O primeiro ato de amor

Não há maior sujeição nesta Terra do que a de uma criança à sua mãe no ventre materno. E, durante nove meses consecutivos, Nosso Senhor quis pertencer inteiramente a Nossa Senhora! Jesus, o esperado das nações, o Homem‑Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, quis sujeitar-se a Maria!

Sendo perfeitíssimo desde o primeiro instante, quando seu corpo começou a se constituir Nosso Senhor começou a pensar; começando a pensar, começou a orar e, conhecendo perfeitamente de que Mãe era Filho, Ele certamente disse a Ela uma palavra de amor. Pode‑se calcular qual foi essa primeira palavra de amor d’Ele para Nossa Senhora, e qual foi a resposta d’Ela, sentindo o carinho que Lhe vinha do Filho de Deus?

Que riqueza de alma era preciso ter para responder adequadamente a esse primeiro carinho! Que noção dos matizes! Que noção das situações! Que perfeita disponibilidade de alma para corresponder a tudo perfeitamente, e oferecer a Ele esta primícia incomparável: o primeiro ato de amor que o gênero humano Lhe oferecia!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/3/1984)

Inefável sorriso

O Divino Mestre nos convida a segui-Lo no caminho do Calvário, carregando nossa cruz. Caminho de lutas, de deveres e trabalhos por amor a Deus. Porém, para o fazermos, cumpre que O sigamos passo a passo, pondo nossos pés onde Jesus pôs os d’Ele, ou seja, na mais estreita e íntima união com o Redentor.

E tal só alcançaremos se, ao longo desse caminho, para auxiliar a nossa fraqueza, consolar os nossos corações, sentirmos que sobre nós paira aquilo que há de mais doce no Céu e na Terra, depois da clemência do próprio Deus — o sorriso inefável de Maria Santíssima.

(Extraído de conferência em 11/4/1964)

O Maravilhoso Medieval e o milagre de Avignon

O homem medieval era ansioso, sôfrego de maravilhoso; seu espírito voltava-se continuamente para o maravilhoso, como toda pessoa que crê em Deus.

Aquele que acredita em Deus e tende para Ele, que é o Maravilhoso, o Perfeito, ama as coisas na medida em que elas exprimem o Criador. E quanto mais elas são excelentes e admiráveis, tanto mais espelham a Deus.

É concebível que nestas condições o espírito medieval tenha sido ansioso para representar o maravilhoso em tudo. Um exemplo foi o que ocorreu no século XV, na cidade de Avignon.

Todos sabem que a Santa Sé tinha o poder temporal sobre um enclave no território francês, que era o condado de Avignon, onde moraram vários Papas franceses, que não deixaram na História uma memória particularmente esplêndida, a não ser um deles que, se não me engano, morreu bem-aventurado1.

Nesse enclave produziu-se, no século XV, um milagre. Em si o milagre é uma coisa maravilhosa.

Recentemente li o caso admirável de uma pessoa que viveu durante quinze anos engessada; parece-me que todo o seu corpo estava metido dentro do gesso. Esteve duas vezes em Lourdes para pedir a cura, mas não a conseguiu. Foi uma terceira vez; entretanto ela estava tão coberta de gesso que não podiam mais colocar água sobre seu corpo. Então, para que se beneficiasse de algum modo dos efeitos milagrosos da água, foi injetada em suas veias água de Lourdes.

Pois ela curou-se instantaneamente. E o mais extraordinário é que, tendo sido retirado o gesso, dentro do qual passara quinze anos, essa senhora começou a andar. O que de si é uma coisa absolutamente inconcebível.

O milagre foi atestado, provado, porque ela se submetera a operações. De si, o fato é maravilhoso, no sentido de que ele representa uma manifestação da onipotência de Deus e que causa maravilha. Não é um fato artisticamente maravilhoso; ele não tem um pulchrum debaixo deste ponto de vista.

Recordaremos agora um milagre que tem um grande pulchrum artístico e veremos como Deus Nosso Senhor, na sua condescendência, satisfazia os anseios de alma do homem medieval. Quer dizer, Ele manifestava sua onipotência — como no milagre de Lourdes —, mas de um modo muito bonito, artístico.

