Por que a verdade desperta ódio?

O tema é incômodo, razão pela qual muitas pessoas preferem escamoteá-lo. Contudo, ou ele é elucidado, ou jamais conseguiremos compreender certas atitudes e posições de nossos semelhantes,  especialmente quando confrontados com a doutrina católica. Dr. Plinio vai à procura da explicação.

 

Um leitor simpático me pede que explique por que a Igreja apesar de ser a pregoeira da Verdade tem sido tão combatida ao longo de sua história. Quer ele saber também por que são tão combatidos, em nossos dias, os católicos verdadeiros, que não pactuam com os erros do século, e se mantêm fiéis ao ensinamento imutável de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Parece-me que o leitor poderia ter ampliado ainda mais o campo de sua pergunta. As perseguições feitas contra a Igreja e os verdadeiros católicos de nossos dias, são prolongamento histórico das que sofreu Nosso Senhor Jesus Cristo. Como explicar que o Homem-Deus, que é a Verdade, o Caminho e a Vida, tenha sofrido perseguição, a ponto de ser crucificado entre dois vulgares ladrões? 

A esta pergunta responde luminosamente um dos maiores doutores de todos os tempos, o grande Santo Agostinho, bispo de Hipona. Reproduzo aqui adaptando-o ligeiramente, para mais fácil intelecção do leitor contemporâneo o ensinamento do Doutor dos séculos IV e V. 

Comentando a célebre palavra de Terêncio: “A verdade engendra o ódio”, Santo Agostinho (Confissões, Livro X, Cap. XXIII) pergunta como explicar fato tão ilógico. Com efeito, diz ele, o homem ama naturalmente a felicidade. 

Ora, esta é a alegria nascida da verdade. Assim, é uma aberração que alguém veja um inimigo no homem que prega a verdade em nome de Deus. 

Assim enunciado o problema, o Santo Doutor passa à explicação. A natureza humana é tão propensa à verdade que, quando o homem ama algo de contrário à verdade, ele quer que este algo seja verdadeiro. Com isto, cai em erro, persuadindo-se de que é verdadeiro o que na realidade é falso.

Assim, cumpre que alguém lhe abra os olhos. Ora, como o homem não admite que se lhe mostre que se enganou, por isto mesmo não tolera que se lhe demonstre qual o erro em que está. E o Doutor de Hipona observa: por esta forma, certos homens odeiam a verdade, por amor daquilo que eles tomaram por verdadeiro! Da verdade eles amam a luz, não porém a censura… Eles a amam quando ela se lhes mostra, eles a odeiam quando ela lhes faz ver o que eles são.

Por sua deslealdade, tais homens sofrem da verdade a seguinte punição: eles não querem ser  desvendados por ela, e sem embargo ela os desvenda. E contudo ela, a verdade, continua velada aos olhos deles. É assim, é precisamente assim que é feito o coração humano. Cego e preguiçoso, indigno e desonesto, ele se oculta, mas não admite que nada lhe seja ocultado. Assim lhe sucede que ele não consegue fugir dos olhos da verdade, mas a verdade foge dos olhos dele. Com estas palavras, conclui Santo Agostinho o seu magistral comentário. 

Plinio Corrêa de Oliveira (Excertos transcritos da Folha Santo Agostiinho de S. Paulo, de 23/4/1972) 

Corpo, Sangue, Alma e Divindade… – II

Nossa ação de graças quando comungamos deve ser completa. Além de adorarmos Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos prestar-Lhe também os outros atos de culto. A seguir, em continuação ao artigo publicado no mês anterior, Dr. Plinio nos sugere uma maneira de agradecermos tão grande dádiva.

 

Qual é a razão de ser da ação de graças após a Comunhão?

Ação de graças

A ação de graças é um ato de justiça, e quem não a faz é injusto.

Quando se recebe um dom muito grande, o qual não é o pagamento de uma ação boa que se fez, mas vai muito além, deve-se dar ação de graças.

Imaginemos um homem que é banhista, o qual deve ajudar as pessoas a tomarem banho de mar. Antigamente havia essa profissão. Esse banhista acompanha no mar um grupo de pessoas e evita que uma delas morra afogada. Não tem propósito que esta, chegando à praia, diga: “Olha, você foi o meu salvador”. Porque o banhista é um profissional pago para isso, e aquela pessoa não entraria no mar a não ser com ele; o banhista não expôs sua vida, fez apenas algo simples, não um favor. Ao final, ela poderia dizer: “Obrigado. Até logo, aqui está o seu dinheiro”.

Entretanto, se uma pessoa está se perdendo no mar e um homem se atira na água com todo o risco, salva-a e a conduz para a praia, a primeira coisa que ela deve dizer-lhe é: “Muito obrigado”. Trata-se de um dever de justiça.

Vou indicar alguns favores que Nosso Senhor nos fez. O primeiro: não existíamos e, por sua onipotência, Ele nos criou. Isso é mais do que salvar a vida. Um homem que salva minha vida adia uma morte que, ao cabo de algum tempo, terei. Quem me criou deu-me a vida da alma, a qual nunca deixarei de possuir. Eu, Plinio Corrêa de Oliveira — como todo ente humano — jamais deixarei de existir. Enquanto Deus for Deus, eu serei. Na Comunhão, Ele vem a mim e eu não agradeço?

Segundo favor: Ele Se encarnou, tornando-se homem com a mesma natureza de cada um de nós. E o faria por um só de nós. Isso é extraordinário, e devo agradecer.

Terceiro: Nosso Senhor nos libertou da escravidão do pecado, derramando todo o seu Sangue e morrendo na Cruz. Podemos pensar, por exemplo, no momento em que Ele disse: “Eli, Eli, lammá sabachtáni — Senhor, Senhor, porque me abandonastes!”(1) E depois, inclinando a cabeça, Jesus expirou. Aquela dor última, pior do que todas as outras; aquele estraçalhamento final em que a alma se separa do corpo; aquela sensação de abandono em que até o Padre Eterno parecia O haver deixado: tudo isso Ele sofreu como se fosse só por mim, Plinio. O Redentor está presente em mim e não vou agradecer-Lhe?

Quarto: vendo a infinita distância entre Ele e eu, Jesus deu-me sua Mãe para ser também minha Mãe. Quando o Salvador disse a São João: “Filho, eis aí tua Mãe”(2), e a Nossa Senhora: “Mulher, eis teu filho”(3), Ele sabia que nós existiríamos. Fomos dados a Ela, e Maria Santíssima nos foi concedida naquela ocasião. Não vou agradecer?

Quinto: Ele me fez membro da Igreja Católica. É um favor inefável.

Sexto favor: o Redentor agora está presente em mim. Nossa Senhora é capaz todas as formas de gratidão em um grau inimaginável. Posso, então, dizer: “Senhor, sou filho de vossa Mãe. Pela devoção, Ela está presente em mim, recebei-A. Minha Mãe, dai-Lhe ação de graças como Vós sabeis fazer em nome de todos os homens”.

