Perfume supremamente puro

Ó minha Senhora e minha Mãe, vede-me a vossos pés, tentado pelo pecado que mais imediatamente contrasta com vossa excelsa pureza.

Vós que amastes tanto a virgindade que, por amor a ela, chegastes a alegá-la ao celeste Arcanjo que vos anunciava a honra inefável da maternidade divina; Vós cuja virgindade foi tão amada por Deus, que o Espírito Santo praticou o milagre indizivelmente sublime de a preservar; Vós cuja virgindade é o perfume sacral que tem inspirado todas as almas castas ao longo dos séculos, e as inspirará até o fim dos tempos; tende maternal compaixão deste filho e escravo que se debate nas seduções horrendas da impureza.

Dai-me uma repulsa enérgica contra a tentação. Afastai de mim o demônio e as más ocasiões. Enchei minha alma de um intenso e intransigente amor à pureza; tornai-a repleta do perfume supremamente puro de vossa castidade.

Imaculado e Sapiencial Coração de Maria, compadecei-vos e rogai por mim!

Plinio Corrêa de Oliveira

Stella Matutina

A estrela da manhã aparece no período incerto, entre a noite ainda existente e o dia que timidamente vai nascendo. Simboliza a época em que vivemos, onde imperam as trevas da Revolução, porém já se pressente o triunfo do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, prometido por Nossa Senhora em Fátima.

Portanto, a Maria enquanto “Stella matutina”, a Estrela que nos anuncia como iminente a aurora de seu reino, devemos recorrer nas dificuldades referentes à causa contra-revolucionária, em nosso apostolado e em todas as ocasiões nas quais a piedade nos sugira essa invocação.

Ó Estrela da manhã, Vós fostes durante a noite da espera a nossa luz e a promessa do alvorecer; fazei com que desponte quanto antes o dia de vosso Reino!

(Extraído de conferências de 29/11/1991 e 1/12/1991)

Da arquetipia ao sobrenatural

A obra-prima da inteligência dá-se quando ela chega ao píncaro de sua própria capacidade de arquetipizar. É uma forma de inteligência na qual o indivíduo vê, tão longe quanto ele possa, a perfeição das coisas. O homem sacral deseja sempre ir mais além, pois possui um espírito ascensional infatigável.

 

Quando o homem chega ao último ponto que a inteligência alcança, ao último impulso do senso do ser no desejo de arquetipia, onde ele atinge? E a que grau de arquetipia se prestam as coisas da natureza?

A obra-prima da inteligência: o píncaro da capacidade de arquetipizar

São, portanto, coisas diferentes: até que ponto eu, Plinio, levando adiante tanto quanto é possível em mim a arquetipia, há um limite além do qual eu, por minha natureza, não posso conceber a perfeição? Nesse limite eu paro. Eu acho até, diga-se de passagem, que o píncaro da inteligência é o píncaro da concepção da arquetipia.

No mais agudo sentido, a obra-prima da inteligência é quando ela chega ao píncaro de sua própria capacidade de arquetipizar. A obra criadora do homem não é o tirar uma coisa como que do nada e compor, mas é conceber, a partir do criado, a criatura em seu máximo grau de perfeição.

Quer dizer, é uma forma de inteligência na qual o indivíduo vê, tão longe quanto ele pode, a perfeição das coisas. No que entra a inteligência, entra o acréscimo que a vontade dá à inteligência. A vontade, cheia de amor pela arquetipia natural – estou falando da natureza –, tende e dilata as fronteiras de sua inteligência. Por outro lado, a coisa bem compreendida aumenta as fronteiras da vontade. Há um dueto entre a inteligência e a vontade a caminho da máxima perfeição. Quando chega ao último grau que o homem pode alcançar em matéria de arquetipia, ele atingiu a fronteira de si mesmo. Esse homem, se não fosse o sobrenatural, poderia cantar o Nunc dimittis1.

Quando eu deixar esta vida, queria apresentar-me a Deus e a Nossa Senhora tendo levado a minha possibilidade de arquetipizar tão longe quanto possível. Não gostaria de morrer antes de ter visto isto assim. Espero comparecer perante Deus com todo o grau de excelência que Ele, na ordem natural, possa ter querido para mim. Isto então é o píncaro da coisa vista em mim mesmo. E desejo também levar todos aqueles que me foram confiados aos respectivos píncaros. Nesse sentido, nossa vida é um convite contínuo para essa arquetipização.