Ao atender também ao aspecto artístico, Deus satisfazia a sede de maravilhoso, da qual Ele mesmo era o Autor no espírito do homem medieval.

Passo a ler a narração, extraída da “Vida dos Santos”, Bonne Presse, Paris:

A Confraria dos Penitentes Cinzas de Avignon, que teve por fundador Luís VIII, pai de São Luís, possui sua sede na capela da Santa Cruz, chamada de Pénitents Gris. O Santíssimo Sacramento está aí exposto – com certeza já não é mais assim; até há pouco tempo era – noite e dia, desde 14 de setembro de 1226.

Isto já é uma verdadeira maravilha. Há quase 750 anos que o Santíssimo Sacramento não saiu da capela desse lugar2. Sendo que naquele tempo a exposição permanente do Santíssimo Sacramento não era hábito na Igreja.

A cidade de Avignon está situada a algumas centenas de metros da confluência dos rios Ródano e Durence, e atravessada por um de seus confluentes, o Sorgue. Em 1433, as chuvas torrenciais fizeram transbordar os três rios que inundaram as partes baixas à margem do Sorgue. A inundação tomou tais proporções durante a noite que, na manhã seguinte, os superiores da Ordem, temendo que a água atingisse o trono onde estava exposto o Santíssimo Sacramento, tomaram uma canoa e foram até a capela. Qual não foi a sua surpresa quando, depois de aberta a porta, constataram que as águas, à semelhança das do Mar Vermelho e do Jordão, se mantinham à direita e à esquerda, elevadas como grandes paredes, deixando absolutamente livre e seca a passagem que conduzia ao altar.

Podemos imaginar que aspecto lindo o de uma capela cujas paredes eram feitas de água, mas nenhuma gota caía. O sulco por onde os religiosos deveriam passar estava completamente seco. E no fundo aquela majestade misteriosa, adorável, mas quão real, do Santíssimo Sacramento exposto.

Gostamos de supor — e tudo leva a crer que assim o foi — que esses bons religiosos, depois do espanto, fizeram profunda genuflexão e adoraram o Sacramento Santíssimo, em homenagem a Quem o milagre estupendo se realizava.

O prodígio lhes pareceu ainda maior quando, chegados ao altar que fica ao nível da capela sem degraus, viram em volta tudo igualmente seco. As águas se levantavam ao longo das paredes como verdadeiras tapeçarias, formando arcobotantes ao alto, como uma espécie de teto.

Que maravilha! Como Deus quis glorificar o Santíssimo Sacramento, mas atendendo ao movimento de alma do homem que vê no belo um reflexo do Altíssimo. Deus presente, mas inteiramente oculto, no Santíssimo Sacramento, e agindo de um modo sensível, manifestando-Se por semelhança, precisamente nas águas que subiam e davam certo vestígio do esplêndido e da beleza d’Ele.

Assim diz o antigo relato conservado nos arquivos da confraria.

Não é, portanto, uma lenda que se transmitiu de séculos em séculos, mas é um relato conservado nos arquivos da própria confraria.

Os dois frades, depois de terem adorado o Autor desse prodígio, se apressaram a comunicá-lo aos outros confrades. Vieram doze. E todos juntos foram chamar quatro frades menores da Ordem de São Francisco, dos quais três eram doutores em Teologia. A água se mantinha no meio do banco que fica ao longo do átrio da capela, de maneira a deixar uma parte inteiramente seca.

Para comemorar o milagre, celebra-se com solenidade, todos os anos, a festa em 30 de novembro, dia de Santo André. Pela manhã, todos os membros da confraria comungam, percorrendo de joelhos, até a mesa da comunhão, o caminho sagrado, conservado milagrosamente pelas águas. Às vésperas, o pregador relembra o milagre, e o cântico “Cantemus Dominum”, que foi entoado por Moisés depois da passagem do Mar Vermelho, precede a adoração e a bênção do Santíssimo.

Durante mais de quinhentos anos se conservou férvida e ardorosa a lembrança desse milagre. Quanta beleza existe no fato de que, em todo dia 30 de novembro, uma confraria — cujos membros, pelo menos em parte, presumivelmente descendem daqueles que viram o milagre —, formando uma longa procissão acompanhada pelo povo, entram naquela igreja para celebrar essa maravilha!

