Para alcançarmos a eternidade

Maria, porque é Mãe, deseja sobretudo a eterna salvação de seus filhos, pelos quais intercede. A vida presente passa. Marcada com felicidades, com infelicidades e com tropeços, um dia acaba.

É a eternidade que principalmente importa. Para nós, a única atitude sensata é procurar salvar nossas almas, para o que são essenciais as graças e virtudes que a Santíssima Virgem obtém de Deus.

Dirijamos a Ela, portanto, sem cessar, essa súplica humilde e filial: “Ó Rainha dos Corações, por cujas mãos Deus governa a História e o mundo, movei nossas almas segundo os vossos desígnios e alcançai-nos a eterna beatitude. Assim seja!”

O vigor da vida espiritual

Transcrevemos em seguida a parte final do memorando redigido por Dr. Plinio, em 1940, a pedido de um sacerdote vinculado à Ação Católica, para mostrar a necessidade de se utilizarem as práticas consagradas pela ascese cristã.

 

Meditar é aplicar a intelinas, para sempre melhor conhecê-las. Aplicá-la, também, ao conhecimento quanto possível exato de nós mesmos, para verificar o grau de correspondência entre aquilo que há em nós e aquelas verdades eternas, e, por aí, deduzir os meios práticos para atingir essa correspondência. Para este último fim é necessária uma aplicação da vontade sobre todo o já meditado, para que se fortaleça no amor do bem e no ódio ao mal, e se proponha a aperfeiçoar-se.

Há vários métodos de meditação, mas entre todos se salientam os que se contêm nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio. Aliás, o Santo Padre Pio XI recomendou expressamente estes Exercícios aos membros da Ação Católica na Encíclica já citada, nos seguintes termos: “Vivamente desejamos, Veneráveis Irmãos, que se formem pelos Exercícios Espirituais numerosas coortes da Ação Católica. Não achamos palavras para exprimir toda a alegria que sentimos vendo organizarem-se por toda a parte cursos de exercícios particularmente reservados às pacíficas fileiras dos valorosos soldados de Cristo, especialmente aos mais jovens, que numerosos acorrem para travar os santos combates do Senhor, e ali encontram não só a força para melhorar a própria vida, mas bem depressa sentem no coração a voz misteriosa que os chama para o apostolado em toda a sua magnifica significação”.

Necessidade da leitura espiritual e modo de fazê-la

Para bem meditar é quase sempre necessária a leitura espiritual, isto é, a leitura atenta e devota de algum livro de piedade, devidamente aprovado pela autoridade eclesiástica.

A leitura espiritual recorda-nos nosso destino eterno em meio às atividades deste mundo, que nos distraem pela sua multiplicidade e urgência; desapega-nos a inteligência e a vontade das coisas terrenas e eleva-nos a sensibilidade, já mostrando-nos as misteriosas belezas da Fé, já movendo-nos pelos exemplos de santidade, ou ainda, dando-nos regras práticas de vida e de devoção. Desta forma, a leitura espiritual deposita em nós

os gérmens da perfeição cristã, que hão de ser desenvolvidos e amadurecidos pela meditação, a qual encontra neles seus elementos vitais. Mais explicitamente, é a leitura espiritual que fornece a matéria de nossa meditação.

Entretanto, para ser proveitosa, esta leitura deve ser periódica e freqüente, e cuidadosamente proporcionada aos interesses especiais de cada um, porque do contrário a sua influência fragmentária e esparsa facilmente seria delida pelos agentes mundanos, que atuam quase sem cessar.

Obrigação de estudar a doutrina católica

Para bem meditar é ainda necessário o conhecimento claro da doutrina da Igreja.

Vimos que a meditação versa sobre as verdades eternas. Ora, estas verdades estão contidas na doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, sem a instrução religiosa que nos dê o seu conhecimento claro, não só se poderão perder os frutos da meditação e da leitura espiritual, como também poderá acontecer muito provavelmente que o espírito se ponha a divagar por caminhos escusos, que levam a ilusões perigosas e a erros funestos, com suas conseqüências imprevisíveis sobre a sensibilidade.

Além disso, na doutrina da Igreja se contêm as verdades que são o objeto da Fé. Ora, desde que é a Fé o que caracteriza a nossa profissão de católicos, todos estamos obrigados a conhecer tais verdades em toda a medida de nossa condição e capacidade, pois que ninguém pode crer sem saber no que crê. E será suma ingratidão para com Deus, que nos revelou estas verdades para nossa salvação, não nos aplicarmos a conhecê-las quanto nos for possível.

Este conhecimento deve ser haurido num catecismo mais ou menos desenvolvido segundo a inteligência e o estado de cada um, pois que o catecismo é a fonte autêntica.

Fazer em tudo a vontade de Deus

O fruto próximo da vida espiritual, segundo vimos indicando, deve ser o firme propósito, isto é, o desejo cada vez mais vivo e ardente de servir a Deus e de desapegar-se inteiramente das coisas do mundo. Desejo vivo, porque se propõe empregar todos os meios conducentes a este fim e não desfalece ante as dificuldades e a vista

da própria fraqueza, mas está cônscio de seu livre arbítrio, e confia humilde e ativamente na Providência. Ardente, porque se consome no zelo pela glória de Deus. O firme propósito não quer dizer a promessa de sempre, em tudo, e nas mínimas coisas realizar a vontade de Deus, porque tal promessa não se pode fazer sem uma vocação especial ou graça toda particular, e, assim mesmo, em relação a certos fatos determinados. Mas é a vontade intensa de que isso aconteça o mais breve e perfeitamente.

Exame de consciência: a chave da vida espiritual

Para evitarmos surpresas e auferirmos os resultados positivos da vida espiritual, e, por aí, adotarmos os métodos sempre mais adequados de procedermos para com nós mesmos, é necessário o exame de consciência pelo menos quotidiano.

O exame consiste na inspeção cuidadosa de nossos pensamentos, palavras e obras, dentro de um período de tempo determinado, e na investigação dos motivos e circunstâncias desse nosso comportamento. No exame assim feito está a chave da vida espiritual, pois é pela apreciação concreta do que se passa em nós que se pode atingir a atividade superior e geral de ver, julgar e agir em si mesmo. Além disso, o exame de consciência ajuda-nos a desfazer falsas idéias sobre nós mesmos, leva-nos à humildade e excita-nos o arrependimento.

Também é necessário o exame de consciência para a confissão. Neste particular todos devem ter o seu diretor espiritual, que é a cúpula de tudo quanto se tem dito em matéria de vida de piedade. De fato, praticamente de nada adiantariam todas as recomendações que se vêm fazendo sem a direção de um sacerdote que, por estar muito mais aparelhado pelos seus conhecimentos e graças especiais, sabe indicar os caminhos que seus penitentes poderão seguir com segurança. Se não fosse pela inexperiência dos que se iniciam nas vias da perfeição inexperiência que os fará certamente errar se não tiverem um guia -, bastaria considerar que a vida espiritual exige que cada um se julgue a si mesmo. Ora, ninguém pode ser juiz, não diremos imparcial, mas objetivo de si mesmo. É preciso, portanto, uma terceira pessoa de grande sabedoria e de virtude inconteste.

