Arco-íris da esperança

Neste vale de lágrimas em que somos peregrinos, tentações, sofrimentos e perplexidades são inerentes a toda vida espiritual. Contudo, em meio ás nossas dores e aflições morais, sempre vislumbramos a esperançosa figura de um arco-íris: Maria Santíssima!

Ela nos acompanha em nossa peregrinação rumo á Pátria Celestial, ajudando-nos em todas as vicissitudes, envolvendo-nos com seu maternal, constante e infatigável amor, que nenhuma infidelidade poderá esmorecer, e que os reiterados atos de bondade dele emanados não lograrão exaurir.

À nossa espera…

Meu filho, aqui estou Eu, sozinha, no canto a que teu desprezo me relegou, repleta daquele amor materno que tua rejeição comprime em Mim e impede que se expanda; daquele afeto que se conserva intacto em sua abundância e intensidade, palpitando de compaixão, à espera de que retornes para te purificar, te envolver e cumular com sua misericórdia inesgotável…

A prece dos fortes

No dia 7 de outubro celebra-se a festa de Nossa Senhora do Rosário, estabelecida pelo Papa São Pio V a fim de manifestar a jubilosa gratidão da Igreja para com a Santíssima Virgem, cuja solícita intercessão determinou a vitória da causa católica na batalha de Lepanto.

Ardoroso devoto do santo Rosário, por ele rezado diariamente, Dr. Plinio não perdia oportunidade de enaltecer as excelências dessa prática mariana, sendo-lhe — como afirmava — “motivo de sumo agrado” recomendá-la e incentivá-la entre seus filhos espirituais. Nesse intuito, fazia-lhes compreender como o Rosário “ocupa privilegiadíssimo papel na história da piedade católica. Em primeiro lugar, porque une o fiel a Nossa Senhora, e atrai para ele toda sorte de graças celestiais. Em segundo lugar, porque afugenta o demônio. Alguém que se sinta tentado, tome fervorosamente o Terço em suas mãos, e ver‑se‑á forte contra a investida do inimigo de nossas almas.

“Excelente meio de venerar a Mãe de Deus, é incalculável a torrente de bênçãos que a recitação do Rosário efundiu sobre a Cristandade. Por isso, Papas e autoridades eclesiásticas não se cansam de elogiá‑lo. Se tal não bastasse, a Santíssima Virgem, querendo Ela mesma incentivar essa inestimável devoção, mais de uma vez apareceu trazendo em suas mãos virginais o piedoso instrumento. De modo particular, nas aparições de Fátima, em Portugal, quando recomendou aos homens, com tocante insistência, a recitação diária do Terço. Além disso, a Igreja enriqueceu o Rosário com muitos privilégios e indulgências, inclusive plenárias, de maneira a fazer dele um verdadeiro tesouros de bênçãos inapreciáveis.

“A recitação do Rosário se dilatou de tal maneira que, durante muito tempo, identificou-se com a piedade católica: uma e outro eram a mesma coisa. Fosse nos atos cotidianos da vida espiritual, fosse nas festas e celebrações de maior significado, o Rosário — ou o Terço — sempre esteve presente como expressão do fervor das almas devotas.

“São Domingos recebeu da Rainha do Céu este mesmo Rosário cuja forma hoje conhecemos: começando pelo Crucifixo, que devemos oscular pedindo à Mãe de Deus que seja nossa intermediária e apresente a seu Filho nossas orações; em seguida, três Ave-marias, um Glória, e depois as cinco dezenas em que meditamos nos principais Mistérios da vida de Jesus e de Maria Santíssima — Gozosos, (Luminosos[1]), Dolorosos e Gloriosos.

“Ainda que rezado por almas mais frágeis, o Rosário é a prece dos fortes, é a súplica dos batalhadores, porque é um conjunto de orações de tal eficácia que faz avançar o bem e recuar o mal. A par das riquezas espirituais que encerra, temos a pluralidade dos feitios e coloridos com os quais é utilizado: rosários pequenos, graciosos, delicados, para crianças de trato; modestos e rústicos, mas fortes, dedilhados por mãos vigorosas que passam sobre aquelas contas; sério, varonil; rosários de princesas, de rainhas, lavorados como verdadeiras jóias, preciosos como esses que pendem das mãos das imagens de Nossa Senhora. Todos nos fazem ver algo da suavidade e da bondade régias de Maria, protetora dos débeis, amparo dos fortes, como foi o próprio São Domingos, enfrentando e vencendo com o Rosário a heresia albigense.”

