Nossa Senhora ama a oração insistente e confiante

Oh, minha Senhora e minha Mãe, olhai misericordiosamente para a minha alma e dai-me o espírito de oração pelo qual eu recorra sempre a Vós com tanto maior empenho quanto mais me atenderdes, pois vossas dádivas nos incitam a pedir dons maiores.

Mas Vos rogo ainda outra graça: é de que eu Vos peça com tanto maior persistência quanto mais demorardes em me atender. Dai-me a graça de ter presente que Vós amais a oração insistente e confiante, e que quanto mais tardais em conceder, maior será a graça que me preparais.

Minha Mãe, está tardando para eu ser atendido, mas vosso Coração me amará tanto mais quanto maior for minha insistência. Atendei-me, pois.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 30/7/1971)

Revista Dr Plinio 264 (Março de 2020)

Com uma simples palavra, Nossa Senhora pode nos santificar

Quem tenha algum desânimo, alguma tristeza ou alguma perplexidade na vida espiritual pode parafrasear o centurião que se dirigiu a Nosso Senhor, e pedir a Maria: “Senhora, eu não sou digno de ouvir a vossa voz, mas dizei uma só palavra e a minha alma será transmudada, de um momento para outro, se vós assim o quiserdes”.

Nossa Senhora pode, de um momento para outro, nos santificar, dando-nos um grau eminente de virtude. Nós devemos pedir a Ela que sua voz se faça ouvir no íntimo de nossas almas e nos santifique, concedendo-nos uma virtude que, às vezes, anos de lutas e de trabalhos não nos proporcionaram, pois uma palavra de Nossa Senhora pode nos conceder isto.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 2/7/1970)

Que mãe dá uma serpente ao filho que lhe pede pão?

Nosso Senhor incitava seus discípulos à oração e à súplica, afirmando: “Qual é o pai a quem o filho pedindo um pão, dá-lhe uma pedra?”

Não se poderia imaginar outra atitude do pai para o filho, senão conceder aquilo que lhe é solicitado. Entretanto, se um pai não nega uma súplica filial, muito menos a negará uma mãe. Qual é a mãe que diante do filho que lhe pede pão, dá-lhe uma serpente? Se uma mulher tomasse esta atitude, não seria digna de ser chamada mãe.

Nossa mãe é Nossa Senhora! Ela é um oceano insondável de excelências morais e modelo de misericórdia inconcebíveis pela mente humana. Por isso deve-se ter a convicção de que se receberá o que se pediu, pois a seu Divino Filho Ela apresenta os pedidos que lhe são feitos. E pedindo, Ela obtêm!

Esplendor do equilíbrio

Interpretando falsamente o princípio de que a virtude está no meio, muitas pessoas chegam a defender os erros mais crassos, contrários à Doutrina Católica.
Dr. Plinio elucida sapiencialmente esse tema, com base na razão e apresentando belíssimos exemplos.

São Francisco de Sales, grande Doutor da Igreja, chegou a identificar o equilíbrio com a virtude, dizendo que a virtude está no meio. Ora, o meio é exatamente o equilíbrio entre dois extremos, a considerar as coisas do ponto de vista geométrico. Assim, se a virtude está no meio, chegamos à conclusão de que a verdade se encontra no equilíbrio. Portanto, não há razão para julgar o equilíbrio como sendo algo insípido, estúpido; nele deve estar a verdadeira sabedoria.

Noção de equilíbrio

Contudo, é preciso ver bem o que nas conotações da palavra “equilíbrio”, na linguagem brasileira, entra de fundamentalmente sem sabor, fazendo com que uma coisa tão eminente como o equilíbrio possa dar uma impressão tão desagradável.

O equilíbrio, afinal, o que é? É uma excelência das coisas por onde elas — nos seus aspectos contrários — se compensam, se harmonizam, de maneira tal que se reúnem em torno de uma nota suprema, a qual abarca uma porção de notas colaterais. Poderíamos dizer, por exemplo, que um edifício, com uma torre no centro e duas alas iguais de uma amplitude harmônica com o tamanho da torre — ou seja, quanto mais alta a torre, mais largas as alas —, tem equilíbrio. Essa ideia de equilíbrio abrange uma grande variedade de aspectos, e nós começamos a entrever através disso, de um modo mais vivencial, quanto o equilíbrio é uma coisa boa.