Reparação

Tratemos agora da reparação, a qual é uma das ações mais augustas que um homem pode praticar em relação a alguém que foi objeto de uma injustiça. Aquele que repara presta honra e, por esta honra, faz justiça.

Imaginemos que alguém, passando junto a mim, me diga um ultraje e não posso me defender. Um outro, sabendo disso, declara-me: “A respeito do senhor, afirmo tal coisa…”, que é o oposto daquele ultraje. A ofensa fica reparada pelo ato de admiração, de amor, que este último fez. Esse é o sentido da reparação.

A reparação elimina, por assim dizer, a falta cometida. Ela é um ato de justiça.

Quanto cada um de nós, por não ter correspondido à graça, deve pedir perdão e reparar, dizendo, por exemplo: “Senhor, fui incorreto para convosco em tal ocasião; em outra, talvez tenha chegado a pecar; isso me dói. Nesse momento eu Vos peço: aceitai o que há em minha alma de contrário a esse pecado. Fui negligente ouvindo um sermão ou uma prédica; acolhei agora meu desejo de bem aproveitá-los doravante. Se tive covardia diante de um inimigo vosso e não soube lutar contra ele, aceitai meu desejo de ser corajoso.

Meu Senhor, não basta o meu desejo, dai-me força para cumpri-lo. Fui mole, poltrão, relapso, mentiroso. Meu Deus, é possível até que eu tenha sido impuro. Aceitai a minha admiração pela lealdade, pela pureza. Tornai-me puro como Vós. Vós curastes a lepra, considerada a pior das doenças, a cegueira, a paralisia. E também as lepras, as cegueiras, as paralisias da alma. Perdoai a paralisia de minha alma preguiçosa, a lepra da alma impura, etc.

Aqui convém rememorar alguns pontos de meu exame de consciência. “Pelos rogos de Maria, tende pena de mim e dai-me a força que eu quero ter. Faço isto para reparar diante de Vós a ofensa que Vos fiz”.

Mais ainda. Devo considerar a Revolução(4), bem como os pecados por ela promovidos, e pedir perdão a Nosso Senhor.

Petição

Somente no final vem a petição. Muitas pessoas, logo que recebem Nosso Senhor, começam a dirigir-Lhe o petitório: “Eu quero isso, aquilo, aquilo outro”.

Às vezes, vendo-se pessoas comungarem nas igrejas, tem-se a impressão de que o primeiro pedido feito por alguma delas é: “Meu Deus, curai a minha dor de garganta, fazei que venha logo o ônibus para eu voltar para casa, que o meu marido seja promovido, que meu filho passe no exame, fazei, fazei, fazei…”

Não. Os pedidos precisam vir no fim. E deve-se começar por rogar os bens para a alma, depois os para o corpo. Porque a alma vale mais do que o corpo. Então, pedir graças tais como: fidelidade à vocação, muitos flashes(5), correspondência à graça, paciência com fulano, devido respeito para com sicrano, etc.

Depois os bens do corpo. Pode-se pedir saúde e uma série de outras coisas. Porém, o mais importante é rogar os bens da alma.

Deve-se sempre pedir os bens do corpo?

Depende do trabalho da graça em nossa alma. Às vezes Nossa Senhora nos dá vontade de sofrermos algum mal corporal para resgatarmos os nossos pecados e os pecados dos outros. Nesse caso, pedimos a Nossa Senhora que mantenha aquele mal do corpo para sofrermos em reparação de nossas faltas ou de outra pessoa. Quer dizer, deve-se pedir aquilo que tem propósito. As outras coisas, não.

Quem é tentado de inveja, deve pedir muito a graça de não ceder. A pessoa vê um colega da mesma idade que refulge como um sol, e ela é a estrelinha apagada que só brilha um pouco quando o sol vai se deitar. Ela cogita: “Mas meu Deus, eu gostaria tanto de ser aquele sol; como seria uma coisa magnífica!” Então, deve essa pessoa tentada dizer: “Meu Deus, Vós me destes pouco, e tanto a ele. Dou-Vos graças por terdes dado mais a ele. Dai um pouquinho a mim também, pois sois tão bom!”

Creio que todos ouviram falar do caso do Padre Antonio Vieira, famoso pregador português.

Ele era muito pouco inteligente e por isso não podia ser jesuíta, pois a Companhia de Jesus somente admitia quem possuía comprovada inteligência. O Padre Antonio Vieira estava rezando diante de uma imagem de Nossa Senhora — que eu vi num museu de Salvador, na Bahia; puseram-na num museu em vez de colocá-la num altar — e, de repente, teve um estralo na cabeça, mas de doer. 

tornou-se, creio eu, o mais inteligente dos homens que até aqui tenham falado em língua portuguesa. Simplesmente um colosso!

Maria Santíssima atendeu ao pedido dele.

Como seria bom, por exemplo, ter uma fotografia dessa imagem de Nossa Senhora e colocá-la num livro de estudos! Quando houvesse alguma dificuldade, rezar-se-ia à Virgem e se conseguiria entender melhor. Pode-se pedir na Comunhão que Nosso Senhor ilumine nossa inteligência.

Tudo terminado, diz-se “muito obrigado” a Nosso Senhor e a Nossa Senhora. É uma vênia final. Maria Santíssima é, de certa forma, como a mãe que temos em casa. Após o rei ter saído, digo-Lhe: “Minha Mãe, eu Vos agradeço…” E posso inclusive comentar com Ela a visita, com os pensamentos que estão em minha alma. E depois nos retiramos em paz.

Em minhas Comunhões, eu sempre inverto um pouquinho a ordem. No momento em que recebo a Hóstia, eu rezo um “Memorare” para pedir a Nosso Senhor — portanto, começo pedindo, mas é o único pedido que faço no início — aumento da devoção para com Nossa Senhora; e rogo por meio d’Ela. Sei que Maria Santíssima quer que minha devoção para com Ela aumente em cada momento.

Os que me vêem receber a Comunhão estejam certos: na hora em que a Sagrada Eucaristia pousa em minha língua, estou começando a rezar o “Memorare”. Isso não falha nenhuma vez. Logo depois, eu rezo interiormente o “Magnificat” para, por meio de Nossa Senhora, manifestar minha alegria porque Ele está dentro de mim. É uma forma de adoração esta alegria.

Depois, se não tenho nenhum ponto especial para considerar, eu faço adoração, ação de graças, reparação e petição.

Alguém poderia perguntar: “Além do aumento da devoção a Nossa Senhora, o senhor nunca começa pedindo alguma coisa?”

Sim, certamente. Porque essas regras gerais têm exceções. Nossa alma é viva e tem movimentos. Conforme estes, um princípio genérico pode ser alterado. Quando se está com uma grande aflição, pode-se começar por pedir que ela seja sanada. Por exemplo, a mulher adúltera que se encontrou com Jesus, quando alguns homens iam apedrejá-la. Ela não começou com a adoração, reparação, etc., porque aqueles indivíduos a apedrejariam. Mas disse de início: “Senhor, salvai-me porque estão querendo matar-me”. Ele foi bondoso e a salvou.

