Padroeira do Brasil

Pode-se dizer que o Brasil é um feudo de Nossa Senhora enquanto concebida sem pecado original, ou seja, da Imaculada Conceição.

O fato dessa imagem ter sido encontrada no Rio Paraíba, no século XVIII, é de grande significado para o Brasil. Naquela época, embora francamente admitido pela maioria dos católicos, o dogma da Imaculada Conceição ainda não estava definido. E fazer uma profissão de Fé nesse augusto privilégio de Nossa Senhora constituía um distintivo de requintada ortodoxia.

Ora, exatamente a partir do aparecimento dessa imagem, mais de um século antes da definição dogmática, foi o Brasil colocado sobre o patrocínio da Imaculada Conceição. Isto indica um chamado especial da Mãe de Deus para nossa Pátria, e é motivo de imenso júbilo para todos os brasileiros devotos da Santíssima Virgem.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 12/10/1970 )

Oração: Nossa Senhora Aparecida, glória, alegria e honra do nosso povo

Ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças e, mais do que todas, concedei-nos a graça das graças: Ó Mãe, uni intimamente a Vós este vosso Brasil!

Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes. Tornai sempre mais largo e misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.

Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.

Fazei-nos sempre mais fortes na luta por Cristo-Rei, Filho vosso e Senhor nosso. De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para Lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina do cêntuplo nesta Terra e da bem-aventurança eterna.

Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece? Onde encontrá-las senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superiora a qualquer louvor humano? De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito palavras que amorosamente aqui repetimos: “Tu gloria Ierusalem, tu lætitia Israel, tu honorificentia populi nostri” (Jt 15, 10).

Sois Vós a glória, a alegria, a honra deste povo que Vos ama!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído do Jornal “Última Hora” de 12/10/1983)

Nossa Senhora Aparecida e Imaculada Conceição

A luta que, durante séculos, houve entre os que se opunham tenazmente à Imaculada Conceição e os que a defendiam, exprime de certa forma o combate entre revolucionários e contra-revolucionários. O Brasil, tendo como Padroeira a Imaculada Conceição Aparecida, tem uma vocação contrarrevolucionária. E chegará o dia bendito em que ele será uma grande nação escrava de sua Rainha e Senhora.

 

A devoção a Nossa Senhora Aparecida, de fato, refere–se a uma imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição que recebeu o título de “Aparecida” porque apareceu no Rio Paraíba, e foi recolhida por pescadores em dois lances de rede diferentes: primeiro veio o corpo da imagem de barro e depois a cabeça.

Disputas internas na Igreja a propósito da Imaculada Conceição

Então, o título de Nossa Senhora Aparecida é uma espécie de segunda invocação ou de segundo título que se insere, à maneira de um ramo, no tronco principal que é Maria Santíssima enquanto concebida sem pecado original, quer dizer, a Imaculada Conceição.

O fato de essa imagem ter aparecido no século XVIII, quando o Brasil ainda era colônia, tem um significado muito grande para nós. Durante muito tempo, desde primórdios da Igreja até o pontificado de Pio IX, foi discutido entre os teólogos se se poderia afirmar como dogma de Fé que Nossa Senhora tinha sido concebida sem pecado original.

Muitos teólogos sustentavam deduzir-se isto das Sagradas Escrituras e, sobretudo, da Tradição da Igreja. Entretanto, havia teólogos que achavam o contrário, que Nossa Senhora não era isenta do pecado original.

Na Igreja os espíritos mais “mariais”, mais tocados pela devoção a Nossa Senhora, sempre sustentaram que Ela não tinha sido concebida no pecado original. No curso dos séculos foi se consolidando a corrente a favor da Imaculada Conceição, sendo este tema objeto de muitas disputas internas na Igreja, a tal ponto que, 150 ou 200 anos antes de Pio IX e da definição do dogma, a questão já estava tão esclarecida que todo mundo com bom espírito defendia a Imaculada Conceição de Maria.

Assim, tinham se diferenciado completamente dois filões dentro da Igreja; e ser favorável à Imaculada Conceição era um sinal, um distintivo de espírito contrarrevolucionário daquele tempo. E o Brasil foi colo-cado sob o patrocínio desta devoção, então contrarrevolucionária, exatamente a partir daquela época.