Até onde algo pode ser arquetipizado?

Outra consideração a fazer seria: até que ponto a coisa, em si, se presta a ser arquetipizada? Ela tem uma fronteira e, objetivamente, não pode ser sublimada além de um certo limite.

Por exemplo, uma xícara. Eu seria capaz de imaginar a xícara ideal? Eu julgaria interessante organizar um museu com uma coleção de todas as xícaras que houve no mundo e que foram dignas de serem vistas… Como se visita um museu assim? É perguntando-se, antes de entrar, o seguinte: Como seria a xícara arquetipizada, perfeitíssima? Depois, outra pergunta que seria muito interessante: Para a xícara arquetípica, qual a colherzinha ideal?

De fato, este seria o epílogo da alma e o sentido da velhice de um homem de pensamento, quando, por exemplo, ele se aposenta, passa a tarde lendo jornal, conversando um pouco com um amigo, enfim, fazendo de tudo e nada, e dão a ele a oportunidade de arquetipizar o panorama geral da vida que teve. Isso, repito, é na ordem da natureza.

Eu gostaria, muito de passagem, de deixar assinalado esse conceito de inteligência. Não é compreender depressa, nem a fundo. É compreender no alto. Por exemplo, conheci alguém que não tinha a inteligência assim. Essa pessoa procurava sempre o prático, o concreto e o meticuloso. Ora, é preciso arquetipizar!

A arte popular é a atitude do camponês que arquetipiza o mundo dele. E não é fazer o mundo de um conde, é produzir a arte popular. Linda, esplêndida! A cidade de Rothenburg, por exemplo. Há museus para esse gênero de arte. Tudo que se chama artesanato tende a isso. Ninguém compreenderá a Idade Média se não tiver estas noções bem postas dentro da alma.

Outro exemplo: o indivíduo que inventou a ogiva vale mais do que Colombo que descobriu a América, nem há comparação. Não se sabe quem é, é um anônimo. Mas um homem que primeiro arquetipizou uma janela para daí sair a ogiva e partindo dessa coisa quadrada – aliás, a Renascença adorou a janela em ângulo reto – pensou na ogiva, é um gênio, um gigante. Eu gostaria de me ajoelhar diante dele, se ele foi um santo.

Outro ponto é a questão dos limites da arquetipização na própria coisa. Porque, por exemplo, não parece que se possa fazer de uma janela uma forma mais bonita do que uma ogiva. Neste gênero, a ogiva parece ter chegado ao fim do caminho. É mesmo ou haveria mais?

Da arquetipia à graça

Há uma coleção de arquetipias possíveis, mas somando, reunindo todas elas, fica uma figura vaga de algo que Deus não criou, que mais ou menos existirá, provavelmente no Céu Empíreo, e nos deixará inteiramente sem saber o que dizer.

Quando o homem chega a esse ponto, a sua alma não está satisfeita. Pelo contrário, ele localiza uma zona dela que estava na bruma, dormindo, e que era para ele, por causa disso, uma fonte de mal-estar medonho – porque a alma quando dorme cansa, e quando trabalha descansa –, algo por onde ele tendo arquetipizado tudo, chega à conclusão: “Está perfeito, mas há mais! Eu não me farto com isso. Eu alcancei tudo, e mais uma vez cheguei a um píncaro. Anseio por mais, entretanto, verifico que na natureza não há mais.”

Aí é a hora da graça. Porque nessa hora a alma conhece aquilo que ela desejava sem encontrar na ordem da natureza. Ela não sabia, mas ela varou a ordem da natureza à procura de algo mais alto do que a natureza pode dar. Esta coisa mais elevada é a graça.

Quando, então, a pessoa recebe uma graça, obtém qualquer coisa em que ela entende que seu papel está alterado: não é mais ela que vai à procura do píncaro, é o píncaro que vai se afundando dentro dela. É um píncaro voltado para baixo, que vai entrando nela. É a caminhada dela para subir para o píncaro que desce, à maneira da estalagmite e estalactite que tendem a se unir.

Neste caso é muito mais a receptividade do alto da estalagmite para encontrar a estalactite do que o contrário. Inicia-se uma via na qual, através da oração e do pedido incessante e humilde, a pessoa pede para receber aquilo que ela não pode puxar, que é a estalactite até embaixo, mas que ela pode atrair.