Podemos imaginar com que devoção eles adentram na capela, adoram o Santíssimo Sacramento e entoam o cântico de Moisés, lembrando que Deus fez em Avignon aquilo que realizou no Rio Jordão e no Mar Vermelho. São verdadeiras maravilhas de Deus.

Qual é a beleza especial que apresenta a continuidade dessa tradição? É a pulcritude da lição que nos dá, pois os benefícios de Deus devem ser lembrados. Nós não podemos deixar de agradecê-los sempre. Como através das gerações, durante cinco séculos, eles se lembraram disso, com a Fé e a gratidão que se transmitiram. E o que dá muito mais calor à comemoração é a tradição.

Imaginemos que fôssemos fazer agora uma procissão numa igreja para adorar o Santíssimo Sacramento, a fim de comemorar e ilustrar o que se passou em Avignon. Seria com muito menos vida do que o que fazem em Avignon, porque aquele é o lugar onde o milagre ocorreu, e onde durante quinhentos anos, ininterruptamente, o milagre vem sendo glorificado.

A tradição confere um sabor, um calor, uma vida especial a uma ação de graças certamente muito bonita, muito justa, mas que perderia alguma coisa se não fosse tão tradicional. Aprendamos dessa maneira a amar a tradição, e compreender como ela adorna as coisas de Deus e de Nossa Senhora.  v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 22/7/1975)

 

1) Santo Urbano V.

2) Lamentavelmente, em 1793, a Revolução Francesa causou a completa destruição da Capela da Santa Cruz. Mais tarde, uma nobre família promoveu a construção de uma nova capela. Concluída a construção, o Arcebispo de Avignon restaurou ali a Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento (Cf. Eucharistic Miracles and Eucharistic Phenomena in the Lives of Saints, Joan Carroll Cruz, Tan Books and Publishers, Rockford, Illinois, 1987, p. 144).

A realeza de Maria Santíssima

Em Fátima, com a promessa de triunfo do Imaculado Coração de Maria, começou a se delinear nas páginas da história a era em que a realeza de Maria deverá atingir todo seu fulgor.
Esmagando o demônio, príncipe deste mundo, com seu calcanhar puríssimo, Nossa Senhora reinará, triunfará!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 31/5/1965)

Maria, Medianeira da Graça

Maria Santíssima exerce um papel preponderante na santificação de uma alma. Com efeito, Ela é a medianeira através de Quem recebemos as graças..

Imaginemos uma cidade no Tirol, ao pé daquelas grandes montanhas, para as quais vão pessoas do mundo inteiro, a fim de praticarem alpinismo. Havia lá um moço impossibilitado de se mover. Porém, de manhã vinha à sua casa um médico que lhe dava um remédio misterioso, desconhecido por todos, sob a ação do qual ele se curava e subia as montanhas corajosamente. À noite, tendo voltado para sua residência, cessava o efeito do medicamento e o jovem voltava a ficar imóvel na cama.

Esse moço não poderia dizer: “Eu sou um grande alpinista!” Ele poderia, isto sim, dizer: “Meu médico e eu somos grandes alpinistas!” Pois, na realidade, ele atingia o pico dos montes porque colaborava com o remédio fornecido pelo médico. Do contrário, permaneceria na imobilidade. Jovens que chegavam ao alto das montanhas, havia muitos. Médico que dava ao paralítico o meio de subi-las, existia somente um. De maneira que a ação do médico foi o principal fator do ato, embora o moço também tenha exercido seu papel: suou, segurou-se nas cordas, correu o risco de se espatifar no chão, teve o mérito do alpinismo. Mas apenas começou a mover-se a partir do momento em que o médico lhe deu aquele remédio.

Suponhamos que certo dia o remédio atuou mais longamente, e o rapaz, regressando da montanha, descansou em sua casa e depois foi passear na cidade, vangloriando-se junto a seus companheiros. Em determinado momento, passou o médico que cumprimentou o jovem, o qual respondeu à saudação de modo desdenhoso. Perguntaram-lhe, então, seus amigos:

– Quem é aquele senhor?

– É um velhinho que conheço e, às vezes, de manhã me visita, respondeu o moço.

