Verdadeiro vaso do Espírito Santo

Nosso Senhor cumulou a alma de São Lucas de graças muito especiais para ser o companheiro de São Paulo, redator de um dos Evangelhos e autor dos Atos dos Apóstolos.

Que qualidades morais precisa ter um homem para ser escolhido por São Paulo para seu companheiro de viagem! Alguém que, de um modo eminente, deve desdobrar as atividades apostólicas de São Paulo, figurar ao lado do Apóstolo das Gentes como o discípulo por excelência, aprovado pelo mestre e com quem este quer viajar.

Que dons deveria ter um homem para compreender tão bem a vida de Nosso Senhor, a ponto de coletar os dados necessários e escrevê-la como ele a redigiu no Evangelho!

E que dotes para merecer a glória e a honra de ser o único a escrever um livro inspirado e histórico a respeito do começo da vida da Igreja!

Podemos avaliar quão excelsos são esses dons, considerando que as qualidades do efeito estão na sua causa, e que o autor de um livro sempre vale mais do que sua obra.

Sendo o Divino Paráclito o autêntico Autor desses livros sagrados, isso supõe que São Lucas seja um verdadeiro vaso do Espírito Santo.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 18/10/1971)

Santa Margarida Maria

Algumas pinturas retratam as aparições do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque: Ele se dirige à vidente numa expressão de bondade, comprazimento e misericórdia insondáveis. Ela, por sua vez, naturalmente nimbada de enlevo e adoração.

Ah! Se pudéssemos ouvi-Lo manifestando aos homens o infinito amor de seu Coração Sagrado por nós! Se nos fosse dado conhecer o timbre de sua voz, ensinando como Divino Mestre: repassado de clareza, sabedoria, profundidade e horizontes extraordinários, ao lado de uma simplicidade desconcertante! Como gostaríamos de ali estar, ao lado de Santa Margarida Maria, adorando-O com todas as veras de nossa alma!

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Oração: Nossa Senhora Aparecida, glória, alegria e honra do nosso povo

Ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças e, mais do que todas, concedei-nos a graça das graças: Ó Mãe, uni intimamente a Vós este vosso Brasil!

Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes. Tornai sempre mais largo e misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.

Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.

Fazei-nos sempre mais fortes na luta por Cristo-Rei, Filho vosso e Senhor nosso. De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para Lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina do cêntuplo nesta Terra e da bem-aventurança eterna.

Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece? Onde encontrá-las senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superiora a qualquer louvor humano? De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito palavras que amorosamente aqui repetimos: “Tu gloria Ierusalem, tu lætitia Israel, tu honorificentia populi nostri” (Jt 15, 10).

Sois Vós a glória, a alegria, a honra deste povo que Vos ama!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído do Jornal “Última Hora” de 12/10/1983)

Uma devoção de luta

O Rosário confere à meditação da vida de Nosso Senhor a nota marial por excelência, tendo por detrás a grande verdade de Fé a qual devemos anelar, do fundo de nossa alma, que se torne um dogma: a Mediação Universal de Maria.

 

Dada a grandeza da festa do Santo Rosário, é importante dizermos uma palavra sobre esta devoção que consiste na meditação dos mistérios gaudiosos, dolorosos e gloriosos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo feita em três terços, cada qual com cinco mistérios.

A pessoa verdadeiramente piedosa reza pelo menos um terço por dia

Sem dúvida, é magnífico meditar a respeito dos mistérios da vida de Nosso Senhor. Ademais, os mistérios ali apontados, naquela enumeração, embora não sejam os únicos, estão muito bem concatenados e expostos, e podemos facilmente compreender o proveito que as almas têm com essa meditação.

Entretanto, devemos reconhecer que outros métodos de meditação dos mistérios da vida de Nosso Senhor existem na Igreja. Nós temos, por exemplo, a meditação feita segundo os Exercícios Espirituais de Santo Inácio. Essa técnica inaciana pode aplicar-se a cada um dos mistérios do Rosário. Existe outra devoção que medita os mistérios dolorosos magnificamente: a Via-Sacra.

Portanto, embora seja o Rosário uma devoção muito importante, considerado na sua última coerência ele não é senão uma outra apresentação de estilos de meditação e atos de piedade que a Santa Igreja, no seu empenho materno, multiplica de várias formas.