É interessante que quando a graça toca no homem, ela vai embebendo toda a “estalagmite”. A graça não é como no fenômeno natural – a estalagmite e a estalactite são consolidações do mesmo líquido que pinga –, ela é a ponta do dedo de Deus. A estalagmite miserável é a pontinha do dedinho do homem. São coisas completamente diferentes. A graça vai impregnando cada vez mais o homem. Tudo quanto ele viu antes sob o mero aspecto da natureza vai tomando para ele consonâncias sobrenaturais maravilhosas. Na ponta disso ele está pronto para o Céu.

Uma sublime preparação para a morte

Um de meus desejos com o que foi exposto é fazê-los compreender como devem ser, em nossa família de almas, os últimos anos da vida de um homem e o seu repouso final. Seria um deslumbramento contínuo – com as noites escuras, as cruzes e as dores – até a “toilette” final da alma, que é feita por Deus, como um rei mandaria enfeitar a sua noiva do modo como ele desejasse, para estar à altura de se casar com ele. O soberano daria as joias, os tecidos, as ideias, as diretrizes, e as mandaria cumprir. Assim também faz Deus com nossas almas.

Eu acho que isto é profundamente católico. Lamento muito que as preparações para a velhice e para a morte não se façam em função desse ponto de vista. Só essa perspectiva dá ao homem a resignação de envelhecer e a esperança de ressuscitar.

Em última análise, para resumir tudo numa palavra só, a perfeição natural prepara o conhecimento da transcendência e tende para ela. A transcendência é um abismo, um infinito, pois o seu objeto é Deus. Mas para lá tende o homem com toda a sua alma.

Sacralidade e sobrenatural

Agora, o que é a sacralidade? Há um estado da natureza vagamente análogo ao sobrenatural. Donde se pode dizer, por analogia, de uma coisa natural que ela tem algo de sacral. Um grandioso panorama pode dar a impressão de algo sacral. O termo “sacral”, em seu sentido próprio corresponde ao sobrenatural; no sentido analógico é uma excelência tão grande do natural que faz pensar no sobrenatural.

O homem sacral é aquele cuja mentalidade está toda impregnada desse conhecimento transcendente ao qual me referi acima, desse amor e dessa força ascendente rumo ao sobrenatural. Porque não basta ele imergir nas águas do sobrenatural, é preciso querer ir mais além. Este é o homem sacral, dotado de espírito ascensional infatigável.

O que é o homem sagrado? É quem recebeu um sacramento da Igreja que de modo particular o ligou com a ordem sobrenatural, deu-lhe poderes dentro dela e se apossou dele para fazê-lo um instrumento ministerial dessa ordem. E, portanto, ainda que não queira, ele tem na sua alma elementos pelos quais, tocando-se nele, toca-se no sobrenatural. Entretanto, esse homem poderá ter muito mais se ele se der inteiramente a essa transcendência.

A Igreja Católica é a sagrada fonte da sacralidade

A Igreja é de tal maneira sagrada, a tal ponto escachoa toda espécie de sacralidades, que ela é a fonte de todas as sacralidades. Ela é sacral em tão alto grau que a palavra “sacral” fica para ela meio apagada, e tendemos a dizer que ela é sagrada. Não porque ela não possua a sacralidade, nem por esta não lhe ser apropriada, mas porque é característico dela um estado tão eminente, que é, em certo sentido, um gênero maior na sacralidade.

A Igreja é então sagrada porque foi revestida de todos os dons sobrenaturais por Deus. Mas é sagrada também nisto: na ordem do sagrado, os dons a colocaram sumamente elevada e lhe deram o caráter de fonte, quase um papel parecido com o de Deus na Criação: a Igreja é, em certo sentido, o motor imóvel, o fim último. Como fonte, ela seria como que a criadora de todo sagrado existente na Terra, de maneira que pousando n’Ela o olhar, a pessoa conclui: “Cheguei a meu ponto, embora aí dentro ainda possa subir.” É o mais alto concebível. São os degraus por onde se chega ao Céu.

Por isso a palavra “sacral” torna-se um pouco, ou bastante, fraca para a Igreja, quase inadequada, como se dissesse: “Tal rei é bem-educado.” Estala a palavra. Embora o rei, de fato, seja bem-educado, não se pode compreender um rei mal-educado. Aliás, deve ser o modelo da boa educação.

