos, ó Mãe, uma união com vosso Sapiencial e Imaculado Coração, de maneira tal que sejamos para convosco como uma gota d’água lançada no mar.

Nós Vos pedimos que nos concedais uma devoção intensa à Sagrada Eucaristia, ao Sagrado Coração de Jesus, ao vosso Sapiencial e Imaculado Coração e, ó Mãe, em meio às tristezas de todas as crises contemporâneas, dai-nos cada vez mais devoção ao Papado, à Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, com seu caráter hierárquico, ordenado por vosso Divino Filho, sem as abominações com as quais seus inimigos procuram desfigurá-la.

Que se cumpra, minha Mãe, tudo quanto previstes em Fátima. E, sobretudo, que venha o vosso Reino, no qual desejamos ser os vossos escravos mais atentos, humildes e amorosos.

Estes pedidos nós Vos apresentamos por meio de nossos Anjos da Guarda, ó Sapiencial e Imaculado Coração de Maria!

Arca da Esperança

Com sua Fé inabalável e íntegra, Nossa Senhora foi a Arca da Esperança do futuro. Todas as expectativas do Antigo Testamento acerca do Messias, todas as promessas e certezas contidas no  Evangelho de que Ele seria o Rei da Glória e o centro da História, todas as realizações do Novo Testamento, toda a grandeza que a Igreja haveria de atingir ao longo dos séculos e todas as virtudes que ela haveria de semear sobre a face da Terra inteira, tudo isso viveu dentro de uma só alma — a alma mil vezes bendita de Maria Santíssima!

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Revista Dr Plinio 75 (Junho de 2004)

Devoção da aurora do Reino de Maria

Poder-se-ia perguntar se depois de São Luís Maria Grignion de Mont­fort houve mais algum progresso na devoção à Santíssima Virgem.

Foi o progresso da devoção ao Imaculado Coração de Maria, que é uma espécie de quintessência da devoção a Nossa Senhora, assim como a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma quintessência da devoção a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Afirmo isso baseado nas mensagens de Fátima, nas quais é impressionante o número de vezes em que Nossa Senhora se refere ao Coração d’Ela, muito mais do que às outras devoções. Vê-se ser esta a devoção da aurora do Reino de Maria.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 28/4/1967)

INCOMPARÁVEL MAJESTADE

NUNCA HAVERÁ UMA SIMPLES CRIATURA QUE MEREÇA TANTO A NOSSA ADMIRAÇÃO QUANTO MARIA SANTÍSSIMA, PORQUE N’ELA HABITAM, DE MODO SINGULAR E ÚNICO, A GRANDEZA E A MAJESTADE DE DEUS. MAIS DO QUE TODOS OS ANJOS E SANTOS, É ELA O PERFEITÍSSIMO ESPELHO DA MAGNIFICÊNCIA DIVINA.

NOSSA SENHORA POSSUI INCOMPARÁVEL MAJESTADE, INTEIRAMENTE HARMÔNICA COM SUA MISERICÓRDIA, E PERTO DA QUAL EMPALIDECEM TODAS AS DEMAIS GRANDEZAS.

QUE SÃO AS MAJESTADES DO SOL, DOS OCEANOS, DO MAIOR DOS REIS, DO MAIS INTELIGENTE DOS SÁBIOS, EM CONFRONTO COM A DE MARIA?

A MAJESTADE DA MÃE DE DEUS É SOBERANA, ÚNICA, SUPERIOR, NA QUAL SE FUNDEM TODAS AS FORMAS DE GRANDEZA. POR ISSO, IMENSA SERÁ A FELICIDADE DAQUELES QUE PUDEREM ADMIRÁ-LA, ETERNAMENTE, EM SEU TRONO DE GLÓRIA NO MAIS ALTO DOS CÉUS!

 

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Superexcelente misericórdia

Nossa Senhora, sendo Mãe, seu Coração Imaculado não é mais misericordioso do que o Sagrado Coração de Jesus — seria um absurdo imaginar isso —, porém seu Imaculado Coração faz ver mais a misericórdia do Sagrado Coração de Jesus do que Ele próprio.

Seria mais ou menos como quando os raios do Sol se concentram através de uma lente e põem fogo numa folha seca. A lente é tão pouco em comparação com o Sol, mas sem ela esse fogo não pegaria.

Portanto, o Imaculado Coração de Maria seria, por assim dizer, uma lente do Sagrado Coração de Jesus, uma como que concentração da misericórdia do Sagrado Coração de Jesus. Então, Ela, debaixo desse aspecto, tem uma superexcelente misericórdia.