Entretanto, no Brasil se chama homem equilibrado, não aquele que tem uma ideia ou princípio central, em torno do qual ele traça a circunferência de todos os aspectos possíveis, mas um simplório que não tem nenhuma ideia central; e sempre que é atormentado por dois extremos opostos, o equilibrado se coloca simplesmente no meio-termo, pensando que com isso resolveu as coisas.

Por exemplo, entre um comunista e um fascista, o equilibrado seria um burguês. Entre um indivíduo que quer o divórcio e outro que deseja o amor livre, o equilibrado quereria um divórcio muito evoluído; entre um homem que é favor da alopatia e outro da homeopatia, o equilibrado gostaria de uma mistura sem sentido entre essas duas coisas incompatíveis. E daí para a frente.

Pensamento seletivo, ordenativo, vigoroso

Então, o verdadeiro equilíbrio não é uma mistura ininteligente de coisas incongruentes, mas a força de um pensamento central, com o leque das consequências que em todos os sentidos dele se podem tirar.

Assim, toda beleza é necessariamente equilibrada. Mas há certas formas de pulcritude nas quais o que brilha à primeira vista não é o equilíbrio, mas é quase o desequilíbrio.

Tomem a Catedral de São Basílio, em Moscou, por exemplo, com aquelas torres pequenas — encimadas por cúpulas em forma de cebola — que sobem com uma espécie de ascensão frenética para o céu: a nota daquilo é de um misticismo que parece não dar lugar ao bom senso e à razão. Em substância dá, mas parece que não. É uma nobre e pseudo unilateralidade, no fundo da qual existe um equilíbrio.

Encontraremos, assim, várias formas de beleza. Mas a forma de beleza francesa — sobretudo nos áureos tempos da França, na Catedral de Notre-Dame, por exemplo — é o equilíbrio. Mas é um equilíbrio cheio de gosto, de sabor, de classe, de estilo — não o equilíbrio abobado entre duas opiniões das quais, tratando-se irenisticamente, se obtém o meio-termo “pro bono pacis”(1) —, porque é um pensamento seletivo, ordenativo, forte, vigoroso, que agrupa em torno de si os respectivos elementos, e faz disso propriamente uma maravilha.

O equilíbrio francês cheio de sabores

Temos um exemplo neste panorama que vemos aqui. Eu o considero de uma alta categoria. Onde está a beleza do quadro que contemplamos?

Analisem elemento por elemento. A grama é de um verde-esmeralda que nos nossos trópicos não se encontra. No meio da grama, a coisa mais comum do mundo: um caminho inteiramente reto. Bem no fundo, um castelo.

O que tem esse castelo propriamente de maravilhoso? Na fachada, não se vê uma estátua e quase nenhum ornato. Não se nota no castelo nada que deslumbre. Não é uma construção cara; custa preço alto apenas porque é grande, tem muito tijolo, material com que se faz qualquer casa. Entretanto, eu acho que seria um absurdo não reconhecer a isto a nota do equilíbrio, do maravilhoso. Mas qual é o maravilhoso? É o maravilhoso do equilíbrio, da coisa bem pensada, bem estudada, e feita com categoria: aqui está o esplendor do equilíbrio. E é o equilíbrio francês, cheio de toda espécie de sabores. Observem primeiramente o prédio, depois o resto.

A graça dominando a força

O prédio é composto de uma espécie de torreão central, que não é uma coisa “bojudona”, fazendo assim o papel de um tórax, de um abdômen, perto do qual o resto são duas asinhas. Pelo contrário: é uma coisa fininha, esguia, terminada, para acentuar a ideia do fino, por um teto pontudo. Mais ainda, de um lado e de outro há duas chaminés altas que realçam ainda mais a ideia do pontudo, porque elas terminam em ponta; e no alto uma espécie de campanariozinho — um mirantezinho, uma pequena cúpula — suportado por coluninhas. E essa ponta termina numa janela com uma ponta, tendo do lado duas pontas. Essa parte central do prédio é toda leve, esguia, fininha; mas está de tal maneira no centro, é tão bem pensada, que ela não faz o papel de raquítica, de nenhum modo, em relação aos dois extremos atarracadões e bojudos que se encontram num ponto e no outro.