E, por causa disso, fica sem uma explicação muito clara a seguinte questão: Por que todos os inimigos da Igreja detestam tanto o Rosário? Detestam-no e combatem-no mais do que todas as devoções congêneres. Por que também, de outro lado, o Rosário é objeto de uma predileção especial dos verdadeiros filhos de Nossa Senhora e da Igreja, de maneira que tenham eles um grande apreço, não só ao método, mas a alguns imponderáveis ligados ao próprio objeto de piedade usado continuamente como uma espécie de garantia de bênção, de favor de Nossa Senhora, a ponto de, por exemplo, não se conceber uma pessoa verdadeiramente piedosa que não tenha sempre consigo seu terço e que não reze pelo menos um terço por dia? E não se concebe um membro do nosso Movimento que não reze o Santo Rosário, isto é, os três terços todos os dias; ou que, não o podendo fazer por justas razões, não tenha por isso um grande pesar e uma viva esperança de retornar a rezar o Rosário.

Uma das belezas da Igreja Católica

São numerosas as Ordens Religiosas que usam o Rosário como elemento integrante de seu hábito. É generalizado o costume de enterrar os defuntos com um Rosário entrelaçado nas mãos. Ou seja, para esperar a ressurreição dos mortos, o verdadeiro católico não se contenta em ir para a sepultura com um crucifixo, mas vai também com o Santo Rosário. As indulgências com as quais os Papas cobriram o Rosário são sem-número. A invocação de Nossa Senhora do Rosário é generalizadíssima: catedrais, dioceses, famílias religiosas, pessoas usando o nome “Rosário” em várias nações.

De todos os lados o Rosário goza de uma influência, de uma aceitação da parte dos bons comparável apenas ao ódio que experimenta da parte dos maus. Há vários fatos que narram como o demônio, procurando atormentar esta ou aquela alma, recua quando a pessoa atormentada acena para ele com o Rosário. Todo mundo que tem mau espírito odeia o Rosário, subestima-o ou diretamente o combate. Por exemplo, os jansenistas o odiavam, os protestantes o odeiam.

Poderíamos, então, nos perguntar a razão dessa glória tão especial do Rosário para a qual, afinal de contas, não encontramos um fundamento quando analisamos a última substância do Rosário, que é a meditação dos mistérios da vida e Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Parece-me que, de início, devemos reconhecer ser esta uma das belezas da Igreja Católica. Sendo ela enormemente precisa no seu pensamento teológico, é, entretanto, cheia de imponderáveis, os quais, por alguns aspectos, constituem o suco da devoção.

Mediação Universal de Maria Santíssima

Tomemos como exemplo a devoção admirável da Via-Sacra. Nela se encontra algo da ternura de São Francisco de Assis, e seus imponderáveis convidam a uma meditação enternecida, comovida da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua morte sacratíssima, de um modo especial. Há um espírito que flutua em torno da Via-Sacra que constitui, talvez, o melhor de sua eficácia. É uma graça específica ligada a essa forma de devoção.

Também os Exercícios Espirituais de Santo Inácio são um modo não propriamente de devoção, mas de meditação que traz consigo uma graça especial de lógica, de energia, de honestidade de consciência e de generosidade ao pôr-se o fiel diante dos problemas relacionados com sua salvação eterna.

No Rosário, a grande fonte de inspiração de nossa meditação e o alvo imediato de nossa oração é a Santíssima Virgem. A meu ver, é por causa dessa focalização muito especial de Nossa Senhora que o Rosário constitui a devoção marial por excelência, tendo por detrás a grande verdade de Fé que devemos anelar do fundo de nossa alma que se torne um dogma: a Mediação Universal de Maria.

O sistema de rezar o Rosário apelando para Nossa Senhora em tudo, rezando Ave-Marias enquanto se considera algum episódio, ora relacionando a oração com aquele fato, ora concentrando o principal da atenção no mistério, ora na Ave-Maria, em todo caso, sempre numa união contínua com Nossa Senhora, eis o caráter marial que, a meu ver, constitui o suco do Rosário, pois esta devoção não teria sentido se a Mediação Universal de Maria não fosse verdadeira.

Por representar um prelúdio de toda a teologia de São Luís Maria Grignion de Montfort, da verdade de Fé referente à Mediação Universal, o Rosário é tão odiado pelo demônio. E é por causa desse imponderável que nós nos devemos agarrar muito ao Rosário.