Nada na Igreja Católica, em Nosso Senhor Jesus Cristo, em Nossa Senhora, é ditatorial. É de bom alvitre seguir as regras que foram explicadas, quando algum movimento da alma muito vivo não nos indica o contrário.

Cada um deve proceder de acordo com o seu próprio modo de ser. Apresentei alguns princípios apenas com a intenção de ajudá-los, não de traçar uma linha de conduta obrigatória.

Resta-me apenas desejar que meus ouvintes, quando forem comungar, façam a preparação e a ação de graças com esse cuidado. A Igreja aconselha que se sigam esses quatro atos de culto, e eu lhes recomendo vivamente fazerem isso.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 16/7/1977)

 

1) Mt 27,46.
2) Jo 19,27.
3) Jo 19,26.
4) Revolução: Dr. Plinio assim denominava o processo multissecular que procura destruir a Igreja e a civilização cristã (cf. Revolução e Contra-Revolução, Editora Retornarei, São Paulo, 5ª edição em português, 254 páginas.)
5) Cfr Dr. Plinio, Nº 55, página 16.

Despretensão: ensinamento e exemplo divinos

Formando os Apóstolos, Nosso Senhor deu-lhes o divino exemplo de despretensão: “Eu estou no meio de vós como aquele que serve.” Vindo ao mundo para remir o gênero humano, Jesus indicou que entre os católicos aquele que manda deve ser como quem serve; precisa ser o menor e mais apagado, deve sacrificar-se e imolar-se, a fim de que seu apostolado seja fecundo.

 

Comentarei um trecho do Evangelho de São Lucas, muito propício para as comemorações da Paixão de Nosso Senhor.

Ora, houve uma discussão entre eles sobre qual deles devia ser considerado o maior. Jesus, porém, lhes disse: “Os reis das nações dominam sobre elas, e os que exercem o poder se fazem chamar benfeitores. Entre vós, não deve ser assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo. Afinal, quem é o maior: o que está à mesa ou o que está servindo? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve. Vós sois aqueles que permaneceram comigo em minhas provações. Por isso, assim como o meu Pai me confiou o Reino, eu também vos confio o Reino. Havereis de comer e beber à minha mesa no meu Reino, e vos sentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel(1).

Desigualdade das classes sociais

Trata-se de uma discussão entre os Apóstolos durante a Ceia. É curioso que, depois de Jesus lhes ter lavado os pés, instituído a Eucaristia, eles discutam entre si a respeito de quem seria o maior.

Isso poderia ser chamado de pretensão, e tenho a impressão de que estaria perfeitamente bem designado. Na hora mais augusta, mais sagrada, quando eles deveriam se preparar para os maiores sacrifícios, sua preocupação era de quem seria o maior. É uma coisa completamente extrapolada, colocada fora da linha em que deveria estar.

E Nosso Senhor lhes dá uma lição, dizendo-lhes incidentalmente uma série de coisas, que valeria a pena comentar. Afirma o Redentor: Afinal, quem é o maior: o que está à mesa ou o que está servindo? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve.

Vemos aqui uma afirmação muito interessante da legitimidade da desigualdade das classes sociais, feita por Nosso Senhor. Ele pergunta: o que é mais, ser servido ou servir? E responde: ser servido é mais do que servir; o servidor é menos do que aquele a quem ele serve.

A autoridade existe para o bem dos subordinados

Quer dizer, há uma desigualdade que vem da natureza das coisas. E essa desigualdade, que é um fato legítimo, o Divino Mestre toma como ponto de partida para exprimir a posição d’Ele: Jesus está no meio dos discípulos como aquele que veio servir.

E aqui está a enorme lição de despretensão, como quem diz: “Se Eu Me coloco como servidor, como cada um de vós quer ser considerado o primeiro em relação aos outros?” Aqui está a coisa acachapante. É contrária ao espírito de Nosso Senhor, a toda a lição de sua vida, à doutrina que Ele veio ensinar, a preocupação de se fazer valer, de se colocar acima dos outros. Em sentido oposto, diz o Redentor, os que mandam devem ser como os que servem.

Qual o significado disso? No caso d’Ele, o sentido é evidente: Jesus veio para remir, salvar os homens. Ele estava ali como pastor que salva suas ovelhas, portanto, para o bem deles. É a autoridade constituída para o benefício daqueles sobre os quais deve mandar. Daí vem a ideia de que a autoridade tem um fim dentro de uma ordem posta por Deus; ela precisa ser servidora desse fim, e por isso deve cercar-se de esplendor, de grandeza, de pompa. Nosso Senhor louvou a mulher que derramou unguento precioso sobre a cabeça d’Ele.

Quem manda existe para o bem de seus subordinados. E aqueles que obedecem devem compreender e amar a autoridade e o princípio de autoridade, o qual é altamente benéfico.

Megalice de certos soberanos da antiguidade

Continua o Divino Salvador:
Os reis das nações dominam sobre elas, e os que exercem o poder se fazem chamar benfeitores. Entre vós, não deve ser assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo.

A megalice(2) dos reis nas épocas anteriores a Nosso Senhor era uma coisa incrível. Os monarcas assírios, por exemplo, mandavam esculpir nas pedras dos rochedos os relatos dos seus feitos. E, para que não se apagassem, era colocada uma espécie de porcelana coberta com vidro, de maneira que eles tinham a esperança de que durante séculos ainda se lessem aquelas inscrições. E em muitos lugares ainda hoje podem ser lidas. Eles contavam coisas que eram evidentemente falsas. Uma dessas inscrições, que eu li, narrava que, numa caçada, o rei tinha domado um leão, pegando-o pelas orelhas. Ou se tratava de um leão velho, que havia sido embebedado previamente pelos cortesãos, ou era simplesmente uma megalice sem nome!

Aqueles imperadores romanos… quanta megalice! A veneração que faziam lhes prestar, o modo pelo qual dominavam e oprimiam os outros, dirigiam tudo pela força, e tantas outras coisas. Já tive ocasião de comentar neste auditório o respeito que se tributava aos faraós. Li aqui certa vez uma carta ao faraó, escrita por seu agente consular na Assíria, na qual dizia: “Eu, que sou indigno de beijar os vossos pés, indigno de beijar as patas de vossos cavalos; beijo o pó onde as patas de vossos cavalos se puseram”. Esse era o clima de megalice que os soberanos daquele tempo criavam.

Nosso Senhor mostra que quem é católico deve servir. Embora sua autoridade seja muito grande e transpareça bastante, ele, como indivíduo, deve eclipsar-se por detrás de sua própria autoridade.

O princípio, o cargo, a missão, o poder valem muito, o indivíduo vale pouco.

Jorge V e Rainha Mary

Certa vez li numa revista de História um fato a respeito de Jorge V, esposo da Rainha Mary. Todas as noites em que não recebiam visitas no palácio, eles ficavam ouvindo vitrola, enquanto um secretário ia trocando os discos. Quando chegavam às dez horas em ponto, os monarcas se levantavam e o secretário colocava o disco com a música “God save the King” — Deus salve o Rei —; Jorge V tomava atitude de continência, e a Rainha ficava em posição de oração. Terminada a audição, iam dormir.