Isto indica uma vocação contra-revolucionária do Brasil, que não podemos deixar de notar com reconhecimento a propósito desta festa.

São Frei Galvão foi escravo de Nossa Senhora

Por outro lado, uma coisa curiosa que eu soube recentemente é a seguinte: também no Brasil a escravidão a Nossa Senhora, ensinada por São Luís Maria Grignion de Montfort, entrou aqui muito mais cedo do que se supunha.

Quando eu era pequeno nunca ou-vira falar da escravidão a Nossa Senhora, e só tive notícia desta escravidão quando comprei o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, em francês; e depois conheci algumas pessoas que falavam da escravidão a Nossa Senhora porque tinham lido o “Tratado”, também em francês. Fiquei, assim, com uma impressão vaga, difusa de que no Brasil não houvera escravos de Maria Santíssima antes da penetração do livro de São Luís Grignion de Montfort neste País.

Outro dia, lendo a biografia de Frei Galvão — aliás, vida muito bonita e cheia de pormenores interessantes —, franciscano morto em odor de santidade, fundador do Convento da Luz, onde foi sepultado, encontrei a fotocópia de um ato pelo qual ele se constituía escravo de Nossa Senhora, e há trechos inteiros tirados do “Tratado da Verdadeira Devoção”.

Vê-se que ele adaptou um tanto a consagração de São Luís Grignion, mas no essencial é inteiramente aquilo. É uma consagração muito longa, talvez mais extensa que a de São Luís Maria Grignion de Montfort, e que enche, na caligrafia muito miúda dele, creio que os dois lados de uma folha de papel amarelada, que está exposta, aliás, no atual Museu de Arte Sacra, contíguo ao Convento da Luz.

Tive a alegria de saber que Nossa Senhora já teve escravos muito anteriormente a nós, e que este País, onde a propensão sobrenatural para a devoção a Maria Santíssima é uma das bênçãos existentes, talvez tenha tido, desde o início, escravos de Nossa Senhora vivendo aqui e preparando o dia em que o Brasil inteiro seria uma grande nação escrava de sua Rainha e Senhora.

Estas considerações feitas de passagem a respeito da festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida nos levam, entretanto, a aprofundar um pouco mais os comentários sobre dogma da Imaculada Conceição.

Efeitos do pecado original

Há quem confunda a Imaculada Conceição com outro predicado nobilíssimo de Nossa Senhora, mas que é distinto daquele: a virgindade de Maria Santíssima antes, durante e depois do parto, que é dogma de Fé.

A Imaculada Conceição tem o seguinte sentido: havendo Adão e Eva pecado, e sendo eles, na presença de Deus, os pais do gênero humano, contendo, portanto, todo o gênero humano em si como, por exemplo, a semente contém a árvore, aconteceu que aquele pecado recaiu sobre toda a humanidade.

É mais ou menos o que acontece quando o pai ou a mãe contraem uma doença muito ruim — eles podem não ter culpa disso, mas o filho acaba nascendo com esta doença. Assim, nós nascemos com o peca-do original.

Os efeitos do pecado original no homem são tremendos. Todo o prosaísmo que existe na natureza humana, tudo aquilo que no homem causa repugnância, asco, por exemplo, é efeito do pecado original. Nós não sabemos como funcionava o organismo antes do pecado original, mas é positivo que nada do que se dava no organismo humano antes era nojento como as coisas depois desse pecado.

Os Santos acentuam muitas vezes a miséria da condição do homem depois do pecado, como tendo um corpo que de si, continuamente, produz imundícies. Isto é bem verdade, e é uma das notas mais humilhantes da condição humana. Tudo quanto sai do homem é desagradável, nós reputamos sujeira, desde o pranto até o suor, etc., porque vem carregado do prosaísmo deste corpo que tem a nódoa do pecado original.

O homem se tornou sujeito à dor, à doença, à morte depois do pecado original. E sujeito ao erro; o homem não errava antes do pecado original, não havia nele esta oposição entre a sensibilidade, de um lado, e a inteligência e a vontade, do outro.

Tantas vezes desejamos algo que nossa inteligência mostra ser reprovável, e daí surge a necessidade de nossa vontade mover um combate para recusarmos à nossa sensibilidade aquilo que a inteligência indica que é ruim.