Devoção à Santíssima Virgem e à Sagrada Eucaristia

A vida espiritual exige a mortificação, isto é, a guarda cuidadosa dos sentidos, ou não será vida espiritual. A verdadeira mortificação não consiste apenas em nos privarmos dos prazeres

ilícitos ou perigosos, mas também daqueles prazeres lícitos que, pelas circunstâncias de fato, variáveis no tempo e no espaço, têm uma certa conexão com a mundanidade. É necessário, ainda, a abstinência dos prazeres, também lícitos, que podem lisonjear as más disposições e tendências desregradas de cada um.

Enfim, todas estas regras de vida espiritual devem encontrar seu complemento indispensável numa dupla devoção, sem a qual nenhum fruto se colheria: a devoção a Nossa Senhora e à Santíssima Eucaristia. Não basta uma só delas, mesmo porque não é possível separá-las, ou já não serão verdadeiras. A Santíssima Virgem é a Rainha da bem-aventurança e dos bem-aventurados, e a devoção a Ela é considerada sinal certo de predestinação. Só há um caminho para Deus, que é Nosso Senhor Jesus Cristo; mas só há um caminho para Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Nossa Senhora, a medianeira de todas as Graças.

Onde está Maria, não há temer ilusões, extravios, erros, porque Ela é a inimiga, assim constituída por Deus, do demônio e de suas fraudes (Gen. 3, 15). A devoção a Maria é, ainda, uma conseqüência necessária do Corpo Místico. Pois, “se Jesus Cristo, o chefe dos homens, nasce d’Ela, os predestinados, que são os membros deste chefe, também devem nascer d’Ela inelutavelmente. Uma mesma mãe não dá ao mundo a cabeça ou o chefe sem os membros, nem os membros sem a cabeça; isto seria um monstro da natureza. Igualmente, na ordem da Graça, o chefe e os membros nascem da mesma mãe. E se um membro do Corpo Místico de Jesus Cristo, quer dizer, um predestinado, nascesse de outra mãe que não fosse Maria que produziu o chefe, não seria um predestinado, nem um membro de Jesus Cristo, mas um monstro na ordem da graça” (São Luís Maria Grignion de Montfort, La vraie dévotion, cap. 1, art. 1º, § 32).

Assim, o devoto da Santíssima Virgem encontrará no Coração de Maria o próprio Coração de Jesus, naquilo que este Coração tem de mais amoroso, mais terno e mais compassivo. Ora, onde mais se manifestam as finezas do Coração de Jesus é na Santíssima Eucaristia. Desse modo, a devoção a Nossa Senhora leva natural e espontaneamente à devoção eucarística. E é aí que os membros da Ação Católica encontrarão o alimento de sua vida espiritual, em primeiro lugar na freqüência assídua à Santa Comunhão, depois na adoração também assídua ao Santíssimo Sacramento.

Sem este culto fervoroso à Eucaristia que só pode ser verdadeiro com o culto mariano, pelo culto mariano e no culto mariano não é possível a vida espiritual, pois que esta é a assimilação deste sublime alimento, segundo as recomendações dadas. É no Santíssimo Sacramento que reside não só a Graça, mas o Autor de toda Graça, à cuja semelhança se fazem os eleitos, porque fora d’Ele não há bênção nem fruto, nem ressurreição bem-aventurada. A Ele, pois, sejam dadas honra, glória, louvor, adoração, ação de graças, por todos os séculos. Amém.

Princípios da unidade

Na segunda parte da conferência, cujo início transcrevemos no último número, Dr. Plinio continua a tratar de um princípio da escolástica, segundo o qual a beleza consiste na unidade posta na variedade. É fundamental para se compreender por que Deus imprimiu no universo um caráter hierárquico, com graus diversos de perfeição. Após haver estudado as leis da variedade, Dr. Plinio examina as da unidade.

 

A unidade supõe uma ausência de interrupção que se pode verificar de duas maneiras: pela continuidade ou pela coesão.

A continuidade é a simples ausência de vazios, para que, no ser uno, não haja hiatos.

Muito mais profunda é a unidade que se verifica pela coesão: neste caso há uma articulação interna entre os elementos, de modo que eles ficam presos uns aos outros por vínculos íntimos e poderosos.

Entre as classes sociais, numa civilização cristã, deve haver continuidade e coesão. Embora numerosas, e profundamente diferentes entre si, o todo que elas constituem é contínuo e coeso. É contínuo porque umas se explicam pelas outras, auxiliam-se mutuamente e formam um conjunto sem os hiatos que caracterizam a sociedade revolucionária. E é coeso porque as classes, embora distintas, estimam-se, defendem-se umas às outras, não se consideram estranhas ou inimigas entre si, mas se amam com o verdadeiro espírito de Nosso Senhor, que foi Príncipe e, ao mesmo tempo, artesão. Como tudo isso é diferente da luta de classes do mundo moderno!

Transição harmônica, como as cores de um arco-íris

Ao tratarmos das leis da variedade e ao examinarmos a lei da gradação, vimos que deve haver hierarquia na Criação.

Estudando agora as leis da unidade, veremos que essa hierarquia, para ser autêntica, deve compor-se de graus que se sobreponham uns aos outros harmonicamente, e não de qualquer modo.

Na hierarquia, a variedade se assegura pela multiplicidade dos graus intermediários, ao passo que a unidade se assegura pela suavidade da transição entre esses graus.

É o que acontece com o arco-íris: as cores que o compõem se ordenam em uma transição suave. Vemos nisto a sabedoria de Deus, que criou o Universo com uma magnífica unidade, expressão de uma grande força, e ao mesmo tempo com uma magnifica variedade, expressão de um grande poder.

Pensemos na coroação de um Imperador do Sacro Império Romano Alemão. No momento em que o Imperador recebia a coroa, bimbalhavam os sinos da capital do Império. Logo repicavam os sinos das cidades mais próximas; a seguir, os das cidades mais longínquas; e por fim, os de todas as Igrejas da Alemanha. Durante dias e dias os sinos repicavam, anunciando, de campanário em campanário, que o Imperador havia sido coroado.

Consideremos esse tocar de sinos que se estendia por todas as Alemanhas: a Alemanha da Baviera, a da Saxônia, a de Dresden, a de todos os tipos de alemães, desde o tipicamente militar, até o burguês bonachão. Essa amplitude de repercussões da notícia da coroação do Imperador por vários mundos dá a impressão de algo forte e suave ao mesmo tempo. Que poder imenso é o do Imperador! Mas, ao mesmo tempo, quanta doçura há nesse Império! Como a força e a suavidade nele coexistem harmonicamente!

São bem esses os valores que devemos amar do fundo de nossa alma, pois se relacionam com uma perfeição a perfeição da hierarquia em que a variedade e a unidade se encontram num grau excelente.

Proporção: tudo feito com número, peso e medida

A Sagrada Escritura nos diz que todas as coisas foram criadas por Deus com número, peso e medida. Vemos, com efeito, que em todos os corpos, a natureza, o movimento e a massa são proporcionais.