E após recomendar com incansável empenho a recitação do santo Rosário, necessária aos fiéis de todos os tempos, Dr. Plinio ainda oferecia este tocante conselho:

“Nunca nos separemos do Terço. Que ele esteja sempre junto a nós, em todos os momentos: quando dormimos, quando descansamos, quando estivermos lendo ou fazendo toda e qualquer coisa. Jamais o larguemos. E quando nossas mãos não puderem mais nem se abrir nem se fechar, mas forem fechadas por outros para a nossa última atitude de oração, que o Rosário esteja entrelaçado em nossos dedos. De sorte que, chegado o momento da grandiosa Ressurreição dos mortos e nosso corpo recobrar vida, nosso primeiro gesto possa ser o de oscular o Terço que encontraremos cingidos às nossas mãos…”

[1]) Dr. Plinio faleceu em 1995, antes de o Papa João Paulo II enriquecer o Rosário com os Mistérios de Luz, na sua Carta “Rosarium Virginis Mariae”. Motivo pelo qual acrescentamos os mesmos entre colchetes, para o presente comentário adquirir ainda mais atualidade.

 

Como um magnífico nascer da lua…

O nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo representou uma honra incomparável para toda humanidade. Guardadas as proporções, também a vinda de Nossa Senhora ao mundo conferiu particular nobreza ao gênero humano. Foi Ela a criatura mais perfeita nascida até então, concebida sem pecado original, a quem foi dada, desde o primeiro instante de seu ser, uma superabundância de graças.

Compreende-se pois, a afirmação de que Maria Santíssima está para Nosso Senhor, assim como a lua para o sol: Ela representa a suave e amena luminosidade da lua, e Ele, a onipotente e deslumbrante claridade do sol.

Há, sem dúvida, imensa beleza no despontar do fulgurante astro. Contudo, em certas ocasiões, o aparecimento da lua tem também seu encanto, sua poesia e sua grandeza. A natividade de Nossa Senhora foi, pois, para toda a humanidade, como magnífico nascer da lua: sol das sombras, sol do repouso, sol das longas meditações e das extensas digressões do espírito…

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Confiança na misericórdia de Nossa Senhora

Nas graves circunstâncias de nossa vida, o que a Santíssima Virgem deseja de nós, acima de tudo, é um imenso ato de confiança. Por isso, genuflexo, peço a Ela nos tornar cada vez mais os que —  na tormenta, na aparente desordem, na aflição, na quebra aparente de tudo o que poderia representar para nós a vitória —, sempre confiaram na misericórdia d’Ela.

(Palavras de Dr. Plinio em uma de suas últimas conferências, em agosto de 1995)

Plinio Corrêa de Oliveira

Santa Teresinha do Menino Jesus

Eis que minha amargura transformou-se em paz. (Is 38,17)

“Ecce in pace amaritudo mea amarissima” (Is 38,17). Quem sabe vislumbrar através dos traços de uma fisionomia um estado de alma, não pode deixar de pensar que essas palavras mereceriam estar escritas ao pé desta fotografia, que nos mostra uma figura sorridente mas indizivelmente dolorosa.

O sorriso não procura esconder a dor, mas afirmar-se por um prodígio de virtude, de fidelidade à graça, apesar da dor. Os lábios sorriem só porque a vontade quer que eles sorriam, e a vontade o quer porque essa alma tem fé, e sabe que depois das provações e das trevas desta vida terá como prêmio Aquele que disse de Si: “Serei Eu mesmo vossa recompensa demasiadamente grande” (Gen. 15,1).