Em suma, por causa da nota marial que o Rosário confere à meditação da vida de Nosso Senhor, é um sinal de predileção de Nossa Senhora o fato de alguém ter uma devoção especial ao Santo Rosário. Também é um sinal de que Ela ama alguém o fato de, através do Rosário, levar a alma a amar uma posição que só se justifica em face da Mediação Universal. Portanto, o Rosário é o verdadeiro símbolo da devoção do fiel a Nossa Senhora, daquele que quer pertencer a Ela plenamente.

Que Nossa Senhora faça de nós lutadores inteiramente d’Ela

Isso se confirma pelo ódio do demônio e dos maus a essa devoção. Por vezes eles são mais perspicazes do que os bons; e quando odeiam muito algo, nós já podemos ter a certeza de que aquilo é muito bom.

A razão pela qual, ao decorarmos nossa sede principal, colocamos na porta da capela um Rosário pendente de uma espada, é para chamar a atenção para duas verdades ou dois pensamentos que devem marcar quem ali entra: antes de tudo, a fidelidade ao Rosário e, através dele, a essa devoção omnímoda a Nossa Senhora, que é, afinal de contas, a da Mediação Universal. Depois, a espada que nos lembra o espírito de luta.

Não é por mero enfeite que aquilo está lá, mas foi colocado de propósito, daquele jeito, para chamar a atenção daqueles que entram e marcar como um prefácio, preparando por uma espécie de golpe na mentalidade de quem entra o espírito com o qual deve-se estar dentro daquela capela. Esse simbolismo é um estímulo contínuo que nós quereríamos dar para que, cada vez mais, praticássemos a devoção ao Santo Rosário.

Fica, então, este pensamento para nos lembrar de que o Rosário é uma devoção de luta e nós estamos numa época de batalhas. Peçamos, pois, a Nossa Senhora que faça de nós autênticos lutadores inteiramente d’Ela. Não conheço melhor pedido para ser feito através do Santo Rosário. v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 6/10/1966)
Revista Dr Plinio 259 (Outubro de 2019)

Feudo da Rainha do Céu

É um fato curioso e edificante na vida da Igreja que, sendo esta depositária das verdades teológicas as mais altas e complexas, a massa dos fiéis, entretanto, servida por uma especial acuidade de visão, penetra e vive essas verdades ainda mesmo quando seu nível cultural pareceria vedar-lhe o acesso a qualquer atividade intelectual de ordem superior. Em tudo que se relaciona com a devoção a Nossa Senhora, esta observação se comprova com toda a clareza.

Com efeito, a doutrina marial e a devoção à Virgem Maria têm crescido constantemente, desenvolvendo-se, porém, não à moda de hipérboles afetivas e meramente literárias, mas como uma torre de raciocínios, firme como o granito, à qual cada geração de teólogos acrescenta mais alguns andares solidamente esteados no esforço diligente desenvolvido pela razão a fim de descobrir todo o alcance e extensão das verdades reveladas.

Entretanto, é tocante observar como a piedade popular, ignorando muitas vezes os argumentos da Teologia sagrada e deixando-se guiar em grande parte pela finura de sua sensibilidade, desce até  o âmago profundo das verdades teológicas ensinadas pela Igreja e sabe vivê-las com uma autenticidade de convicções e sentimentos que não se poderia explicar sem a ação do Espírito Santo.

Não há um povo que não tenha ao menos um grande Santuário nacional erigido em honra de Maria Santíssima, no qual a Rainha do Céu faça chover sobre os homens, com abundância, as graças  espirituais e temporais.

A Igreja nunca mandou que cada povo erigisse um Santuário nacional particularmente dedicado à Santíssima Virgem, mas se limitou a definir as verdades mariais. Na maioria dos casos, a piedade entusiástica dos fiéis tem seguido seu curso, a ponto de se poder sustentar que quase todas as festas de Nossa Senhora e as formas de piedade com que Ela é honrada nasceram na massa dos fiéis espontaneamente ou por meio de revelações particulares, sendo posteriormente sancionadas pela Igreja.

Isto porque a piedade popular sente viva e profundamente que Nossa Senhora é, na realidade, a Mãe de todos os homens, e especialmente dos que vivem no aprisco da Igreja de Deus. E sente, ainda, que a mediação d’Ela é a porta segura para se ter acesso junto ao trono do Criador.