E Rudyard Kipling(3) comentou que isso era a verdadeira humildade. Jorge V, detentor da autoridade, compreendia que o cargo, a dignidade, era grande, mas a pessoa dele, nada. E por isso tomava uma atitude de respeito diante de seu próprio cargo. Nesse ato, o Rei prestava continência à realeza; e a Rainha rezava, como uma fiel qualquer, por aquela que era a Rainha da Inglaterra. Vemos aqui o eclipsar-se da pessoa e o engrandecimento do cargo.

Reis de França e Imperador Francisco José

Nos tempos de monarquia cristã havia fatos nesse sentido. Quando os Reis de França saíam da Catedral de Reims, após serem coroados, o povo acreditava — e parece que algum fundamento havia nisso — que eles tinham o poder de curar a escrófula(4). Então, filas de escrofulosos repugnantes ficavam à espera do novo Rei na saída da catedral, o qual tocava cada doente com a mão e dizia: “Le Roi te touche, Dieu te guérisse — O Rei te toca, Deus te cure”. Diziam os cronistas do tempo que muita gente ficava curada. Quer dizer, depois daquele esplendor máximo da realeza — a coroação de um Rei de França era uma cerimônia fabulosa, em que aparecia o cargo e não o homem —, o monarca condescendia em tocar com suas mãos régias os enfermos mais repelentes do seu reino, para curá-los, usando de um carisma que reconhecia não proceder dele. A frase “O Rei te toca, Deus te cure” queria dizer: “O Rei sabe que não cura nada, quem cura é Deus. O Rei é um mero instrumento para que a ação de Deus se exerça”.

O exemplo de Nosso Senhor foi imitado nos tempos em que a Igreja era unida ao Estado, em todas as monarquias europeias. Pouco antes da guerra de 1914-18, em que quase toda a Europa era monárquica, na Quinta-feira Santa os reis iam lavar os pés dos pobres. Francisco José, por exemplo, Imperador da Áustria-Hungria, lavava os pés dos pobres na Catedral de Viena. E um dos significados desse ato era este: uma é a dignidade do Imperador, e outra, a situação dele enquanto indivíduo, que devia estar sujeito a todas as humilhações, por mais que o cargo por ele ocupado fosse excelente.

O Papa, “servidor dos servidores de Deus

Os próprios Papas realizavam o lava-pés. De um lado o Papa imita Nosso Senhor Jesus Cristo — a dignidade pontifical, como a dignidade régia, deve tocar os pobres —; mas, de outro lado, esse ato significa a humilhação do homem, indicando o desaparecimento da pessoa, mesmo no esplendor do cargo e da função.

Vemos assim, na tradição cristã, a aplicação do ensinamento do Divino Mestre. O Papa, chamando-se a si próprio “servidor dos servidores de Deus”, evoca uma reminiscência do que Nosso Senhor disse.

Então, para praticarmos adequadamente a despretensão, devemos compreender que toda grandeza terrena deve existir — porque Deus quis que houvesse grandes na ordem espiritual, como na ordem temporal —, e precisa cercar-se do esplendor que lhe é próprio; mas o homem que está colocado nesse lugar de grandeza deve saber apagar-se. E aqueles que estão longe da grandeza, não possuem o cargo, não o devem invejar. Para o vaidoso, o que adianta ter um cargo se não pode se gabar dele? Nenhum cargo, nenhuma situação pessoal, na qual o indivíduo não possa consentir no envaidecimento, não lhe adianta de nada.

São Vicente Ferrer: “A vaidade esvoaça em torno de mim, mas não entra”

Lembro-me que li, numa biografia de São Vicente Ferrer, um fato muito curioso. Ao chegar a Barcelona — ele era grande missionário —, foi-lhe preparada uma recepção apoteótica. Todo o povo estava reunido, das janelas pendiam tapetes preciosos, ele caminhava debaixo do pálio, carregado pelos nobres da cidade. Durante o cortejo, alguém desconfiado perguntou-lhe: “Irmão Vicente, não estás vaidoso?” Ele respondeu: “A vaidade esvoaça em torno de mim, mas não entra”.

O que adianta para um homem receber todas essas homenagens, se ele é obrigado a resistir à tentação de se envaidecer? Não adianta nada. Porque, se é para ficar vaidoso, há um prazer terreno. Mas, se não pode se envaidecer, andar devagar no meio daquele povo aplaudindo, e ele resistindo contra a tentação, é muito cansativo. Quando termina, ele desabafa: “Uf! Acabou a tentação; ao menos estou trancado na minha cela, sozinho”. Esse é o verdadeiro dinamismo das coisas.

Quem deseja aparecer não imita Nosso Senhor Jesus Cristo

Precisamos ser muito cautelosos. Sempre que estamos apetecendo uma situação de mando, de destaque, de influência, devemos tomar cuidado, pois facilmente nos apegamos a isso para nos mostrarmos. E, se consentirmos ao desejo de aparecer, não estaremos imitando o exemplo de Nosso Senhor, o qual indicou que entre os católicos aquele que manda deve ser como quem serve; precisa ser o menor, apagado, sacrificado, e imolar-se.

Alguém poderia fazer uma pergunta-objeção: “Mas, Dr. Plinio, o senhor nos diz isso com uma ênfase, como se estivéssemos na iminência de sermos eleitos presidentes da república! Ora, acontece que nós, sendo membros do Movimento, não estamos em via de ser eleitos para nada e nem temos, ao menos de momento, um eleitorado muito grande. Então, por que o senhor nos fala essas coisas?”

Digo isto porque não se trata apenas de cargos, mas de situações nas quais se exerce alguma influência numa roda de pessoas: querer ser o primeiro numa conversa, numa mesa de refeições; aquele que conta a piada mais engraçada; conhece a última novidade ou comentário sobre nossa vida interna e o transmite para o pobre basbaque que ainda não sabe; está a par das coisas mais importantes; diz a coisa mais audaciosa em matéria de doutrina. Tudo isso são coisas que significam preeminência e dão apego. E disso tudo devemos mostrar-nos desapegados, lembrando o ensinamento e o exemplo de Nosso Senhor.

A pretensão torna estéril o apostolado

Quanto maior é a pretensão de uma pessoa, mais estéril é seu apostolado, porque só faz apostolado fecundo quem está unido ao Divino Mestre. Quem não está unido ao Redentor é como a vinha que está destacada do sarmento.

Como podemos estar unidos a Ele, se temos pretensão? Não estou afirmando que sejamos todos uns poços de pretensão. Mas quero dizer que todo homem, na melhor das hipóteses, é como São Vicente Ferrer: está sempre com a pretensão esvoaçando em torno dele. Isso é evidente. Então, cuidado! Ainda que recebamos manifestações tão mais modestas do que as prestadas a São Vicente Ferrer, devemos lutar contra a pretensão, de todos os modos e com todo o empenho.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 1/4/1969)

1) Lc 22, 24-30.
2) Megalice: termo criado por Dr. Plinio a fim de designar o vício de quem atribui a si mesmo qualidades que não possui ou então as exagera.
3) Joseph Rudyard Kipling (1865-1936), escritor inglês.
4) Infecção tuberculosa em gânglios linfáticos do pescoço.