Ademais, Maria Santíssima é especialmente nossa advogada, pois sendo mera criatura é mais plenamente conatural conosco do que o seu Divino Filho que, enquanto Homem Deus, é juiz. Por essas razões, dir-se-ia que o Imaculado Coração de Maria representa, num largo e glorioso sentido, muito especialmente a bondade e a misericórdia do Sagrado Coração de Jesus.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 26/10/1980)

"Illuminans umbratica"

“Illuminans umbratica” é uma bela invocação para antes de fazermos um exame de consciência, pois é Nossa Senhora quem ilumina as coisas que estão na sombra.

Nós, como temos sombras em nossas almas, devemos pedir a Maria Santíssima que nos ilumine, para vermos bem o que existe em nosso interior e nos fazer discernir as tramas do demônio contra nossa vida espiritual.

Plinio Corrêa de Oliveira, (Extraído de conferência de 18/8/1965)

Nossa Senhora do Sagrado Coração

Ao cantar as glórias de Nossa Senhora no seu relacionamento com o Sagrado Coração de Jesus, Dr. Plinio nos deixa ver o alto grau de contemplação ao qual, quando ainda muito jovem, chegou sua alma profundamente mariana.

 

Se há uma época para cuja miséria só pode existir esperança de remédio no Sagrado Coração de Jesus, esta é a nossa.

Inútil seria atenuar a enormidade dos crimes que por toda a parte pratica a humanidade em nossos dias. Disse Pio XI, em uma de suas Encíclicas, que a degradação moral do mundo contemporâneo é tal, que o coloca na iminência de se ver precipitado, de um momento para outro, em condições espirituais mais miseráveis do que aquelas em que se encontrava quando veio ao mundo o Salvador. (…)

O sol da misericórdia divina

Uma humanidade perseverante na sua impiedade tudo tem a esperar dos rigores de Deus.  Mas Deus, que é infinitamente misericordioso, não quer a morte desta humanidade pecadora, mas  sim “que ela se converta e viva”. E, por isto, sua graça procura insistentemente todos os homens, para que abandonem seus péssimos caminhos e voltem para o aprisco do Bom Pastor.

Se não há catástrofes que não deva temer uma humanidade  impenitente, não há misericórdias que não possa esperar uma humanidade arrependida. E para tanto não é necessário que o arrependimento tenha consumado sua obra restauradora. Basta que o pecador, ainda que no fundo do abismo, se volte para Deus com um simples início de arrependimento eficaz, sério e profundo, que ele encontrará imediatamente o socorro de Deus, que nunca se esqueceu dele. Di-lo o Espírito Santo na Sagrada Escritura: ainda que teu pai e tua mãe te abandonassem, eu não me esqueceria de ti. Até nos casos extremos em que o paroxismo do mal chega a esgotar a própria indulgência materna, Deus não se  cansa.  Porque a misericórdia de Deus beneficia o pecador até mesmo quando a Justiça  divina o fere de  mil  desgraças  no  caminho da iniquidade.

Estas duas imagens essenciais da justiça e da misericórdia divina devem ser constantemente postas diante dos olhos do homem contemporâneo. Da justiça, para que ele não suponha temerariamente salvar-se sem méritos. Da misericórdia, para que não desespere de sua salvação desde que deseje emendar-se. E, se as hecatombes de nossos dias já falam tão claramente da justiça de Deus, que melhor visão para completar este quadro, do que o sol da misericórdia, que é o Sagrado Coração de Jesus?

Infinito amor para com os homens

Deus é caridade. E por isto mesmo a simples enunciação do Nome Santíssimo de Jesus lembra a ideia do amor. O amor insondável e infinito que levou a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade a se encarnar! O amor expresso através dessa humilhação incompreensível de um Deus que se manifesta aos homens como um menino pobre, que acaba de nascer em uma gruta.

O amor que transparece através daqueles trinta anos de vida recolhida, na humildade da mais estrita pobreza, e nas fadigas incessantes daqueles três anos de evangelização, em que o Filho do Homem percorreu estradas e atalhos, transpôs montes, rios e lagos, visitou cidades e aldeias, cortou desertos e povoados, falou a ricos e a pobres, espargindo amor e recolhendo na maior parte do tempo principalmente ingratidão.

O amor demonstrado naquela Ceia suprema, precedida pela generosidade do lava-pés e coroada pela instituição da Eucaristia! O amor daquele último beijo dado a Judas, daquele olhar supremo posto em São Pedro, daquelas afrontas sofridas na paciência e na mansidão, daqueles sofrimentos suportados até a total consumação das últimas forças, daquele perdão medi-

ante o qual o Bom Ladrão roubou o Céu, daquele dom extremo de uma  Mãe celestial à humanidade miserável.