Portanto, perguntar se o vocábulo “sacral” é um monopólio da ordem temporal, não é. Seria um monopólio da Igreja se esta não estalasse a palavra. Mas o termo convém inteiramente a ela. A Igreja é a sagrada fonte da sacralidade.

Sacralidade e ordem temporal

Pelo contrário, a sacralidade convém à ordem temporal como o seu mais alto adorno. Assim como se diz que a Igreja é a sagrada fonte da sacralidade, deve-se dizer que a ordem temporal é toda embebida de algo mais alto do que ela e reluz da vida sobrenatural da qual ela não é fonte, mas um receptáculo. Ela cintila e deflui, não como o alto da montanha onde nasce uma fonte, mas como as encostas por onde baixam as águas nascidas no píncaro. O alto da montanha é a Igreja. A ordem temporal é a parte mais alta em torno do cume, e de onde tudo defluiu para baixo. Daí o caráter sacral da ordem temporal.

Há dois modos de alguém se deixar penetrar pelo sacral. Um é a vocação de renunciar a tudo quanto é terreno, mas completamente, até o limite do inconcebível, para servir inteiramente a Deus. Então, renunciar até àquilo que é legítimo possuir. Outro é, pelo contrário, utilizar-se daquilo que Deus deu de um modo tão santo, que se santifique em alto grau no uso daquelas coisas.

Dois exemplos característicos seriam São Luís, Rei da França e São Francisco de Assis. São Francisco de Assis levou ao extremo os despojamentos da pobreza; São Luís, pelo contrário, foi santo num píncaro da ordem temporal. São vocações distintas.              v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 14/11/1986)
Revista Dr Plinio 259 (Outubro de 2019)

 

1) Referência ao Cântico de Simeão: “Deixai, agora, vosso servo ir em paz…” (Lc 2, 29-32).

 

Lágrimas, milagroso aviso

A “Folha de S. Paulo” de 21 de julho p.p. publicou recentemente uma fotografia procedente de Nova Orleans, na qual se via uma imagem de Nossa Senhora de Fátima a verter lágrimas. O documento despertou vivo interesse no público paulista. Penso, pois, que algumas informações sobre este assunto satisfarão os justos anelos de muitos leitores.

Não conheço melhor fonte sobre a matéria do que um artigo intitulado, muito americanamente, “As lágrimas da imagem molharam meu dedo”. Seu autor é o Pe. Elmo Romagosa. Publicou seu trabalho o “Clarion Herald” de 20 de julho p.p., semanário de Nova Orleans, e distribuído em onze paróquias do Estado de Louisiana.

Os antecedentes do fato são universalmente conhecidos. No ano de 1917, Lúcia, Jacinta e Francisco tiveram várias visões de Nossa Senhora em Fátima. A autenticidade dessas visões foi confirmada por vários prodígios no sol, atestados por toda uma multidão reunida enquanto a Virgem se manifestava às três crianças.

Em termos genéricos, Nossa Senhora incumbiu os pequenos pastores de comunicar ao mundo que estava profundamente desgostosa com a impiedade e a corrupção dos homens. Se estes não se emendassem, viria um terrível castigo, que faria desaparecer várias nações. A Rússia difundiria seus erros por toda parte. O Santo Padre teria muito que sofrer.

O castigo só seria obviado se os homens se convertessem, se fossem consagrados a Rússia e o mundo ao Imaculado Coração de Maria e se fizesse a comunhão reparadora do primeiro sábado de cada mês.

*    *    *

Isto posto, a pergunta que naturalmente salta ao espírito é se os pedidos foram atendidos.

Pio XII fez em 1942, uma consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria. A irmã Lúcia asseverou que ao ato faltaram algumas das características indicadas por Nossa Senhora. Não pretendo analisar aqui o complexo assunto. Registro apenas, de passagem, que é discutível se o primeiro pedido de Nossa Senhora foi atendido ou não.

Quanto ao segundo pedido, isto é, a conversão da humanidade, é tão óbvio que não foi atendido, que me dispenso de entrar em pormenores.

Como Nossa Senhora estabeleceu o atendimento de seus pedidos, como condição para que fossem desviados os flagelos apocalípticos por Ela previstos, está na lógica das coisas que baixe sobre a humanidade a cólera vingativa e purificadora de Deus, antes de vir a nós a conversão dos homens e a instauração do Reino de Maria.