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de “Catolicismo”, n° 111, março de 1960)

Santa Teresinha: Vida de epopeia

A respeito da devoção a Santa Teresinha, houve muita incompreensão, pois foi entendida num sentido contrário ao da epopeia: fazer os pequenos sacrifícios para evitar os grandes. E transformar a existência numa vidinha que, levada sempre com um sorrisinho, resultava numa saída muito cômoda para o caminho da cruz do católico.

Sua espiritualidade é muito vasta, tendo  ela defendido duas teses: Uma pessoa pode levar uma existência de epopeia, mesmo quando as circunstâncias não lhe proporcionem gestos de audácia,  ou não  exponha diretamente sua vida.

E, mesmo para as almas fracas,  a realização da epopeia é possível. Isso explica o fato de que ela — uma mulher, carmelita reclusa, vivendo numa França na qual não havia circunstâncias para reproduzir o feito de  Santa Joana d’Arc — realizou tanto quanto esta última.

Por essa razão, embora sendo uma alma não destinada a enfrentar grandes lances, ela transformou, pelo auxílio da graça, em grandes, os pequenos fatos da vida cotidiana. Levou uma existência de tão contínuos sacrifícios que, em seu conjunto, sob esse ponto de vista, foi uma epopeia.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 10/7/72)

O Doce nome de Maria sempre em seus lábios

A Igreja venera na sua liturgia do dia 12 de setembro o Doce Nome de Maria. Dr. Plinio costumava lembrar com saudade e emoção as estrofes do hino que entoava com os Congregados Marianos, ao final dos Salmos do Nome de Maria:

“Si quaeris caelum, anima Mariae nomen invoca Mariam invocantibus Caelestis patet ianua”.

Se procuras o Céu, ó alma, invoca o nome de Maria; para os que invocam Maria, abre-se a porta do Céu.

Na verdade, o doce nome da Rainha jamais abandonou seus lábios. “Jesus” e “Maria” foram as duas primeiras palavras que aprendeu de Da. Lucília, antes mesmo de saber falar “Papai” e “Mamãe”. Maria…. Ele pronunciava esse nome incontáveis vezes por dia: nos mistérios do Rosário, nos já mencionados salmos que começam com as letras desse celestial Nome, no Lembrai-vos, nas jaculatórias… Quantas e quantas vezes o utilizava para ensinar a seus filhos espirituais a via de ouro que conduz ao Coração de Jesus, que é a devoção a Maria!

Na conclusão de sua momentosa Encíclica sobre o Rosário, João Paulo II cita o belo trecho do Bem aventurado Bartolo Longo: “E a última palavra dos nossos lábios há-de ser o vosso nome suave, ó  Rainha do Rosário de Pompéia, ó nossa Mãe querida, ó Refúgio dos pecadores, ó Soberana consoladora dos tristes. Sede bendita em todo o lado, hoje e sempre, na terra e no céu” (“Rosarium  Virginis Mariae”, n. 43).

Quatro dias antes de enaltecer o Nome de Maria, a Igreja celebra a Natividade da Santíssima Virgem. Que misericórdia para o mundo, seu nascimento! A esse respeito comentava Dr. Plinio: Nossa Senhora trazia consigo todas as riquezas naturais que dentro de uma mulher possam caber. Nosso Senhor deu a Ela, segundo a ordem da natureza, uma personalidade riquíssima, preciosíssima, valiosíssima. E a esse título, a presença d’Ela entre os homens representava um tesouro verdadeiramente incalculável!

A denúncia profética, publicada neste número, reproduz uma conferência de Dr. Plinio por ocasião de uma celebração da festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro). A Cruz, que marcou  profundamente a vida de Nosso Senhor é o símbolo que distingue o cristão, é sua condecoração, seu prêmio e sua glória, e não algo do qual ele se envergonha ou do qual deva fugir…

No dia seguinte à festa da Exaltação da Santa Cruz, o calendário celebra Nossa Senhora das Dores. Os comentários de Dr. Plinio sobre essa data concluem o itinerário litúrgico de setembro que nos  propusemos nesta edição. A liturgia é o alimento dos fiéis, e nosso intuito é de fomentar, como de costume com textos plinianos, a atitude tão louvada pelos Papas, de viver as datas da Igreja como parte integrante de nossa vida.