Nada disto existia no homem antes do pecado original, e o ser humano era uma criatura absolutamente superior, de cuja perfeição não temos ideia.

Se um homem concebido antes do pecado chorasse, o seu pranto seria perfumado e bonito e nunca uma das imundícies da Terra. Do seu corpo nada de sujo exalaria; enfim, todas as mil misérias que nos afligem o homem não teria antes do pecado original.

Um problema psicológico

Então, por detrás do pecado original e de Nossa Senhora, se punha o seguinte problema, que tem um valor não tanto teológico quanto psicológico: a Santíssima Virgem Maria como era? Por exemplo, Ela estava sujeita ao resfriado? Teria nossas mil mazelas físicas?

Não havia dentistas naquele tempo. Mas nós poderíamos imaginar Nossa Senhora indo a um dentista, se os houvesse? Ou consultando um médico, porque tinha, por exemplo, um cálculo nos rins? Naquela época o médico era um pouco mais do que um curandeiro, mas já se julgava muito seguro de sua arte.

Se nós imaginássemos a Virgem Maria assim, ou nossa ideia a respeito d’Ela diminuiria, ou a nossa rejeição em relação a essas misérias do homem decresceriam, e sentiríamos menos que elas são efeito do pecado.

Não quero dizer que todo mundo que foi contra a Imaculada Conceição tinha este mau espírito, mas quem possuía mau espírito era pro-penso a ser contrário à Imaculada Conceição. Compreende-se aí o problema psicológico que se põe.

Entende-se também que espécie de família de almas combateu tenazmente a Imaculada Conceição até o fim, e nota-se algo do sentido revolucionário e contrarrevolucionário desta luta.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Prece à Padroeira do Brasil

Ó Senhora Aparecida, a hora é de aflição! Melhor do que qualquer  brasileiro, o sabeis Vós, que sois Mãe de todos eles. Crise sócio-econômica, crise moral, mais grave que tudo, crise religiosa! O que num país fica fora da crise, quando ela se instalou em todos esses domínios?

Sem embargo de toda essa crise, vamos transpondo gloriosamente um marco histórico. Pois estamos entrando no rol das nações que, por sua importância, determinam o rumo dos acontecimentos presentes e têm em suas mãos os fios com que se tece o futuro dos povos.

Neste momento de apreensões e esperanças de glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus onipotente. Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais, e as riquezas que nele pusestes.

Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão bem se fundiu no grande caudal étnico de origem lusa — e cujo ambiente cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as contribuições trazidas por habitantes de todas as latitudes.

Agradecemo-Vos a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o momento bendito da Primeira Missa. Agradecemo-Vos nossa História, serena e harmoniosa, tão mais cheia de cultura, de preces e de trabalho, do que de desavenças e de guerras. Agradecemo-Vos nossas guerras justas, iluminadas sempre pela auréola da vitória. Agradecemo-Vos nosso presente, tão cheio de esperanças, sem embargo das crises que nos assolam.

Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas e que, irmanadas conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças do porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo caminho de apreensões e de ascensão.

Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza, que desponta, nos foi dada não só para nosso bem, mas para o de todos. Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa História, no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam problemas, terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos. Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer  brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira luz que as trevas jamais conseguirão apagar.

* * *

Nossa oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal, lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.

Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se fazem notar, que mantêm em sobressalto todos os espíritos lúcidos e vigilantes.

Plinio Corrêa de Oliveira

Feudo da Rainha do Céu

É um fato curioso e edificante na vida da Igreja que, sendo esta depositária das verdades teológicas as mais altas e complexas, a massa dos fiéis, entretanto, servida por uma especial acuidade de visão, penetra e vive essas verdades ainda mesmo quando seu nível cultural pareceria vedar-lhe o acesso a qualquer atividade intelectual de ordem superior. Em tudo que se relaciona com a devoção a Nossa Senhora, esta observação se comprova com toda a clareza.

Com efeito, a doutrina marial e a devoção à Virgem Maria têm crescido constantemente, desenvolvendo-se, porém, não à moda de hipérboles afetivas e meramente literárias, mas como uma torre de raciocínios, firme como o granito, à qual cada geração de teólogos acrescenta mais alguns andares solidamente esteados no esforço diligente desenvolvido pela razão a fim de descobrir todo o alcance e extensão das verdades reveladas.