Fazendo estas reflexões, lembro-me de Aparecida do Norte e das impressões profundas que tenho colhido sempre que ali vou rezar aos pés da Padroeira.

Onde, no Brasil inteiro, um lugar para o qual, com tanta e tão invencível constância, se voltam os olhos de todos os brasileiros?

Quem, ao ouvir falar em Nossa Senhora Aparecida, pode não se lembrar das súplicas abrasadoras de mães que rezam por seus filhos doentes; de famílias que choram, no desamparo e na miséria, o bem-estar perdido e se voltam para o trono da Rainha da clemência; de lares trincados pela infidelidade; de corações ulcerados pelo abandono e pela incompreensão; de almas que vagueiam pelo reino do erro à procura do esplendor meridiano da  Verdade; de espíritos transviados pelas veredas do vício que procuram, entre prantos, o Caminho; de almas mortas para a vida da graça e que querem encontrar, nas trevas de seu desamparo, as fontes de uma nova Vida?

Onde se pode sentir de modo mais vivo o calor ardente das súplicas lancinantes e a alegria magnífica das ações de graças triunfais?

Onde, com mais precisão, se pode auscultar o coração brasileiro que chora, que sofre, que implora, que vence pela prece, que se rejubila e que agradece, do que na Aparecida?

E sobretudo, onde é mais visível a ação de Deus na constante distribuição das graças, do que na vila feliz, que a Providência constituiu feudo da Rainha do Céu?

Plinio Corrêa de Oliveira

(“Pro Maria fiant maxima”, Legionário, N.º 379, 17 de dezembro de 1939)

 

O Rosário

Se algum apóstolo quiser saber como será julgada sua vida no tribunal do Eterno Juiz, não indague tanto dos caminhos que palmilhou, ou das gotas de suor que de sua fronte gotejaram. Indague, sim, das horas passadas de rosário em punho aos pés do Tabernáculo.

Plinio Corrêa de Oliveira

Nossa Senhora do Rosário, uma festa de glória!

Uma das linhas mestras da piedade de Dr. Plinio era promover a glória da Santa Mãe de Deus. Por ocasião da comemoração da festa de Nossa Senhora do Rosário, Dr. Plinio manifesta um de seus mais entranhados desejos.

 

Nós devemos festejar a data que a Igreja dedica a Nossa Senhora do Rosário com um empenho especial pela simples razão de que o Rosário é um dos símbolos mais característicos da piedade cristã. Houve tempos em que ele pendia dos hábitos de quase todos os religiosos, ele estava no bolso de todas as pessoas católicas, inúmeras eram as pessoas que eram enterradas com ele nas mãos. Quando se queria simbolizar a piedade, este símbolo era o Rosário.

De maneira que nós devemos olhar para esta festa do Rosário cheios de esperança, e pedir a Nossa Senhora, que ajudou aos cristãos vencerem a Batalha de Lepanto, que nos conceda a graça da vinda do Reino d’Ela, que será também o Reino do Rosário.

Eu já afirmei isso, e volto a fazê-lo: se o nosso Movimento parasse de rezar o Rosário, ele não durava três meses. Eu me pergunto se, na decadência dos dias atuais, ele duraria três dias! Porque para se deixar de rezar o Rosário, tanta coisa teria caído antes, e tanta coisa cairia logo depois, que eu acho que três dias era o máximo para ele se desfazer. Não percamos isto de vista. É a Nossa Senhora, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário, a quem nós devemos tudo.

E assim como dizemos “Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto, sicut erat in principio et nunc et semper…”, talvez pudéssemos afirmar “Glória a Nossa Senhora, como era no princípio, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém”, desde que pela expressão  “no princípio” não entendêssemos que Maria Santíssima é a criadora de todas as coisas — o que seria uma aberração —, mas que desde todo o sempre Ela foi a obra-prima da Criação, e estava presente na mente de Deus, que intencionou criá-La para ser, logo abaixo da humanidade santíssima de Jesus Cristo, a maior de todas as perfeições por Ele realizada.

Essa noção da glória de Nossa Senhora, que se traduz nas homenagens que fazemos a Ela, é reflexo do que nós trazemos dentro da alma. E essa glória de Nossa Senhora nós a queremos realizada agora e no Reino de Maria!

A verdadeira glória de Maria

O que é glória?