O médico não teria o direito de ficar indignado com o rapaz? Afinal, se ele não fosse no dia seguinte à casa do jovem, este permaneceria na horizontal! Então, aquela vaidade é nada. O médico é quase tudo nos feitos do moço.

Este conto não nos dá uma ideia inteiramente exata, mas sim próxima, da realidade; ajuda-nos a compreender alguns aspectos do problema da graça e, portanto, de sua ação em nós, ou seja, a virtude. Todo homem é completamente paralítico para a virtude. Porém, a partir do momento em que recebe a graça, ele se torna capaz de praticá-la.

Quando temos vontade de adquirir virtudes que julgamos não estarem ao nosso alcance, podemos dizer a Nossa Senhora: dai-nos. A devoção à Santíssima Virgem é fundamental elemento de nossa vida espiritual; aquilo que Lhe pedimos, Ela nos obtém.

É claro ser necessária a nossa cooperação, pois Deus, que nos criou sem nosso auxílio, não nos salvará sem nossa colaboração. Embora indispensável, essa cooperação é secundária. O principal fator de nossa salvação é a atuação da graça em nós, a qual recebemos por meio de Nossa Senhora, Rainha e dispensadora de todos os dons divinos.

Quando Nossa Senhora nos concede a graça, somos como o jovem cheio de disposição para subir as montanhas, mas se não a pedirmos, ficamos estendidos na cama, paralisados. Esse é o papel da Santíssima Virgem em nossa santificação.  

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 5/5/73)

Decisão, perseverança e reflexão

Em Santa Teresa de Jesus vemos qualidades suavemente justapostas, com algo de harmonicamente dissonante entre a ação e a contemplação, altivez e misericórdia, determinação e bondade, que denotam e constituem uma imensa personalidade. Realmente, ela foi uma das maiores figuras femininas de toda a História. Tão extraordinária que mereceu ser proclamada Doutora da Igreja.

Seu olhar e seu semblante parecem dizer: “Eu só tenho Aquele a Quem admiro, e não temo absolutamente ninguém ou nada que me possa acontecer, porque Ele é tudo e vence tudo”. É a própria expressão da decisão, perseverança e reflexão.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 22/7/1975 e 6/6/1980)

Perfume supremamente puro

Ó minha Senhora e minha Mãe, vede-me a vossos pés, tentado pelo pecado que mais imediatamente contrasta com vossa excelsa pureza.

Vós que amastes tanto a virgindade que, por amor a ela, chegastes a alegá-la ao celeste Arcanjo que vos anunciava a honra inefável da maternidade divina; Vós cuja virgindade foi tão amada por Deus, que o Espírito Santo praticou o milagre indizivelmente sublime de a preservar; Vós cuja virgindade é o perfume sacral que tem inspirado todas as almas castas ao longo dos séculos, e as inspirará até o fim dos tempos; tende maternal compaixão deste filho e escravo que se debate nas seduções horrendas da impureza.

Dai-me uma repulsa enérgica contra a tentação. Afastai de mim o demônio e as más ocasiões. Enchei minha alma de um intenso e intransigente amor à pureza; tornai-a repleta do perfume supremamente puro de vossa castidade.

Imaculado e Sapiencial Coração de Maria, compadecei-vos e rogai por mim!

Plinio Corrêa de Oliveira

Stella Matutina

A estrela da manhã aparece no período incerto, entre a noite ainda existente e o dia que timidamente vai nascendo. Simboliza a época em que vivemos, onde imperam as trevas da Revolução, porém já se pressente o triunfo do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, prometido por Nossa Senhora em Fátima.

Portanto, a Maria enquanto “Stella matutina”, a Estrela que nos anuncia como iminente a aurora de seu reino, devemos recorrer nas dificuldades referentes à causa contra-revolucionária, em nosso apostolado e em todas as ocasiões nas quais a piedade nos sugira essa invocação.

Ó Estrela da manhã, Vós fostes durante a noite da espera a nossa luz e a promessa do alvorecer; fazei com que desponte quanto antes o dia de vosso Reino!

(Extraído de conferências de 29/11/1991 e 1/12/1991)

Oração: Nossa Senhora Aparecida, glória, alegria e honra do nosso povo

Ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças e, mais do que todas, concedei-nos a graça das graças: Ó Mãe, uni intimamente a Vós este vosso Brasil!

Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes. Tornai sempre mais largo e misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.

Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.

Fazei-nos sempre mais fortes na luta por Cristo-Rei, Filho vosso e Senhor nosso. De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para Lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina do cêntuplo nesta Terra e da bem-aventurança eterna.

Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece? Onde encontrá-las senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superiora a qualquer louvor humano? De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito palavras que amorosamente aqui repetimos: “Tu gloria Ierusalem, tu lætitia Israel, tu honorificentia populi nostri” (Jt 15, 10).

Sois Vós a glória, a alegria, a honra deste povo que Vos ama!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído do Jornal “Última Hora” de 12/10/1983)

Com Nossa Senhora não se brinca

Há certos temas que nos são tão familiares e caros ao coração que se tornaram objeto de inúmeros comentários de nossa parte. Porém, não poderíamos deixar passar o dia 13 de outubro sem determos um instante nossa atenção no assunto Fátima. Desta vez não vou comentar tanto a Mensagem quanto a atitude do mundo perante ela.

A Santíssima Virgem documenta a autenticidade de seu anúncio de dois modos. Em primeiro lugar, Ela a confia a pastorezinhos incapazes de compreender seu significado, limitando-se a repetir o que ouviram. Por vezes, discursos longos e complexos que eles transmitiam sem se contradizerem, mesmo submetidos a inquéritos policiais brutais.

De outro lado, Nossa Senhora produziu milagres que provavam à multidão ali reunida, e mesmo a gente de muito longe, que algo de sobrenatural se passara, como, por exemplo, a famosa “dança” do Sol. Tudo atestado por pessoas que moravam muito distante de Fátima.

Entretanto, chama a atenção no modo de o mundo receber a Mensagem de Fátima, não só a incredulidade de muitos à vista de episódios tão impressionantes, mas o fato de não se encontrar quem fizesse o seguinte comentário: tomada a Mensagem em si mesma, apenas pelo seu conteúdo, abstração feita de todos os prodígios que a cercaram, já havia todas as razões para admitir sua veracidade.

Quem conhecesse um pouco de Moral não podia duvidar que o mundo estava imerso num processo de pecados gravíssimos, cujo dinamismo permitia antever aonde levariam a humanidade.

Portanto, teologicamente falando, bastaria raciocinar um pouco para se ter a certeza de que, a não haver uma grande conversão, viria um castigo.

Assim, com um pouco de conhecimento da Teologia da História, ver-se-ia tratar-se de uma mensagem condizente com o que um homem de Fé, analista dos acontecimentos da época, dotado de alguma profundidade, deveria pensar.

Ora, as crianças transmitiram, assim, uma comunicação sábia e verdadeira em si mesma, de uma sabedoria e uma riqueza de conteúdo que excedia a capacidade delas. Logo, a mensagem é intrinsecamente verdadeira.

Em última análise, alguém que observasse o mundo daquele tempo à luz da Revolução e da Contra-Revolução distinguiria na Mensagem três aspectos: uma descrição teológica dos pecados daquele tempo, o anúncio de um castigo e a indicação dos meios de escapar deste, isto é, a penitência e a consagração ao Imaculado Coração de Maria.

A Porta da misericórdia é precisamente Nossa Senhora, chamada a Porta do Céu. Quer dizer, é ultra teológico que Ela tenha dito: “Cessem de pecar e recorram a Mim que obtenho a eliminação do castigo”. Nada mais razoável.

Contudo, a humanidade recebeu a Mensagem de Fátima com orgulho, quando ela exigia um ato de humildade, ou seja, que os homens reconhecessem: “Nós pecamos, andamos mal”. Exigia a emenda, o abandono da impiedade e da imoralidade na qual iam caindo. Por isso houve uma rejeição global em relação a essa Mensagem. Os resultados, vemos por toda parte.

Façamos um exame de consciência. Temos os olhos suficientemente abertos para a Mensagem de Fátima? Compreendamos que com Nossa Senhora não se brinca, e peçamos a Ela que tenha pena de nós(*).

Plinio Corrêa de Oliveira

* Excertos da conferência de 13/10/1970.