Temos um expressivo exemplo dessa proporção na Igreja Católica. Sendo uma organização imensa, riquíssima e belíssima, Ela se personifica, por excelência, na pessoa do Papa. A pompa e a dignidade papais, a beleza de sua corte, enchem a todos de admiração. Mas, ao mesmo tempo, achamos tocante que a Igreja Católica também se personifique num pequeno cura de aldeia. Essa personificação é a mais proporcionada aos camponeses, está bem ao nível das suas almas, não os intimida nem os constrange. A representação do Sacerdócio de Nosso Senhor tem, nesses curas de aldeia, como que uma condição pequena, proporcionada àquela gente também pequena.

Imaginemos agora um estadista coberto de glórias, que chega à velhice, e suponhamos que a Igreja, para cuidar de sua alma, delegue um monsenhor. É um fato que, aliás, tem se dado na História. Contemplemos o velho estadista e o monsenhor conversando de forma amena e respeitosa. Não agiu bem a Igreja Católica, reconhecendo e honrando a dignidade desse homem? É que a Igreja procura proporcionar a sua hierarquia à hierarquia civil. Seu amor é semelhante ao materno, pois uma mãe sabe dosar como ninguém a energia e a suavidade. Assim faz a Igreja.

A proporção existia em grau excelente na hierarquia feudal. A nação, que se personificava no rei, também se personificava no pequeno senhor feudal, colocado junto ao povinho miúdo. Ele, o menor grau da aristocracia, iluminava com a transcendentalidade da nobreza o último grau da escala social.

Até com relação às bebidas podemos contemplar a proporção. Ao lado de vinhos do mais alto requinte, existem boas bebidas populares, feitas exatamente para o pequeno povo. Essa é a proporcionalidade das coisas boas. Na casa do rei, há móveis dourados; na do camponês, os há de carvalho trabalhado, como em algumas regiões da Europa. Na casa do rei, há ouro e prata; na do camponês, objetos toscos, mas que, por serem dignos e artísticos, às vezes valem o ouro e a prata.

Esta é a proporção bela, leve, suave, razoável, que devemos, amar com todas as nossas forças.

Simetria: não pode haver o risco de se perder a unidade

Imaginemos um edifício com uma fachada tão extensa que corra o risco de perder a unidade. Se, entretanto, ele tiver nos dois extremos duas torres iguais, sua unidade estará, pela simetria, reconstituída.

Na História do século XVI vamos encontrar uma cena que ilustra bem isso. Francisco I, rei da França, e Henrique VIII que ainda não se tinha feito protestante decidiram encontrar-se em Cambrai, no lugar que depois foi chamado “camp du drap d’or”, tal o luxo, tal a magnificência de que se revestiu o fato. Basta dizer que, no campo de Francisco I, as tendas eram douradas. O encontro entre os reis realizou-se em uma ponte. Imaginemos a beleza do encontro dos dois soberanos, e das duas cortes que chegavam. Na ponte inteiramente coberta de tapetes, um rei se inclina diante do outro rei, cumprimentando-se assim mutuamente, enquanto as trombetas soam. Quando os franceses querem descrever a atitude dominadora de um homem, dizem que ele tem o ar de um rei que recebe outro rei “l’air d’un roi recevant un roi”. Em que consiste a beleza de um soberano que recebe outro rei? É exatamente a beleza da simetria, em que dois princípios iguais se contemplam um ao outro e, de certo modo, se multiplicam um pelo outro.

Na cristandade, a existência de muitos reis iguais em força, glória e poder, era exatamente uma expressão do princípio da simetria.

Tudo se ordena em torno de um elemento supremo

A quinta lei da unidade é a da monarquia. Ela é indispensável para a beleza da vida humana. Todas as coisas, para serem reduzidas à sua unidade, devem tender a se ordenar em torno de um elemento supremo, que será um símbolo, uma como que personificação do conjunto. E é esta personificação que dá perfeição à unidade

A monarquia não é, como poderia talvez parecer, o oposto da hierarquia, mas, pelo contrário, é a sua consumação. Nela, a beleza de todas as diversas perspectivas como que se concentra.

Ao lado da lei da monarquia, há a lei da sociedade. Ela consiste em que as coisas, postas juntas, se completam e se embelezam mutuamente.

Analisamos embora de forma muito sucinta as leis da estética do Universo. Trataremos de mais um ponto, muito relacionado com este assunto.

Atração pelo que melhor espelha a perfeição de Deus

Tomemos as palavras: decente, excelente, nobre, majestoso, sagrado. Elas constituem uma gradação ascendente.

De um determinado objeto, pode-se dizer primeiro, que ele é decente, o que significa que não tem nenhuma nódoa de vergonha. Além de decente, podemos dizer que ele é ótimo, excelente. Excelente já é mais que decente.

Poder-se-ia, prosseguindo, apôr o adjetivo nobre, que é especificamente mais do que excelente e decente. Mais do que nobre, poderemos dizer que o objeto é majestoso, adjetivo que, não é, entretanto, especificamente diferente de nobre, pois dele difere somente em grau. Por fim, poderemos acrescentar que o objeto é sagrado, quando contém valores que superam a majestade humana.

Nessa gradação de valores, um espírito muito religioso será atraído por aquilo que melhor espelha a perfeição de Deus: o majestoso e o sagrado. Ele procurará, em tudo, esses supremos valores, e terá sede deles.

Tendo esse espírito, o homem desejará uma sociedade em que, ao lado de muitas coisas decentes, haja várias excelentes, nobres, majestosas, e sagradas.

E então esse homem criará naturalmente uma sociedade que realiza, dentro dessa ordem quase fluida de coisas, uma admirável variedade e uma perfeita unidade

Compreendemos, pois, que quando uma pessoa conhece e ama os princípios da variedade e da unidade do Universo, e quando essa pessoa é católica pois só o católico já tem os pressupostos para compreender inteiramente esses princípios , ela é de fato profundamente religiosa, no sentido mais verdadeiro da palavra.

Este quadro que descrevemos da estética do Universo, com suas leis, os reflexos divinos colocados pelo Criador em todas as coisas, em última análise, tudo o que os católicos fervorosos amam, tudo aquilo de que têm sede, tudo isto a Revolução quer destruir, eliminar, apagar.

E é nisso que consiste a questão religiosa, que não se restringe ao problema do laicismo. É uma questão que não se resolve fazendo uma concordata e declarando que a Igreja Católica é a oficial no país. Está em cena toda uma concepção da vida, todo um modo de ser do pensamento humano.

Como católicos, pois, devemos amar profundamente a face de Deus refletida na ordem verdadeira das coisas. Mas, para que nosso amor chegue até onde deve ir, aprendamos a aplicar essas leis da variedade e da unidade.

Assim, sempre que algo nos causar admiração e nos deleitar, saibamos perceber qual das leis da estética do Universo está aí aplicada. Agindo desse modo, faremos algo imensamente agradável a Nossa Senhora.

O "Magnificat", cântico de jubilosa despretensão

Após haver recebido a excelsa comunicação de apressou-se em partir ao encontro de Santa Isabel, nas montanhas da Judeia. Ao chegar, exaltada por sua prima e profundamente reconhecida pelo ápice de dons com que fora galardoada, Maria entoou seu imortal Magnificat.