O governo, a linha “rectrix” do prédio está bem no centro. É a graça dominando a força, Jacó reprimindo Esaú, as coisas pesadas coordenadas em torno da leve.

Não sei se percebem o alto pensamento, a afirmação da superioridade do espírito que há por detrás disso: é o triunfo da graça sobre a força, a faculdade ordenante da inteligência sobre as coisas da matéria.

Alta categoria

Entretanto este contraste entre a parte central e os dois extremos é equilibrado — porque todo contraste equilibrado deve possuir termos intermediários harmônicos — por dois corpos de edifícios iguais, nem tão esguios nem tão bojudos, mas que ficam entre uma coisa e outra, preparando a transição. As fachadas laterais são mais largas que a central, os cimos mais esparramados e não terminam em ponta, mas em cones truncados. No alto, há uma janela só no centro, e três janelas nas partes laterais.

Usa-se nas gerações mais novas uma expressão um pouco popular, mas que às vezes tem uma certa força de significado: “Que coisa bem craniada!” Porque é preciso ter crânio para fazer isso.

Esse castelo não foi feito por bobo, nem para bobo, porque é muito discreto. É como quem diz: “Se tu não me percebes, eu não te digo. Sou para quem tem quilate; diante de mim há mata-burro.” Ou então: “Se tu me julgas banal, eu te julgo trivial. Os eleitos, os seletos venham a mim. Eu sou feito para poucos.”

Vemos que tudo isso é de alta categoria, realizado por cabeça superiormente orientada.

O gênio francês

Nos extremos, observamos a coisa curiosa. Esses corpos de edifícios são atarracadões; não tanto atarracados porque possuem três janelas — porque os laterais também têm —, mas devido ao espaço maior entre as janelas, e, sobretudo, pelo teto pesadão e grandão, que constitui uma tampona. Mas o muito pesadão horrifica o gênio francês, e por causa disso, no meio do pesadão há algumas coisas que o equilibram.

Imaginem que pesadelo seria essa tampa grande se não houvesse essas janelinhas pequenas em cima, redondinhas! Como elas dão um sorriso que compensa a carranca dessa imensidade de ardósia do teto! Por detrás, as chaminezinhas e os campanariozinhos evitam que isto tome a aparência de um calcanhar achatando a ala do castelo. Apesar de tudo, isso é pesadão, a parte intermédia é meio leve, e o centro é levíssimo.

A altivez do castelo está no que ele tem de mais gracioso. É como quem diz: “Forte eu sou, mas, sobretudo, eu me prezo de ser inteligente. Em última análise, eu sou completo, porque tenho tudo. Tenho muita força, mas tanta inteligência que, em mim, a inteligência domina a força. Eu sou equilibrado”.

Isso é um equilíbrio de primeira categoria, é degustação, porque se degusta isso como um prato saboroso! Isso é turismo! Viajar pela Europa quer dizer ir percebendo essas coisas. Não basta ouvir o que um guia fala, mas é preciso ver o que o artista diz, o que o ambiente que inspirou esse artista tinha a sofreguidão de contemplar.

Vemos aqui uma aplicação da noção de equilíbrio. Quando São Francisco de Sales afirma que no meio está a virtude, pensem nesse torreãozinho e encontrarão a explicação. Não é um equilíbrio sensaborão, mas sim cheio de sal; é o gênio francês.