O perigo começa com a vitória! – II

Após analisar a primeira fase medieval, Dr. Plinio nos mostra como, a partir de um relaxamento, operou-se a corrupção da sociedade.

 

Dessa primeira fase em que a Idade Média se revela ainda ponderada, equilibrada, passamos para uma época em que os prazeres se vão acentuando. São ainda honestos, legítimos e até equilibrados. Há, porém, uma sede de prazer que se vai tornado progressivamente acentuada. Numa terceira etapa notamos todo o corpo social da Idade Média já deteriorado.

Tratava-se de um relaxamento e não uma deliberação explícita em fazer o mal

É uma espécie de febricitação, de agitação, de delírio, que já define bem o século XV, fazendo com que muitas pessoas do tempo pensassem que o mundo iria acabar.

Nota-se, então, a passagem sucessiva de um apogeu para um estado de decadência. O ponto de partida foi seguramente a falta de cuidado, a falta de prevenção. Uma atitude despreocupada da Cristandade Medieval foi a causa da decadência.

Despreocupação esta que se caracterizava pela excessiva confiança em si mesmo, julgando haver na própria sociedade medieval raízes e lastros de virtudes suficientes para se eliminar qualquer preocupação.

Não se pode, entretanto, afirmar que havia má intenção nesta atitude. Tratava-se apenas de um relaxamento e não de uma deliberação em praticar o mal. Nessa fase de afrouxamento do modo de viver, a Idade Média até nos impressiona pelo que tem de temperante, de digna, de nobre, mesmo nos seus prazeres.

Note-se que isto não é uma afirmação, não é uma tese que venha acompanhada de documento, mas uma hipótese baseada em alguns conhecimentos. Mas, quando formulamos esta hipótese os fatos se alinham de tal maneira que tudo se torna claro. Assim sendo, os acontecimentos ficam arquitetonicamente explicados.

Está na substância da santificação o desejo da cruz

É necessário considerar que isto não se refere a desvios existentes, mais ou menos excepcionais, embora até profundos. Encontramos na Idade Média fenômenos marginais, como as heresias, mas que não são a Idade Média; casos de satanismo, mas que não são a Idade Média; um imperador que é até arabizante e muçulmanizante, mas isto também não é a Idade Média. É a doença inteira do corpo social que estou procurando descrever, e não apenas certas chagas.

Isto interessa muito aos contrarrevolucionários, sobretudo tendo-se em vista o Reinado do Imaculado Coração de Maria conforme sua promessa em Fátima: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará”.

Estes princípios são tão verdadeiros que se aplicam até aos fenômenos de vida espiritual dos contrarrevolucionários de hoje. Em virtude de quase todos os ambientes atualmente estarem, uns mais outros menos, impregnados do espírito revolucionário, quando uma alma ao converter-se torna-se contrarrevolucionária, entra em uma fase de lutas e enormes provações.

Há depois, uma segunda fase, de estabilização, em que tudo se torna menos árduo e mais fácil. Esta é a fase perigosa. Não se devem temer tanto as lutas de conversão como as batalhas de segunda fase, porque é aí que vem a tentação de se viver sem preocupações dentro da virtude, o que significa abandonar a virtude e viver fora dela. Está na substância da santificação o desejo de cruz.

As várias etapas da decadência medieval

A primeira das várias etapas da decadência se caracteriza pelo agradável-bom que se acentua demais, mas ainda honesto, nobre e equilibrado. É exemplo disto o traje feminino habitual na Idade Média. Era lindíssimo, com os belíssimos chapéus de cone com véus pendentes, ou em forma de gomos, com uma coroa. É algo de muito nobre e bonito, e também muito calmo e repousante. Toda a arte medieval produz uma sensação muito agradável.

O agradável encontra sua melhor expressão no Gótico “Flamboyant”. Mas o “Flamboyant” vai invadindo todos os campos, e em vez de ser apenas um agradável-bonito para a sala de visitas, passa a ser a nota dominante em quase todos os ambientes.

Tudo piora sensivelmente a partir do momento em que o agradável se torna ilícito e, portanto, imoral. O mesmo se dá na literatura de Cavalaria e em inúmeros outros setores da vida medieval.

Para se analisar como a crise se generalizou no corpo da sociedade medieval, é necessário ver as profundidades dessa crise. Por profundidade entendemos as várias camadas dessa sociedade; a mais baixa, a do povo, constituía a última profundidade. A mais elevada seriam as cortes.

A corrupção da sociedade a partir das elites

Antes de prosseguirmos, seria conveniente lembrar um princípio.

Ao analisarmos alguém de personalidade encontramos — sobretudo caso se trate de um liberal — várias personalidades conjuntas que entram numa espécie de diálogo. Há num mesmo homem o monarquista e o republicano, o católico e o protestante. É o princípio das várias personalidades opostas, estabelecendo um diálogo interno, e que se dá na vida espiritual de um homem.

Na Idade Média o princípio do diálogo interior entre várias personalidades dava-se conforme as classes sociais. Esse processo de deterioração começou com os mais ricos e poderosos.

O fenômeno é mais evidente nas cortes reais, e mesmo em certas cortes principescas tão altas quanto as cortes de reis. Começa-se então uma vida de extravagância. A metástase, à maneira de câncer, foi se dando, de “proche en proche”(1), para as demais classes sociais.

A corte corrompe a média nobreza, que por sua vez corrompe a pequena. A alta burguesia, sempre a primeira a corromper-se com os reis, deteriora a média burguesia e a pequena. Este processo é lento, mas terrivelmente eficaz.

Houve tempo, na Idade Média, em que se nota muito claramente este fenômeno de corrupção nos altíssimos letrados, nos altos aristocratas, nos altíssimos argentários, e mesmo no mais alto clero.

Há, no entanto, correntes de opinião e umas tantas classes sociais que constituem centros naturais de resistência. É o que se passou com o movimento humanista e renascentista, que tanto floresceu entre os altos intelectuais, mas que encontrou focos de resistência nas universidades, a tal ponto que estas durante muito tempo ficaram à margem do movimento novo, apegadas às fórmulas antigas.

Entre as camadas inferiores do povo a corrupção é muito mais lenta, havendo muita resistência. Mas esta resistência sofre um processo de degradação que se delineia mais ou menos da seguinte maneira: inicialmente há uma indignação e resistência profunda à deterioração; a seguir, uma contemporização, apesar da não adesão e até da resistência; por fim, tolerância indiferente seguida de admiração, inveja e adesão ao processo que já estava vitorioso há muito tempo nas camadas superiores da sociedade.

A decadência deveu-se à tolerância dos bons

Quando estudamos o problema da decadência da sociedade medieval, ocorre-nos uma indagação no sentido de saber por onde ela se vergou à Revolução.