*    *    *

Das três crianças de Fátima, a única sobrevivente é Lúcia, hoje religiosa carmelita em Coimbra. Sob a direção imediata desta última, um artista esculpiu duas imagens, que correspondem o quanto possível aos traços fisionômicos com que a Santíssima Virgem apareceu em Fátima. Ambas essas imagens, chamadas “peregrinas”, têm percorrido o mundo, conduzidas por sacerdotes e leigos. Uma delas foi levada recentemente a Nova Orleans. E ali verteu lágrimas.

O Pe. Romagosa, autor da crônica a que me referi, tinha ouvido falar dessas lacrimações pelo Pe. Joseph Breault, M. A. P., ao qual está confiada a condução da imagem. Entretanto, sentia ele funda relutância em admitir o milagre. Por isto, pediu ao outro sacerdote que o avisasse assim que o fenômeno começasse a se produzir.

O Pe. Breault, notando alguma umidade nos olhos da Virgem peregrina no dia 17 de julho, telefonou ao Pe. Romagosa, o qual acorreu junto à imagem às 21h30, trazendo fotógrafos e jornalistas. De fato, notaram todos alguma umidade nos olhos da imagem, que foi logo fotografada. O Pe. Romagosa passou então o dedo pela superfície úmida, e recolheu assim uma gota de líquido, que também foi fotografada. Segundo o Pe. Breault, esta era a 13a. lacrimação a que ele assistia.

As 6:15h da manhã seguinte, o Pe. Breault telefonou novamente ao Pe. Romagosa informando-o de que desde as 4 horas da manhã a imagem chorava. O Pe. Romagosa chegou pouco depois ao local, onde, diz ele, “vi uma abundância de líquido nos olhos da imagem, e uma gota grande de líquido na ponta do nariz da mesma”. Foi essa gota, tão graciosamente pendente, que a fotografia divulgada pelos jornais mostrou a nosso público.

O Pe. Romagosa acrescenta que vira “um movimento do líquido enquanto surgia lentamente da pálpebra inferior”.

Mas ele queria eliminar dúvidas. Notara que a imagem tinha uma coroa fixada na cabeça por uma haste metálica. Ocorreu-lhe uma pergunta:

Não haveria sido introduzida, no orifício em que penetrava a haste, certa porção de líquido que depois escorrera até os olhos?

Cessado o pranto, o Pe. Romagosa retirou a coroa da cabeça da imagem: a haste metálica estava inteiramente seca. Introduziu ele, então, no orifício respectivo, um arame revestido de papel especial, que absorveria forçosamente todo líquido que ali estivesse. Mas o papel saiu absolutamente seco.

Ainda não satisfeito com tal experiência, introduziu no orifício certa quantidade de líquido. Sem embargo, os olhos se conservaram absolutamente secos. O Pe. Romagosa voltou então a imagem para o solo: todo o líquido colocado no orifício escorreu normalmente. Estava cabalmente provado que do orifício da cabeça  –  único existente na imagem – nenhuma filtração de líquido para os olhos, seria possível.

O Pe. Romagosa ajoelhou-se. Enfim ele acreditara.

*    *    *

O misterioso pranto nos mostra a Virgem de Fátima a chorar sobre o mundo contemporâneo, como outrora Nosso Senhor chorou sobre Jerusalém. Lágrimas de afeto terníssimo, lágrimas de dor profunda, na previsão do castigo que virá.

Virá para os homens do século XX, se não renunciarem à impiedade e à corrupção. Se não lutarem especialmente contra a autodemolição da Igreja, a maldita fumaça de Satanás, que no dizer do próprio Paulo VI, penetrou no recinto sagrado.

Ainda é tempo, pois, de sustar o castigo, leitor, leitora!

*    *    *

Mas, dirá alguém, esta não é uma meditação própria para um ameno domingo. – Não é preferível – pergunto – ler hoje este artigo sobre a suave manifestação da profética melancolia de nossa Mãe, a suportar os dias de amargura trágica que, a não nos emendarmos, terão que vir?

Se vierem, tenho por lógico que haverá neles, pelo menos, uma misericórdia especial para os que, em sua vida pessoal, tenham tomado a sério o milagroso aviso de Maria.