Esse gênio francês, muito discretamente, se faz sentir noutra coisa: é o quadro. O castelo é, talvez, um pouco discreto demais. Então, ele é realçado pela perspectiva: um grande parque. Ele é tão simples nas suas linhas e nos seus enfeites que, se houvesse canteiros com muitas flores e esguichos, ele ficava pobre; então, ele tem um simples, mas esplêndido tapete de esmeralda para lhe servir de apresentação, e arvoredos formando, um pouco longe dele, moldura. Dir-se-ia que ele sai de dentro de um mundo de delícias e de mistérios que essas árvores encobrem; ou a clareza e a lógica cercadas de imponderáveis. Outra forma de equilíbrio. Eu acho isso maravilhoso.

Perceber essas maravilhas é um dos prazeres da vida

Os caçadores! Notem a posição deles! Tenho a impressão de que é uma fotografia tirada espontaneamente, mas a pessoa que fotografou o fez tão bem, que se um encenador devesse colocar esses caçadores numa posição bonita, ele os poria assim. Querem uma coisa mais sem graça do que, por exemplo, todos andando na mesma linha? Estragaria o quadro. Ou um cavaleiro aqui, outro ali, outro lá, outro acolá, etc., seis manchas de vermelho, sem sentido… Aqui não. Há um misto de distância e proximidade, fantasia e ordem dentro da distribuição deles, que faz com que sejam deliciosos de ver.

Observem, por outro lado, o estilo. Os caçadores estão parados, tranquilos, de uma tranquilidade pronta para a ação. E a ideia da efervescência da caçada não é dada pelos homens, mas pela cachorrada: um ferver de cães famintos, dispostos para correr. E os caçadores sólidos, mas elegantes — porque são homens elegantes —, montados em cavalos que não têm nada de espetacular, mas espetacularmente proporcionados ao conjunto. Com toda a distância psíquica(2), os homens se preparam para uma caçada que vai ser feroz, por vales e por montes, tocando cornetas etc.; a “demarragem” é equilibrada.

Não é verdade que para degustar um dos prazeres da vida, que tornam a existência humana digna de ser cristãmente vivida, é preciso perceber essas coisas? Mas perceber com o rumo ao Céu.

Reflexo da Igreja Católica

Esses valores de espírito são assim porque essa civilização foi cristã. Porque há o precioso Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, a graça, o Batismo, a Igreja Católica dentro disso. Isso é, no fundo, um reflexo da Igreja Católica. Se não fossem as virtudes cristãs, isto não teria sido assim.

Então não é um puro gáudio dos olhos, nem da inteligência que se tira daí, mas acima disso é um gáudio superior do espírito, considerando uma ordem transcendente de coisas, onde existe um Deus pessoal, sobrenatural, que nós contemplaremos face a face, e no qual todas as formas desse equilíbrio se realizam de um modo tal que isto é uma imagem do Criador. Mas Deus é tão mais do que isto, que Ele até não é nem um pouco assim. Isto se encontra n’Ele de um modo insondável e incapaz de ser imaginado por qualquer criatura. Assim é a Terra como a bênção de Deus a fez, como a civilização cristã a modelou. Esta é a figura do Céu para o qual nós vamos.

Temos aqui um termo religioso para uma meditação sobre uma coisa profana.

Alguém me diria: “Dr. Plinio, falta um cruzeiro diante desse castelo para ele ter a nota cristã.” Eu responderia: Em todos os lugares onde se queira colocar um cruzeiro, eu exulto. Mas dizer que a coisa fica falha sem cruzeiro, não concordo. O espírito católico está aí até sem o cruzeiro. Esse castelo é católico em si; tal equilíbrio sem a graça não se consegue. É uma tradição constituída por homens que em certo momento receberam a graça e tiveram esses valores. Aqui está o equilíbrio católico.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 12/5/1969)

1) Do latim: para o bem da paz.
2) Expressão utilizada por Dr. Plinio para significar uma calma fundamental, temperante, que confere ao homem a capacidade de tomar distância dos acontecimentos que o cercam.

Oração: Faça-se a vossa vontade

Ó Mãe do Bom Conselho, tende compaixão de mim nos desacertos e nas perplexidades em que minha alma culpada se encontra. No meio de todas as minhas misérias, vossa graça me dá a convicção de que é melhor qualquer padecimento a continuar como estou. Portanto, se a condição para deixar o estado infeliz em que me encontro é que Vós me façais sofrer, peço-vos a força para suportar o sofrimento que me enviardes. Com os joelhos dobrados em terra e as mãos unidas, de toda a alma, ó minha Mãe, peço-vos o sofrimento necessário para eu ser totalmente vosso.