Deus, autor da grandeza de Nossa Senhora

O pensamento fundamental desse cântico poderia ser assim expresso por Nossa Senhora: “Deus realizou em mim coisas extraordinárias, as quais são obra d’Ele e não minha. Não sou a autora de toda essa grandeza. Foi Ele que houve por bem depositá-la em mim, e Eu a aceitei em obediência aos seus superiores desígnios. Essa grandeza, portanto, enquanto habita em mim tornou-se minha, mas a causa dela vem de fora e do alto. Por mim mesma, não sou senão uma pequena criatura”.

De fato, embora concebida sem pecado, e tendo correspondido à graça do modo mais perfeito possível, Nossa Senhora era uma mera criatura, e assim tais grandezas não podiam ter origem na natureza d’Ela. Provinham-Lhe de Deus Nosso Senhor. Este é o pensamento despretensioso e fundamental do Magnificat.

Cabe aqui uma aplicação a nós, filhos e devotos de Maria, que tanto desejamos imitá-La. Se era essa a posição que a Imaculada tomava em face de suas excelências, a “fortiori” deve ser a nossa diante das graças que Deus nos concede, a nós que somos pecadores a dois títulos. Primeiro, porque concebidos no pecado original; segundo, porque agravamos essa condição com as faltas perpetradas em nossa vida, de sorte que, mesmo perseverando no estado de graça, trazemos conosco o fardo dos pecados que outrora cometemos.

De outro lado, as honras que possam nos caber são incomparavelmente menores que as de Nossa Senhora. Desse modo, é preciso nos esforçarmos em adquirir o mais elevado grau de despretensão ao nosso alcance. Não incorramos no erro dos presunçosos, que julgam inerentes à sua própria natureza, e não a um dom ou misericórdia de Deus, todas as suas qualidades e aspectos bons.

Pelo contrário, compenetremo-nos de que todo o bem existente em nós é dado e favorecido pela graça divina, embora conte com nossa voluntária aceitação e nosso empenho em desenvolvê-lo. São qualidades e talentos que não nasceram de nossa natureza decaída, mas foram nela depositados pela generosidade do Criador. Se formos despretensiosos, teremos consciência disso, não nos embevecendo com o que devemos a Deus.

Esse é, precisamente, o ensinamento que nos deixou Nossa Senhora, quando elevou aos céus o seu Magnificat.

Alegre e contínua retribuição a Deus

Diz Ela: “A minha alma engrandece o Senhor”. Ou seja, canta, vê, admira, ama e proclama com amor a grandeza de Deus, Aquele que domina, Aquele que pode, Aquele que é tudo.

“E o meu espírito exulta em Deus meu Salvador”. Então a alma d’Ela se transporta em santas alegrias,

porque Deus “lançou os olhos sobre a baixeza de sua serva”, e por isso “de hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada”.

Nossa Senhora proclama a magnitude de Deus por ter deitado o olhar sobre Ela, por Lhe ter conferido uma tal excelência que todas as nações passariam a aclamá-La como bem-aventurada. E ao reconhecer que isto Lhe vem d’Ele, seu espírito atinge o ápice da alegria!

Como não ver nessa atitude a perfeição da despretensão? Nada de falsa e dolorosa probidade: “Ó Senhor! como gostaria de dizer que tudo vem de mim, mas sou obrigada a declarar o contrário”, etc. Não! “Meu espírito exulta em proclamar que veio de Vós”.

Ao mesmo tempo, porém, Ela afirma a glória que Deus Lhe outorgou: “Todas as gerações me chamarão bem aventurada”. A palavra bem-aventurada encerra um matiz que a faz designar uma pessoa não apenas nimbada de felicidade, mas também aquela que alcançou êxito em todas as suas realizações. Portanto, acertar na vida, ser bem aventurado, é tornar-se santo e servir a Deus.

E Nossa Senhora continua a cantar: “Porque fez em mim grandes coisas Aquele que é poderoso, e cujo nome é santo”. O adjetivo poderoso tem aí todo o cabimento, pois Ela se reconhece objeto de maravilhas tais, que só um Ser onipotente as poderia operar. Ora, Maria se sabia não-onipotente. Logo, proclamava que apenas Deus podia ter feito n’Ela aquelas “grandes coisas”.

É um modo indireto de dizer: “O que foi realizado comigo é tanto que eu, simples escrava, por mim mesma jamais o teria alcançado. O Todo-Poderoso, cujo nome é santo, fez essas maravilhas, essas excelências que só poderiam sair de suas divinas mãos”. Em última análise, trata se de uma contínua e alegre retribuição a Deus da grandeza d’Ela.

Uma cordilheira de misericórdias

“E cuja misericórdia se estende de geração em geração, sobre aqueles que O temem”.

Nossa Senhora manifesta neste trecho a ideia de que a misericórdia da qual Ela foi objeto é o lance supremo de uma imensa série de misericórdias que, desde o início até o fim do mundo, alcança os que têm o temor de Deus. Pode-se dizer que este seria o Everest, o ponto muitíssimo mais alto da compaixão divina, acima de um universo de montículos, colinas, montes e montanhas de misericórdias que ao longo da história têm sido espargidas sobre os homens.

É como se Maria Santíssima dissesse: “Essa misericórdia é ainda mais bela porque é o marco central de um incontável número de excelsas benevolências dispensadas por Ele, o Rei, o Deus, o Pai de todas as misericórdias”.

A soberba é causa de decadência

Continua a Santíssima Virgem: “Manifestou o poder de seu braço; transtornou aqueles que se orgulhavam nos pensamentos de seu coração”.

Ou seja, ao passo que estende sua misericórdia aos que O temem, Nosso Senhor mostra o poder de seu braço confundindo os desígnios dos soberbos. Quem são estes? Os que se vangloriam e se exibem pretensiosos em relação a Deus, que não consideram a grandeza d’Ele, nem Lhe têm temor. E que, portanto, não O amam. Para estes não há misericórdia. Então Deus os humilha, os quebra, os dissipa, mostrando sua força.

Essa atitude de Nosso Senhor com os que se afirmam independentes d’Ele é um belo convite para estabelecermos uma filosofia da história. Para isto, temos de observar não só os acontecimentos históricos, mas também os fatos de nossa vida cotidiana, e neles verificar a confirmação desta regra: os homens tementes a Deus, conscientes de que não valem nada, atribuindo seus predicados e aptidões à misericórdia divina, progridem na vida espiritual. Os que são voltados a adorar-se a si próprios, a considerar tudo quanto têm como vindo deles mesmos, estes são os soberbos que Deus dissipa, e declinam na prática da virtude.

Quantas vezes não observamos, nessa ou naquela alma, um processo de decadência cuja causa é a pretensão? Em determinado momento, a pessoa começou a se embevecer consigo mesma: “Que maravilhosa, grande e estupenda criatura sou eu, considerada nos predicados morais de minha natureza!” É o primeiro passo de uma lamentável deterioração.

Portanto, Nossa Senhora lança o princípio: os soberbos não vão para a frente, enquanto progridem os que temem a Deus. Donde tudo nos coloca em relação a Ele numa postura de inteira despretensão.

O triunfo dos humildes

“Depôs do trono os poderosos, e exaltou os humildes.”