Cada um destes episódios foi meticulosamente estudado pelos sábios, piedosamente meditado pelos Santos, maravilhosamente reproduzido pelos artistas, e sobretudo inigualavelmente celebrado pela liturgia da Igreja. Para falar sobre o Sagrado Coração de Jesus, só há um meio: é recapitular devidamente cada um deles.

Realmente, venerando o Sagrado Coração, outra coisa não quer a Santa Igreja, senão prestar um louvor especial ao amor infinito que Nosso Senhor Jesus Cristo dispensou aos homens. Como o coração simboliza o amor, cultuando o Coração, a Igreja celebra o Amor.

Nossa Senhora, Advogada dos pecadores

Por mais variadas e belas que sejam as invocações com que a Santa Igreja se refere a Nossa Senhora, em nenhuma delas deixaremos de encontrar uma relação entre Ela e o amor de Deus. Essas invocações, ou celebram um dom de Deus, ao qual Nossa Senhora soube ser perfeitamente fiel, ou um poder especial que Ela tem junto ao Seu Divino Filho. Ora, o que provam os dons do Deus, senão um amor especial do Criador? E o que prova o poder de Nossa Senhora junto a Deus, senão este mesmo amor?

Assim, pois, é com toda a propriedade que Nossa Senhora pode ao mesmo tempo ser chamada “espelho de justiça” e “onipotência suplicante”. Espelho de Justiça, porque Deus a amou tanto, que n’Ela concentrou todas as perfeições que uma criatura pode ter, e por isto mesmo em nenhuma Ele se espelha tão perfeitamente como n’Ela. Onipotência suplicante, porque não há graça que se obtenha sem Nossa Senhora, e não há graça que Ela não obtenha para nós.

Assim, pois, invocar Nossa Senhora sob o título do Sagrado Coração é fazer uma síntese belíssima de todas as outras invocações, é lembrar o reflexo mais puro e mais belo da Maternidade Divina, é fazer vibrar a um só tempo, harmonicamente, todas as cordas do amor, que tocamos uma a uma enunciando as várias invocações da ladainha lauretana, ou da Salve Rainha.

Mas há uma invocação que quero lembrar especialmente. É a da advogada dos pecadores. Nosso Senhor é Juiz. E por maior que seja a sua misericórdia, não pode também deixar de exercer a sua função de juiz. Nossa Senhora, porém, é só advogada. E ninguém ignora que não é função do advogado outra coisa senão defender o réu. Assim, pois, dizer que Nossa Senhora do Sagrado Coração é nossa advogada implica em dizer que temos no Céu uma advogada onipotente, em cujas mãos se encontra a chave de um oceano infinito de misericórdia.

O que de melhor para se mostrar a esta humanidade pecadora, a qual, se não se fala de justiça de Deus, se embota cada vez mais no pecado, e se dela se fala desespera de se salvar? Mostremos a justiça: é um dever cuja omissão tem produzido os mais lamentáveis frutos. Ao lado da justiça que fere os impenitentes, nunca nos esqueçamos,  entretanto, da misericórdia que ajuda o pecador seriamente arrependido a abandonar o pecado e, assim, a se salvar.

Transbordante de dons celestiais

Embora sempre cheia de graça, houve um determinado momento em que Maria Santíssima, por sua perfeitíssima fidelidade e gratuita predileção de Deus para com Ela, adquiriu a plenitude de dons celestiais correspondente: o instante em que Ela Se tornou Esposa do Espírito Santo e Mãe do Salvador.

A santificação de Nossa Senhora continuou até o momento em que, depois da Ascensão de Jesus Cristo, recebeu o Espírito Santo para distribuí-Lo a toda a Igreja, pois em Pentecostes o Paráclito desceu sobre Ela na forma de uma chama que se derramou sobre todos os Apóstolos.

Por fim, quando Lhe era como que impossível crescer em santidade, de tal maneira sua alma estava repleta de celestiais dons, a Mãe de Deus teve a sua “dormição”, como é chamada sua morte, por uma linguagem teológica muito apropriada e poética.

Com efeito, foi da plenitude recebida por Maria que todas as graças vieram para os homens. Assim, a humanidade inteira se beneficia do transbordamento das graças da Santíssima Virgem.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 4/8/1965)

Revista Dr Plinio 255 (Junho de 2019)