Entretanto, é tocante observar como a piedade popular, ignorando muitas vezes os argumentos da Teologia sagrada e deixando-se guiar em grande parte pela finura de sua sensibilidade, desce até  o âmago profundo das verdades teológicas ensinadas pela Igreja e sabe vivê-las com uma autenticidade de convicções e sentimentos que não se poderia explicar sem a ação do Espírito Santo.

Não há um povo que não tenha ao menos um grande Santuário nacional erigido em honra de Maria Santíssima, no qual a Rainha do Céu faça chover sobre os homens, com abundância, as graças  espirituais e temporais.

A Igreja nunca mandou que cada povo erigisse um Santuário nacional particularmente dedicado à Santíssima Virgem, mas se limitou a definir as verdades mariais. Na maioria dos casos, a piedade entusiástica dos fiéis tem seguido seu curso, a ponto de se poder sustentar que quase todas as festas de Nossa Senhora e as formas de piedade com que Ela é honrada nasceram na massa dos fiéis espontaneamente ou por meio de revelações particulares, sendo posteriormente sancionadas pela Igreja.

Isto porque a piedade popular sente viva e profundamente que Nossa Senhora é, na realidade, a Mãe de todos os homens, e especialmente dos que vivem no aprisco da Igreja de Deus. E sente, ainda, que a mediação d’Ela é a porta segura para se ter acesso junto ao trono do Criador.

Fazendo estas reflexões, lembro-me de Aparecida do Norte e das impressões profundas que tenho colhido sempre que ali vou rezar aos pés da Padroeira.

Onde, no Brasil inteiro, um lugar para o qual, com tanta e tão invencível constância, se voltam os olhos de todos os brasileiros?

Quem, ao ouvir falar em Nossa Senhora Aparecida, pode não se lembrar das súplicas abrasadoras de mães que rezam por seus filhos doentes; de famílias que choram, no desamparo e na miséria, o bem-estar perdido e se voltam para o trono da Rainha da clemência; de lares trincados pela infidelidade; de corações ulcerados pelo abandono e pela incompreensão; de almas que vagueiam pelo reino do erro à procura do esplendor meridiano da  Verdade; de espíritos transviados pelas veredas do vício que procuram, entre prantos, o Caminho; de almas mortas para a vida da graça e que querem encontrar, nas trevas de seu desamparo, as fontes de uma nova Vida?

Onde se pode sentir de modo mais vivo o calor ardente das súplicas lancinantes e a alegria magnífica das ações de graças triunfais?

Onde, com mais precisão, se pode auscultar o coração brasileiro que chora, que sofre, que implora, que vence pela prece, que se rejubila e que agradece, do que na Aparecida?

E sobretudo, onde é mais visível a ação de Deus na constante distribuição das graças, do que na vila feliz, que a Providência constituiu feudo da Rainha do Céu?

Plinio Corrêa de Oliveira

(“Pro Maria fiant maxima”, Legionário, N.º 379, 17 de dezembro de 1939)

 

Nossa Senhora Aparecida

Pode-se dizer que o Brasil é um feudo de Nossa Senhora enquanto concebida sem pecado original, ou seja, da Imaculada Conceição.

O fato dessa imagem ter sido encontrada no Rio Paraíba, no século XVIII, é de grande significado para o Brasil. Naquela época, embora francamente admitido pela maioria dos católicos, o dogma da Imaculada Conceição ainda não estava definido. E fazer uma profissão de Fé nesse augusto privilégio de Nossa Senhora constituía um distintivo de requintada ortodoxia.

Ora, exatamente a partir do aparecimento dessa imagem, mais de um século antes da definição dogmática, foi o Brasil colocado sobre o patrocínio da Imaculada Conceição. Isto indica um chamado especial da Mãe de Deus para nossa Pátria, e é motivo de imenso júbilo para todos os brasileiros devotos da Santíssima Virgem.

(Extraído de conferência de 12/10/1970 )

Rainha do Brasil

Com a coroação de Nossa Senhora Aparecida, esta devoção, nascida tão humildemente, culminou num verdadeiro ato jurídico, por efeito do poder das chaves concedido por Nosso Senhor Jesus Cristo à Igreja.