São Tomás de Aquino define a glória como o efeito que se volta para sua causa e a louva. Então o movimento pelo qual os filhos se voltam para seus pais, os alunos para seus mestres, os súditos para seus governantes e os louvam, os homens — sobretudo — se voltam para Deus e O louvam; todo esse movimento é de glória. Há nisto algo de circular. É o louvor perfeito dado por aquele que deve gratidão perfeita, tributo perfeito, àquele que está na origem, ou da vida terrena, do talento, ou da cultura, das ações acertadas etc., e sobretudo a Deus Nosso Senhor que está na origem de todas as coisas, é a Causa das causas.

Esse conceito de glória nós o verificamos a respeito de Nossa Senhora da seguinte maneira:

A Virgem Santíssima é Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, e, enquanto Mãe d’Ele, é Mãe do Corpo Místico de Cristo. Por meio d’Ela todas as graças vem aos homens, e todas as orações sobem até Deus. Evidentemente, Ela está, portanto, logo abaixo de Deus, e por desígnio de Deus, no ponto de partida de todas as coisas. E a glória d’Ela será completa quando todos os homens se voltem para Ela e A louvem.

Mas esse louvor não pode ser apenas um cântico da grandeza e da bondade de Nossa Senhora. Tem de ser também o reconhecimento efetivo desta grandeza e desta bondade, o qual se traduz nos atos. Quer dizer, louva Maria Santíssima quem vive de acordo com as virtudes das quais Ela deu exemplo, e pratica essas virtudes com o intuito de honrá-La.

Louva Nossa Senhora, portanto, quem vive conforme as virtudes que a Igreja Católica inculca, porque a Mãe de Deus possui e praticou no mais alto grau todas as virtudes que a Igreja Católica ensina. A Virgem Maria era uma espécie de representação viva da Igreja Católica.

Uma pessoa que olhasse para Nossa Senhora teria, num só golpe de vista, a noção de toda a sabedoria, de toda a continuidade da Igreja, do esplendor de todos os seus santos, do talento dos seus doutores, da beleza de sua liturgia em todas as épocas, do heroísmo de todos os cruzados e de todos os mártires. Enfim, não houve coisa bela que a Igreja tivesse engendrado, e por onde manifestasse o seu espírito, que não brilhasse em Maria Santíssima completamente e com fulgor extraordinário.

Nós, portanto, louvamos a Nossa Senhora, sendo, vivendo e fazendo como a Igreja Católica manda. E exatamente o que fazemos agora, se fará continuamente no Reino de Maria.

Como fazer a vontade de Nossa Senhora?

Como fazemos isto agora? Pode-se dizer que a Igreja se divide em três partes: a Igreja Gloriosa que está no Céu, a Igreja Padecente, no Purgatório e a Igreja Militante, na Terra. Enquanto a Igreja estiver na Terra, ela será militante, lutará. Então os pensamentos da Santíssima Virgem para nosso século não podem deixar de ser pensamentos de luta.

Lembro-me de uma linda escultura gótica que representa Nossa Senhora com um manto todo cheio de dobras e com uma espada na mão, investindo contra o demônio. É esta a tarefa de Maria Santíssima em nossa época.

Alguém dirá: “Mas Nossa Senhora é Mãe, Ela é apresentada na Igreja e nos templos sob o aspecto da misericórdia!”

É verdade. Esta Mãe de misericórdia olha com bondade para a Terra, mas observem os pés d’Ela: esmagam a cabeça da serpente! Quer dizer, é uma luta que só cessará no fim do mundo, quando os demônios que pairam nos ares forem atirados no Inferno, e todos os homens receberem o seu julgamento solene e final, e com isso se terá feito completamente a justiça.

Portanto, se a Virgem Maria se encontrasse, nesta Terra, de maneira visível, estaria estimulando a todos nós à dedicação pela causa d’Ela. Por isso, lutando por Nossa Senhora, estamos fazendo a vontade d’Ela.

E uma das melhores provas de que alguém tem de estar fazendo a vontade da Santíssima Virgem, consiste em ser combatido pelos inimigos d’Ela. Se é verdade que um homem se define por seus amigos, acho que é muito mais verdade que ele se define por seus inimigos. Aquela expressão clássica: “Diga-me com quem andas que te direi quem és”, eu gostaria de completá-la com esta outra: “Diga-me quem te odeia que te direi quem és”.

Porque, com o homem bom, os ruins não erram. E se todos os ruins detestam um homem, este não pode ser ruim, tem que ser bom.