É para que minhas leitoras, meus leitores, se beneficiem dessa misericórdia, que lhes ofereço o presente artigo…

Plinio Corrêa de Oliveira, (Folha de São Paulo, 6/8/72)

Oração: Nossa Senhora Aparecida, glória, alegria e honra do nosso povo

Ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças e, mais do que todas, concedei-nos a graça das graças: Ó Mãe, uni intimamente a Vós este vosso Brasil!

Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes. Tornai sempre mais largo e misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.

Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.

Fazei-nos sempre mais fortes na luta por Cristo-Rei, Filho vosso e Senhor nosso. De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para Lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina do cêntuplo nesta Terra e da bem-aventurança eterna.

Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece? Onde encontrá-las senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superiora a qualquer louvor humano? De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito palavras que amorosamente aqui repetimos: “Tu gloria Ierusalem, tu lætitia Israel, tu honorificentia populi nostri” (Jt 15, 10).

Sois Vós a glória, a alegria, a honra deste povo que Vos ama!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído do Jornal “Última Hora” de 12/10/1983)

Com Nossa Senhora não se brinca

Há certos temas que nos são tão familiares e caros ao coração que se tornaram objeto de inúmeros comentários de nossa parte. Porém, não poderíamos deixar passar o dia 13 de outubro sem determos um instante nossa atenção no assunto Fátima. Desta vez não vou comentar tanto a Mensagem quanto a atitude do mundo perante ela.

A Santíssima Virgem documenta a autenticidade de seu anúncio de dois modos. Em primeiro lugar, Ela a confia a pastorezinhos incapazes de compreender seu significado, limitando-se a repetir o que ouviram. Por vezes, discursos longos e complexos que eles transmitiam sem se contradizerem, mesmo submetidos a inquéritos policiais brutais.

De outro lado, Nossa Senhora produziu milagres que provavam à multidão ali reunida, e mesmo a gente de muito longe, que algo de sobrenatural se passara, como, por exemplo, a famosa “dança” do Sol. Tudo atestado por pessoas que moravam muito distante de Fátima.

Entretanto, chama a atenção no modo de o mundo receber a Mensagem de Fátima, não só a incredulidade de muitos à vista de episódios tão impressionantes, mas o fato de não se encontrar quem fizesse o seguinte comentário: tomada a Mensagem em si mesma, apenas pelo seu conteúdo, abstração feita de todos os prodígios que a cercaram, já havia todas as razões para admitir sua veracidade.

Quem conhecesse um pouco de Moral não podia duvidar que o mundo estava imerso num processo de pecados gravíssimos, cujo dinamismo permitia antever aonde levariam a humanidade.

Portanto, teologicamente falando, bastaria raciocinar um pouco para se ter a certeza de que, a não haver uma grande conversão, viria um castigo.

Assim, com um pouco de conhecimento da Teologia da História, ver-se-ia tratar-se de uma mensagem condizente com o que um homem de Fé, analista dos acontecimentos da época, dotado de alguma profundidade, deveria pensar.

Ora, as crianças transmitiram, assim, uma comunicação sábia e verdadeira em si mesma, de uma sabedoria e uma riqueza de conteúdo que excedia a capacidade delas. Logo, a mensagem é intrinsecamente verdadeira.

Em última análise, alguém que observasse o mundo daquele tempo à luz da Revolução e da Contra-Revolução distinguiria na Mensagem três aspectos: uma descrição teológica dos pecados daquele tempo, o anúncio de um castigo e a indicação dos meios de escapar deste, isto é, a penitência e a consagração ao Imaculado Coração de Maria.

A Porta da misericórdia é precisamente Nossa Senhora, chamada a Porta do Céu. Quer dizer, é ultra teológico que Ela tenha dito: “Cessem de pecar e recorram a Mim que obtenho a eliminação do castigo”. Nada mais razoável.

Contudo, a humanidade recebeu a Mensagem de Fátima com orgulho, quando ela exigia um ato de humildade, ou seja, que os homens reconhecessem: “Nós pecamos, andamos mal”. Exigia a emenda, o abandono da impiedade e da imoralidade na qual iam caindo. Por isso houve uma rejeição global em relação a essa Mensagem. Os resultados, vemos por toda parte.

Façamos um exame de consciência. Temos os olhos suficientemente abertos para a Mensagem de Fátima? Compreendamos que com Nossa Senhora não se brinca, e peçamos a Ela que tenha pena de nós(*).