Temos aqui uma seqüência do pensamento anterior. O poderoso é o que atribui a si todo o poder, que precede a Deus e não O teme, julgando-se capaz de tudo fazer sem Ele. Esse é deposto de seu trono, ou seja, daquilo do que  se ensoberbece. O humilde, pelo contrário, é glorificado e favorecido por Nosso Senhor, obtém resultados nas suas ações, na sua vida interior, no seu apostolado, etc.

Completando essa linha de pensamento, Maria acrescenta: “Cumulou de bens os famintos, e despediu os ricos com as mãos vazias”.

Os famintos são os necessitados, os que se abaixam diante de Deus e Lhe suplicam auxílio. Estes são atendidos, e saem repletos de bens. Os ricos são os orgulhosos, aqueles que se aproximam de Nosso Senhor dizendo não precisarem de nada. Então são mandados embora sem receberem qualquer benefício.

Cumpre-se a promessa do Messias

Em seguida, a Santíssima Virgem faz uma referência à exaltação do Povo Eleito, por nele ter se verificado a Encarnação do Verbo. Diz Ela: “Tomou cuidado de Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia; conforme tinha dito a nossos pais, a Abraão, e à sua posteridade para sempre”.

Com efeito, Deus havia misericordiosamente prometido que o Messias, seu Filho unigênito, se encarnaria e nasceria do povo de Israel. Ele se lembrou de sua promessa, gerando Jesus Cristo nas entranhas puríssimas de Maria.

A Igreja, muito belamente, completa esse hino maravilhoso com o “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo; assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém”.

Esta seria uma interpretação do Magnificat como o cântico da despretensão jubilosa de Nossa Senhora.

“Minha alma engrandece a Igreja Católica!”

Para concluir, cabe ainda um último desdobramento dessas considerações.

Como eu gostaria de, com toda  a alma, poder cantar o Magnificat em relação à Igreja Católica! Como é verdadeiro dizer: “Magnificat anima mea Ecclesiam, et exultavit spiritus meus, in matre salutari mea” – A minha alma engrandece a Igreja Católica e o meu espírito exulta na Igreja minha mãe!

E assim por diante, que lindíssima paráfrase do Magnificat poderíamos fazer contemplando a Igreja, que é a Arca da Aliança, a imagem visível de Deus e de Nossa Senhora na terra.

Sirvam, pois, estas palavras de incentivo para que reportemos todos os nossos dons, nossas virtudes e predicados a Deus em Jesus, a Jesus em Maria, e a Maria na Santa Igreja Católica Apostólica Romana, da qual nos vem tudo o que temos de bom. Dessa maneira, o enlevo, o encanto, o entusiasmo, a fidelidade, a dedicação de nossa vida, nossa alma e nosso sangue sejam inteiramente oferecidos para o serviço e glorificação da Esposa Mística de Cristo.

Auxiliadora na defesa da Fé

A invocação de Nossa Senhora Auxiliadora lembra-nos, antes de tudo, a sua ação em defesa da Fé Católica.

 

A invocação de Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos foi introduzida na Ladainha Lauretana por São Pio V, em comemoração à vitória alcançada contra os turcos, em Lepanto. A festa foi instituída por Pio VII em ação de graças por sua volta a Roma depois de ter sido preso por Napoleão.

Auxiliadora sobretudo na dilatação da Fé

Sobre a devoção a Nossa Senhora Auxiliadora, temos aqui uma ficha tirada da “Vida e Obra de D. Bosco”(1).

Os companheiros de D. Bosco notaram que desde o ano de 1860, ele começou a chamar e invocar a Santíssima Virgem com o título de Maria Auxiliadora, “Maria Auxilium Christianorum”. Ele era devotíssimo — e o foi sempre — da Imaculada Conceição. Todas as suas grandes obras começaram num dia 8 de dezembro. Agora, unia sempre os dois títulos dizendo: Maria Imaculada Auxiliadora. Era que em novos sonhos a Virgem lhe havia ordenado que este devia ser o distintivo da congregação.

Num dia de dezembro de 1862, diante de um grupo de meninos que jogava disse:

— Vede aquele lado do pátio? Ali vamos construir uma igreja magnífica à Mãe de Deus. Como devemos chamá-la? Chamá-la-emos Maria Auxiliadora. Até agora temos celebrado com solenidade e pompa a festa da Imaculada Conceição, e continuaremos a fazer o mesmo. Mas, além disso, a mesma Virgem Santíssima quer que a honremos com o título e a invocação de Auxiliadora. Os tempos que correm são tão tristes e temos verdadeira necessidade de que a Santíssima Virgem nos ajude a conservar e defender a fé cristã como em Lepanto, como em Viena, como em Savona e Roma. Ela o quer e aqui virão multidões imensas implorar o auxílio onipotente da Virgem Santíssima.

Alguém objetou:

— Mas isto custará muito dinheiro.

Respondeu D. Bosco:

— A Virgem é quem paga. Ela quer sua igreja, e é natural que pense em pagar seus gastos. Mas para isto temos que merecer.

Nossa Senhora, enquanto auxiliadora, gloria-Se de dar aos cristãos toda espécie de auxílio, tanto nas necessidades espirituais quanto nas materiais, desde que esteja de acordo com a vontade de Deus e seja em benefício de nossa alma. A questão é pedir. Quando se pede com afinco se obtém. E se não obtemos aquilo que pedimos, obtemos qualquer outra coisa muito melhor.

Entretanto, vemos que D. Bosco entendia Nossa Senhora como Auxílio dos Cristãos principalmente para a defesa da Fé e para a luta em prol da Causa Católica. Ele fala dessa necessidade lembrando Lepanto, o grande cerco de Viena contra os turcos, Savona e as complicações de Pio VII com Napoleão.

Devemos, então, invocar Nossa Senhora Auxiliadora e pedir sua intercessão muito frequentemente em nosso apostolado, nas situações difíceis, que vão andando de um modo lento, casos complicados de alma, etc.

Ela é Auxiliadora dos cristãos na dilatação da Fé, na luta pela Fé. E as coisas difíceis que empreendemos pela Fé devemos pedir a Nossa Senhora que nos ajude a levar a cabo

Auxílio nas grandes e pequenas coisas

  1. Chautard(2) condena o erro das pessoas que pensam: “Deixe que Deus me ajude nas circunstâncias excepcionais, que nas situações comuns eu me arranjo sem Ele”. Isso é errado; devemos contar com o auxílio de Deus e de Maria Santíssima em todas as circunstâncias, inclusive nas muito pequenas. Naturalmente, esta necessidade cresce nas situações importantes e nas mais improváveis.

Há uma invocação a Santa Rita de Cássia, que eu gosto muito: “Santa Rita dos impossíveis”. Outra forma de nos referirmos a Nossa Senhora Auxiliadora seria “Nossa Senhora dos Impossíveis”, que obtém aquilo que humanamente falando é impossível, sem saída. Isso Ela obtém, sobretudo, em ordem à vitória da Igreja e à salvação das almas.

Certas revelações particulares nos falam dos últimos tempos e nos apresentam Nossa Senhora como auxiliadora. Haverá um determinado momento em que certo pugilo católico estará completamente perdido. E então um chefe invocará São Miguel Arcanjo que, por ordem de Nossa Senhora, virá auxiliar os católicos, ganhará a batalha, cairá o poderio do demônio e nascerá o Reino de Maria.