Continuamos neste número a série de narrações auto-biográficas de Dr. Plinio relativas a sua infância e primeira juventude. No número de agosto, nos despedíramos dele numa praia de Santos, olhando o mar e pensando…

Sentado no extremo da amurada de pedras que penetrava mar adentro, em meio ao murmúrio incessante das ondas que a investiam e eram rechaçadas, o menino Plinio contemplava e meditava sobre as belezas da Criação e de seu autor, contrapondo-as aos erros e horrores de sua época. Encantava-se com a Igreja… e esse amor à esposa de Cristo lhe infundia luzes e critério para julgar todas as coisas com sabedoria. Ela era a sua bússola no mar tempestuoso do século XX.

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 66 (Setembro de 2003)

Natividade de Nossa Senhora

Se o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo já representava a aurora da salvação do gênero humano, o mesmo se pode afirmar, de certo modo, da natividade de Nossa Senhora. Com efeito, tudo quanto Jesus trouxe ao mundo, começou a nos chegar com o nascimento d’Aquela que seria sua Mãe Santíssima.

Compreende-se, pois, todas as esperanças de salvação, de indulgência, de reconciliação, de redenção e de misericórdia que se abriram, afinal, para os homens, naquele bendito dia em que Maria surgiu nesta terra de exílio. Feliz e magnífico dia, marco inicial de uma existência insondavelmente perfeita, pura, fiel, e que seria a maior glória da humanidade em todos os tempos, abaixo daquela que devemos à Encarnação do Verbo.

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 66 (setembro de 2003)

Senso do maravilhoso: padrão para o conhecimento da verdade – II

O desenvolvimento do senso do maravilhoso faz crescer o nível intelectual das pessoas, e até mesmo o moral. Comprimir esse senso, sob a alegação de que é fantasia, torna os espíritos achatados, baixos e sem valor.,

 

Ao considerarmos as grandes civilizações, notamos que todas elas tendem a uma forma de maravilhoso que chegaram a tocar, por assim dizer, com a ponta do dedo, entretanto imaginaram muito mais do que de fato realizaram.

Algumas construções maravilhosas

Tomemos, por exemplo, o famoso Taj Mahal, na Ásia. É perfeito! Olha-se e, no primeiro momento, contenta-se inteiramente. Logo depois, não surgem censuras, porque aquilo é muito bonito, mas a alma pergunta: “Está bem! Mas não haverá mais?” E é imaginando vagamente o mais, que acabamos de entender bem o Taj Mahal.

Outra coisa que eu acho muito bonita é o minarete. Aquelas torrezinhas finas, com terracinho, onde fica um homem sentado e cantando, é de uma elegância, de uma beleza… Imaginar um minarete no Bósforo é uma coisa simplesmente fantástica!

Por exemplo, aquele minarete na Igreja de Santa Sofia não tende para alguma coisa de maravilhoso, de irreal? Como eu gostaria que essa igreja fosse católica! Ela é arredondada, e dentro é lindíssima! Fora, a beleza dela está no contraste daquele arredondado com um minarete esguio que sobe para o céu. Uma verdadeira maravilha!

O pagode chinês é lindo! Mas meu gosto do maravilhoso não se contenta com isso. Por fervor religioso e gosto artístico, eu gostaria de imaginar bem no alto do pagode uma imagem da Imaculada Conceição, com uma lua, verdadeiramente elaborada com prata, aos pés, e esmagando a cabeça de uma serpente feita de jade.

Existe na França uma escola de equitação pertencente ao Exército, que é uma antiga fortaleza medieval, na cidade de Saumur, onde se fazem os exercícios militares.

Eu vi, numa iluminura medieval, uma pintura do Castelo de Saumur, completamente diferente do que é hoje. Tinha uma grande quantidade de torres, e no alto de cada uma figurava uma flor de lis, formando uma espécie de jogo de campanários imaginários, que é uma das coisas mais belas que eu tenha visto na minha vida!