Muitos afirmam que a decadência coube aos reis e ao clero, que deram o passo inicial. Há outra teoria, mais simpática, que é a de que tudo foi possível a partir do momento em que a resistência deixou de ser caracterizada por uma intolerância agressiva, indignada e militante. Só a reação enérgica é capaz de deter o progresso do mal. O mais lamentável não é que os maus sejam audaciosos, mas que os bons não lhes oferecem a intolerância e resistência que eles demonstram para com o bem.

Se alguém denuncia publicamente o mal praticado pelos revolucionários, algo se lhes atrapalha, ainda que eles não queiram. E é esta espécie de atrapalhação interna, que produz o estertor dos revolucionários. Poucos têm coragem para argumentar contra quem lhes denuncia. E vence quem argumenta com mais intolerância, no sentido mais profundo da palavra. Pode-se, em certo sentido, dizer, sob este aspecto, que tudo depende inteiramente da intolerância.

O mal começa a vencer quando os bons deixam de ter essa intolerância ousada e triunfante.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de maio de 1959)

 

1) Pouco a pouco.

 

A Fé em Cristo Redentor

Não posso me esquecer de uma noite em que eu estava no Rio de Janeiro, na qual eu tinha os olhos fixados na estátua de Cristo Redentor no Corcovado, cercada pela neblina levantada do mar.

Durante algum tempo era apenas um foco de luz, no qual eu não discernia nada; em determinado momento, batia o vento, fazia-se um pouco de claridade e eu percebia um dos braços e uma das mãos do Cristo Redentor, iluminados com aquela luminosidade especial, pois a pedra sabão, de que é revestido o monumento, reflete a luz projetada sobre ele.

Continuando o vento a soprar, aparecia a face do Cristo Redentor, depois o seu peito onde pulsa seu Sagrado Coração, em seguida os seus pés divinos que todos nós gostaríamos de oscular. E eu prestava atenção: em nenhum instante, por mais densas que fossem as névoas, a luz deixava de encontrar certo ponto de apoio no monumento; sendo apenas uma luz fixa sobre uma silhueta ou uma das mãos, que protege e abençoa, um coração palpitante de amor, ou uma face cheia de solicitude, em nenhum momento a neblina conseguiu apagar a figura do Redentor.

Com esta fé caminhamos para o futuro, quaisquer que sejam as circunstâncias. Pode ser que provações muito difíceis toldem nos nossos olhos as perspectivas da vitória, ou circunstâncias imprevistas coloquem para nós problemas que hoje ainda não são os nossos. Mas, para além das névoas, para além de tudo quanto pode tapar a verdade, no horizonte visual do brasileiro há algo que nada tira: é a imagem do Cristo Redentor, a Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta Fé há de nos salvar!

Meus caros, o Brasil há de vencer, e é rumo a esta vitória que todos caminhamos com o passo resoluto e a alma cheia de fé.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência 17/10/1978)

Preciosos ensinamentos da Ressurreição

Da gloriosa Ressurreição de Cristo, pondera Dr. Plinio, não só refulgem consoladoras alegrias, como também dela se depreendem importantes lições para o homem fiel, à luz das quais deve este pautar sua trajetória rumo à eterna bem-aventurança.

 

Durante os três dias em que Nosso Senhor esteve morto, aos olhos dos que O conheceram, com exceção de Maria Santíssima, tudo parecia irremediavelmente perdido. “Morreu!”, pensavam eles. “Correram a pedra sobre a entrada do sepulcro, e a escuridão envolveu o corpo d’Ele. Acabou, não resta mais nada!”

Indizível alegria das almas dos justos

Ora, restava tudo. A história da salvação dos homens apenas começara. Assim que a alma santíssima de Nosso Senhor se separou do corpo sagrado, apareceu às almas dos justos que aguardavam — algumas há milênios — a Redenção e a abertura das portas do Céu.

Imaginemos, se pudermos, a emoção da alma de São José em contato com a de seu Filho, ou a felicidade indizível da alma de Adão e a de Eva, constatando que, afinal, o pecado por eles cometido, o pecado que provocara a decadência do gênero humano, estava perdoado e sua culpa redimida! E do mesmo modo, o júbilo ímpar da alma de tantos outros justos, patriarcas e profetas do Antigo Testamento ali reunidos, que aclamaram o aparecimento de Quem os libertava daquela longa espera. Esse encontro foi, sem dúvida, um espetáculo extraordinário.

Na pior das horas, refúgio junto a Maria

Contudo, para os apóstolos e discípulos que haviam fugido durante a Paixão, essa realidade espiritual e gloriosa era inteiramente desconhecida. Pelo contrário, achavam-se abatidos, prostrados, horrorizados, sem vislumbrar saída alguma para a dramática situação em que estavam. Cada qual se escondeu como pôde, esperando que a efervescência dos acontecimentos se extinguisse e a normalidade da vida de todos os dias fizesse com que deles se esquecessem.

Outros eram, porém, os desígnios da Providência. Podemos conjeturar que houve um trabalho misterioso da graça no sentido de sugerir ao espírito de cada um deles o desejo de procurar Nossa Senhora e de se abrigar sob seu manto materno. Junto a Ela — sempre nos é dado supor — encontraram-se, chorosos e contritos, ainda incertos quanto ao futuro. Apenas a Mãe de Deus confiava e rezava, segura do triunfo de seu Divino Filho sobre a morte.

De alguma maneira, também própria ao sobrenatural, a fidelidade de Maria Santíssima começou a contagiar a tibieza dos apóstolos, e a despertar na alma de cada um deles sensações, esperanças, percepções da maravilhosa graça que lhes estava reservada. No interior daqueles homens, em meio à tormenta da provação, foram se alicerçando uma convicção nova e um novo ânimo.

Quer dizer, na pior das horas, porque se refugiaram aos pés de Nossa Senhora, receberam graças inestimáveis que os prepararam para tudo o que logo lhes aconteceria. Unidos em torno da Virgem Fiel, estavam em condições de acreditar na Ressurreição e de se predisporem à grandiosa missão para a qual haviam sido chamados.

Confirmaram-se as mais audaciosas esperanças

Na manhã do terceiro dia, ressurge glorioso o Redentor Divino e — como sugere a crença de piedosos autores, embora os Evangelhos não o narrem — aparece em primeiro lugar a Nossa Senhora, inundando-A de consolação e felicidade. Todo Ele era um só esplendor, espargindo luminosidade celeste a seu redor como o brilho de mil sóis!

Aparece depois a Maria Madalena e a outros discípulos. A Ressurreição era já um fato incontestável. Os apóstolos creem e exultam. Tudo quanto era caminho sem saída, tornou-se viável e todas as esperanças, as mais audaciosas, confirmaram-se no triunfo de Cristo Ressurrecto. Vitória que representava, ao mesmo tempo, a afirmação de toda a vida d’Ele e um imenso perdão para seus discípulos. A partir daí estes passaram por uma autêntica conversão. Mais alguns dias, e receberiam a infusão do Espírito Santo, tornando-se cada qual uma coluna de amor e fidelidade sobre a qual se ergueria o edifício da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

O homem fiel não se deixa abater pelos reveses

Da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e dos aspectos a ela vinculados — sejam os precedentes, sejam os que se lhe seguiram — depreendem-se para nós alguns ensinamentos.