Os maus vivem divididos entre si, e só se coligam contra o bem e contra o bom. De maneira que quando se veem todos os maus cessarem as rixas entre si e se voltarem contra um, este um é necessariamente um bom, porque ele é o denominador comum contra o qual todos os outros se conciliaram e se ergueram. Por exemplo, vemos Anás, Caifás, Herodes e Pilatos apaziguarem as lutas que tinham na pequena Judeia e se ligarem para matar a Nosso Senhor.

Esplendor de Nossa Senhora

Nós tratamos da glória. Mas como será o esplendor de Nossa Senhora?

Na Idade Média, a devoção por excelência, embora não empregassem esta fórmula, era Cristo Rei. Nosso Senhor era cultuado como o grande triunfador. As catedrais do auge daquela época histórica tinham um ar de triunfo magnífico. Eram majestosas, solenes, se levantavam ao céu com uma tranquilidade de quem se sente dono do céu e da Terra. Suas torres davam a impressão de tocar nas nuvens, e seus fundamentos de descer até o centro da Terra.

Tinha-se a ideia de que elas dominavam todo o universo. Os vitrais, triunfantes, exprimiam em geral a glória de Cristo que venceu a morte, por quem os mártires venceram as perseguições, os cruzados lutaram; de Cristo por cuja virtude a civilização se erguia, com esplendor nunca igualado, das entranhas de um mundo onde havia o paganismo, o bárbaro e uma latinidade católica sumamente decadente e tíbia. Nosso Senhor Jesus Cristo aparecia como um Pantocrator, sentado sobre um arco-íris e ensinando a toda a Terra.

Daí também o som triunfal dos sinos das catedrais, dos grandes órgãos tocando em todos os seus registros, os grandes cânticos de triunfos da liturgia, as grandes procissões públicas. A Igreja desenvolveu durante o período final do apogeu da Idade Média, em toda a sua plenitude, a sua grandeza e o senso de sua soberania.

Que beleza seria contemplarmos a Idade Média! Sinos começam a tocar diante de um povo que, ao ouvi-los, cessa de trabalhar e começa a fluir para a catedral. Abrem-se os portais enormes. Nobres, corporações, povos esparsos da cidade vão chegando e entram de Rosário na mão. Uns rezando em grupos, outros isoladamente, em voz baixa. Em determinado momento, tudo se estaca e entra o cortejo dos clérigos: um Bispo com sua mitra, seu báculo, tendo à sua frente todo um clero de mãos postas e que salmodia em latim.

Quando o Bispo, revestido de trajes esplêndidos, transpõe o portal da catedral, ele encontra o povo genuflexo. Alguém lhe oferece água benta, ele se benze, toma o hissope e começa a abençoar a todos. O órgão toca, pelos vitrais entra a luz do Sol, o incenso começa a subir. O povo não cabe em si de alegria e põe-se a cantar também, louvando Jesus Cristo, Nossa Senhora, os Apóstolos, a Santa Igreja Católica!

Pois bem. Isto é tão maravilhoso, mas eu digo que é um prenúncio de uma coisa incomparavelmente maior que virá!

A glória do Reino de Maria

Nós teremos catedrais mais belas, mais sacrais, mais esplêndidas do que Notre-Dame, talvez até instrumentos de música que superarão os órgãos e todos os instrumentos anteriores, uma liturgia cuja santidade vai brilhar de um modo mais refulgente que a liturgia anterior, a qual é, entretanto, tão santa e admirável, que se tem vontade de oscular cada uma de suas letras.

Enfim, haverá todo um conjunto de pompas e esplendores que vão simbolizar um domínio radioso e muito mais glorioso de Deus sobre a Terra. E tudo quanto a Igreja tem ensinado ao longo dos séculos, a respeito de Maria Santíssima, vai ser posto na liturgia de um modo muito mais evidente, mais marcante. De maneira que de ponta a ponta, na liturgia, estará presente o princípio da Mediação universal de Nossa Senhora, ensinado por São Luís Grignion de Montfort.

Nossa Senhora será como a lâmpada colocada no mais alto dos candelabros, logo aos pés da imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo, junto ao Santíssimo Sacramento. E nessa esplêndida irrupção da glória de Maria veremos, então, a confirmação de todos os nossos desejos e aspirações.