Devemos ter isto em mente: é a Santíssima Virgem quem auxilia, intervém. A todo momento devemos pedir a Ela esse auxílio. Recomendo esta intenção para ser muito ardentemente visada no dia da Festa de Nossa Senhora Auxiliadora.

Oração a Nossa Senhora Auxiliadora

Vamos agora ler uma oração composta por São João Bosco a Nossa Senhora Auxiliadora:

“Ó Maria, Virgem poderosa, Vós, grande e ilustre defensora da Igreja; Vós, auxílio maravilhoso dos cristãos; Vós, terrível como um exército em ordem de batalha; Vós, que destruístes as heresias em todo o mundo, nas nossas angústias, nas nossas lutas, nas nossas aflições, defendei-nos do inimigo e na hora da morte acolhei nossa alma no Paraíso. Amém.”

É uma linda oração que mostra como o pensamento dele estava nessa ideia de que Nossa Senhora é a auxiliadora da Igreja. 

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/5/1967)

 

 

1) Não dispomos dos dados bibliográficos da referida obra.

2) Dom Jean-Baptiste Chautard (*1858 – †1935), monge trapista e Abade do Mosteiro de Sept-Fons.

Confiança cheia de vigor e afeto

Devemos ter uma firme e terna confiança em Nossa Senhora. Ou seja, uma confiança cheia de vigor; mas cheia de afeto, de quem sabe quanto Ela nos ama a cada um.

Quando se quer muito bem a alguém, não se duvida de que esse alguém deseje nos favorecer em toda a medida de sua recíproca benquerença. Precisamos nutrir tal sentimento em relação à Santíssima Virgem, pois Ela tem para conosco um insondável e maternal afeto. E sua ternura sem limites deve ser a própria fonte da firmeza de nossa confiança n’Ela.

Uma confiança que nada pode abalar. Confiança nas dificuldades da vida espiritual, de que as muralhas ruirão, os caminhos se endireitarão, o inverossímil se realizará e de que, por misericórdia d’Ela, cada um de nós alcançará a santidade que Deus nos reserva nos seus eternos desígnios.

AUXILIADORA DOS CRISTÃOS

Em 24 de maio, a Igreja comemora a festa de Maria Auxiliadora dos Cristãos. Esta invocação da Santíssima Virgem foi especialmente cara a Dr. Plinio, desde sua infância. A jaculatória “Auxilium Christianorum, ora pro nobis” (Auxílio dos Cristãos, rogai por nós) brotava freqüentemente de seus lábios. Testemunho eloquente disto são os comentários transcritos abaixo, feitos em resposta à pergunta de um jovem ouvinte.

 

Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos! Por que o título de Auxiliadora? Nossa Senhora tem  como maior glória o ser auxiliadora? Para Ela não é glória maior ser Mãe de Deus? É claro!

Para Ela não é gloria maior ser co-Redentora do gênero humano? É claro! Para Ela não é glória maior ter sido concebida sem pecado original? É claro!

Por que, então, Nossa Senhora Auxiliadora? Por que tanta insistência em torno desta  invocação: Nossa Senhora Auxiliadora?

Compreende-se, pois Ela, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e nossa Mãe, está  permanentemente disposta a nos ajudar em tudo aquilo que nós precisamos. São Luís Maria   Grignion de Montfort tem uma expressão que parece exagerada, mas que está absolutamente dentro da verdade: se houvesse no mundo uma só mãe reunindo em seu coração todas as  formas e graus de ternura que todas as mães do mundo teriam por um filho único, e essa mãe tivesse um só filho para amar, ela o amaria menos do que Nossa Senhora ama a todos e cada um dos homens.

De maneira que Ela de tal modo é Mãe de cada um de nós e nos quer tanto a cada um de nós  — por desvalido que seja, por desencaminhado que seja, por espiritualmente trôpego que seja — que quando qualquer homem se volta para Ela, o primeiro movimento d’Ela é um  movimento de amor e de auxílio. Porque Nossa  Senhora nos acompanha antes mesmo de nos voltarmos para Ela. Ela vê nossas necessidades e é por sua intercessão que nós temos a graça de nos voltarmos para Ela. Deus nos dá a graça de nos voltarmos para Ela, nós nos voltamos e a primeira pergunta d’Ela é: “Meu filho, o que queres?”

Mas nós temos dificuldade em ter isto sempre em vista. Por quê? Porque nós não vemos, e, na  nossa miséria, muitas vezes somos daqueles que não creem porque não vêem. Nós esquecemos. Não duvidamos, mas esquecemos, nos sentimos tão deslocados que dizemos: “Mas será mesmo? Depois, aconteceu-me isto, aconteceu-me aquilo, aconteceu-me aquilo outro, eu pedi a Ela e não fui atendido: por que vou crer que agora serei socorrido? Mãe de Misericórdia… para mim, às vezes sim, mas às vezes não… Nesta próxima provação, por que confiar que serei socorrido, ó Mãe de Misericórdia?!”

É nessas horas, mais do que nunca, que devemos dizer: “Auxilium Christianorum, ora pro  nobis!” Nas horas em que nós não compreendemos, não temos noção do que vai acontecer, nós devemos repetir com insistência: “Auxilium Christianorum! Auxilium Christianorum! Auxilium Christianorum!”

Porque para todo caso há uma saída. Nós às vezes não vemos a saída que Nossa Senhora dará  ao caso, mas Ela já está dando uma saída monumental.

A esse título, portanto, muito especial, nós devemos repetir sempre: “Auxilium Christianorum!” Nossa insuficiência proclama a vitória d’Ela, canta a glória d’Ela. Por isso, esta prece deve estar nos nossos lábios em todos os momentos: “Auxilium Christianorum, ora pro nobis! Auxilium Christianorum, ora pro nobis!”

Meus caros, rezemos, portanto, “Auxilium Christianorum! Auxilum Christianorum! Auxilium  Christianorum!” em todas as circunstâncias de nossa vida, e nossa vida acabará tal que, na hora de morrer, quando nós estivermos no último alento e ainda dissermos “Auxilium Christianorum”, daí a pouco o Céu se abrirá para nós.

Nossa Senhora Auxiliadora

Nossa Senhora é a Auxiliadora por excelência. É quem acode a todos, de todos os modos, em todas as circunstâncias e em todos os lugares. Para agir com tal largueza, só Alguém de uma riqueza fabulosa, e de uma bondade ainda mais extraordinária que essa riqueza, jamais se cansando de ajudar e de perdoar.

E o perdão é um dos seus dons imensamente preciosos, de tal modo que, depois de haver perdoado  muito, Ela ainda tem um sorriso de piedade para quem A ofendeu, quando este A invoca e suplica misericórdia.

Mais. Ela vem em auxilio da alma que não pede, da alma que não vê, da alma que não quer, e a socorre, a bem dizer, pelas costas, alcançando-lhe uma graça que a faz se sentir tocada de amor, de reverência, de gratidão, de força para  rogar novos auxílios. Sua maternal solicitude é uma espécie de roldana que leva até o Céu…

Jesus vivendo em Maria

Nossa Senhora deseja conceder–nos muito mais do que pedimos e até o que não sabemos pedir. Mas é preciso rogar a Ela com a intimidade e a certeza de sermos atendidos como se fôssemos uma criança de colo.