Maria Santíssima ficou sendo no Céu, além de Advogada, a verdadeira Rainha do Brasil. Esta realeza estabelece um vínculo especial de Nossa Senhora com este povo. Devemos ver neste fato um prenúncio do Reino de Maria, pois ao ser a Santíssima Virgem aclamada Rainha do Brasil, o Reino d’Ela fica juridicamente declarado.

Rezemos, portanto, pelo triunfo do Coração Imaculado de Maria, que no Brasil se apresenta sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

(Extraído de conferência de 5/10/1964)

Ó Senhora Aparecida!

Neste momento rico em esperanças e glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus onipotente.

Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais, e as riquezas que nele pusestes.

Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão bem se fundiu neste grande caudal étnico de origem lusa — e cujo ambiente cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as contribuições trazidas por habitantes de todas as latitudes.

Agradecemo-Vos a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o momento bendito da Primeira Missa.

Agradecemo-Vos nossa História, serena e harmoniosa, tão mais cheia de cultura, de preces e de trabalho, do que desavenças e de guerras..

Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas, e que, irmanadas conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças do porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo caminho de ascensão e de êxito.

Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza, que desponta, nos foi dada não só para nosso bem, mas para o de todos.

Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa História, no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam problemas,  terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos. Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira luz que as trevas jamais conseguirão apagar.

PRECE

Nossa oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal, lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.

Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se fazem notar que mantêm em sobressalto todos os espíritos lúcidos e vigilantes.

Por tudo isto, Senhora, pedimo-Vos perdão.

E, além do perdão, Vos pedimos forças. Pois sem o auxílio vindo de Vós, nem os fracos conseguem vencer suas fraquezas, nem os bons alcançam conter a violência e as tramas dos maus.

Com o perdão, ó Mãe, pedimo-Vos também a bênção.

Quanto confiamos nela!

Sabemos que a bênção da Mãe é preciosa condição para que a prece do filho seja ouvida, sua alma seja rija e generosa, seu trabalho seja honesto e fecundo, seu lar seja puro e feliz, suas lutas sejam nobres e meritórias, suas venturas honradas, e seus infortúnios dignificantes.

Quanto é rica destes, e de todos os outros dons imagináveis, a Vossa bênção, ó Maria, que sois a Mãe das mães, a Mãe de todos os homens, a Mãe Virginal do Homem-Deus!

Sim, ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças, e mais do que todas, concedei-nos a graça das graças. Ó Mãe, uni intimamente a Vós este Vosso Brasil.

Amai-o mais e mais.

Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes.

Tornai sempre mais largo e mais misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.

Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.

Fazei-nos sempre mais amantes da paz, e sempre mais fortes na luta pelo Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Filho Vosso e Senhor nosso.

De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina, do cêntuplo nesta terra e da bem-aventurança eterna.

*    *    *

Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil! Com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece de ação de graças e súplica? Onde encontrá-las, senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superior a qualquer louvor humano?

De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito, palavras que amorosamente aqui repetimos:

— “Tu gloria Jerusalem, tu laeticia Israel, tu honorificentia populi nostro”.

Sois Vós a glória, Vós a alegria, Vós a honra deste povo que Vos ama.

(Plinio Correa de Oliveira, Folha de São Paulo, 16/1/1972, Prece do Sesquicentenário)

Inestimável socorro para os pecadores

Maria Santíssima, como a melhor de todas as mães, desdobra-se em solicitudes e bondades em relação a seus filhos, de modo especial para com aqueles que gemem sob o peso de seus pecados. A estes oferece Ela os tesouros de sua insondável misericórdia, a fim de resgatá-los e conduzi-los à salvação eterna. Nesse sentido, Dr. Plinio analisa uma piedosa ladainha composta por São João Eudes.

Conhecido por sua doutrina sobre os Sagrados Corações de Jesus e Maria, São João Eudes escreveu esta bela ladainha de invocações a Nossa Senhora:

Ave Maria, Filha de Deus Padre.
Ave Maria, Mãe de Deus Filho.
Ave Maria, Esposa do Espírito Santo.
Ave Maria, templo de toda a Divindade.
Ave Maria, alvíssimo lírio da Trindade, fulgurante e sempre sereno.
Ave Maria, rosa resplandecente de celestial amenidade.
Ave Maria, Virgem das Virgens, Virgem fiel, de quem quis nascer e de cujo leite quis se amamentar o Rei dos Céus.
Ave Maria, Rainha dos Mártires, cuja alma foi transpassada pelo gládio da dor.
Ave Maria, Senhora do mundo, a quem foi dado todo poder no Céu e na Terra.
Ave Maria, Rainha do meu coração, Mãe, vida, doçura e esperança minha caríssima.
Ave Maria, Mãe amável.
Ave Maria, Mãe admirável.
Ave Maria, Mãe de misericórdia.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.