Entretanto, se for possível unir-me inteiramente a Vós sem esse sofrimento, suplico-vos que afasteis de mim esse cálice. Mas, a exemplo de vosso Divino Filho, digo: Faça-se a vossa vontade e não a minha! A vossa vontade, Mãe de misericórdia, pois Vós sois o conduto necessário, por desígnio de Deus, para subirmos a Ele e para que as graças venham até nós.

Mãe do Bom Conselho, uma vez mais vos peço, tende piedade de mim!

Plinio Corrêa de Oliveira

Revista Dr Plinio 252 (Março de 2019)

Escravidão de amor a Nossa Senhora

Eis a conclusão das palavras dirigidas por Dr. Plinio a um grupo de jovens que acabavam de fazer a consagração a Nossa Senhora, pelo método de São Luís Grignion de Montfort. Dr. Plinio lhes  explicara inicialmente o contexto no qual esse Santo explicitou e desenvolveu suas doutrinas.

 

Em seu “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”, São Luís Grignion estabelece vários princípios que justificam a nossa consagração a Ela como escravos de amor.

Medianeira desejada pela Providência

O mais importante deles é a mediação universal de Nossa Senhora. Ou seja, o fato de que Ela é a medianeira entre Deus e os homens para a obtenção e a distribuição de todos os dons divinos que  pedimos ao Céu.

De tal modo essa intercessão de Maria é querida pela Providência que — ensinam os teólogos — nada do que os fiéis pedem a Deus seria alcançado, se a Santíssima Virgem não rogasse também  por eles. Pelo contrário, se Ela sozinha fizer a mesma oração em seu favor, será atendida.

Compreende-se. Escolhida para ser a mãe do Verbo encarnado, sempre imaculada e cheia de graça, a união que Nossa Senhora tem com Jesus é a mais alta que uma simples criatura humana pode ter com Deus. Em virtude desse vínculo extraordinário, Nosso Senhor nada recusa à sua Mãe, o que faz d’Ela uma intercessora onipotente junto a Ele. Esse é o princípio ensinado por São Luís Grignion e reconhecido pela Igreja.

Passemos a outro ponto.

Co-redentora do gênero humano

Quando foi decidido pelo Pai Eterno que Jesus Cristo deveria morrer para expiar nossos pecados, quis Ele ter o consentimento da Santíssima Virgem, o que representou para Ela um golpe  espantoso. Pensemos em nossas mães. Se alguém lhes dissesse: “Quer me dar seu filho, para que ele sofra blasfêmias, seja ridicularizado, perseguido, preso, entregue ao desprezo e ao ódio do povo, flagelado, coroado de espinhos, obrigado a carregar sua cruz até o Calvário e morra de modo atroz?” — nenhuma delas cederia o filho! Não há mãe que queira isso para aquele que ela trouxe ao mundo.

Porém, Nossa Senhora sabia ser necessário esse holocausto para a redenção do gênero humano. Ela deu seu consentimento, e com isso sofreu uma dor intensíssima, como se um gládio Lhe  transpassasse o coração. Daí vem a devoção a Nossa Senhora das Dores, e a imagem d’Ela com o coração aparente, atravessado por uma espada.

É uma evocação do sacrifício que Ela fez.

Nos seus eternos desígnios, Deus quis que esse padecimento de Maria fosse unido ao de Nosso Senhor para resgatar os homens, e por essa razão Ela é chamada pela Igreja de Co-redentora do  gênero humano.

Nossa Senhora é nossa arqui-mãe

Em conseqüência dessa participação de Nossa Senhora na redenção do mundo, podemos dizer, com inteira  propriedade, que Ela é nossa mãe: sem o auxílio e o consentimento d’Ela, não teríamos  nascido para o Céu e para a vida da graça. Ela aceitou e quis o sacrifício de seu Divino Filho por todos e cada um dos homens, até o fim dos tempos, e é, portanto, mãe de todos e cada um de nós.