 

Comemora-se em Blois, na França, a festa de Nossa Senhora das Ajudas, a respeito da qual há a seguinte nota aqui consignada:

Cidade onde a heresia jamais penetrou

A devoção à Santíssima  Virgem da cidade de Blois, onde a heresia jamais penetrou, é grande e sincera. É importante que a heresia jamais tenha penetrado lá, porque houve C um período de calvinismo agudo na França  em que mais ou menos em todas as cidades, no século XVI, o protestantismo penetrou em quantidade maior ou menor. Que Blois tenha ficado isenta dessa lepra é uma coisa excelente e digna de  nota, e se relaciona adequadamente com a grande devoção que essa cidade sempre teve para com Nossa Senhora.

Seus habitantes, reconhecidos a tão magnânima Senhora, deram-Lhe o título de Nossa Senhora das Ajudas, pela proteção constante da Virgem que se faz sentir, não só nos tempos das heresias e  pestes, mas também em outras circunstâncias trágicas.

Portanto, a cidade sempre reconheceu ser especialmente protegida pela Santíssima Virgem. Assim constituiu- se a invocação de Nossa Senhora das Ajudas.

Em 1784, as águas do Loire que banham Blois ameaçavam submergir a cidade. O povo, unido, recorreu à sua intercessora e, durante a Missa, no momento da elevação, as águas começaram
a descer rapidamente, até o rio voltar ao seu leito normal.

Ora, uma inundação decorre de causas complexas que atuam com certo vagar. De maneira que é difícil que a água desça tão rapidamente. Temos, pois, a conjunção de dois fatores: de um lado,  Maria Santíssima protegendo nas necessidades materiais, e de outro, tomando essa proteção como um meio para encaminhar as almas à ideia de que Ela ampara também nas necessidades espirituais. Este é o auxílio de Nossa Senhora, o qual se manifesta aqui especialmente no dom inestimável da ortodoxia concedido a essa cidade preservada de modo insigne.

Maria Santíssima nos socorre nas angústias, tribulações e perigos

Relaciona-se com isso o seguinte pensamento de Santo Ildefonso: Ó Virgem Maria, sois clemente em nossas necessidades, doce  em nossas tribulações, boa em nossas angústias, pronta a nos socorrer em nossos perigos. Esta frase está muito bem calculada, porque em relação às necessidades é preciso ter pena, de onde vem exatamente a clemência, pela qual uma pessoa é tocada pelo infortúnio e apuro que outrem está passando.

Então, torna-se generosa. Nas tribulações, a pessoa quer doçura, encontrar um amparo, um apoio, uma palavra amiga. Eis porque, por exemplo, Nosso Senhor quis que seus Apóstolos estivessem  acordados e vigiassem no Monte das Oliveiras. Ele desejava o apoio, a doçura da amizade na tribulação na qual estava.

Assim, nas angústias Nossa Senhora é bondosa porque nos socorre nas tribulações e perigos. Há em São Paulo uma capelinha com um lindo título: Nossa Senhora dos Aflitos. É a Virgem Maria  invocada enquanto tendo pena, sendo clemente e misericordiosa para aqueles que se encontram em toda espécie de aflições. Quando se trata de uma aflição que Nossa Senhora pode remover sem  diminuir com isso o benefício espiritual da pessoa, Ela remove. Sendo uma aflição que, na sua sabedoria, Maria Santíssima julga necessária para essa mesma finalidade, Ela arranja um jeito de a  pessoa ter mais força, de sentir a doçura d’Ela, de poder resistir melhor àquela aflição. Esta é a ideia que vem externada nesta e em tantas outras devoções à Mãe de Deus.

Um ícone bizantino muito significativo

Mais especialmente esta ideia se exprime no culto a Nossa Senhora Auxiliadora. Para compreendermos cada vez melhor esta devoção, seria interessante fazer aqui o comentário de uma oração  composta pelo famoso Padre Condren, varão de alta espiritualidade da França, completada por Monsenhor Olier e enriquecida por Pio IX, em 1853, com trezentos dias de indulgência.

Esta oração foi objeto de um comentário especial do venerável Padre Libermann, e também Dom Chautard tem alguns trechos em que ele a comenta lindamente, em função de um ícone bizantino  que representa Nossa Senhora com um olhar recolhido em oração, onde se vê que Ela está contemplando ideias, conceitos, voltada para o mundo do espiritual e do imponderável, e não para as coisas contingentes que A cercam.

Ela está de mãos abertas, que era a atitude de quem rezava na antiga liturgia bizantina, e sobre o seu peito aparece um círculo, dentro do qual se encontra Jesus com o halo de santidade na cabeça,  representado ainda como muito mocinho, quase um meninote, tendo um rolo de pergaminho na mão esquerda e a direita em atitude de quem está lecionando. É uma alusão à Encarnação do  Verbo. Tendo em Si o Menino Jesus que, enquanto vivendo n’Ela é um Mestre, Nossa Senhora Se recolhe para ouvir os ensinamentos d’Ele em seu interior.

Por outro lado, a atitude contemplativa da Santíssima Virgem é um ensinamento que Ela dá aos outros. De modo que aqui a mediação se exerce magnificamente. O Menino Jesus ensina a Nossa  Senhora e, através d’Ela, instrui os de fora. O recolhimento d’Ela é docente. Este ícone representa precisamente o princípio de que, se temos vida interior e Jesus Cristo vive em nós pela piedade,  pela vida sobrenatural, pela moral, pelo desejo de nos santificarmos, pela fidelidade à ortodoxia – que é um imperativo do primeiro Mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas –, quando isto  acontece, então Nosso Senhor Se serve de nós como de uma tribuna, um púlpito ou uma cátedra, e através de uma osmose que se nota em nossas palavras e em todo o nosso ser, Ele ensina aos  outros.

Jesus e Maria vivendo em outros

Eu estava lendo uma biografia de São Francisco de Sales, na qual o autor fazia observar que o Santo escreveu alguns livros excelentes, como a “Introdução à Vida Devota”, e outro muito bom, sem  ser tão célebre, que é o “Tratado do Amor de Deus”. Pelas notas de sermões dele, verifica-se que eram exposições de pontos perfeitamente comuns da Doutrina Católica. Entretanto, as pessoas não  e saciavam de ouvir.

Um calvinista daqueles mais horrorosos foi ouvir o que ele dizia, e depois o interpelou, dizendo: — Ouvi o que o senhor disse. Quer que eu lhe diga francamente? Não compreendo sua fama. Não  entendo, sobretudo, porque essas senhoras procuram tanto pelo senhor. Analisando suas palavras, afinal de contas, escrevendo, muitos já disseram o que o senhor afirma. O que há, portanto, de  novo no que o senhor diz? Pois bem. O que havia era Jesus e Maria vivendo em São Francisco de Sales. Existia tal unção, tal vida interior, tal osmose da graça naquilo que ele dizia, que Deus falava  através dele e dava uma fecundidade extraordinária. De onde vinha a fecundidade?

Exatamente deste fato: a presença de Jesus e Maria em alguém, passando por osmose para outrem. São João Batista Maria Vianney era exatamente assim. Dom Chautard conta que uma vez um advogado de Paris foi ver o Cura de Ars e, voltando para a sua cidade, alguém lhe perguntou:

— O que você viu em Ars?