O homem modelado segundo o espírito do Divino Mestre, o homem que corresponde às graças obtidas pelos rogos de Maria, o homem fiel que obedece inteiramente a vontade de Deus e tem sua alma talhada pela doutrina da Igreja, esse homem possui uma têmpera tal que não há desastre, ruína ou tristeza, não há perseguição nem miséria que o abatam e o desviem de sua trajetória apostólica.

Pelo contrário, quanto maiores os reveses, maior sua coragem; quanto mais inesperadas e inopinadas as derrotas, maior a sua vontade de reagir; quanto mais terríveis os golpes que ele recebe, maior a sua determinação de continuar a lutar. E se acontecer de ele cair prostrado durante a lide, Deus, que vela por ele e por sua descendência espiritual, fará com que de seus exemplos e de sua lição nasçam discípulos que continuem sua obra.

E assim por diante, de glória em glória, de passo em passo, mas de dor em dor, de sofrimento em sofrimento, é possível levantar obras de uma grandeza e de uma beleza inimagináveis. Mas, essas obras nascidas da dor, da fidelidade, da constância e da entrega completa de si mesmo para que Deus execute sua vontade sobre os homens, nascem também da devoção e da união a Nossa Senhora, a qual nos alcança graças indizivelmente fortes, profundas e tonificantes.

Júbilo que nos prepara para novas provações

Outra lição que nos é dada pelo triunfo de Nosso Senhor sobre a morte vem das jubilosas celebrações que no-lo recordam.

As pompas da esplêndida e brilhante liturgia da Vigília Pascal e do Domingo da Ressurreição nos falam de todas as alegrias legítimas e até gloriosas que o homem fiel pode desfrutar em sua vida. Entretanto, a missão e os trabalhos dos apóstolos convertidos nos ensinam não haver alegria que desvie o homem fiel do caminho da dor; não há felicidade que o amoleça, que o subtraia da austeridade com a qual trilha o caminho do Céu. Pelo contrário, como essa alegria é fruto do Espírito Santo, o homem sai desse dia de festa e de glória mais disposto a suportar todas as humilhações, todas as dores e todos os sacrifícios necessários para a grande batalha da salvação que ele terá diante de si.

Por essas razões, ao celebrarmos a Páscoa da Ressurreição, devemos pedir a Jesus Ressurrecto, por intermédio de Nossa Senhora, a força de espírito pela qual não haja nenhuma provação que nos leve ao desespero, nem glória que nos leve à moleza. Assim, através desse caminho de sofrimentos sem desânimos, e de triunfos sem relaxamentos chegaremos afinal à imperecível glória do Céu, pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Redentor, e pelos rogos de Maria Santíssima, nossa Mãe, a cujas preces tanto devemos.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências em 8 e 14/4/1990)

RESSURREIÇÃO E FELICIDADE ETERNA

Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição de mortos? ” (I Cor 15, 12-13). A comemoração da ressurreição de Nosso Senhor, diz Dr. Plinio, é um prenúncio de nossa própria ressurreição.

 

Antes de ser ensinada e difundida pela Igreja Católica, a crença na ressurreição dos corpos era motivo de grande perplexidade para as religiões e os filósofos pagãos do mundo antigo. Sem  acreditar na imortalidade da alma humana, eles estavam convencidos de que, com a morte, uma pessoa ou desaparecia completamente, ou algo dela se reincorporaria — perdendo a identidade consigo mesma — na natureza ou num deus impessoal existente alhures.

Surpreendente doutrina que dividiu o mundo antigo

Com o advento do Cristianismo e a pregação dos Apóstolos, a doutrina da ressurreição dos mortos causou imensa atração. Com efeito, a ideia de que o homem é constituído por uma alma espiritual e um corpo material, e a noção de que um Deus onipotente ressuscitará a todos nós por toda a eternidade, como ressuscitou a Si mesmo,
reunindo novamente em cada pessoa os dois elementos que a compõem — era de molde a surpreender e a maravilhar aqueles povos da antiguidade.

Porém, diante do Evangelho, ou seja, da boa notícia de que o Verbo de Deus se tinha feito carne, nos havia remido, ressuscitara e abrira o caminho da ressurreição para todos nós, os espíritos se dividiram. Uns se mostravam antipáticos ao novo ensinamento, preferindo suas velhas convicções de que a existência do homem termina com sua morte e, portanto, tratava-se de prolongar e aproveitar ao máximo a vida terrena.

Outros, mais elevados, mais alígeros, pensavam: “Depois da série de tormentos que suportamos neste mundo, eu julgava que me afundaria no negrume da sepultura, desfazendo-me no nada. E agora vem um homem chamado Pedro e me diz que ele tem as chaves do reino dos Céus! E me ensina que haverá essa ressurreição gloriosa, que um dia, cheio de luz, eu me levantarei da sepultura para uma felicidade da qual as coisas terrenas nem sequer dão uma ideia!? Que maravilha!”

Compreende-se que a nova doutrina causasse essa divisão em duas famílias de almas. Aconteceu, então, que os da primeira, mais numerosos, mais poderosos, começaram a desafiar e a perseguir os da segunda: surgiram os mártires do tempo do Império Romano. Homens e mulheres convertidos ao cristianismo, até ontem respeitados e venerados por seus semelhantes, agora se encontram ali, na arena do Coliseu, semi-desnudos, invectivados e vaiados por uma multidão enraivecida.

Por quê? Porque abraçaram a crença na vida eterna.

Belezas que envolvem a ressurreição dos mortos

Não é difícil, pois, imaginar o drama e a reviravolta que a pregação da ressurreição provocou na velha humanidade.

Como não é difícil nos darmos conta de que não podemos tomar como banalidade o que deixou pasmo um antigo, perplexo um imperador romano, o que causava dor de cabeça a um filósofo   pagão, e fazia estremecer de alegria um ancião ou uma criança inocente. Antes, devemos sempre ter presente toda a beleza que essa verdade encerra, e o quanto ela foi, ao longo da história da Igreja, ensinada e fundamentada pelos maiores e mais ilustres expoentes da Teologia católica.

Para não nos estendermos, basta evocarmos o pensamento do grande São Tomás de Aquino, que prova a ressurreição com argumentos tirados da razão natural e da Escritura: é fato revelado pelo Espírito Santo.

E ele apresenta como um dos elementos da Revelação esta frase de São Paulo: “Quando tu semeias, não semeias o corpo da planta que há de nascer, mas semeias o mero grão”. A interpretação fantástica dada pelo Doutor Angélico: o grão é o cadáver e a planta que nascerá é o homem ressurrecto, saído daquele. Esta sentença se ajusta de modo magnífico às palavras de Nosso Senhor no Evangelho: “Se o grão não se decompor, não frutifica”. Quer dizer, enquanto o homem não termina a sua batalha neste mundo e morre, dele não brotará o fruto da sua própria ressurreição.

Assim, quando se fecha a tampa do caixão contendo um cadáver, devemos ter o seguinte pensamento, inspirado pela Fé: “Se é verdade que a morte representa um castigo, verdade é também que aqui está uma semente para a ressurreição”.