E bendito é o vosso Esposo, São José.
E bendito é o vosso Pai, São Joaquim.
E bendita é a vossa Mãe, Sant’Ana.
E bendito é São João, a quem fostes confiada ao pé da Cruz.
E bendito é o vosso Anjo, São Gabriel.
E bendito é o Eterno Padre que vos escolheu.
E bendito é o vosso Filho que vos amou.
E bendito é o Espírito Santo que vos esposou.
E benditos são eternamente os que vos bendizem e crêem em Vós.

Maternal convite à conversão

Essas invocações, além de belas e tão expressivas, encerram grande valor espiritual, pois, segundo o autor que as publica, o próprio São João Eudes “recomendava que se recitasse esta prece para a conversão dos pecadores e prescrevia a seus filhos que a dissessem na cabeceira dos doentes.

“A Santa Virgem lhe prometeu que todos que a recitassem com devoção e boa vontade, se estivessem em estado de graça, Ela lhes aumentaria a devoção em seus corações, a cada uma das  saudações ou bênção.”

Portanto, cada invocação alcançaria uma graça especial, um aumento da devoção a Nossa Senhora. “E se estivesse em pecado mortal, com sua mão doce,  virginal, Nossa Senhora bateria na porta dos pecadores, a cada saudação ou bênção que dissessem, convidando-os a se abrir para a graça”.

Ou seja, um favor extraordinário de Maria Santíssima. A cada uma dessas invocações dita pelo pecador em estado de pecado grave, Nossa Senhora lhe bate à porta da alma, convidando-o a uma emenda, ao arrependimento e à penitência.

“E acrescentou que, em relação às pessoas empedernidas no pecado e difíceis de converter, seria salutar incitá-las a dizerem de bom grado essa oração. Ou, pelo menos, concordarem que a oração seja dita por elas, o que lhes faria igualmente bem.”

Compreende-se, então, como essa ladainha de invocações constitui um importantíssimo meio de conversão, e um valioso instrumento de santificação. As três primeiras invocações se referem à  Nossa Senhora como Filha de Deus Padre, Mãe do Filho Encarnado e Esposa do Divino Espírito Santo, e formam a trilogia mariana apreciada por muitos santos, teólogos e doutores. Dessa  ladainha, elas se desprenderam como três sóis, três estrelas para constituírem um tesouro especial no firmamento da Igreja.

Creio que nunca será demasiado recomendar esta linda prece a todos os católicos, mormente aos que, por infelicidade, se encontrem sob o jugo do pecado. 

A Sagrada Família

Imaginando aspectos da Santa Casa de Nazaré, Dr. Plinio comenta as sublimes realidades do dia-a-dia da Sagrada Família, bem como o enlevo e a admiração do Santo Casal por seu Filho-Deus.

É comum encontrar estampas com pitorescas representações da casa onde viveu a Sagrada Família. Muitas são respeitáveis e bastante apropriadas. Em geral, combinam uma pureza diáfana com uma luz que não era apenas a de um dia belamente luminoso — luz persistentemente matinal de um horário que já não é matinal. Em síntese, apresentam uma simplicidade absoluta junto a uma limpeza absoluta.

Isto é o que nos apresentam tais figuras, mas fica-se sem saber o que dizer a respeito do que acontecia na Casa de Nazaré. Imaginemos, então.

Imaginando aspectos da casa e do dia-a-dia

O que comentar, por exemplo, da limpeza desta casa?

Era Maria Santíssima que, diante dos coros angélicos extasiados, fazia a limpeza da Santa Casa. Às vezes era São José, seu castíssimo esposo, quem a fazia. Noutra ocasião, quando estavam cansados, era o Menino quem limpava a casa para que os pais a encontrassem em bom estado… É difícil crer, mas nem sequer os Anjos tinham o privilégio de limpá-la.