Mãe a um título mais alto que simplesmente o de mãe natural, posto ser mais alta a vida sobrenatural para a qual Ela nos gerou. Em certo sentido, Ela é a nossa arqui-Mãe, a Mãe das mães. E tem, então, para conosco, uma tal misericórdia, que São Luís Grignion de Montfort não hesita em afirmar que Maria ama cada um em particular mais que todas as mães somadas amariam seu filho  único. Daí, diga-se de passagem, a entranhada confiança que devemos depositar na clemência d’Ela.

É louvável que nos consagremos a Nossa Senhora

Ora, se Nossa Senhora nos deu de tal maneira seu sacrifício, sua alma, se Ela nos amou a tal ponto, se é tão autenticamente nossa mãe, se Ela nos ofereceu seu Filho, o Filho de Deus, se O imolou por nós, se nos cumulou de tantos bens, é justo e louvável que nos consagremos a Ela por completo. Eis a tese de São Luís Grignion.

Pertencemos a Ela, de direito, pelo que Ela fez por nós. O santo autor diz muito bem que, quando um rei (ele se referia aos monarcas absolutistas) conquista um povo, torna-se senhor desse povo.

Nossa Senhora nos comprou e nos conquistou por seu sacrifício, e por isso Lhe pertencemos. Mas, como somos seres inteligentes e livres, é preciso que, por uma deliberação nossa, nos  entreguemos a Ela. Com nosso consentimento, essa união se torna completa.

De fato, não pode haver dom mais proporcionado ao que Nossa Senhora nos fez, do que a doação de nós mesmos a Ela, como seus devotíssimos escravos. Quer dizer, a escravidão de amor à  Santíssima Virgem Maria como Mãe de Deus, como nossa Co-redentora e nosso celestial amparo.

Características dessa escravidão

Por essa escravidão consagramos nossa vida nas mãos de Maria Santíssima, e Lhe entregamos todos os nossos méritos para que disponha deles como melhor quiser. Convenhamos, não é um  muito bom negócio para Ela… Que são os pobres méritos dos homens em comparação com os que Ela alcançou! Mas, se é este o desejo d’Ela, deixemos que Nossa Senhora use de nossos méritos  como Lhe aprouver, em benefício de terceiros, em tal intenção da Igreja, etc., etc. São Luís Grignion, entretanto, procura nos fazer ver a inestimável vantagem dessa entrega, aplicando à  generosidade de Nossa Senhora uma expressão francesa muito interessante: “Em troca de um ovo, ela nos dá um boi”. Ou seja, damos diminutos méritos e, em retribuição, Ela nos concede uma  torrente de graças.

Devemos, pois, fazer tudo o que Nossa Senhora deseja que façamos, quer dizer, cumprir a lei de Deus e procurar sermos perfeitos. Em outras palavras, tudo o que sabemos que seja o melhor para  os interesses da Igreja, segundo a moral e a perfeição cristã. Em compensação, Ela nos toma sob sua proteção de modo especial, e nos torna beneficiários de méritos superabundantes.

Eis no que consiste essa consagração de amor à Santíssima Virgem.

 

Doçura em nossas aflições

Maria Santíssima, mais que qualquer um de nós, mostra-se sensibilizada e generosa diante do infortúnio e apuro do próximo.

Ela sabe dizer a palavra amiga, oferecer o suave lenitivo de seu amparo ao coração atribulado, desejoso de encontrar doçura na ajuda alheia. Ela não poupa nada de sua inesgotável clemência, compaixão e misericórdia para com os que se acham em toda espécie de aflições: removendo-as, se pode fazê-lo sem com isto diminuir o benefício espiritual que a provação traria para o socorrido; ou alcançando para este redobradas forças, manifestando-lhe de modo particular a doçura de sua insondável solicitude materna.