O mais bonito está no seguinte: parece que o Castelo de Saumur nunca foi como esse artista o pintou. O pintor viu o Castelo e imaginou um outro que não existia, mas que correspondia ao maravilhoso que desprendia de seu espírito, a partir daquilo que ele tinha visto!

Se tomássemos essa tendência para o maravilhoso — que a educação moderna comprime o quanto pode, sob a alegação de que não é prático, é fantasia, etc. — e a desenvolvêssemos, cresceria muito em nós o nível intelectual e até mesmo o moral.

O maravilhoso irreal é a ponta da realidade

A meu ver, foi esse desejo do maravilhoso que criou os vitrais. Porque os vitrais apresentam, o tempo inteiro, as coisas com as cores que elas não têm. E isto faz propriamente a beleza do vitral. O artista imaginou um maravilhoso irreal que não é uma mentira, mas a ponta da realidade, e por causa disso os vitrais são maravilhosos; ele imaginou cores de vidros, reflexos, lampejos e, afinal de contas, chegou a um verde, a um vermelho ideal, que nos deixa encantados. Isso porque ele possuía uma alma fecunda em maravilhoso.

Estamos acostumados a ouvir uma comparação exata, mas que a repetição tornou banal: quem entra numa igreja e vê o sol incidindo no vitral, projetando suas mais variadas cores no chão, é levado a dizer que o pavimento encheu-se de pedras preciosas. Realmente, aquelas cores são como que pedras preciosas que ficam pelo chão. Portanto, quem elaborou o vitral pintou a cena com uma atmosfera de pedra preciosa que a realidade não tem.

Ora, o critério hoje em dia é o seguinte: “Se você quer conhecer algo, faça um inquérito, analise sua substância química, a quantidade, a qualidade, e só então o conhecerá.”

Minha resposta seria: “É verdade. Mas enquanto você não vislumbrou o que a coisa poderia ser e não é, você não a conheceu inteiramente.” Essa análise científica é necessária, e deve-se reconhecer sua importância. Entretanto a incapacidade de imaginar alguma coisa acima daquilo é o desastre, pois torna os espíritos chatos, baixos e sem valor.

Uma coisa que toda a vida eu quis conhecer foi a aurora boreal. Porque, pelas descrições que me têm sido feitas, ela representa um céu irreal na aparência, uma fantasmagoria feita por Deus para o homem, como quem diz: “Meu filho, Eu fiz um céu muito bonito para você imaginar um ainda mais belo. Não é para você ficar sentado como um idiota, olhando para aquele firmamento. Imagine outro! E, sendo incapaz de imaginar, para ter ideia de como é isso veja fotografias de auroras boreais. Aí você tem algo mais alto; levante sua alma!”

Equilíbrio entre bom senso e desejo do maravilhoso

Olhando para o Santo Sudário — a respeito do qual não existe no meu espírito a menor dúvida de que é verdadeiro —, percebe-se que Nosso Senhor Jesus Cristo, nas suas condições normais, era um Homem-Deus maravilhoso, como nunca se poderia imaginar. E qualquer rei seria uma ninharia, em comparação com Ele se apresentando e falando.

Mesmo assim, Nosso Senhor, por assim dizer, treinou os Apóstolos para algo mais. Na Transfiguração, no alto do Tabor, Ele não se adornou com elementos externos. O Redentor fez aparecer uma beleza maior, que havia no fundo d’Ele pela natureza divina. E ali apareceu multiplicado por Ele mesmo, produzindo nos Apóstolos o efeito que conhecemos. Quer dizer, mesmo na maravilha das maravilhas, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, a graça filtrando faz aparecer uma maravilha ainda maior, inerente a Ele, mas que era sua Transfiguração, a figura multiplicada pela figura, ficando maravilhosa como ficou.

Esse é o sinal de que em todas as coisas devemos procurar seu “trans-aspecto”, com o qual verdadeiramente a nossa alma se forma, desde que tenha um bom senso robusto, porque do contrário isso conduz para o rodopio. Deve haver um equilíbrio entre o bom senso e o desejo da maravilha, que forma propriamente a força da alma humana. v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 9/8/1988)