Num canto da casa, há um simples jarro, do qual se levanta uma açucena, reta como a virgindade. É a única coisa que fala de arte; o resto é tão simples…

Entretanto, olhando para qualquer madeira tosca, para o pé de uma cadeira, por exemplo, ou para uma prateleira que suporta três ou quatro pequenos objetos indispensáveis para viver, fica-se extasiado! Não se sabe o que dizer diante dessas “sublimes bagatelas”, tão comuns na vida de qualquer um, mas, que por estarem postas naquela casa, assumem um caráter todo especial.

Sublimes realidades

Imaginemos São José sentado, torneando alguma coisa, enquanto Nossa Senhora faz alguma costurinha, e o Menino que, tão pequeno ainda, brinca com duas ou três pedrinhas, em pé, apoiado numa cadeira vazia.

Não há palavras que bastem para nos explicar o que, na realidade, está se passando: este Menino — verdadeiro menino, nascido da linhagem de David — foi gerado pelo Espírito Santo nas entranhas de Nossa Senhora, a flor do gênero humano!

Enquanto o Menino Jesus brinca com suas pedrinhas, e n’Ele a natureza humana se desenvolve segundo a ordenação posta por Deus, que repercussão estará havendo nas relações das Três Pessoas da Santíssima Trindade? Entretanto, tudo tão simples, tão elementar.

Enlevo e admiração pelo Filho-Deus

Pode-se imaginar o enlevo sem fim que o casal tinha por cada olhar ou movimento do Menino. Enquanto trabalhavam em alguma coisinha, Maria e José ficavam atentos ao mínimo gesto de Jesus e procuravam não perder sequer uma emissão de voz d’Ele.

Quem não ficaria atento? Afinal, eles sabiam que era o Homem-Deus que estava assim Se movendo.

Isto representava para eles um tesouro sem conta.

O dia-a-dia da Sagrada Família

Como seria o relacionamento no seio da Sagrada Família?

Conversariam sobre a virgindade fecunda de Nossa Senhora? Teriam uma interlocução por onde, constantemente, faziam referência à natureza divina? Ou somente falavam sobre estes assuntos nas grandes ocasiões, quando, por exemplo, baixavam do Céu luzes extraordinárias, ou quando contemplando o Menino tinham êxtases místicos?

Eu sou propenso a acreditar que, na maravilha desse convívio interno, as situações mais diferentes se sucediam simultaneamente, e isto constituía uma forma de convivência celeste.

A vida comum de uma pobre família operária, e o encanto das considerações metafísicas e sobrenaturais de Nossa Senhora e de São José, que viviam inundados pela presença do Menino, uniam-se no dia-a-dia da Casa de Nazaré.

Numa ocasião comum, Nossa Senhora perguntaria:

— José, meu esposo, fostes vós que abristes aquela porta? Ireis porventura sair, levando o banco que acabastes de fazer?
— Senhora, responderia São José, preciso ainda ficar aqui por algum tempo, exceto se vossa vontade for outra.

Acrescentaria ele:

— Senhora, Vós Vos distraístes — ele bem sabia que Maria tinha estado conversando com os Anjos — e o almoço vai longe em nosso pequeno fogareiro; vede um pouco… Quem sabe ao certo como se davam estas coisas? Pode-se imaginar tudo.

Previsão do sofrimento e da glória

Noutra ocasião, o Menino — que quando adulto, no Tabor, reluziria entre Moisés e Elias de um modo tão esplendoroso —, no momento inopinado em que vinha pedir licença aos pais para brincar um pouco no jardim, apareceria diante deles com um brilho deslumbrante. Eles passavam alguns instantes sem poder responder ao Menino — o qual esperava reluzente a resposta —, completamente transportados para outra esfera: estavam diante de Deus.

Em certos momentos, Eles viam que o Menino Lhes aparecia brincando com dois pauzinhos que Ele carregava às costas: era o precônio da cruz.

Ficavam, então, com o coração partido, olhando o Menino Jesus andar determinadamente de um lado para outro na casa, fazendo um gesto ao Padre Eterno. Era um ato figurativo da Agonia no Horto.

Tudo estava impregnado por uma respeitabilidade, uma majestade, de uma seriedade augusta, de uma determinação forte, para dizer tudo em uma só palavra, de uma seriedade e de uma dor desconcertantes!

Que dor, que nobreza, que grandeza, que majestade!

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 20/11/82)