Ele respondeu:
— É muito simples. Eu vi Deus num homem.

Aqui está a ideia da “inabitação” que não é física, evidentemente, não tem relação nem sequer com a presença real, mas é receber a graça e irradiá-la. A graça vem exatamente desta “inabitação” de Deus que Nossa Senhora teve com presença física, real e sobrenatural, em todos os graus e modos possíveis.

Devemos ser leões que rugem contra o mal

A este propósito, pediram-me para comentar a seguinte oração, e depois falarei de Nossa Senhora como Auxílio dos Cristãos, em função disso.

Ó Jesus, que viveis em Maria, vinde e vivei em vossos servos: no espírito de vossa santidade, na plenitude de vossas forças, na perfeição de vossas vias, na verdade de vossas virtudes, na comunhão de vossos mistérios. Dominai sobre toda potestade inimiga em vosso espírito, para a glória do Padre. Amém.

Jesus viveu em Maria e, por Maria, Ele se comunica aos homens. Nossa Senhora é o sacrário, o santuário de dentro do qual todas as graças se difundem para os homens. Ela é o templo do Espírito  Santo, o tabernáculo onde está Nosso Senhor, e por causa disso devemos pedir a Jesus, enquanto vivente em Maria, pois é de dentro deste Templo que Ele quer receber nossas orações.

Pedir o quê? Que Ele viva em nós. Ou seja, que tenhamos o espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo, um espírito todo ele santo, que é o espírito da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. 

Portanto, o espírito contrarrevolucionário, expressão mais característica e radical do espírito da Santa Igreja.

Além disso, roguemos a plenitude das forças de Nossa Senhora. Maria Santíssima é a Virgem forte, combativa, intransigente e absolutamente inflexível diante do demônio, do mundo e da carne. 

Devemos pedir essa força, que é intransigência, vigilância e iniciativa dentro da combatividade. Contra o quê? Primeiro, contra o que há de mal dentro de nós. Em segundo lugar, contra o mal que  está fora. De maneira tal que sejamos leões rugindo contra o mal, como exatamente Nosso Senhor Jesus Cristo foi o Leão de Judá, e como sua Mãe Santíssima, de Quem se diz que, sozinha, esmagou todas as heresias do mundo inteiro.

Seguir de modo perfeito as vias de nossa vocação

Depois, pedir a perfeição das vias de Jesus. Nosso Senhor é quem traça a via para cada um. E para nós indicou a via de nossa vocação. Muitos não sabem qual é a sua vocação e rolam pela vida  como seixos do fundo de um rio. Nós, graças a Deus, sabemos qual é a nossa . A via para nós está clara. Devemos pedir a graça de segui-la de um modo perfeito, “na verdade de vossas virtudes”,  portanto, não uma virtude fofa, balofa, inconsistente, mas autêntica, verdadeira e sincera. Esta é a vida de Jesus que se comunica a nós.

Agora vem o pedido de uma ação contra nosso adversário: Dominai sobre toda potestade inimiga… Dominai o demônio, as forças do mundo que tentam arrastar-nos para o mal. Nós pedimos para  nosso bem, é evidente, mas para a maior glória de Deus, pois queremos isto por amor a Ele.

Mais do que o êxito do apostolado, precisamos querer nossa santificação

Que relação tem esse comentário com a festa de Nossa Senhora Auxiliadora? O maior dos auxílios que Maria Santíssima pode nos dar é exatamente o de nos comunicar este espírito de santidade,  esta força, esta perfeição de via, esta autenticidade de virtudes, esta comunhão de mistérios, esta vitória contra o demônio; e comunicar-nos tudo isso para nossa santificação.

Acima de tudo, mais até do que o êxito do apostolado, queremos que cada um de nós se santifique. E para esta santificação, o auxílio de Nossa Senhora se opera por essa forma.

O pensamento “Jesus vivendo em Maria” está muito ligado à noção de Nossa Senhora Auxiliadora. Ela apresenta-Se a nós, na imagem, com o Menino Jesus no braço para indicar a relação  materna que Ela tem com seu Divino Filho, aquela relação de intimidade absoluta, de atender as últimas e menores dificuldades de uma criança, com aquele afeto, aquela bondade, que se tem, não para com o grande  e o forte, mas para com o pequenino e o fraco.

Já pensaram o que representava para Nossa Senhora ver uma criança chorar? Perceber que ela tinha frio ou fome, e saber que era Deus infinitamente poderoso, nobre, Criador d’Ela, ali chorando  dentro do berço e pedindo o auxílio d’Ela, querendo ser tratado e adorado por Ela enquanto pequenino?

De tal maneira está entranhada nessa intimidade entre ambos a ideia de que Ele é Filho d’Ela, que Jesus quis receber de Maria um culto meigo, miúdo, acessível, todo feito de carinho, porque na  essência divina há um fundamento para isso.

Como se fôssemos uma criança de colo…

Isto fez da Santíssima Virgem a Mãe de todo o gênero humano. Nossa Senhora, Mãe de Jesus Cristo e de todos os cristãos, é Mãe do Corpo Místico de Cristo. E em relação a cada um de nós, a  posição d’Ela é de querer que sejamos como meninos, como o filho carregado no colo que Lhe pede toda espécie de coisas, e a quem Ela dá muito mais do que pede, até mesmo o que não sabe pedir. Mas a condição é de rezar com aquela intimidade, com a certeza de ser atendido por Ela, como se fôssemos uma criança de colo. É a este título que Maria nos auxilia. É aquela multidão de  auxílios concedida aos pequenos, muito mais do que aos grandes.

Aqui está bem o traço filial da devoção a Nossa Senhora Auxiliadora e que estabelece uma linha de comunicação, de afinidade ou de identidade com a pequena via de Santa Teresinha do Menino   Jesus. É a criança, o pequeno que cultua a Virgem Maria por esta forma, e com quem Ela quer ter relações assim. Debaixo deste ponto de vista se poderia dizer que o Reino dos Céus é dos  meninos, e quem não for pequenino não entra nele.

Na Igreja, as almas mais grandiosas, mais majestosas, mais fortes, mais extraordinárias, sempre que trataram da Santíssima Virgem Maria, falaram nesse diapasão. Mesmo quando disseram as  coisas mais altas sobre Ela, tinham bem em mente ser a Mãe que desejava tratar a cada um deles com aquela bondade, aquela solicitude, aquele sorriso com que se trata um menino. Aqui está um “aperçu” da devoção a Nossa Senhora enquanto Auxiliadora.

 

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 254 (Maio de 2019)

O grampo de ouro

A Virgem Santíssima é para Deus Padre a mais eleita das criaturas, escolhida por Ele desde toda a eternidade para ser a Esposa de Deus Espírito Santo e a Mãe de Deus Filho. Para estar à altura dessa dignidade, Maria havia de ser a ponta de pirâmide de toda a Criação, acima dos próprios Anjos, elevada a uma inimaginável plenitude de glória, perfeição e santidade.

Nossa Senhora é o grampo de ouro que une a Nosso Senhor Jesus Cristo toda a Criação, da qual Ela é o ápice e a suprema beleza.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 7/2/1971)