Se alguém me perguntar: “Dr. Plinio, o senhor não poderia dar um pouco a ideia de como será a glória do Reino de Maria?”, eu digo: “Faltam-me completamente os talentos para isto”. Mas uma coisa todos nós sabemos: a figura dessa glória já começou a nascer no interior de nossas almas. Pela beleza do movimento de alma com que todos juntos desejamos esta glória para Nossa Senhora, pela pulcritude da esperança com que, pela graça de Maria Santíssima e apesar de nossas infidelidades, nós desde já pressentimos com foros de certeza como vai ser esta glória.

E na noite e na tempestade, e dentro do lodo, ver este sol de esperança que se levanta, é muito mais do que um simples lírio que nasce na noite e na tempestade; é um sol que fará cessar a tempestade e secará o lodo. A beleza das primeiras cintilações deste sol em algumas almas, que se conservam puras dentro deste lodo, contém na sua raiz toda a pulcritude da glória do Reino de Maria.

Uma meditação dos mistérios gloriosos do Rosário

Para marcar este dia de Nossa Senhora do Rosário, proponho rezar especialmente os mistérios gloriosos do Santíssimo Rosário em homenagem àquelas várias manifestações de glória de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora.

A Ressurreição de Nosso Senhor deve ter sido uma cena de uma majestade inimaginável! A sepultura parada, quieta, escura… De repente um anjo começa a remover a pedra e legiões angélicas entram no sepulcro e enchem-no de luz, e Nosso Senhor sai de dentro da sepultura com o seu Corpo glorioso. Quem pode ter ideia de como foi essa glória?

A Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo aos Céus: Ele, subindo lentamente e falando, até que sua voz não mais pudesse ser ouvida. Entretanto, cada vez mais resplendente, magnífico e bondoso, comunicando-Se pela irradiação de sua Pessoa mais do que quaisquer palavras. Maria Santíssima e todos os Apóstolos estavam olhando para o céu; os anjos aparecem e dizem: “Homens da Galileia, não temais! Aquele que subiu ao Céu etc”. Quem pode imaginar a beleza e a glória de uma coisa dessas?

Qual terá sido a glória da descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos? A coisa mais bonita que tenho visto em minha vida é uma alma se converter ou se santificar. Ver alguém que abandona um defeito e volta para uma qualidade que possuía; ou que regressa ao bom caminho que havia deixado; ou que adquire uma qualidade que ainda não tinha! Nada é mais bonito na Terra do que ver diretamente nas almas a santificação delas operada pelo Espírito Santo.

Alguém será capaz de imaginar o que foi ver o fogo do Divino Espírito Santo cair sobre Maria Santíssima e os Apóstolos? Nossa Senhora habitualmente tão sublime, esplendorosa de alma, de repente recebeu um grau de esplendor que não se imaginava existir.

E as pessoas, olhando a Nossa Senhora, tinham a impressão de estar vendo Nosso Senhor Jesus Cristo em figura feminina, mas, por fim, diriam: “Não, esta é a Mãe de Deus, a Mãe do Salvador!”, de tal maneira Nossa Senhora estava cheia do Espírito Santo. Isso é mais uma glória da qual não podemos fazer ideia.

Depois vem a glória delicadíssima, suavíssima, virginalíssima, maternalíssima de Nossa Senhora assunta ao Céu. Como deve ter sido o “luto” de toda a natureza com Nossa Senhora morta? Eu não posso imaginar! Mas depois, a alegria: Nossa Senhora que ressurge! Nossa Senhora que sai da sepultura! E depois é carregada pelos anjos, ressurrecta e que vai subindo!

Enquanto Nosso Senhor manifestava grandeza e bondade na sua Ascensão, Ela manifestava mais bondade do que grandeza. Um sorriso materno, e todos olham para Ela, conhecendo-A mais, compreendendo-A mais, e sendo cada vez mais atraídos por Ela, à medida que vai Se elevando ao Céu, até o momento em que Nossa Senhora desaparece. Mas uma claridade fica espalhada sobre tudo e sobre todos, como quem diz: “Eu, em realidade, fiquei. Rezai porque estarei sempre presente, unida a vós”.

E por fim a festa no Céu, que só os bem-aventurados daquele tempo assistiram: Maria Santíssima entrando no Paraíso, conduzida pelos anjos e sendo recebida por Nosso Senhor Jesus Cristo! Há alguém que possa pintar Nosso Senhor recebendo a Nossa Senhora?