Daí o acertado pensamento de Santo Ildefonso: “Ó Virgem Maria, sois clemente em nossas necessidades, doce em nossas tribulações, boa em nossas angústias, pronta a nos socorrer em nossos perigos…”

Maria Santíssima nos ama porque somos seus filhos

A correspondência às graças recebidas de Nossa Senhora é um elemento a mais para Ela nos amar. Mas isso não significa que, se não correspondermos, Ela não nos ame. Mesmo quando não correspondemos, Maria Santíssima nos ama com uma ternura que temos dificuldade em imaginar.

A maior prova de que o amor materno não depende da reciprocidade é o amor de uma mãe por sua criancinha que ainda não fala. Qual é a correspondência que aquele bebê está dando? Nenhuma. Entretanto, basta alguém mexer nele para que a mãe logo se mova a defendê-lo, porque ela quer aquela criança de um amor natural gratuito.

A Santíssima Virgem é nossa Mãe com mais realidade do que nossas mães terrenas, por melhores que sejam ou tenham sido. Assim, ainda que não mereçamos o seu amor, Ela nos ama porque somos seus filhos.

Portanto, o fato de não correspondermos à graça não quer dizer que Nossa Senhora não esteja transbordando do desejo de nos dar favores e benefícios de toda ordem. E porque Ela transborda desse desejo devemos rezar a Ela com confiança.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 27/11/1989)
Revista Dr Plinio 263 (Fevereiro de 2020)

Oração a Nossa Senhora da Saúde

Ó Maria Santíssima, minha Senhora e minha Mãe, suplico-Vos que atenteis para as dificuldades psicológicas e nervosas que tanto me atormentam, com reflexos danosos para minha santificação e também para minha saúde.

Bem sei derivarem elas, em parte, de fatores psicofísicos nativos, pelos quais não tenho culpa. Mas sei também que a minha insuficiente correspondência à vossa graça contribui para que a ação desses fatores se tenha desenvolvido, em certa medida, em mim.

Não ignoro que a ação do demônio se junta a tudo isso para agravar-me a situação. Mas fincai em minha alma a convicção de que, sendo Mãe de incomparável bondade, não só dos enfermos e dos aflitos como ainda dos culpados, essas mesmas culpas não só não desviam de mim vossa misericórdia, mas a atrai com soberana e benfazeja grandeza a pousar sobre mim e me resolver os penosos problemas.

Assim, é gemendo sob o peso de meus pecados que me prostro a vossos pés e faço de minhas próprias faltas um argumento para implorar em meu favor vossa inexcedível bondade.
Tende pena de mim, ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria, e dizei uma só palavra, que minha alma e meu corpo serão curados.

Amém.

Plinio Corrêa de Oliveira

Oração para pedir a troca de vontades

Ó Coração Sapiencial e Imaculado de Maria, que simbolizais a mentalidade sagrada, a vontade santíssima, a perfeitíssima disciplina da Mãe de Deus, nós Vos pedimos: abri-Vos para nós.

Considerai nossas mentes infiltradas de máximas revolucionárias! Tende em vista as nossas vontades debilitadas por toda espécie de maus hábitos e pressões decorrentes do ímpeto da Revolução! Olhai para a nossa sensibilidade trabalhada pelos mais nocivos fermentos do mundo satânico que a Revolução vem desenvolvendo, e tende pena de nós!

Nós Vos pedimos que substituais nossas mentalidades revolucionárias, de maneira que nossos princípios reflitam, com a fidelidade perfeita, a doutrina e o espírito da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Trocai a nossa vontade corrompida, substituindo-a pela vossa sem mancha, sem hesitação, sem concessões! Substituí nossa sensibilidade pela vossa, ordenada, equilibrada, puríssima, em tudo obediente à vossa vontade e inteligência!

Vós sois, Coração Imaculado, o Sacrário do Espírito Santo. Habitai no meu coração para que o vosso Divino Esposo habite em mim e eu seja um templo d’Ele!

Dai-me, assim, ó Coração Sapiencial e Imaculado de Maria, o Grand Retour tão desejado e fazei-me um discípulo perfeito vosso! Amém.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta provavelmente na década de 1980)