Nisto devemos ver, também, como é bela a continuidade de uma vida humana levada na virtude e no amor a Deus, de uma existência virtuosa que passa sobre a morte com os olhos postos nas  glórias da ressurreição. É essa verdade que nos incute ânimo, que nos explica a vida, que nos faz seguir sempre em frente, rumo ao encontro da eterna e completa felicidade.

Felicidade esta que o mesmo São Tomás aduz como mais uma prova da ressurreição. Posto que o homem procura como meta final a alegria perfeita, a qual não pode ser achada senão na eterna bem-aventurança, tem de haver uma vida após a morte e uma ressurreição da carne. Sob pena de que tudo neste universo seja coisa errada, fracassada, e sem sentido.

De fato, para que viver, se não existe este objetivo de alcançar a felicidade sem limites, infinita, sem sombras, onde compreendemos eternamente, na medida de nós mesmos, o eterno, o insondável e perfeitíssimo que é Deus? Ver Deus em Deus, ver Deus na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, vê-Lo em Nossa Senhora, nos Anjos e nos santos! Esta é a autêntica alegria. O que não for isto, é burla em matéria de felicidade.

Portanto, com o auxílio e o amparo da Santíssima Virgem, chegará para todos nós o dia em que nossas almas estarão definitiva e perenemente unidas aos nossos corpos. As dores e os júbilos efêmeros desta vida terão passado, nós estaremos no Céu por todo o sempre.

Alegria da Páscoa, prenúncio de nossa ressurreição

Para concluir, vem a propósito evocar uma vez mais o ensinamento de São Tomás de Aquino. Ele se pergunta se a ressurreição dos homens tem como causa a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, e responde pela afirmativa. Ou seja, até Nosso Senhor, ninguém havia entrado no Céu. Somente depois da Paixão, Morte e Ressurreição do Cordeiro de Deus é que foram franqueadas para a humanidade as portas da bem-aventurança eterna. E o dia da Páscoa é a festa por excelência da Ressurreição d’Ele, mas traz no seu cortejo a perspectiva da ressurreição de todos os homens no dia do magno Juízo.

Então se compreende que na alegria pascal, tão característica, temos um pouco do prenúncio de nossa própria ressurreição, e este sentimento se reflete no modo católico de viver o dia da festa da Ressurreição de Jesus.

Plinio Corrêa de Oliveira

Sorriso inefável

Que Vos levaria, Senhor, a sorrir do alto da Cruz? Que abismo de contradição entre as dores que da cabeça aos pés Vos atormentam o Corpo sagrado, e esse sorriso que aflora doce, suave, meigo, entreabrindo-Vos os lábios e iluminando-Vos o rosto! Sobretudo, Senhor, que contradição entre o abismo de dores morais que enche vosso Coração, e essa alegria tão delicada e tão autêntica que transluz em vossa Face! Contra Vós, todo o oceano da ignomínia e da miséria humana se atirou. Não houve ingratidão nem calúnia que Vos fosse poupada. Pregastes o Reino do Céu, e vossa pregação foi rejeitada pelo vil apetite das coisas da Terra. O demônio, o mundo, a carne, em infame revolta contra Vós, Vos levaram ao patíbulo, e aí estais à espera da morte. E, entretanto, sorris! Por quê?

Vossas pálpebras estão quase cerradas. Mas ainda podeis ver algo. E o que vedes é, Senhor, a maior maravilha da Criação, a obra-prima do Pai Celeste, uma alma – e quanta beleza pode haver em uma alma, embora o ignore o materialismo de nosso século – riquíssima e íntegra em sua natureza, cumulada por todos os dons da graça, e santificada por uma correspondência contínua e perfeitíssima a todos esses dons! Vedes Maria. Vedes vossa Mãe. E no meio de todos os horrores em que estais imerso, tal é a maravilha que vedes que sorris afetuosamente, para alentá-La, para Lhe comunicar algo de vossa alegria, para Lhe dizer vosso infinito e sublime amor.

Vós vedes Maria. E ao lado da Virgem Fiel, vedes os heróis da fidelidade: o Apóstolo virgem, as Santas mulheres, a fidelidade da inocência e a fidelidade da penitência. Vosso olhar, para o qual tudo é presente, vê mais, pois se alonga pelos séculos e Vos faz ver todas as almas fiéis que hão de Vos adorar ao pé da Cruz até o dia do Juízo. Vedes a Santa Igreja Católica, vossa Esposa. E por tudo isso sorris com o sorriso mais triste e jubiloso, o mais doce e compassivo sorriso de toda a História.

Entre as miríades de almas que seguindo a Maria estão ao pé da Cruz, e para as quais sorris, também está a minha, Senhor? Humilde, genuflexo, sabendo-me indigno, entretanto eu Vos peço que sim. Vós que não expulsastes do Templo o publicano, pelas preces de Maria não rejeitareis para longe de Vós um pecador contrito e acabrunhado. Dai-me, do alto da Cruz, um pouco de vosso sorriso inefável, ó bom Jesus.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de Catolicismo n. 148, abril de 1963)

Revista Dr Plinio 253 (Abril de 2019)

Ação de graças por meio de Nossa Senhora após a Comunhão

Ó Maria Santíssima, minha Mãe, Vós encontráveis tantas maravilhas para dizer ao vosso Divino Filho quando Ele estava em vosso claustro virginal. Dizei-Lhe por mim aquilo que eu gostaria de dizer se conhecesse esses vossos sublimes colóquios.

Adorai-O como eu quereria adorá-Lo, porém – oh, dor! – não sou capaz. Dai-Lhe a ação de graças que eu deveria dar-Lhe, e não sei fazê-lo. Apresentai-Lhe atos de reparação pelos meus pecados e pelos do mundo inteiro, com um ardor que infelizmente não tenho.

Minha Mãe, pedi por mim tudo quanto minha alma necessita e tudo aquilo de que precisam todos os homens, para instaurar na Terra o vosso Reino. Porque, minha Mãe, o que Vos peço mais do que tudo é o triunfo da vossa glória e a implantação de vosso Reino, em mim e sobre todos os homens. Assim seja!

 

Plinio Corrêa de Oliveira – Revista Dr Plinio 248 (Novembro de 2018)

De pé, como uma tocha de esperança

Na hora do Gólgota, no momento mais trágico que houve e haverá na existência da humanidade, Nossa Senhora permaneceu fiel. Não se entregou, não fraquejou, não traiu, não recuou.

E continuou de pé como uma tocha de oração e de esperança. Maria permanecia ereta, em toda a força de seu corpo e de seu espírito, com os olhos inundados de lágrimas, mas com o coração inundado de luz. Possuía a Fé inabalável, a certeza inamovível de que, após a grande tragédia, depois do abandono geral, viria a aurora da Ressurreição, viria o alvorecer da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, nimbada de glória a partir de Pentecostes. E de que, de cruzes em luzes, de luzes em cruzes, o mundo chegaria até o momento que em Fátima Ela prenunciou: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!”

 

Plinio Corrêa de Oliveira