A recompensa demasiadamente grande

Eu creio que só houve uma cena que pudesse dar ideia disso: a Virgem acolhendo Nosso Senhor durante a Via-Sacra. Toda a ternura e adoração d’Ela para com Ele, todo o amor filial, e ao mesmo tempo do Criador, de Jesus para com Ela se manifestaram ali, na dor, de modo admirável. E era preciso ter visto o olhar recíproco entre Eles. Houve algum diálogo, uma pergunta e uma resposta, uma coisa fugidia porque Ele era obrigado a continuar. Mas Nossa Senhora indo depois ao encalço de Nosso Senhor, a troca de olhares do alto da Cruz até o último olhar d’Ele que, com certeza, foi para Ela. E o supremo olhar d’Ela para Ele antes do “consummatum est”.

Era preciso ter visto assim as relações entre Eles para compreender o que foi o olhar com que Nosso Senhor, do alto do trono de sua glória, considerou-A no momento em que Ela entrou para o Céu!

Alguém conseguiria imaginar com que espécie de respeito Nosso Senhor Jesus Cristo — que é Deus! — coroou a Ela, que de corpo e alma estava presente no Céu? Essa glória ninguém consegue descrever, pois excede a tudo quanto se possa cogitar.

Se Nosso Senhor é para cada um de nós a nossa recompensa demasiadamente grande, de que tamanho terá sido a recompensa que Ele foi para Ela? Entretanto, Ele o foi para Nossa Senhora, pois Ele é infinito.

Essas glórias nós as devemos considerar, pedindo a Maria Santíssima que acelere o dia da glória d’Ela!

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 7/10 dos anos: 1970, 1971 e 1987)

 

São Francisco, cavaleiro de Cristo

Nas veredas de um mundo que caminhava incontroladamente atrás das riquezas, São Francisco de Assis foi o trovador que entoou o hino do desapego e da pobreza, da doação levada ao mais alto esplendor do amor de Deus e do desejo de se Lhe entregar.

Foi ele o santo da caridade e da bondade; o santo que, indo de encontro à Cruz, mereceu a glória de receber os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi, igualmente, o santo entusiasta dos ideais da cavalaria católica, toda voltada para o serviço da Igreja.

Numa palavra, o doce “poverello” de Assis foi talvez, a meu ver, a personalidade mais contagiante que tenha havido na Cristandade.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

São Francisco de Assis: Personalidade Rica e Marcante

Santo de uma personalidade tão rica e marcante, São Francisco de Assis parece vivo ainda hoje, resplendendo sua presença diante dos homens. Deixou-nos um dos maiores exemplos da verdadeira contemplação das perfeições divinas e do profundo amor a Deus. Ao considerar os peixes num simples regato, sabia colher desta cena uma aplicação concreta para a vida espiritual.

Dirigia-se ao “irmão sol” e à “irmã lua”, tecendo orações que elevam a alma à mais subida meditação das excelências de Deus, como quem afirma: “Ó Senhor, este universo criado, do qual faço parte, é grande e belo demais; porém, há algo infinitamente superior, que sois Vós!”

Daí a fabulosa densidade da religiosidade franciscana, que devemos imitar. Diria mais: sem esse espírito contemplativo, nenhuma religiosidade atinge sua plenitude.

Plinio Corrêa de Oliveira

Guerreiros na grande luta que se aproxima

Meu Santo Anjo da Guarda, sei que dentro dos planos divinos deveis, pelos desígnios de Nossa Senhora, exercer especial papel na realização de minha vocação. Vós, com todos os espíritos celestes, possuís uma missão altíssima na luta contra a Revolução. Dirijo-me a todos vós tendo presente a vinculação que estas circunstâncias estabelecem honrosamente de mim para convosco.

Em nome desse vínculo eu vos peço: Obtende da Rainha do Céu que vossa ação se intensifique e tome toda a magnitude proporcionada com minhas debilidades, infidelidades, fraquezas, com meu desejo de servir inteiramente a Causa da Igreja Católica e da Civilização Cristã.

Eu vos peço, portanto, que intervenhais quanto antes sobre as pessoas e os acontecimentos de maneira que, libertos da ação do demônio, a qual hoje atingiu um auge, possamos pertencer-vos inteiramente e ser vossos guerreiros na grande luta que se aproxima.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 4/12/1980)