Plinio Corrêa de Oliveira

* Excertos da conferência de 13/10/1970.

 

Nossa Senhora

Eu venho tão do alto… E posso tudo. Em Mim reside o reflexo perfeito da bondade incriada e absoluta. Aquilo que Eu quero doar porque sou boa, aquilo que desejo conceder porque sou Mãe, aquilo que posso dar porque sou Rainha, isso, meu filho, Eu dou! Eu não te digo uma palavra, mas faço algo muito melhor que falar a teus ouvidos… Eu te comunico uma graça que murmura no  fundo de tua alma.

Sentes essa paz que transborda de Meu coração, que te envolve, te penetra e te cumula? Essa paz que nenhuma alegria terrena pode trazer, e que te  faz sentir uma tranqüilidade interior, na qual ressoa minha voz, inaudível a teus sentidos: Tudo está resolvido! E aquilo que não estiver, resolver-se-á. Confia em Mim, Eu acertarei tudo.

As aparências podem não ser essas. Mas… Aceita esse sorriso, percebe esse sussurro, contempla essa bondade… E não duvides jamais!

Plinio Corrêa de Oliveira

Razão de nossa serenidade

Mãe incomparavelmente perfeita entre todas as mães, Nossa Senhora nos conhece, ama e quer bem com discernimento, bondade, paciência e carinho de uma intensidade extraordinária. Alcança-nos tudo o que nos convém e lhe pedimos confiantemente. Está disposta a nos obter o perdão de seu Divino Filho, mesmo para nossas piores faltas; alcança-nos as graças necessárias para nossa emenda, nossa salvação e, assim, brilharmos diante d’Ela por toda a eternidade. É a misericórdia dessa Mãe de perfeição incalculável.

Por isso mesmo, é Ela a razão de nossa serenidade. Não temos motivo para estarmos perturbados nem agitados, posto termos uma Mãe celeste que se compadece de nós e nos acompanha a todo instante com sua insondável solicitude. Devemos permanecer sempre tranquilos: nossa Mãe vela por nós.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Prece à Padroeira do Brasil

Ó Senhora Aparecida, a hora é de aflição! Melhor do que qualquer  brasileiro, o sabeis Vós, que sois Mãe de todos eles. Crise sócio-econômica, crise moral, mais grave que tudo, crise religiosa! O que num país fica fora da crise, quando ela se instalou em todos esses domínios?

Sem embargo de toda essa crise, vamos transpondo gloriosamente um marco histórico. Pois estamos entrando no rol das nações que, por sua importância, determinam o rumo dos acontecimentos presentes e têm em suas mãos os fios com que se tece o futuro dos povos.

Neste momento de apreensões e esperanças de glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus onipotente. Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais, e as riquezas que nele pusestes.

Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão bem se fundiu no grande caudal étnico de origem lusa — e cujo ambiente cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as contribuições trazidas por habitantes de todas as latitudes.

Agradecemo-Vos a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o momento bendito da Primeira Missa. Agradecemo-Vos nossa História, serena e harmoniosa, tão mais cheia de cultura, de preces e de trabalho, do que de desavenças e de guerras. Agradecemo-Vos nossas guerras justas, iluminadas sempre pela auréola da vitória. Agradecemo-Vos nosso presente, tão cheio de esperanças, sem embargo das crises que nos assolam.

Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas e que, irmanadas conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças do porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo caminho de apreensões e de ascensão.

Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza, que desponta, nos foi dada não só para nosso bem, mas para o de todos. Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa História, no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam problemas, terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos. Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer  brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira luz que as trevas jamais conseguirão apagar.

* * *

Nossa oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal, lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.

Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se fazem notar, que mantêm em sobressalto todos os espíritos lúcidos e vigilantes.

Plinio Corrêa de Oliveira

A luta, uma das glórias de Maria

Concebida sem pecado original, Nossa Senhora esmagou e esmagará para todo o sempre a cabeça da maldita serpente. Agindo assim, Ela acrescenta às suas extraordinárias e singulares prerrogativas a glória da luta. Ela combateu, opôs um esforço a outro, despendeu todas as energias necessárias para aniquilar o adversário, derrotou-o e o tem a seus pés.

Esse combate aumenta a glória da Filha do Padre Eterno, da Mãe do Verbo Encarnado, da Esposa do Divino Espírito Santo!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/12/1991)